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14.6.18

COMO AJUDAR UMA PESSOA QUE FOI TRAÍDA


Quando uma pessoa amiga ou alguém da nossa família revela que foi traída, o que é que podemos/devemos fazer para ajudar? Pode ser tentador colocarmo-nos claramente do seu lado e “contra” o companheiro. Há até quem sugira com todas as letras «Deixa-o/a!». Mas será que é disso que alguém nestas circunstâncias precisa?


A forma como olhamos para o amor e para as relações mudou muito nas últimas décadas. Quando a geração dos nossos pais casou, o divórcio e as separações não entravam na equação. Entretanto passámos do «Até que a morte os separe» para «Até que o amor acabe» e já não aceitamos viver numa relação que não nos faça felizes.



Antigamente os homens tinham “autorização” para trair e havia muitas mulheres que se sentiam obrigadas a “fechar os olhos”. Na maior parte dos casos, dependiam dos maridos para sobreviver e, mesmo que trabalhassem fora de casa, eram marginalizadas se escolhessem terminar a relação. A família, a comunidade e a Igreja exerciam muita pressão e era impensável terminar um casamento “só” por causa de uma traição.

Hoje sabemos que homens e mulheres traem e é praticamente impossível que não tenhamos sido parte de uma história de traição – entre trair, ser traído, ser filho de uma relação em que tenha havido uma traição, descobrir a traição de um amigo ou familiar ou ajudar alguém que esteja a passar por isso, quase todas as pessoas já viram a sua vida ser afetada pela infidelidade.

Se é verdade que há uns anos os conselhos que uma pessoa traída ouviria seriam para desvalorizar o assunto e seguir em frente, protegendo a família, hoje é muito mais comum que alguém nessa situação ouça «Deixa-o/a. Segue em frente. Ele/ela não te merece». Mais do que isso: a forma como olhamos para o amor e para as relações amorosas faz com que, involuntariamente, possamos estar a exercer pressão sobre a pessoa traída, ainda que no sentido inverso.



Para quem está de fora, pode ser muito mais fácil julgar, criticar, apontar o dedo a alguém que escolha voltar a investir numa relação depois da traição do que tentar compreender, amparar e ajudar no que for preciso.

A verdade é que, apesar do número crescente de separações e divórcios, a maior parte das pessoas traídas optam por tentar reconstruir a relação. Nem sempre dá certo. Nem todos os casais vão a tempo de reacender a chama da ligação. Mas na maioria das vezes há essa vontade.

Quando uma pessoa se sente devastada pela experiência da infidelidade e faz a escolha de partilhar o seu sofrimento com um familiar ou amigo, nem sempre vai em busca de conselhos. E mesmo quando pergunta «E agora, o que é que eu faço?», raramente precisa de uma resposta do tipo «Sai» ou «Fica».

Então, do que é que a pessoa que foi traída precisa?


De se sentir ouvida. Se tem um familiar ou uma pessoa amiga que está a passar pela turbulência da infidelidade, dê-lhe espaço para falar abertamente sobre o que sente. Faça perguntas que traduzam o seu genuíno interesse sobre os seus sentimentos (não sobre os detalhes da traição) e que a ajudem a organizar os próprios pensamentos. Evite fazer juízos de valor. Dê espaço para que a pessoa possa sentir-se livre para dizer que ainda gosta do companheiro, se for o caso.

De se sentir protegida. Para alguém que acabou de passar pela maior quebra de confiança da vida, pode ser especialmente desafiante confiar em quer que seja. Mostre de forma clara que, no que diga respeito a este assunto, a sua boca é um túmulo. Não comente o episódio com ninguém. Não transforme a dor de uma pessoa de quem gosta num “assunto de café”.

De se sentir apoiada. Em vez de tomar partido, ofereça o seu apoio. Diga claramente que vai estar “lá” para o seu familiar ou amigo(a). Ofereça o seu abraço, o seu colo. Mostre o seu apoio incondicional – diga claramente que o/a apoiará independentemente da sua escolha.

De esperança. Uma das coisas que uma pessoa traída pode sentir é a falta de poder, a falta de controlo sobre a própria vida. A infidelidade é muitas vezes uma surpresa e a sensação por que a pessoa traída passa é a de que ficou “sem chão”. Procure ajudá-la a acalmar-se e a reconhecer que as decisões não têm de ser tomadas naquele instante. Ele/ela tem o direito de se sentir triste, com medo e/ou com raiva e pode precisar de tempo para gerir essas emoções. Depois de a poeira assentar, o seu familiar ou amigo(a) vai dar-se conta de que tem poder para escolher o caminho que quer fazer. Não desdramatize dizendo coisas como «Isto é muito comum» ou «Acontece a toda a gente». Procure, isso sim, colocar-se na posição da outra pessoa e reconhecer as suas dificuldades. É possível voltar a ser (muito) feliz mas isso implica enfrentar o desafio de escolher o caminho que melhor se ajuste aos próprios sentimentos.



 
Sair ou ficar? Só a própria pessoa é capaz de determinar aquilo que se ajusta à sua realidade, aos seus sentimentos.

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