
Já me pronunciei (mais do que uma vez) aqui sobre os malefícios resultantes da utilização das crianças como joguetes ou armas de arremesso ou sobre a necessidade de se sobrepor os interesses das crianças às guerras entre adultos. A dor resultante de uma ruptura conjugal não pode justificar a negligência a que tantas vezes assistimos.
Aquilo que acontece após a ruptura é determinante para o bem-estar e estabilidade emocional dos filhos. Mais: o impacto do comportamento dos progenitores pode estender-se por muitos anos. Não estou a referir-me “apenas” ao processo de divórcio propriamente dito, mas também à forma como os ex-cônjuges lidam um com o outro (e com os filhos) depois da oficialização da separação.
Quanto maior for a cordialidade e a estabilidade na relação entre os progenitores após a separação, maior será a probabilidade de as crianças se ajustarem à nova forma de família sem danos emocionais. Claro que essa estabilidade não apaga a dor provocada pela separação. O que acontece é que a probabilidade de daí resultar algum trauma é muito menor.
Quando os progenitores prolongam o conflito para além da ruptura, acabam por negligenciar o papel parental, estando menos atentos às necessidades dos seus filhos. Até em termos académicos se torna visível a desatenção: estes pais estão menos informados acerca do dia-a-dia dos seus filhos, daquilo que se passa na escola e/ou no grupo de pares. Acabam por ser muitas vezes surpreendidos aquando da fixação das notas.
Quando os pais mantêm a cordialidade e são capazes de comunicar eficazmente em nome do bem-estar dos filhos, estão a investir no seu desenvolvimento socioafectivo, já que permitem que as crianças e adolescentes possam concentrar-se nas suas próprias necessidades, em vez de serem dominadas pela eternização dos problemas dos pais.