Um casamento pode ficar melhor
do que era antes de uma infidelidade? Ou isso é só mais um mito propagado por
quem quer legitimar as traições? Afinal, uma traição é uma crise por que
ninguém quer passar, mas, ao mesmo tempo, ouvimos dizer de forma sistemática
que todas as crises são oportunidades de crescimento.
Há tempos, numa consulta de
terapia conjugal, o marido dizia «O cancro foi a melhor coisa que nos aconteceu
enquanto casal», referindo-se à doença por que a mulher tinha passado e
vencido. Naquele instante, reconheci o choque no olhar da mulher, ainda que,
nas suas próprias palavras, a doença tenha servido como um ponto de viragem que
aconteceu precisamente numa altura em que estavam prestes a separar-se. O
turbilhão de emoções por que passaram obrigou-os a rever prioridades, a
repensar uma série de escolhas e a olhar para o casamento de forma mais
consciente. Ainda assim, foi uma experiência violenta, como o cancro é quase
sempre.
Quase todos conhecemos pessoas
que, tendo sobrevivido a uma doença grave, passaram a olhar para a vida de
forma muito diferente, assumindo uma postura mais grata em relação a um bem que
damos por garantido quando vivemos em piloto automático. Ainda assim, não há
ninguém que deseje passar por uma experiência como esta e todas as pessoas que
estão neste momento a lutar pela vida davam tudo para ter a normalidade de
volta.
Traição: um terramoto
emocional
Uma infidelidade é um terramoto
que só quem já viveu compreende. Quase todos os dias ouvimos falar de histórias
de traições e de casamentos que terminam e acabamos por supor que sabemos quase
tudo sobre o assunto. Até assumimos, com profunda convicção, aquilo que
faríamos (e o que não faríamos) se nos tocasse a nós.
Em primeiro lugar, há a tristeza
e a ansiedade, que surgem com uma intensidade com que ninguém conta. Isto
acontece precisamente porque, de uma maneira geral, quando nos ligamos a alguém
romanticamente e construímos uma relação duradoura, o nosso bem-estar passa a
estar absolutamente correlacionado com o bem-estar da outra pessoa. É um
bocadinho como se uma parte do nosso coração passasse a bater fora do nosso
corpo. Por exemplo, há diversos estudos que mostram que uma ligação amorosa se
estende até a um nível biológico. Isto é, a nossa saúde física, o nosso
batimento cardíaco, a nossa imunidade e a probabilidade de sermos afetados por
um conjunto de doenças são afetados pela qualidade do estado da relação.
Quando o tapete é puxado e uma
pessoa descobre que a pessoa a quem está emocionalmente ligada a traiu, toda a
vida parece desmoronar-se e todas as certezas se evaporam. É um pesadelo que
ninguém deseja, que ninguém antecipa.
Uma infidelidade pode ser uma
oportunidade de crescimento?
Mais cedo ou mais tarde, todas as
pessoas afetadas por uma traição são confrontadas com a necessidade de tomar
decisões. É nesta altura que se dão conta de que falar é sempre mais fácil do
que fazer e que, afinal, é absolutamente possível querer continuar uma relação
depois de uma infidelidade, ainda que, na esmagadora maioria das vezes, não se
saiba como o fazer.
Na maior parte das vezes, os
casais que escolhem dar uma oportunidade ao casamento comprometem-se em colocar
uma pedra sobre o assunto e começar do zero. Dão o seu melhor no sentido de
tentarem trazer os elementos a que foram dedicando menos atenção de volta ao
dia a dia, como as saídas a dois e os gestos românticos. Invariavelmente,
dão-se conta de que, ainda que haja arrependimento genuíno e vontade de ambos
de reconstruir a relação, a realidade é quase sempre mais dura e desafiante.
É nesta altura que costumam pedir
ajuda da terapia de casal. Por um lado, sabem que o luto é um processo que não
acontece com um estalar de dedos e sentem a necessidade de conversar com alguém
de fora, que os ajude a identificar aquilo que cada um pode fazer para que
essas emoções sejam suficientemente valorizadas, sem que isso roube a esperança
num futuro mais risonho. Por outro, começam a dar-se conta de que há outras
“pequenas traições” que foram colecionando ao longo do tempo e que, não
justificando a infidelidade, precisam de ser reconhecidas, precisam de ser
discutidas.
Traições para além da
infidelidade
Se duas pessoas são muito
agressivas uma com a outra, se se sentem sobretudo presas uma à outra, mas
passam a vida a fazer críticas e acusações, como se se tratassem de borboletas
cujas asas estão coladas à parede, será que podemos falar da inexistência de
traição?
A infidelidade é normalmente
hipercriticada. É um sinal claro de que alguém errou, desviando-se não só das
escolhas moralmente mais acertadas, mas sobretudo do compromisso que assumiu.
Mas quando iniciamos uma relação, não nos comprometemos apenas com a
fidelidade, pois não? Comprometemo-nos a ser carinhosos, a estar “lá” para
apoiar a pessoa que amamos, para a escutar todos os dias com atenção e a
incentivá-la a lutar pelos seus sonhos, por aquilo que a faz feliz.
Muitas vezes, não só nada disto
está presente numa relação, como há alguém que é continuamente desprezado,
continuamente ignorado, continuamente criticado. E, se não houvesse traição, o
círculo vicioso dificilmente se quebraria.
Esta é a verdade nua e crua:
alguns casamentos melhoram muito depois de uma infidelidade. Isso não significa
que a infidelidade seja a “receita” para melhorar um casamento. Nunca é. Mas,
para alguns, é a oportunidade para virar a vida do avesso, repensar escolhas e
ter um casamento genuinamente feliz.
Como é que um casal pode
recuperar de uma infidelidade? Que passos é preciso dar para reconstruir a
relação? Como é que se gere o turbilhão de emoções que estão associadas a uma
traição?
Trabalho quase todos os dias com
casais que estão a tentar reconstruir a relação depois da revelação da traição.
Na maioria das vezes, são pessoas que estão em grande sofrimento, mesmo quando
a situação já aconteceu há alguns meses. Assumiram que, apesar do que
aconteceu, têm a intenção de continuar juntos, mas o dia-a-dia acaba por ser
(ainda) mais difícil do que esperavam e acabam invariavelmente por dar por si
em círculos viciosos.
Hoje escrevo sobre os passos que
devem ser dados por quem tenha genuinamente a intenção de salvar a relação
depois de uma infidelidade.
Salvar a relação depois da
infidelidade
Não há volta a dar: só há
confiança na medida em que sintamos de forma clara, inequívoca, que a pessoa
que está ao nosso lado se preocupa genuinamente connosco, com os nossos
sentimentos. Quando a confiança é quebrada na sequência de uma traição, é
essencial que a pessoa que traiu seja capaz de mostrar o seu arrependimento
genuíno e assuma uma postura paciente – e não defensiva – em relação ao(à)
companheiro(a).
De repente, a pessoa dá por si a
colocar tudo em causa, inclusive os valores morais do(a) companheiro(a): «Quem
é esta pessoa que está ao meu lado? Quais são os seus valores?».
Se, de alguma
maneira, a pessoa que traiu tentar atirar a responsabilidade para cima da outra
com frases como «Foste tu que me abandonaste», «Tu não me davas atenção» ou «A
culpa também é tua», é menos provável que o casal consiga conectar-se e salvar
a relação.
Na prática, e mesmo quando há
claramente amor entre duas pessoas, a infidelidade traz uma grande
ambivalência. Por um lado, a pessoa que foi traída ama o(a) companheiro(a) e
tem vontade que ele(a) o(a) abrace, que esteja ali bem perto e, por outro, há
alturas em que a única coisa que deseja é que ele(a) se afaste. É normal e é
muito importante que a pessoa que traiu consiga ter paciência para estas mudanças
de humor, que são mais uma consequência do trauma vivido.
Passos para salvar a relação
depois da traição
#1: Assumir a responsabilidade
A honestidade é essencial para
que a pessoa traída possa escolher perdoar e reconstruir a relação. É evidente
que não é fácil falar sobre o que aconteceu, muito menos dar resposta a todas
as perguntas que a pessoa traída tem normalmente para fazer. Às vezes pode ser
mesmo muito cansativo. Afinal, a pessoa que traiu está arrependida, sente-se
culpada e envergonhada pelo próprio comportamento e só quer seguir em frente
sem voltar a falar no assunto. Mas a minha experiência (e a literatura nesta
área) mostra-me que é muito mais fácil reconstruir a relação quando a pessoa
que traiu está genuinamente disponível para esclarecer todas as dúvidas –
quando é que a relação começou, como é que terminou, quantos encontros houve,
do que é que costumavam falar, etc. Há uma exceção: não há nada de positivo
em partilhar detalhes sobre a intimidade sexual. Mesmo que haja muita
curiosidade em relação ao assunto, esta partilha vai certamente acicatar a
ferida e atrasar o restabelecimento da confiança.
#2: Transparência
O restabelecimento da confiança
não depende apenas do esclarecimento de dúvidas em relação ao passado. É
fundamental que haja um compromisso em relação à transparência no presente (e
no futuro).
Isso pode passar por mostrar
mensagens no telemóvel ou colocar algumas conversas em alta voz. Não é
desejável que a partir daqui haja qualquer tipo de subjugação por parte da
pessoa que traiu. A infidelidade não dá o direito à pessoa traída de passar
a controlar a vida do(a) companheiro(a). Mas, numa fase inicial é mesmo
muito importante que os membros do casal conversem sobre aquilo que pode ser
feito para que a pessoa traída se sinta segura de que a outra está a dizer a
verdade.
As coisas tornam-se quase sempre
mais complicadas quando a infidelidade acontece entre colegas de trabalho e o
contacto com a terceira pessoa continua a existir. Não há regras universais que
sirvam para todos os casais. Aquilo que importa é que haja abertura para que o
casal converse sobre aquilo que um pode fazer para devolver a segurança ao
outro (sem desrespeitar os próprios sentimentos e as próprias necessidades).
Quando colocamos a pergunta «O
que é que é mais importante para mim AGORA?» é mais provável que o caminho se
torne claro e que saibamos aquilo que podemos fazer para salvar a relação.
#3: Entender o que aconteceu
É importante que os membros do
casal conversem sobre o que aconteceu à relação antes da infidelidade – sem que
esta reflexão implique, em circunstância nenhuma, responsabilizar a pessoa
traída pelo ato da traição.
Como estava a
relação? Como é que cada um se sentia até ali? Como é que as necessidades de
cada um estavam a ser manifestadas? O que é que permitiu que a pessoa que traiu deixasse de contar com o(a) companheiro(a) para dar resposta às suas
necessidades? O que é que abriu espaço para a sedução?
Esta reflexão, que normalmente
leva tempo a ser feita, é essencial para ambos possam implementar as mudanças
que imunizem a relação em relação à ocorrência de novas traições.
#4: Definir a intenção para a
relação
Às vezes, a pessoa traída tem
tanta “pressa” em salvar a relação que se esquece de prestar atenção às
intenções do(a) companheiro(a), àquilo que o(a) leva a estar de volta. Fá-lo-á
pelas razões certas? Por se sentir pressionado(a) ou envergonhado(a)? Por medo
de perder a família?
Se a pessoa que traiu não for
capaz de dizer coisas como «Eu amo-te», «É de ti que eu gosto» ou «É contigo
que eu quero ficar», é menos provável que a confiança seja reconstruída e que a
relação perdure.
#5: Começar a perdoar
Quando os membros do casal são
capazes de conversar abertamente sobre o que aconteceu, sobre os seus sentimentos
e sobre as suas intenções em relação à relação, é mais provável que a pessoa
traída se sinta pronta para voltar a investir na relação. Mas isso não
significa que a partir daí tudo corra maravilhosamente. É muito provável que
haja avanços e recuos, que haja alguns equívocos de comunicação, algumas
explosões e vários momentos de desconexão. Aquilo que importa é que ambos
mantenham o compromisso de voltar aos episódios geradores de tensão com a
genuína intenção de falar com abertura sobre o que cada um sente e aquilo de
que cada um precisa.
Tal como explico no meu mais
recente livro, “Continuar a Ser Família Depois do Divórcio”, nem todas as
pessoas conseguem explicar de forma clara e simples porque é que se
divorciaram. E, mesmo que o façam, não significa que a sua versão dos acontecimentos
corresponda ao quadro completo.
Mesmo quando há situações
concretas, como uma relação extraconjugal, dificuldade em ultrapassar um
acontecimento específico como a infertilidade, problemas de relacionamento com
a sogra, dificuldades financeiras ou diminuição do desejo sexual, existem
sempre pelo menos duas perspetivas. A realidade é sempre mais complexa do que
parece e nem sempre é fácil identificar as necessidades que foram ficando por
preencher. De resto, e ao contrário do que acontecia há alguns anos, já não são
só os casais infelizes que se divorciam. Hoje divorciamo-nos para sermos
MAIS felizes. Vivemos em busca de mais e melhor e, quando nos damos conta
de que podemos ser mais felizes do que somos na relação em que estamos,
arriscamos. Isso também está relacionado com a mudança de paradigma em relação
às relações de compromisso. Os nossos antepassados casavam e, muitas vezes, nem
sequer havia amor romântico envolvido. Depois passámos a casar por amor com a
convicção de que seria para a vida toda. E atualmente comprometemo-nos enquanto
continuarmos a sentir-nos suficientemente vivos e entusiasmados naquela
relação.
Vivemos num período em que somos
tremendamente livres para amar, para escolher e para romper e, simultaneamente,
é-nos cada vez mais difícil cumprir o sonho de viver um amor para a vida toda.
De resto, os motivos por detrás
de uma separação são aproximadamente os mesmos dos que podem estar por detrás
de uma infidelidade e estão relacionados com as necessidades que vão ficando
por preencher – quer reparemos nelas, quer não.
DIVÓRCIO: AS
CAUSAS
Desconexão emocional
Algumas pessoas nem se apercebem
de que vivem em piloto automático: acordam, trabalham, cuidam dos filhos,
cumprem as suas obrigações e vão deixando a relação conjugal para segundo plano.
Não é que não queiram namorar. Querem e muitas vezes até se esforçam para criar
momentos especiais. O que acontece é que esses momentos são demasiado raros
para que possam ser chamados de rituais. E todas as relações precisam de
rituais, aqueles momentos que são tão bons que escolhemos repeti-los vezes sem
conta.
Quase todos os casais começam por
ter estes rituais – é praticamente instintivo. Mas quando nos vamos distraindo
e deixamos de prestar atenção ao que o outro tem para dizer, quando preferimos
ver um episódio da nossa série preferida em vez de contrariarmos o cansaço e
inventarmos tempo para namorar, quando inundamos a pessoa que escolhemos de
críticas e obrigações e nos esquecemos de lhe perguntar, com genuína
curiosidade, «Como foi o teu dia?», a distância emocional vai aumentando.
Quase todas as pessoas tentam
contrariar a azáfama dos dias, tentam revelar-se, tentam fazer os seus apelos
de forma clara. Mas é tão fácil ignorar estes apelos e nem dar por isso. Claro
que quando são os nossos próprios apelos que são ignorados ou, pior do que
isso, desvalorizados, é difícil esquecer a mágoa.
Como estas estratégias de
sobrevivência são pontuadas pelas tentativas de cada um de obter a atenção do
outro, a frustração e a sensação de que «não vale a pena» vão-se instalando.
Tenho trabalhado cada vez mais
com pessoas que se separam após vinte ou mais anos de casamento. Em muitos
destes casos, a desconexão não aconteceu de um dia para o outro. Foi
acontecendo de forma gradual. E, muitas vezes, os membros do casal foram
aprendendo a viver assim. Mas o facto de vivermos cada vez mais tempo, o facto
de estarmos cada vez mais atentos ao nosso bem-estar e àquilo que nos faz
felizes e o facto de, a partir de determinada idade, estarmos mais centrados em
aproveitar o que quer que a vida tenha para nos oferecer e menos preocupados
com o que os outros possam pensar, faz com que haja mais pessoas a escolher
divorciar-se após décadas de casamento.
Afastamento físico
Quando observa um casal
apaixonado, no que é que repara? Se prestar atenção, há quase sempre um
elemento comum: aquelas duas pessoas tocam-se com frequência e mostram através
dos gestos o quanto se desejam. Não há necessariamente uma conotação sexual
nestas carícias, mas é difícil dissociá-las da paixão. A diminuição
significativa destes gestos de afeto é um dos principais sinais de alarme, sobretudo
em casais jovens. Sabemos que uma relação já teve melhores dias quando
constatamos que aquelas duas pessoas raramente se tocam.
Para muitos casais, esta é a
realidade: deixou de haver romantismo, deixou de haver desejo, deixou de haver
gestos de afeto. Muitas vezes, a intimidade emocional está lá e até pode haver
aquilo a que eu chamo de “familiaridade excessiva”, isto é, os membros do casal
são tão próximos que deixou de haver espaço para o mistério e para a sedução.
Algumas das pessoas com quem trabalho referem-se a esta questão dizendo que
passaram a ter uma relação «de irmãos». Continua a haver carinho, mas deixou de
existir romance. Nestes casos, o processo de separação é particularmente
doloroso. Tenho conhecido muitas pessoas absolutamente destroçadas com a ideia
de terminarem o seu casamento e, assim, causarem mágoa a alguém que tanto amam.
Pode não haver amor romântico, mas muitas vezes continua a haver amor, ainda
que não seja suficiente para que ambos consigam viver felizes naquela relação.
Aparecimento de uma terceira
pessoa
Não sendo a maioria, há
evidentemente casamentos que acabam devido ao aparecimento de uma terceira
pessoa. Ainda assim, é-me difícil olhar para este acontecimento como uma causa,
dissociando-o do que aconteceu à própria relação. Aquilo que quero dizer é que,
de uma maneira geral, a relação com a terceira pessoa vem, sobretudo, chamar
a atenção para as necessidades que foram ficando por preencher na relação
oficial – mesmo que a pessoa que entretanto se apaixonou por outra não se
tenha queixado. Por norma, há necessidades que vão ficando por preencher, mesmo
que a própria pessoa as ignore. Quando surge alguém que olha para nós, que
presta atenção àquilo que sentimos, que repara nos detalhes, que nos elogia de
forma sincera, que nos incentiva a lutar pelos nossos sonhos e/ou que nos
desafia, sentimo-nos especiais. Isto também pode acontecer quando estamos
felizes na nossa relação. Mas, nesse caso, é mais provável que reflitamos sobre
aquilo que é preciso fazer para que nos sintamos mais ligados, mais vivos e
menos vulneráveis a uma traição.
Quando aparece alguém que nos faça sentir
vivos,
que nos lembre como é bom sentirmo-nos
especiais aos olhos de alguém, é
natural que o nosso
mundo abane. Se isso acontecer numa altura em que
a relação
conjugal está desgastada – física e/ou
emocionalmente – a probabilidade de
haver uma
relação extraconjugal aumenta substancialmente.
Problemas com a família
alargada
Para alguns casais, as
dificuldades de relacionamento com a família alargada estão na origem do
distanciamento emocional que, mais tarde, acaba por dar origem ao divórcio.
Na maior parte dos casos a que
tenho acedido, as dificuldades estão relacionadas com a interferência excessiva
da família alargada e/ou com a dificuldade em estabelecer limites.
Quase todos os pais e mães têm a
expectativa de continuar a fazer parte da vida dos filhos, mesmo depois de eles
saírem de casa. E não há nada de errado nisso. Mas quando a relação entre pais
e filhos parece ter mais força do que o compromisso conjugal, é mais provável
que haja braços-de-ferro, conflitos e distanciamento emocional.
Problemas financeiros
Quando há um (ou mais)
acidente(s) de percurso que nos obrigue(m) a repensar os nossos planos e que
nos confronte(m) com dificuldades financeiras sérias, é muito fácil essa
situação prejudicar a relação amorosa.
Não é só a falta de dinheiro. É,
sobretudo, a dificuldade em lidar com a tristeza, a frustração, as oscilações
de humor e as expectativas de cada um.
Tenho conhecido muitos casais que
não resistiram ao embate provocado por dificuldades financeiras associadas às
múltiplas reviravoltas que a vida pode trazer. Situações de desemprego,
falência, burla, doença, endividamento são quase sempre desafios que colocam à
prova a união de um casal.
Educação dos filhos
Mais cedo ou mais tarde, todos os
pais e mães se dão conta de que ter um filho é ter alguém que depende de nós em
termos de saúde, bem-estar, segurança, estabilidade emocional e um número
infindável de outras questões. Conjugar o amor incondicional que sentimos com o
medo de alguma coisa não correr bem é dos maiores desafios que podem surgir na
vida. Para algumas pessoas, os primeiros anos são particularmente stressantes –
não apenas porque se sentem mais cansadas, mas sobretudo porque estão em
processo de adaptação a todas as responsabilidades que estão associadas ao
papel parental. Quando um dos membros do casal dedica mais tempo do que o outro
à educação dos filhos, é natural que haja alguma desconexão. De repente, tudo o
que é superficial, acessório, imaturo ou irresponsável é alvo de rejeição em
nome da segurança que se quer proporcionar aos filhos. Como estas mudanças não
acontecem sempre ao mesmo tempo para os dois membros do casal, é fácil
adivinhar as dificuldades de comunicação e a sensação de desunião.
Relações abusivas
No meu trabalho como psicóloga
tenho conhecido muitas pessoas, maioritariamente mulheres, que viveram durante
anos relações aparentemente saudáveis, algumas teoricamente quase perfeitas e
que, na intimidade, foram muito maltratadas. Nalguns casos, mesmo depois da
separação, a pessoa que foi vítima de violência emocional continua a
questionar-se sobre o seu comportamento, sobre os erros que cometeu e/ou sobre
aquilo que poderia ter feito para salvar a relação.
Costumo dizer que, numa relação
abusiva, coexistem duas realidades: aquela em que a pessoa vítima de abusos
vive e que acredita ser partilhada pelo companheiro, e aquela que vai sendo
construída na cabeça da pessoa que pratica os abusos. No início de qualquer
relação, sentimo-nos especiais, sentimo-nos desejados e vivemos com a profunda
convicção de que a pessoa que está ao nosso lado quer ver-nos felizes. Isto
também acontece nas relações abusivas. Mas entre aquilo que é dito e aquilo que
é feito há uma diferença substancial.
De uma
maneira geral, as pessoas que são física
ou emocionalmente violentas constroem
uma
espécie de guião, como num filme, e olham para
a pessoa que está ao seu
lado como uma personagem
que deve ser capaz de se comportar de acordo
com as
suas expectativas.
Quando isso não acontece, porque
cada pessoa tem vontade própria, interesses próprios, sentimentos próprios, há
ameaças mais ou menos subtis, chantagem emocional, humilhações, sabotagem e
outros exercícios de manipulação. Vale tudo para impor a própria vontade e
fazer com que a outra pessoa se subjugue, se anule, se sinta culpada e obrigada
a fazer as escolhas “certas”. Como nada disto acontece de forma clara e até,
pelo contrário, vão surgindo períodos de lua-de-mel e muitos comentários
manipuladores – «É para o teu bem», «Se tu gostasses mesmo de mim…», «És
demasiado sensível…» –, a pessoa que é vítima de abusos emocionais nem sempre é
capaz de reconhecer a realidade em que está envolvida.
O amor e o desejo estão
relacionados, MAS também estão frequentemente em conflito: há quem reconheça
que ama a pessoa que está ao seu lado, mas já não sente desejo; e há quem se
sinta sistematicamente atraído(a) pelas pessoas erradas. Um exemplo disso são
as mulheres que assumem que gostam de “bad boys”.
Sabemos que é AMOR quando nos
importamos (mesmo) com os sentimentos da outra pessoa, quando nos preocupamos
com ele(a), procuramos protege-lo(a) de qualquer ameaça, e sentimo-nos
responsáveis por fazê-lo(a) feliz.
O DESEJO é liberdade e autonomia.
É a excitação da incerteza, do desconhecido. Muitas pessoas sentem-se mais
livres para explorar o seu desejo quando não há envolvimento emocional.
Para algumas pessoas, os cuidados
e as responsabilidades do dia-a-dia são precisamente aquilo que sufoca o
desejo.
A esmagadora maioria dos
relacionamentos duradouros envolvem cuidado, preocupação e responsabilidade e
isso é ainda mais evidente para as mulheres. Algumas chegam a ter muita
dificuldade em parar para usufruir de qualquer coisa que lhes dê prazer – até pode
ser algo tão simples como sentar-se para beber um chá ou um café. É como se
estivessem absolutamente focadas em ir ao encontro das necessidades das pessoas
de quem gostam (família) e acabassem por ignorar as suas próprias necessidades.
E a primeira necessidade a evaporar-se é o erotismo.
Escolhemos frequentemente o amor
em vez do desejo porque sentimos que esse é o nosso dever. Trocamos a aventura
pela previsibilidade. Trocamos o erotismo pela segurança.
A longo prazo, mais cedo ou mais
tarde percebemos que o compromisso só faz sentido se conseguirmos conciliar o
amor e o desejo. Porque é o amor que nos dá estabilidade e segurança e é o
desejo que nos faz sentir vivos.
No início de uma relação,
sabe-nos bem a incerteza. Numa relação de compromisso, é importante que permitamos
que o inesperado volte a fazer parte da relação. É importante quebrar a rotina –
falar sobre assuntos diferentes, que nos atirem para fora da zona de conforto,
fazer atividades diferentes e resistir à preguiça e reagir com abertura e
curiosidade aos desafios que a pessoa que está ao nosso lado traz. Qualquer
relação precisa de agitação, precisa de vitalidade.
Quais são os sinais de que a
pessoa que está ao nosso lado está a ser infiel? A que comportamentos devemos
estar atentos para evitar uma traição?
Todos os dias milhares de pessoas
recorrem ao Google com a pergunta «Quais são os sinais de uma traição?», na
esperança de avaliar se a sua relação está ou não em risco. De uma maneira
geral, quando o fazem, sentem a “pulga atrás da orelha” e, mais do que um
manual de instruções para analisar a relação, precisam de uma conversa honesta,
através da qual possam olhar para a realidade como ela é e tomar decisões
importantes.
Hoje escrevo sobre aquilo que a
terapia familiar nos diz sobre o assunto.
Quais são os
sinais de uma traição?
#1: IGNORAR OS APELOS DO(A)
COMPANHEIRO(A)
Um dos sinais (claros) de que a
pessoa que está ao nosso lado não está com os dois pés na relação tem a ver com
a forma como reage às nossas tentativas para falar sobre sentimentos,
necessidades afetivas ou sobre a própria ligação. É como se não estivesse
verdadeiramente “lá” (e, na prática, não está).
Não há disponibilidade emocional
porque o investimento está a ser feito noutra direção. Nalguns casos, a reação
a qualquer tentativa de ter uma conversa significativa até pode ser de irritabilidade.
Numa relação saudável e feliz
ninguém está permanentemente disponível, MAS aquilo que observamos é que os
membros do casal conseguem ligar-se e acabam por responder com afeto a mais de
oitenta por cento dos apelos do(a) companheiro. Só em menos de vinte por cento
das interações é que um dos membros do casal sente que não está a receber a
atenção de que precisa.
#2: COMPARAR O(A)
COMPANHEIRO(A) COM OUTRAS PESSOAS
Há comentários que nos destroem
por dentro, mesmo que não sejam ofensivos ou claramente violentos. Quando a
pessoa que amamos nos aponta o dedo, comparando-nos com outras pessoas,
desvalorizando-nos, isso é quase sempre um mal sinal. Na prática, nem
sempre quer dizer que esteja a trair-nos ou com vontade de o fazer, mas
significa que (já) não está feliz nem se sente capaz de valorizar a relação na
medida certa.
É natural que nos sintamos
insatisfeitos e é desejável que mostremos o nosso desagrado, mesmo que isso
implique que tenhamos de criticar a pessoa que está ao nosso lado. Mas é
desejável que o façamos da forma certa, isto é, centrando-nos nos nossos
sentimentos e respeitando os sentimentos dele(a). Quando fazemos comparações
negativas, deixamos de apreciar as qualidades da pessoa que amamos, deixamos de
sentir orgulho na relação e deixamos de a proteger.
#3: NÃO FALAR SOBRE OS
PRÓPRIOS SENTIMENTOS
Em qualquer relação coesa e feliz
há necessidade e vontade de falar sobre o que cada um sente. Algumas pessoas
sentem-se mais confortáveis em fazê-lo do que outras e, em todos os
relacionamentos, há alturas de maior proximidade e alturas de maior
afastamento. Mas, mesmo naqueles períodos em que temos mil coisas para fazer
e parece que não há tempo para nada, acabamos por encontrar forma de falar
sobre o que sentimos. Pelo menos, é isso que acontece quando ainda nos
importamos com a nossa relação, quando ainda contamos com a pessoa que está ao
nosso lado.
Pelo contrário, quando passamos a
investir noutra pessoa, é expectável que percamos a vontade de falar sobre o
que sentimos com o(a) nosso(a) companheiro(a). Às vezes, esta mudança até se
assemelha a alguma paz: Se a pessoa de quem gostamos deixar de se queixar,
podemos convencer-nos de que ele(a) está mais satisfeito(a) com a relação.
A “prova dos 9” acontece quando
reparamos que ele(a) não só não se queixa, como também não “precisa” de
partilhar os sentimentos mais positivos (porque passou a fazê-lo com outra
pessoa).
Que impacto é que o Facebook
tem nas relações amorosas? Que escolhas podemos fazer para proteger a nossa
relação? E o que é que não devemos mesmo fazer?
«Porque é que ele fez um ‘like’
naquela foto?», «Não estava à espera daquele comentário.», «Será que ela
continua a trocar mensagens com ele?». Estas são algumas das inquietações dos
utilizadores do Facebook. Entre ‘likes’ e comentários, é fácil criar
instabilidade a uma relação, sobretudo quando as regras não estão bem definidas
e a comunicação entre os membros do casal não é clara.
Hoje partilho algumas regras que
podem ajudar a proteger a sua relação:
NÃO PARTILHAR FOTOGRAFIAS SEM
PERMISSÃO
O mais importante é que as regras
que um casal segue cá fora também estejam presentes nas redes sociais – no Facebook,
no Instagram ou em qualquer outra. E quem define as regras? O próprio casal. Na
Internet é mais fácil cometer alguns erros. Um dos mais comuns é a publicação
de fotografias.
Há pessoas que não têm qualquer
problema em mostrá-las, mas há quem seja mais reservado, e isso tem de ser
respeitado. Ou seja, o que é importante é conhecer a pessoa que está ao seu
lado, saber o que o(a) deixa desconfortável ou inseguro(a). Algumas pessoas
sentem-se tranquilas com a possibilidade de o companheiro mostrar as
fotografias das últimas férias de família aos colegas de trabalho, outras não.
O mesmo acontece em relação às redes sociais. Se a pessoa de quem gosta não se
sente confortável com a possibilidade de você publicar fotos dela no Facebook,
não o faça.
NÃO LAVAR A ‘ROUPA SUJA’ EM
PÚBLICO
É compreensível, mas não é
aceitável. Eu consigo perceber a aflição de quem faz publicações em tom de
desabafo depois de um momento de tensão conjugal, mas não consigo validar esse
comportamento. Em primeiro lugar, porque ele é danoso para a própria pessoa e,
depois, porque é muito provável que isso traga ainda mais problemas para a
relação.
É importante que tenhamos a
consciência de que quem está do outro lado do ecrã não tem sempre as melhores
intenções a nosso respeito, que há pessoas que pela frente nos apoiam, mas por
trás até são capazes de nos criticar. Mesmo que do outro lado estejam pessoas
que procuram animar, isso não vai ajudar à resolução das dificuldades.
Claro que no meio de uma crise é
difícil perceber isso: a pessoa está tão desamparada, tão aflita, que busca por
algumas palavras de apoio. Quando desabafamos com um familiar ou amigo, isso
pode ser terapêutico porque há alguém que está ali para nós, que quer realmente
saber. Mas no Facebook, de uma maneira geral, não há essa disponibilidade.
Mesmo quando alguém
pergunta, nos comentários,
«O que é que se passa?», pode não ter genuíno
interesse. A verdade é que se estivermos
genuinamente preocupados com alguém de
quem
gostamos telefonamos, combinamos uma visita
– não nos limitamos a fazer um
comentário no Facebook.
E depois há todo o prejuízo para
a relação. É muito fácil que o(a) companheiro(a) da pessoa que fez o desabafo
no Facebook se sinta traído(a), humilhado(a) e desrespeitado(a). É muito
saudável que os casais discutam, mas deve haver limites. Os casais felizes,
mesmo quando discutem, respeitam alguns limites: vão até certo ponto, mas não
passam daí, porque há um bem maior a proteger: A relação. Ir para o Facebook
dizer mal do outro é ultrapassar esses limites.
NÃO SEGUIR O EX
Em primeiro lugar, há a
preocupação com os sentimentos do outro. Mesmo que não se mantenha qualquer
ligação romântica com a outra pessoa, não significa que a pessoa ao nosso lado
se sinta tranquila e há que respeitar isso.
Se discutiu recentemente com o(a)
seu(sua) companheiro(a) sobre isso, pergunte a si mesmo(a) «Porque é tão
importante manter a relação com aquela pessoa no Facebook?». Claro que se existir
uma genuína amizade fora do Facebook, é natural que a mantenha online. Mas se não,
o que é que aquilo acrescenta à sua vida?
Sem querer, algumas pessoas
acabam por fazer comparações negativas. Mesmo que já não haja sentimentos
românticos pelo(a) Ex, podemos ficar focados no que aquela relação teve de
positivo, comparando-a com a relação atual, sobretudo em momentos de tensão.
Estes exercícios de comparação fomentam a insegurança da pessoa que está ao
nosso lado e impedem-nos de a valorizar na medida certa.
NÃO ‘FLIRTAR’
Relembro que as regras devem ser
definidas por cada casal. O nosso comportamento online está ligado ao nosso
comportamento cá fora: há pessoas mais físicas, mais afetuosas, que se
expressam de forma carinhosa e sem maldade. Será natural que ajam da mesma
maneira no Facebook, distribuindo beijinhos e abraços. Mas se esses comportamentos
forem diferentes do que são cá fora, ou se passarem por cima daquilo que a
pessoa que está ao nosso lado sente, isso pode trazer problemas.
Se um dos membros do casal se
sentir inseguro, é importante falar sobre os seus sentimentos – sem acusações,
sem ataques.
NÃO ENVIAR MENSAGENS
ROMÂNTICAS A OUTRA PESSOA
Estas são as situações que mais
aparecem no meu consultório, e já têm a ver geralmente com quebra de confiança
e algum tipo de traição. De um modo geral, quando há fumo há fogo. Cada um tem
o direito à sua privacidade. Mas a partir do momento em que uma pessoa se dá
conta de que o companheiro(a) está inseguro(a) em relação àquilo que possa
estar a fazer no Facebook, tem de o(a) tranquilizar.
Se uma pessoa se sentir insegura,
se suspeitar de que o(a) companheiro(a) tem trocado mensagens românticas com
outras pessoas, deve confrontá-lo(a) diretamente, e de forma tão assertiva
quanto possível. O que é que não se deve fazer? Vasculhar o Facebook do outro. Mais
uma vez, percebo, mas não posso aconselhar. Porque isso não vai trazer nada de
bom e só vai deteriorar a autoestima. Então, e se houver suspeitas fortes e a
pessoa que está ao nosso lado não admitir? Se não for capaz de confiar na pessoa
que está ao seu lado, tem sempre a possibilidade de se afastar. Isso não é
fácil, claro, mas pode ser a única forma de se sentir genuinamente em paz.
Quais são os motivos que podem
levar alguém a trair? O que é que faz com que uma pessoa faça escolhas que
podem colocar a relação em risco?
Antes de explorar os motivos que
costumam estar associados à infidelidade, importa esclarecer que não são só as
pessoas que se sentem insatisfeitas no casamento que traem. Tal como escrevi
AQUI, as pessoas felizes também traem.
TRAIÇÃO: OS MOTIVOS
SOLIDÃO
A última coisa que associamos a
uma relação amorosa é a solidão, mas há muitas pessoas que se sentem
profundamente desamparadas apesar de estarem casadas. Há relações em que deixou
de haver intimidade e as conversas se resumem às responsabilidades familiares.
Quando isto acontece, as demonstrações físicas de afeto são praticamente
inexistentes e há pelo menos um dos membros do casal que sente a necessidade de
receber muito mais atenção. É esta necessidade (e a sensação de abandono) que
está por detrás do aparecimento de uma terceira pessoa.
INSATISFAÇÃO SEXUAL
Alguns casamentos são
praticamente assexuados, caracterizados pela apatia e pela inexistência de intimidade
sexual. Nalguns casos, nunca chegou verdadeiramente a existir prazer associado
à sexualidade. Isto acontece mais frequentemente com mulheres que foram
educadas de forma muito conservadora e que durante muito tempo olharam para o
sexo como uma obrigação. Noutros casos, a fantasia, o desejo e a imaginação
foram “engolidos” pelos afazeres do dia-a-dia e há pelo menos um dos membros do
casal que se sente insatisfeito e que procura, através da relação extraconjugal,
voltar a sentir-se vivo, voltar a sentir-se desejado.
MONOTONIA
As rotinas fazem parte da vida de
qualquer família e, até certo ponto, contribuem para a nossa segurança e
estabilidade. Mas a maior parte dos casamentos depende tanto da estabilidade e
da segurança quanto da novidade e do mistério. Se a pessoa que estiver ao nosso
lado só conseguir oferecer-nos estabilidade, é mais provável que a relação
possa ficar estagnada.
Numa relação feliz existe uma “distância
de segurança”, que faz com que olhemos para a pessoa que está ao nosso lado
como alguém que tem interesses e hábitos individuais, que vão além da vida a
dois ou da vida familiar. Ele(a) não está garantido(a), está em constante
evolução, luta pelos seus sonhos e dá-nos a sensação de que há sempre algo mais
por descobrir.
Algumas relações estagnam ao
ponto de os membros do casal deixarem de se sentir vivos ou desejados. Há pelo
menos um dos membros do casal que sente que vive em função das obrigações
familiares e a relação extraconjugal surge como algo que, pela primeira vez em
muito tempo, reacende a sensação de vivacidade e desejo.
JUVENTUDE PERDIDA
Algumas pessoas, sobretudo de
gerações mais antigas, casaram pressionadas pela família de origem (e não
porque se sentiam apaixonadas) e desenvolveram relações sólidas, estáveis, mas marcadas
sobretudo por um grande sentido de obrigação. Foram educadas segundo a ideia de
que um casamento seria para a vida toda, independentemente da satisfação
conjugal, e ao fim de 20, 30 ou 40 anos, olham pela primeira vez para os
próprios sentimentos. Nalguns casos, a relação extraconjugal surge numa altura
em que os filhos já são adultos e apanha toda a gente de surpresa.
Raramente há uma busca ativa do
que quer que seja. A pessoa acaba por ser surpreendida pelos próprios
sentimentos e faz, pela primeira vez na vida, uma escolha centrada em si mesma.
EXPECTATIVAS
Algumas pessoas admitem que se
sentem felizes na relação, mas vivem com a expectativa de serem AINDA MAIS felizes
Questionam se serão “suficientemente” felizes: «Será que o amor é isto, ou
posso ambicionar mais?». Olham para o enamoramento associado à relação
extraconjugal como a possibilidade de viverem um amor mais próximo da
perfeição.
É importante olharmos para as
relações amorosas de forma realista. Cada vez mais, depositamos muitas
expectativas na pessoa que está ao nosso lado: esperamos que seja o(a) nosso(a)
companheiro(a), o(a) nosso melhor amigo(a), o(a) melhor amante, etc. Nenhum de
nós é perfeito e uma relação sólida depende da capacidade de aceitar a pessoa
que está ao nosso lado com todas as suas imperfeições (e da capacidade de
valorizarmos na medida certa os atributos que nos levaram a apaixonar-nos por
ela).
Quando conseguirmos definir de
forma clara as nossas intenções, focar-nos no que queremos para nós, para a
nossa vida, prestar atenção aos nossos sentimentos e às nossas necessidades e verbalizá-las
de forma clara e firme, é mais provável que consigamos fazer as escolhas
conscientes que nos ajudem a manter uma relação que nos faça sentir vivos e
entusiasmados.