Que privilégio foi poder
apresentar o meu livro n’A Tarde é sua, com a minha querida Fátima Lopes e esta
família EXEMPLAR. Sabiam que o prefácio deste livro foi escrito pela Fátima
Lopes? E a honra que senti ao ouvi-la dizer – primeiro em privado e depois na
TV – que este livro deveria ser “obrigatório” para todas as pessoas em processo
de separação?
Esta conversa com a Tânia, o
Gabriel, O Afonso e o Miguel é a prova viva de que, mesmo quando um casamento
se esgota, é possível fazer escolhas de que nos orgulhemos e que permitam que
uma família continue a ser uma família, apesar do divórcio. Parabéns Tânia e
Gabriel!
Como é que um casal pode
recuperar de uma infidelidade? Que passos é preciso dar para reconstruir a
relação? Como é que se gere o turbilhão de emoções que estão associadas a uma
traição?
Trabalho quase todos os dias com
casais que estão a tentar reconstruir a relação depois da revelação da traição.
Na maioria das vezes, são pessoas que estão em grande sofrimento, mesmo quando
a situação já aconteceu há alguns meses. Assumiram que, apesar do que
aconteceu, têm a intenção de continuar juntos, mas o dia-a-dia acaba por ser
(ainda) mais difícil do que esperavam e acabam invariavelmente por dar por si
em círculos viciosos.
Hoje escrevo sobre os passos que
devem ser dados por quem tenha genuinamente a intenção de salvar a relação
depois de uma infidelidade.
Salvar a relação depois da
infidelidade
Não há volta a dar: só há
confiança na medida em que sintamos de forma clara, inequívoca, que a pessoa
que está ao nosso lado se preocupa genuinamente connosco, com os nossos
sentimentos. Quando a confiança é quebrada na sequência de uma traição, é
essencial que a pessoa que traiu seja capaz de mostrar o seu arrependimento
genuíno e assuma uma postura paciente – e não defensiva – em relação ao(à)
companheiro(a).
De repente, a pessoa dá por si a
colocar tudo em causa, inclusive os valores morais do(a) companheiro(a): «Quem
é esta pessoa que está ao meu lado? Quais são os seus valores?».
Se, de alguma
maneira, a pessoa que traiu tentar atirar a responsabilidade para cima da outra
com frases como «Foste tu que me abandonaste», «Tu não me davas atenção» ou «A
culpa também é tua», é menos provável que o casal consiga conectar-se e salvar
a relação.
Na prática, e mesmo quando há
claramente amor entre duas pessoas, a infidelidade traz uma grande
ambivalência. Por um lado, a pessoa que foi traída ama o(a) companheiro(a) e
tem vontade que ele(a) o(a) abrace, que esteja ali bem perto e, por outro, há
alturas em que a única coisa que deseja é que ele(a) se afaste. É normal e é
muito importante que a pessoa que traiu consiga ter paciência para estas mudanças
de humor, que são mais uma consequência do trauma vivido.
Passos para salvar a relação
depois da traição
#1: Assumir a responsabilidade
A honestidade é essencial para
que a pessoa traída possa escolher perdoar e reconstruir a relação. É evidente
que não é fácil falar sobre o que aconteceu, muito menos dar resposta a todas
as perguntas que a pessoa traída tem normalmente para fazer. Às vezes pode ser
mesmo muito cansativo. Afinal, a pessoa que traiu está arrependida, sente-se
culpada e envergonhada pelo próprio comportamento e só quer seguir em frente
sem voltar a falar no assunto. Mas a minha experiência (e a literatura nesta
área) mostra-me que é muito mais fácil reconstruir a relação quando a pessoa
que traiu está genuinamente disponível para esclarecer todas as dúvidas –
quando é que a relação começou, como é que terminou, quantos encontros houve,
do que é que costumavam falar, etc. Há uma exceção: não há nada de positivo
em partilhar detalhes sobre a intimidade sexual. Mesmo que haja muita
curiosidade em relação ao assunto, esta partilha vai certamente acicatar a
ferida e atrasar o restabelecimento da confiança.
#2: Transparência
O restabelecimento da confiança
não depende apenas do esclarecimento de dúvidas em relação ao passado. É
fundamental que haja um compromisso em relação à transparência no presente (e
no futuro).
Isso pode passar por mostrar
mensagens no telemóvel ou colocar algumas conversas em alta voz. Não é
desejável que a partir daqui haja qualquer tipo de subjugação por parte da
pessoa que traiu. A infidelidade não dá o direito à pessoa traída de passar
a controlar a vida do(a) companheiro(a). Mas, numa fase inicial é mesmo
muito importante que os membros do casal conversem sobre aquilo que pode ser
feito para que a pessoa traída se sinta segura de que a outra está a dizer a
verdade.
As coisas tornam-se quase sempre
mais complicadas quando a infidelidade acontece entre colegas de trabalho e o
contacto com a terceira pessoa continua a existir. Não há regras universais que
sirvam para todos os casais. Aquilo que importa é que haja abertura para que o
casal converse sobre aquilo que um pode fazer para devolver a segurança ao
outro (sem desrespeitar os próprios sentimentos e as próprias necessidades).
Quando colocamos a pergunta «O
que é que é mais importante para mim AGORA?» é mais provável que o caminho se
torne claro e que saibamos aquilo que podemos fazer para salvar a relação.
#3: Entender o que aconteceu
É importante que os membros do
casal conversem sobre o que aconteceu à relação antes da infidelidade – sem que
esta reflexão implique, em circunstância nenhuma, responsabilizar a pessoa
traída pelo ato da traição.
Como estava a
relação? Como é que cada um se sentia até ali? Como é que as necessidades de
cada um estavam a ser manifestadas? O que é que permitiu que a pessoa que traiu deixasse de contar com o(a) companheiro(a) para dar resposta às suas
necessidades? O que é que abriu espaço para a sedução?
Esta reflexão, que normalmente
leva tempo a ser feita, é essencial para ambos possam implementar as mudanças
que imunizem a relação em relação à ocorrência de novas traições.
#4: Definir a intenção para a
relação
Às vezes, a pessoa traída tem
tanta “pressa” em salvar a relação que se esquece de prestar atenção às
intenções do(a) companheiro(a), àquilo que o(a) leva a estar de volta. Fá-lo-á
pelas razões certas? Por se sentir pressionado(a) ou envergonhado(a)? Por medo
de perder a família?
Se a pessoa que traiu não for
capaz de dizer coisas como «Eu amo-te», «É de ti que eu gosto» ou «É contigo
que eu quero ficar», é menos provável que a confiança seja reconstruída e que a
relação perdure.
#5: Começar a perdoar
Quando os membros do casal são
capazes de conversar abertamente sobre o que aconteceu, sobre os seus sentimentos
e sobre as suas intenções em relação à relação, é mais provável que a pessoa
traída se sinta pronta para voltar a investir na relação. Mas isso não
significa que a partir daí tudo corra maravilhosamente. É muito provável que
haja avanços e recuos, que haja alguns equívocos de comunicação, algumas
explosões e vários momentos de desconexão. Aquilo que importa é que ambos
mantenham o compromisso de voltar aos episódios geradores de tensão com a
genuína intenção de falar com abertura sobre o que cada um sente e aquilo de
que cada um precisa.
É daquelas pessoas que explodem
ou amuam quando o(a) companheiro(a) fala com alguém do sexo preferencial? Envia
demasiadas mensagens por dia à pessoa de quem gosta? O batimento do seu coração
acelera quando verifica que ele(a) está online nas redes sociais e pode estar a
falar com outras pessoas? No artigo de hoje falo sobre 9 sinais que mostram
como se comportam as pessoas que são carentes no amor.
Aqui estão 9 sinais de que você é
muito carente na sua relação.
1. PERDA DE IDENTIDADE
Quando começa um relacionamento,
é natural que queira passar todo o seu tempo com a pessoa de quem gosta, mas, à
medida que a relação vai evoluindo, é desejável que cada um volte a ter tempo
para os seus projetos individuais, os seus hobbies e, claro, para estar –
também individualmente – com outras pessoas.
Se você é daquelas pessoas que
passa todo o tempo a tentar agradar a pessoa que ama, está SEMPRE de acordo com
tudo o que ele(a) pensa e só quer estar perto dele(a), é natural que comece a
perder a sua identidade. Se der por si a achar que, caso se separasse, você não
sabe exatamente quem você é, é provável que seja uma pessoa carente em relação
ao amor.
2. REAÇÕES DESPROPORCIONAIS
FREQUENTES
É normal que os casais discutam
de vez em quando, mas não é normal que haja reações explosivas por causa de
assuntos insignificantes.
Se o facto de o seu companheiro
conversar com alguém do sexo oposto (ou sexo preferencial) o levar a fazer uma
série de acusações, talvez seja bom repensar a forma como está na relação.
3. DEMASIADAS MENSAGENS
É ótimo podermos contar tudo à
pessoa que amamos. É positivo que utilizemos o Whatsapp, o e-mail ou qualquer
outra plataforma para mostramos o nosso apoio, o nosso incentivo ou o nosso
desejo. Esta é uma forma de dizer «Tu és importante para mim».
Preste atenção ao que acontece em
resposta às suas mensagens.
4. CIÚMES EXCESSIVOS
O ciúme também pode ser saudável.
O alarme que surge quando observamos a admiração que outras pessoas sentem pelo
nosso companheiro é uma forma de nos lembrarmos que ele(a) é importante para
nós e não está garantido. Mas os ciúmes não podem funcionar como um catalisador
para exercícios de controlo sobre o outro.
5. NUNCA HÁ SAUDADES
Só há uma maneira de nunca sentir
saudades: é estar sempre ao lado da pessoa de quem gosta. Se os amigos forem os
mesmos e não houver um único momento em que cada um esteja a fazer “as suas
coisas”, é provável que a relação seja uma fonte de asfixia para um dos membros
do casal.
Ter os seus próprios hobbies e
amizades que lhe tragam alegria e conexão ajudá-lo-á a ser menos carente no seu
relacionamento.
6. CONTROLO NAS REDES SOCIAIS
E isso pode servir de desculpa
para que você passe a “perseguir” a pessoa que ama nas redes sociais. Você
gostaria de ter as passwords dele(a), presta muita atenção a todos os “gostos”
e a todos os comentários e mede o tempo que ele(a) passa online. Estes
comportamentos são tóxicos para a relação.
7. ACELERAR DECISÕES
Ser carente é frequentemente um
sinal de baixa autoestima. Quando alguém se sente inseguro, rapidamente se
apega ao parceiro. Isso muitas vezes leva a que a pessoa tome decisões
importantes ao fim de pouco tempo. Por exemplo, algumas pessoas decidem viver
juntas ou ter filhos ao fim de poucas semanas.
Se as coisas estão a acontecer
mais rápido do que o normal na sua relação, isso pode ser um sinal de que você é
muito carente.
8. NECESSIDADE CONSTANTE DE
SEGURANÇA
Se é daquelas pessoas que estão
constantemente a dizer coisas como «Eu sou tão gorda» ou «Eu sou tão
desinteressante» e o seu companheiro vai respondendo «Não digas isso. Tu és
lindo(a)», mas, mesmo assim, você repete a “dose”, como se nunca acreditasse
nos elogios, é porque a carência faz parte da sua forma de estar na relação.
Mas a verdade é que esta necessidade
constante de segurança pode ser desgastante e prejudicial à sua relação.
9. VAZIO QUANDO NÃO ESTÃO JUNTOS
É normal sentir falta do seu
parceiro se ele passar o fim de semana fora. Mas cair numa tristeza profunda ou
numa crise de ansiedade só de pensar que vai estar longe da pessoa que ama
durante algum tempo não é saudável. Este é definitivamente um sinal de que você
é muito carente na sua relação.
Você precisa de começar a
identificar as suas necessidades individuais e trabalhar para que haja uma vida
para além da relação. Paradoxalmente, isso vai fortalecer o seu amor.
Tal como explico no meu mais
recente livro, “Continuar a Ser Família Depois do Divórcio”, nem todas as
pessoas conseguem explicar de forma clara e simples porque é que se
divorciaram. E, mesmo que o façam, não significa que a sua versão dos acontecimentos
corresponda ao quadro completo.
Mesmo quando há situações
concretas, como uma relação extraconjugal, dificuldade em ultrapassar um
acontecimento específico como a infertilidade, problemas de relacionamento com
a sogra, dificuldades financeiras ou diminuição do desejo sexual, existem
sempre pelo menos duas perspetivas. A realidade é sempre mais complexa do que
parece e nem sempre é fácil identificar as necessidades que foram ficando por
preencher. De resto, e ao contrário do que acontecia há alguns anos, já não são
só os casais infelizes que se divorciam. Hoje divorciamo-nos para sermos
MAIS felizes. Vivemos em busca de mais e melhor e, quando nos damos conta
de que podemos ser mais felizes do que somos na relação em que estamos,
arriscamos. Isso também está relacionado com a mudança de paradigma em relação
às relações de compromisso. Os nossos antepassados casavam e, muitas vezes, nem
sequer havia amor romântico envolvido. Depois passámos a casar por amor com a
convicção de que seria para a vida toda. E atualmente comprometemo-nos enquanto
continuarmos a sentir-nos suficientemente vivos e entusiasmados naquela
relação.
Vivemos num período em que somos
tremendamente livres para amar, para escolher e para romper e, simultaneamente,
é-nos cada vez mais difícil cumprir o sonho de viver um amor para a vida toda.
De resto, os motivos por detrás
de uma separação são aproximadamente os mesmos dos que podem estar por detrás
de uma infidelidade e estão relacionados com as necessidades que vão ficando
por preencher – quer reparemos nelas, quer não.
DIVÓRCIO: AS
CAUSAS
Desconexão emocional
Algumas pessoas nem se apercebem
de que vivem em piloto automático: acordam, trabalham, cuidam dos filhos,
cumprem as suas obrigações e vão deixando a relação conjugal para segundo plano.
Não é que não queiram namorar. Querem e muitas vezes até se esforçam para criar
momentos especiais. O que acontece é que esses momentos são demasiado raros
para que possam ser chamados de rituais. E todas as relações precisam de
rituais, aqueles momentos que são tão bons que escolhemos repeti-los vezes sem
conta.
Quase todos os casais começam por
ter estes rituais – é praticamente instintivo. Mas quando nos vamos distraindo
e deixamos de prestar atenção ao que o outro tem para dizer, quando preferimos
ver um episódio da nossa série preferida em vez de contrariarmos o cansaço e
inventarmos tempo para namorar, quando inundamos a pessoa que escolhemos de
críticas e obrigações e nos esquecemos de lhe perguntar, com genuína
curiosidade, «Como foi o teu dia?», a distância emocional vai aumentando.
Quase todas as pessoas tentam
contrariar a azáfama dos dias, tentam revelar-se, tentam fazer os seus apelos
de forma clara. Mas é tão fácil ignorar estes apelos e nem dar por isso. Claro
que quando são os nossos próprios apelos que são ignorados ou, pior do que
isso, desvalorizados, é difícil esquecer a mágoa.
Como estas estratégias de
sobrevivência são pontuadas pelas tentativas de cada um de obter a atenção do
outro, a frustração e a sensação de que «não vale a pena» vão-se instalando.
Tenho trabalhado cada vez mais
com pessoas que se separam após vinte ou mais anos de casamento. Em muitos
destes casos, a desconexão não aconteceu de um dia para o outro. Foi
acontecendo de forma gradual. E, muitas vezes, os membros do casal foram
aprendendo a viver assim. Mas o facto de vivermos cada vez mais tempo, o facto
de estarmos cada vez mais atentos ao nosso bem-estar e àquilo que nos faz
felizes e o facto de, a partir de determinada idade, estarmos mais centrados em
aproveitar o que quer que a vida tenha para nos oferecer e menos preocupados
com o que os outros possam pensar, faz com que haja mais pessoas a escolher
divorciar-se após décadas de casamento.
Afastamento físico
Quando observa um casal
apaixonado, no que é que repara? Se prestar atenção, há quase sempre um
elemento comum: aquelas duas pessoas tocam-se com frequência e mostram através
dos gestos o quanto se desejam. Não há necessariamente uma conotação sexual
nestas carícias, mas é difícil dissociá-las da paixão. A diminuição
significativa destes gestos de afeto é um dos principais sinais de alarme, sobretudo
em casais jovens. Sabemos que uma relação já teve melhores dias quando
constatamos que aquelas duas pessoas raramente se tocam.
Para muitos casais, esta é a
realidade: deixou de haver romantismo, deixou de haver desejo, deixou de haver
gestos de afeto. Muitas vezes, a intimidade emocional está lá e até pode haver
aquilo a que eu chamo de “familiaridade excessiva”, isto é, os membros do casal
são tão próximos que deixou de haver espaço para o mistério e para a sedução.
Algumas das pessoas com quem trabalho referem-se a esta questão dizendo que
passaram a ter uma relação «de irmãos». Continua a haver carinho, mas deixou de
existir romance. Nestes casos, o processo de separação é particularmente
doloroso. Tenho conhecido muitas pessoas absolutamente destroçadas com a ideia
de terminarem o seu casamento e, assim, causarem mágoa a alguém que tanto amam.
Pode não haver amor romântico, mas muitas vezes continua a haver amor, ainda
que não seja suficiente para que ambos consigam viver felizes naquela relação.
Aparecimento de uma terceira
pessoa
Não sendo a maioria, há
evidentemente casamentos que acabam devido ao aparecimento de uma terceira
pessoa. Ainda assim, é-me difícil olhar para este acontecimento como uma causa,
dissociando-o do que aconteceu à própria relação. Aquilo que quero dizer é que,
de uma maneira geral, a relação com a terceira pessoa vem, sobretudo, chamar
a atenção para as necessidades que foram ficando por preencher na relação
oficial – mesmo que a pessoa que entretanto se apaixonou por outra não se
tenha queixado. Por norma, há necessidades que vão ficando por preencher, mesmo
que a própria pessoa as ignore. Quando surge alguém que olha para nós, que
presta atenção àquilo que sentimos, que repara nos detalhes, que nos elogia de
forma sincera, que nos incentiva a lutar pelos nossos sonhos e/ou que nos
desafia, sentimo-nos especiais. Isto também pode acontecer quando estamos
felizes na nossa relação. Mas, nesse caso, é mais provável que reflitamos sobre
aquilo que é preciso fazer para que nos sintamos mais ligados, mais vivos e
menos vulneráveis a uma traição.
Quando aparece alguém que nos faça sentir
vivos,
que nos lembre como é bom sentirmo-nos
especiais aos olhos de alguém, é
natural que o nosso
mundo abane. Se isso acontecer numa altura em que
a relação
conjugal está desgastada – física e/ou
emocionalmente – a probabilidade de
haver uma
relação extraconjugal aumenta substancialmente.
Problemas com a família
alargada
Para alguns casais, as
dificuldades de relacionamento com a família alargada estão na origem do
distanciamento emocional que, mais tarde, acaba por dar origem ao divórcio.
Na maior parte dos casos a que
tenho acedido, as dificuldades estão relacionadas com a interferência excessiva
da família alargada e/ou com a dificuldade em estabelecer limites.
Quase todos os pais e mães têm a
expectativa de continuar a fazer parte da vida dos filhos, mesmo depois de eles
saírem de casa. E não há nada de errado nisso. Mas quando a relação entre pais
e filhos parece ter mais força do que o compromisso conjugal, é mais provável
que haja braços-de-ferro, conflitos e distanciamento emocional.
Problemas financeiros
Quando há um (ou mais)
acidente(s) de percurso que nos obrigue(m) a repensar os nossos planos e que
nos confronte(m) com dificuldades financeiras sérias, é muito fácil essa
situação prejudicar a relação amorosa.
Não é só a falta de dinheiro. É,
sobretudo, a dificuldade em lidar com a tristeza, a frustração, as oscilações
de humor e as expectativas de cada um.
Tenho conhecido muitos casais que
não resistiram ao embate provocado por dificuldades financeiras associadas às
múltiplas reviravoltas que a vida pode trazer. Situações de desemprego,
falência, burla, doença, endividamento são quase sempre desafios que colocam à
prova a união de um casal.
Educação dos filhos
Mais cedo ou mais tarde, todos os
pais e mães se dão conta de que ter um filho é ter alguém que depende de nós em
termos de saúde, bem-estar, segurança, estabilidade emocional e um número
infindável de outras questões. Conjugar o amor incondicional que sentimos com o
medo de alguma coisa não correr bem é dos maiores desafios que podem surgir na
vida. Para algumas pessoas, os primeiros anos são particularmente stressantes –
não apenas porque se sentem mais cansadas, mas sobretudo porque estão em
processo de adaptação a todas as responsabilidades que estão associadas ao
papel parental. Quando um dos membros do casal dedica mais tempo do que o outro
à educação dos filhos, é natural que haja alguma desconexão. De repente, tudo o
que é superficial, acessório, imaturo ou irresponsável é alvo de rejeição em
nome da segurança que se quer proporcionar aos filhos. Como estas mudanças não
acontecem sempre ao mesmo tempo para os dois membros do casal, é fácil
adivinhar as dificuldades de comunicação e a sensação de desunião.
Relações abusivas
No meu trabalho como psicóloga
tenho conhecido muitas pessoas, maioritariamente mulheres, que viveram durante
anos relações aparentemente saudáveis, algumas teoricamente quase perfeitas e
que, na intimidade, foram muito maltratadas. Nalguns casos, mesmo depois da
separação, a pessoa que foi vítima de violência emocional continua a
questionar-se sobre o seu comportamento, sobre os erros que cometeu e/ou sobre
aquilo que poderia ter feito para salvar a relação.
Costumo dizer que, numa relação
abusiva, coexistem duas realidades: aquela em que a pessoa vítima de abusos
vive e que acredita ser partilhada pelo companheiro, e aquela que vai sendo
construída na cabeça da pessoa que pratica os abusos. No início de qualquer
relação, sentimo-nos especiais, sentimo-nos desejados e vivemos com a profunda
convicção de que a pessoa que está ao nosso lado quer ver-nos felizes. Isto
também acontece nas relações abusivas. Mas entre aquilo que é dito e aquilo que
é feito há uma diferença substancial.
De uma
maneira geral, as pessoas que são física
ou emocionalmente violentas constroem
uma
espécie de guião, como num filme, e olham para
a pessoa que está ao seu
lado como uma personagem
que deve ser capaz de se comportar de acordo
com as
suas expectativas.
Quando isso não acontece, porque
cada pessoa tem vontade própria, interesses próprios, sentimentos próprios, há
ameaças mais ou menos subtis, chantagem emocional, humilhações, sabotagem e
outros exercícios de manipulação. Vale tudo para impor a própria vontade e
fazer com que a outra pessoa se subjugue, se anule, se sinta culpada e obrigada
a fazer as escolhas “certas”. Como nada disto acontece de forma clara e até,
pelo contrário, vão surgindo períodos de lua-de-mel e muitos comentários
manipuladores – «É para o teu bem», «Se tu gostasses mesmo de mim…», «És
demasiado sensível…» –, a pessoa que é vítima de abusos emocionais nem sempre é
capaz de reconhecer a realidade em que está envolvida.
Quando a pessoa que amamos
está a passar por alguma dificuldade, o que é que deve ser feito? O que é que
podemos fazer para a ajudar? E o que é que não devemos mesmo fazer?
Há uma coisa que todos os casais
felizes têm em comum e que faz com que os níveis de confiança e de intimidade
disparem. Claro que as relações felizes dependem de várias competências – não é
só uma coisa. As pessoas que se sentem felizes no relacionamento prestam
atenção aos sentimentos do(a) companheiro(a), esforçam-se para se manterem
unidos e procuram resolver os conflitos de forma saudável. Mas há uma
competência que por vezes não é tão óbvia e que faz toda a diferença em
momentos de dificuldade.
AJUDAR O(A)
COMPANHEIRO(A) NUM MOMENTO DIFÍCIL:
O QUE NÃO FAZER
Há quem pense que o sucesso de
uma relação depende de muito trabalho, muito esforço, mas a verdade é que hoje
sabemos que uma das formas mais eficazes de fortalecer uma relação tem a ver
com algo que NÃO devemos fazer quando a pessoa que amamos está a passar por um
momento difícil:
DAR CONSELHOS
É verdade!
Quando o(a) nosso(a)
companheiro(a) partilha algo que está a mexer com ele(a), que é intenso do
ponto de vista emocional, o que é que nós podemos fazer?
Em primeiro lugar, é fundamental
que não façamos NADA. Basta que o(a) ouçamos com muita atenção. O silêncio,
nestas alturas, é valioso.
O PODER DO SILÊNCIO
Nem sempre é fácil lidar com as
emoções da pessoa de quem gostamos. Quando ele(a) mostra preocupação, tristeza,
raiva ou ansiedade, é tentador partilharmos os nossos conselhos e sugestões.
Depois surpreendemo-nos com a fúria dele(a) e pensamos «Qual é o teu problema?
Só estava a tentar ajudar…».
Algumas pessoas têm muita
dificuldade em ficar apenas a ouvir e apressam-se a oferecer soluções. Outras
sofrem tanto com as dores do outro que acabam por lidar com o assunto como se o
problema fosse seu. De uma maneira geral, nenhum destes caminhos funciona. Aquilo
que funciona é mostrar que quer mesmo saber como pode ajudar: «O que é que
eu posso fazer para ajudar?».
AJUDAR O(A)
COMPANHEIRO(A) NUM MOMENTO DIFÍCIL:
COLOCAR PERGUNTAS
Depois de escutarmos com atenção
o que a outra pessoa tem para dizer, as perguntas podem ajudar-nos a perceber
melhor o que ele(a) está a sentir e aquilo de que precisa.
«O que é que te
preocupa?»
«Então, estás a
dizer que tens medo que…?»
«Deixa-me ver se
percebi: estás aborrecido(a) com…?»
Quase todas as perguntas são
válidas, sobretudo se traduzirem genuíno interesse, mas há perguntas mais
eficazes do que outras. Mais do que tentar saber «Porquê?» é importante tentar
conhecer os detalhes que nos ajudem a colocar-nos na posição da pessoa que
amamos («Quando? Como? Quem?»).
Os conselhos e as sugestões podem
ser dados, mas apenas se forem solicitados.