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3.3.20

UMA TRAIÇÃO PODE MELHORAR UM CASAMENTO?


Uma traição pode melhorar um casamento?


Um casamento pode ficar melhor do que era antes de uma infidelidade? Ou isso é só mais um mito propagado por quem quer legitimar as traições? Afinal, uma traição é uma crise por que ninguém quer passar, mas, ao mesmo tempo, ouvimos dizer de forma sistemática que todas as crises são oportunidades de crescimento.





Há tempos, numa consulta de terapia conjugal, o marido dizia «O cancro foi a melhor coisa que nos aconteceu enquanto casal», referindo-se à doença por que a mulher tinha passado e vencido. Naquele instante, reconheci o choque no olhar da mulher, ainda que, nas suas próprias palavras, a doença tenha servido como um ponto de viragem que aconteceu precisamente numa altura em que estavam prestes a separar-se. O turbilhão de emoções por que passaram obrigou-os a rever prioridades, a repensar uma série de escolhas e a olhar para o casamento de forma mais consciente. Ainda assim, foi uma experiência violenta, como o cancro é quase sempre.

Quase todos conhecemos pessoas que, tendo sobrevivido a uma doença grave, passaram a olhar para a vida de forma muito diferente, assumindo uma postura mais grata em relação a um bem que damos por garantido quando vivemos em piloto automático. Ainda assim, não há ninguém que deseje passar por uma experiência como esta e todas as pessoas que estão neste momento a lutar pela vida davam tudo para ter a normalidade de volta.


Traição: um terramoto emocional


Uma infidelidade é um terramoto que só quem já viveu compreende. Quase todos os dias ouvimos falar de histórias de traições e de casamentos que terminam e acabamos por supor que sabemos quase tudo sobre o assunto. Até assumimos, com profunda convicção, aquilo que faríamos (e o que não faríamos) se nos tocasse a nós.

Uma traição é quase sempre mais impactante do que alguém possa supor. É uma perda gigantesca que vai muito além da quebra de confiança.


Em primeiro lugar, há a tristeza e a ansiedade, que surgem com uma intensidade com que ninguém conta. Isto acontece precisamente porque, de uma maneira geral, quando nos ligamos a alguém romanticamente e construímos uma relação duradoura, o nosso bem-estar passa a estar absolutamente correlacionado com o bem-estar da outra pessoa. É um bocadinho como se uma parte do nosso coração passasse a bater fora do nosso corpo. Por exemplo, há diversos estudos que mostram que uma ligação amorosa se estende até a um nível biológico. Isto é, a nossa saúde física, o nosso batimento cardíaco, a nossa imunidade e a probabilidade de sermos afetados por um conjunto de doenças são afetados pela qualidade do estado da relação.

Quando o tapete é puxado e uma pessoa descobre que a pessoa a quem está emocionalmente ligada a traiu, toda a vida parece desmoronar-se e todas as certezas se evaporam. É um pesadelo que ninguém deseja, que ninguém antecipa.

Uma infidelidade pode ser uma oportunidade de crescimento?


Mais cedo ou mais tarde, todas as pessoas afetadas por uma traição são confrontadas com a necessidade de tomar decisões. É nesta altura que se dão conta de que falar é sempre mais fácil do que fazer e que, afinal, é absolutamente possível querer continuar uma relação depois de uma infidelidade, ainda que, na esmagadora maioria das vezes, não se saiba como o fazer.

Na maior parte das vezes, os casais que escolhem dar uma oportunidade ao casamento comprometem-se em colocar uma pedra sobre o assunto e começar do zero. Dão o seu melhor no sentido de tentarem trazer os elementos a que foram dedicando menos atenção de volta ao dia a dia, como as saídas a dois e os gestos românticos. Invariavelmente, dão-se conta de que, ainda que haja arrependimento genuíno e vontade de ambos de reconstruir a relação, a realidade é quase sempre mais dura e desafiante.

É nesta altura que costumam pedir ajuda da terapia de casal. Por um lado, sabem que o luto é um processo que não acontece com um estalar de dedos e sentem a necessidade de conversar com alguém de fora, que os ajude a identificar aquilo que cada um pode fazer para que essas emoções sejam suficientemente valorizadas, sem que isso roube a esperança num futuro mais risonho. Por outro, começam a dar-se conta de que há outras “pequenas traições” que foram colecionando ao longo do tempo e que, não justificando a infidelidade, precisam de ser reconhecidas, precisam de ser discutidas.

Traições para além da infidelidade


Se duas pessoas são muito agressivas uma com a outra, se se sentem sobretudo presas uma à outra, mas passam a vida a fazer críticas e acusações, como se se tratassem de borboletas cujas asas estão coladas à parede, será que podemos falar da inexistência de traição?

Não termos uma relação extraconjugal não é uma garantia de que sejamos bons maridos ou boas mulheres.


A infidelidade é normalmente hipercriticada. É um sinal claro de que alguém errou, desviando-se não só das escolhas moralmente mais acertadas, mas sobretudo do compromisso que assumiu. Mas quando iniciamos uma relação, não nos comprometemos apenas com a fidelidade, pois não? Comprometemo-nos a ser carinhosos, a estar “lá” para apoiar a pessoa que amamos, para a escutar todos os dias com atenção e a incentivá-la a lutar pelos seus sonhos, por aquilo que a faz feliz.

Muitas vezes, não só nada disto está presente numa relação, como há alguém que é continuamente desprezado, continuamente ignorado, continuamente criticado. E, se não houvesse traição, o círculo vicioso dificilmente se quebraria.

Esta é a verdade nua e crua: alguns casamentos melhoram muito depois de uma infidelidade. Isso não significa que a infidelidade seja a “receita” para melhorar um casamento. Nunca é. Mas, para alguns, é a oportunidade para virar a vida do avesso, repensar escolhas e ter um casamento genuinamente feliz.

20.11.19

GERIR AS EMOÇÕES DEPOIS DE UMA TRAIÇÃO


Emoções depois de uma traição

Como é que um casal pode recuperar de uma infidelidade? Que passos é preciso dar para reconstruir a relação? Como é que se gere o turbilhão de emoções que estão associadas a uma traição?


Trabalho quase todos os dias com casais que estão a tentar reconstruir a relação depois da revelação da traição. Na maioria das vezes, são pessoas que estão em grande sofrimento, mesmo quando a situação já aconteceu há alguns meses. Assumiram que, apesar do que aconteceu, têm a intenção de continuar juntos, mas o dia-a-dia acaba por ser (ainda) mais difícil do que esperavam e acabam invariavelmente por dar por si em círculos viciosos.

Hoje escrevo sobre os passos que devem ser dados por quem tenha genuinamente a intenção de salvar a relação depois de uma infidelidade.




Salvar a relação depois da infidelidade


Não há volta a dar: só há confiança na medida em que sintamos de forma clara, inequívoca, que a pessoa que está ao nosso lado se preocupa genuinamente connosco, com os nossos sentimentos. Quando a confiança é quebrada na sequência de uma traição, é essencial que a pessoa que traiu seja capaz de mostrar o seu arrependimento genuíno e assuma uma postura paciente – e não defensiva – em relação ao(à) companheiro(a).

Quando alguém descobre que a pessoa que ama foi infiel, é como se toda a realidade se desmoronasse.


De repente, a pessoa dá por si a colocar tudo em causa, inclusive os valores morais do(a) companheiro(a): «Quem é esta pessoa que está ao meu lado? Quais são os seus valores?».



Se, de alguma maneira, a pessoa que traiu tentar
atirar a responsabilidade para cima da outra com
frases como «Foste tu que me abandonaste», «Tu
não me davas atenção» ou «A culpa também é tua»,
é menos provável que o casal consiga conectar-se
e salvar a relação.



Na prática, e mesmo quando há claramente amor entre duas pessoas, a infidelidade traz uma grande ambivalência. Por um lado, a pessoa que foi traída ama o(a) companheiro(a) e tem vontade que ele(a) o(a) abrace, que esteja ali bem perto e, por outro, há alturas em que a única coisa que deseja é que ele(a) se afaste. É normal e é muito importante que a pessoa que traiu consiga ter paciência para estas mudanças de humor, que são mais uma consequência do trauma vivido.

Passos para salvar a relação depois da traição


#1: Assumir a responsabilidade

A honestidade é essencial para que a pessoa traída possa escolher perdoar e reconstruir a relação. É evidente que não é fácil falar sobre o que aconteceu, muito menos dar resposta a todas as perguntas que a pessoa traída tem normalmente para fazer. Às vezes pode ser mesmo muito cansativo. Afinal, a pessoa que traiu está arrependida, sente-se culpada e envergonhada pelo próprio comportamento e só quer seguir em frente sem voltar a falar no assunto. Mas a minha experiência (e a literatura nesta área) mostra-me que é muito mais fácil reconstruir a relação quando a pessoa que traiu está genuinamente disponível para esclarecer todas as dúvidas – quando é que a relação começou, como é que terminou, quantos encontros houve, do que é que costumavam falar, etc. Há uma exceção: não há nada de positivo em partilhar detalhes sobre a intimidade sexual. Mesmo que haja muita curiosidade em relação ao assunto, esta partilha vai certamente acicatar a ferida e atrasar o restabelecimento da confiança.

#2: Transparência

O restabelecimento da confiança não depende apenas do esclarecimento de dúvidas em relação ao passado. É fundamental que haja um compromisso em relação à transparência no presente (e no futuro).

Os compromissos devem ser construídos a dois e, durante algum tempo, é natural que a pessoa traída necessite de “provas” de que o(a) companheiro(a) está a dizer a verdade.



Isso pode passar por mostrar mensagens no telemóvel ou colocar algumas conversas em alta voz. Não é desejável que a partir daqui haja qualquer tipo de subjugação por parte da pessoa que traiu. A infidelidade não dá o direito à pessoa traída de passar a controlar a vida do(a) companheiro(a). Mas, numa fase inicial é mesmo muito importante que os membros do casal conversem sobre aquilo que pode ser feito para que a pessoa traída se sinta segura de que a outra está a dizer a verdade.

As coisas tornam-se quase sempre mais complicadas quando a infidelidade acontece entre colegas de trabalho e o contacto com a terceira pessoa continua a existir. Não há regras universais que sirvam para todos os casais. Aquilo que importa é que haja abertura para que o casal converse sobre aquilo que um pode fazer para devolver a segurança ao outro (sem desrespeitar os próprios sentimentos e as próprias necessidades).

Quando colocamos a pergunta «O que é que é mais importante para mim AGORA?» é mais provável que o caminho se torne claro e que saibamos aquilo que podemos fazer para salvar a relação.


#3: Entender o que aconteceu

É importante que os membros do casal conversem sobre o que aconteceu à relação antes da infidelidade – sem que esta reflexão implique, em circunstância nenhuma, responsabilizar a pessoa traída pelo ato da traição.



Como estava a relação?
Como é que cada um se sentia até ali?
Como é que as necessidades de cada um estavam
a ser manifestadas?
O que é que permitiu que a pessoa que traiu
deixasse de contar com o(a) companheiro(a) para
dar resposta às suas necessidades?
O que é que abriu espaço para a sedução?




Esta reflexão, que normalmente leva tempo a ser feita, é essencial para ambos possam implementar as mudanças que imunizem a relação em relação à ocorrência de novas traições.


#4: Definir a intenção para a relação

Às vezes, a pessoa traída tem tanta “pressa” em salvar a relação que se esquece de prestar atenção às intenções do(a) companheiro(a), àquilo que o(a) leva a estar de volta. Fá-lo-á pelas razões certas? Por se sentir pressionado(a) ou envergonhado(a)? Por medo de perder a família?

Mais do que prestar atenção ao que a outra pessoa diz ou faz, é importante prestar atenção ao que ela não diz.


Se a pessoa que traiu não for capaz de dizer coisas como «Eu amo-te», «É de ti que eu gosto» ou «É contigo que eu quero ficar», é menos provável que a confiança seja reconstruída e que a relação perdure.


#5: Começar a perdoar

Quando os membros do casal são capazes de conversar abertamente sobre o que aconteceu, sobre os seus sentimentos e sobre as suas intenções em relação à relação, é mais provável que a pessoa traída se sinta pronta para voltar a investir na relação. Mas isso não significa que a partir daí tudo corra maravilhosamente. É muito provável que haja avanços e recuos, que haja alguns equívocos de comunicação, algumas explosões e vários momentos de desconexão. Aquilo que importa é que ambos mantenham o compromisso de voltar aos episódios geradores de tensão com a genuína intenção de falar com abertura sobre o que cada um sente e aquilo de que cada um precisa.

14.11.19

MOTIVOS POR DETRÁS DE UM DIVÓRCIO


Motivos por detrás de um divórcio

Quais são as causas da maioria dos divórcios?


Tal como explico no meu mais recente livro, “Continuar a Ser Família Depois do Divórcio”, nem todas as pessoas conseguem explicar de forma clara e simples porque é que se divorciaram. E, mesmo que o façam, não significa que a sua versão dos acontecimentos corresponda ao quadro completo.

Mesmo quando há situações concretas, como uma relação extraconjugal, dificuldade em ultrapassar um acontecimento específico como a infertilidade, problemas de relacionamento com a sogra, dificuldades financeiras ou diminuição do desejo sexual, existem sempre pelo menos duas perspetivas. A realidade é sempre mais complexa do que parece e nem sempre é fácil identificar as necessidades que foram ficando por preencher. De resto, e ao contrário do que acontecia há alguns anos, já não são só os casais infelizes que se divorciam. Hoje divorciamo-nos para sermos MAIS felizes. Vivemos em busca de mais e melhor e, quando nos damos conta de que podemos ser mais felizes do que somos na relação em que estamos, arriscamos. Isso também está relacionado com a mudança de paradigma em relação às relações de compromisso. Os nossos antepassados casavam e, muitas vezes, nem sequer havia amor romântico envolvido. Depois passámos a casar por amor com a convicção de que seria para a vida toda. E atualmente comprometemo-nos enquanto continuarmos a sentir-nos suficientemente vivos e entusiasmados naquela relação.

Vivemos num período em que somos tremendamente livres para amar, para escolher e para romper e, simultaneamente, é-nos cada vez mais difícil cumprir o sonho de viver um amor para a vida toda.

De resto, os motivos por detrás de uma separação são aproximadamente os mesmos dos que podem estar por detrás de uma infidelidade e estão relacionados com as necessidades que vão ficando por preencher – quer reparemos nelas, quer não.

DIVÓRCIO: AS CAUSAS




Desconexão emocional

Algumas pessoas nem se apercebem de que vivem em piloto automático: acordam, trabalham, cuidam dos filhos, cumprem as suas obrigações e vão deixando a relação conjugal para segundo plano. Não é que não queiram namorar. Querem e muitas vezes até se esforçam para criar momentos especiais. O que acontece é que esses momentos são demasiado raros para que possam ser chamados de rituais. E todas as relações precisam de rituais, aqueles momentos que são tão bons que escolhemos repeti-los vezes sem conta.

Quase todos os casais começam por ter estes rituais – é praticamente instintivo. Mas quando nos vamos distraindo e deixamos de prestar atenção ao que o outro tem para dizer, quando preferimos ver um episódio da nossa série preferida em vez de contrariarmos o cansaço e inventarmos tempo para namorar, quando inundamos a pessoa que escolhemos de críticas e obrigações e nos esquecemos de lhe perguntar, com genuína curiosidade, «Como foi o teu dia?», a distância emocional vai aumentando.

Quase todas as pessoas tentam contrariar a azáfama dos dias, tentam revelar-se, tentam fazer os seus apelos de forma clara. Mas é tão fácil ignorar estes apelos e nem dar por isso. Claro que quando são os nossos próprios apelos que são ignorados ou, pior do que isso, desvalorizados, é difícil esquecer a mágoa.

Muitos casais caem neste círculo vicioso: sentem-se cada vez menos escutados, cada vez menos amparados e, sem querer, vão-se voltando cada vez mais para fora da relação.


Como estas estratégias de sobrevivência são pontuadas pelas tentativas de cada um de obter a atenção do outro, a frustração e a sensação de que «não vale a pena» vão-se instalando.

Tenho trabalhado cada vez mais com pessoas que se separam após vinte ou mais anos de casamento. Em muitos destes casos, a desconexão não aconteceu de um dia para o outro. Foi acontecendo de forma gradual. E, muitas vezes, os membros do casal foram aprendendo a viver assim. Mas o facto de vivermos cada vez mais tempo, o facto de estarmos cada vez mais atentos ao nosso bem-estar e àquilo que nos faz felizes e o facto de, a partir de determinada idade, estarmos mais centrados em aproveitar o que quer que a vida tenha para nos oferecer e menos preocupados com o que os outros possam pensar, faz com que haja mais pessoas a escolher divorciar-se após décadas de casamento.

Afastamento físico

Quando observa um casal apaixonado, no que é que repara? Se prestar atenção, há quase sempre um elemento comum: aquelas duas pessoas tocam-se com frequência e mostram através dos gestos o quanto se desejam. Não há necessariamente uma conotação sexual nestas carícias, mas é difícil dissociá-las da paixão. A diminuição significativa destes gestos de afeto é um dos principais sinais de alarme, sobretudo em casais jovens. Sabemos que uma relação já teve melhores dias quando constatamos que aquelas duas pessoas raramente se tocam.

Para muitos casais, esta é a realidade: deixou de haver romantismo, deixou de haver desejo, deixou de haver gestos de afeto. Muitas vezes, a intimidade emocional está lá e até pode haver aquilo a que eu chamo de “familiaridade excessiva”, isto é, os membros do casal são tão próximos que deixou de haver espaço para o mistério e para a sedução. Algumas das pessoas com quem trabalho referem-se a esta questão dizendo que passaram a ter uma relação «de irmãos». Continua a haver carinho, mas deixou de existir romance. Nestes casos, o processo de separação é particularmente doloroso. Tenho conhecido muitas pessoas absolutamente destroçadas com a ideia de terminarem o seu casamento e, assim, causarem mágoa a alguém que tanto amam. Pode não haver amor romântico, mas muitas vezes continua a haver amor, ainda que não seja suficiente para que ambos consigam viver felizes naquela relação.

Aparecimento de uma terceira pessoa

Não sendo a maioria, há evidentemente casamentos que acabam devido ao aparecimento de uma terceira pessoa. Ainda assim, é-me difícil olhar para este acontecimento como uma causa, dissociando-o do que aconteceu à própria relação. Aquilo que quero dizer é que, de uma maneira geral, a relação com a terceira pessoa vem, sobretudo, chamar a atenção para as necessidades que foram ficando por preencher na relação oficial – mesmo que a pessoa que entretanto se apaixonou por outra não se tenha queixado. Por norma, há necessidades que vão ficando por preencher, mesmo que a própria pessoa as ignore. Quando surge alguém que olha para nós, que presta atenção àquilo que sentimos, que repara nos detalhes, que nos elogia de forma sincera, que nos incentiva a lutar pelos nossos sonhos e/ou que nos desafia, sentimo-nos especiais. Isto também pode acontecer quando estamos felizes na nossa relação. Mas, nesse caso, é mais provável que reflitamos sobre aquilo que é preciso fazer para que nos sintamos mais ligados, mais vivos e menos vulneráveis a uma traição.



Quando aparece alguém que nos faça sentir vivos,
que nos lembre como é bom sentirmo-nos
especiais aos olhos de alguém, é natural que o nosso
mundo abane. Se isso acontecer numa altura em que
a relação conjugal está desgastada – física e/ou
emocionalmente – a probabilidade de haver uma
relação extraconjugal aumenta substancialmente.



Problemas com a família alargada

Para alguns casais, as dificuldades de relacionamento com a família alargada estão na origem do distanciamento emocional que, mais tarde, acaba por dar origem ao divórcio.

Na maior parte dos casos a que tenho acedido, as dificuldades estão relacionadas com a interferência excessiva da família alargada e/ou com a dificuldade em estabelecer limites.

Quase todos os pais e mães têm a expectativa de continuar a fazer parte da vida dos filhos, mesmo depois de eles saírem de casa. E não há nada de errado nisso. Mas quando a relação entre pais e filhos parece ter mais força do que o compromisso conjugal, é mais provável que haja braços-de-ferro, conflitos e distanciamento emocional.

Problemas financeiros

Quando há um (ou mais) acidente(s) de percurso que nos obrigue(m) a repensar os nossos planos e que nos confronte(m) com dificuldades financeiras sérias, é muito fácil essa situação prejudicar a relação amorosa.

Não é só a falta de dinheiro. É, sobretudo, a dificuldade em lidar com a tristeza, a frustração, as oscilações de humor e as expectativas de cada um.

Tenho conhecido muitos casais que não resistiram ao embate provocado por dificuldades financeiras associadas às múltiplas reviravoltas que a vida pode trazer. Situações de desemprego, falência, burla, doença, endividamento são quase sempre desafios que colocam à prova a união de um casal.

Educação dos filhos



Mais cedo ou mais tarde, todos os pais e mães se dão conta de que ter um filho é ter alguém que depende de nós em termos de saúde, bem-estar, segurança, estabilidade emocional e um número infindável de outras questões. Conjugar o amor incondicional que sentimos com o medo de alguma coisa não correr bem é dos maiores desafios que podem surgir na vida. Para algumas pessoas, os primeiros anos são particularmente stressantes – não apenas porque se sentem mais cansadas, mas sobretudo porque estão em processo de adaptação a todas as responsabilidades que estão associadas ao papel parental. Quando um dos membros do casal dedica mais tempo do que o outro à educação dos filhos, é natural que haja alguma desconexão. De repente, tudo o que é superficial, acessório, imaturo ou irresponsável é alvo de rejeição em nome da segurança que se quer proporcionar aos filhos. Como estas mudanças não acontecem sempre ao mesmo tempo para os dois membros do casal, é fácil adivinhar as dificuldades de comunicação e a sensação de desunião.

Relações abusivas

No meu trabalho como psicóloga tenho conhecido muitas pessoas, maioritariamente mulheres, que viveram durante anos relações aparentemente saudáveis, algumas teoricamente quase perfeitas e que, na intimidade, foram muito maltratadas. Nalguns casos, mesmo depois da separação, a pessoa que foi vítima de violência emocional continua a questionar-se sobre o seu comportamento, sobre os erros que cometeu e/ou sobre aquilo que poderia ter feito para salvar a relação.

Costumo dizer que, numa relação abusiva, coexistem duas realidades: aquela em que a pessoa vítima de abusos vive e que acredita ser partilhada pelo companheiro, e aquela que vai sendo construída na cabeça da pessoa que pratica os abusos. No início de qualquer relação, sentimo-nos especiais, sentimo-nos desejados e vivemos com a profunda convicção de que a pessoa que está ao nosso lado quer ver-nos felizes. Isto também acontece nas relações abusivas. Mas entre aquilo que é dito e aquilo que é feito há uma diferença substancial.



De uma maneira geral, as pessoas que são física
ou emocionalmente violentas constroem uma
espécie de guião, como num filme, e olham para
pessoa que está ao seu lado como uma personagem
que deve ser capaz de se comportar de acordo
com as suas expectativas.



Quando isso não acontece, porque cada pessoa tem vontade própria, interesses próprios, sentimentos próprios, há ameaças mais ou menos subtis, chantagem emocional, humilhações, sabotagem e outros exercícios de manipulação. Vale tudo para impor a própria vontade e fazer com que a outra pessoa se subjugue, se anule, se sinta culpada e obrigada a fazer as escolhas “certas”. Como nada disto acontece de forma clara e até, pelo contrário, vão surgindo períodos de lua-de-mel e muitos comentários manipuladores – «É para o teu bem», «Se tu gostasses mesmo de mim…», «És demasiado sensível…» –, a pessoa que é vítima de abusos emocionais nem sempre é capaz de reconhecer a realidade em que está envolvida.

14.10.19

AMOR E DESEJO



Qual é a diferença entre amor e desejo?


O amor e o desejo estão relacionados, MAS também estão frequentemente em conflito: há quem reconheça que ama a pessoa que está ao seu lado, mas já não sente desejo; e há quem se sinta sistematicamente atraído(a) pelas pessoas erradas. Um exemplo disso são as mulheres que assumem que gostam de “bad boys”.

Sabemos que é AMOR quando nos importamos (mesmo) com os sentimentos da outra pessoa, quando nos preocupamos com ele(a), procuramos protege-lo(a) de qualquer ameaça, e sentimo-nos responsáveis por fazê-lo(a) feliz.

O DESEJO é liberdade e autonomia. É a excitação da incerteza, do desconhecido. Muitas pessoas sentem-se mais livres para explorar o seu desejo quando não há envolvimento emocional.

Para algumas pessoas, os cuidados e as responsabilidades do dia-a-dia são precisamente aquilo que sufoca o desejo.

Às vezes, os comportamentos que alimentam o amor não são exatamente os mesmos que alimentam o desejo e o que nos excita sexualmente nem sempre é aquilo que contribui para a nossa segurança emocional.


A esmagadora maioria dos relacionamentos duradouros envolvem cuidado, preocupação e responsabilidade e isso é ainda mais evidente para as mulheres. Algumas chegam a ter muita dificuldade em parar para usufruir de qualquer coisa que lhes dê prazer – até pode ser algo tão simples como sentar-se para beber um chá ou um café. É como se estivessem absolutamente focadas em ir ao encontro das necessidades das pessoas de quem gostam (família) e acabassem por ignorar as suas próprias necessidades. E a primeira necessidade a evaporar-se é o erotismo.

Escolhemos frequentemente o amor em vez do desejo porque sentimos que esse é o nosso dever. Trocamos a aventura pela previsibilidade. Trocamos o erotismo pela segurança.

A longo prazo, mais cedo ou mais tarde percebemos que o compromisso só faz sentido se conseguirmos conciliar o amor e o desejo. Porque é o amor que nos dá estabilidade e segurança e é o desejo que nos faz sentir vivos.

No início de uma relação, sabe-nos bem a incerteza. Numa relação de compromisso, é importante que permitamos que o inesperado volte a fazer parte da relação. É importante quebrar a rotina – falar sobre assuntos diferentes, que nos atirem para fora da zona de conforto, fazer atividades diferentes e resistir à preguiça e reagir com abertura e curiosidade aos desafios que a pessoa que está ao nosso lado traz. Qualquer relação precisa de agitação, precisa de vitalidade.

30.9.19

SINAIS DE TRAIÇÃO


Sinais de traição

Quais são os sinais de que a pessoa que está ao nosso lado está a ser infiel? A que comportamentos devemos estar atentos para evitar uma traição?


Todos os dias milhares de pessoas recorrem ao Google com a pergunta «Quais são os sinais de uma traição?», na esperança de avaliar se a sua relação está ou não em risco. De uma maneira geral, quando o fazem, sentem a “pulga atrás da orelha” e, mais do que um manual de instruções para analisar a relação, precisam de uma conversa honesta, através da qual possam olhar para a realidade como ela é e tomar decisões importantes.

Hoje escrevo sobre aquilo que a terapia familiar nos diz sobre o assunto.

Quais são os sinais de uma traição?




#1: IGNORAR OS APELOS DO(A) COMPANHEIRO(A)


Um dos sinais (claros) de que a pessoa que está ao nosso lado não está com os dois pés na relação tem a ver com a forma como reage às nossas tentativas para falar sobre sentimentos, necessidades afetivas ou sobre a própria ligação. É como se não estivesse verdadeiramente “lá” (e, na prática, não está).

Não há disponibilidade emocional porque o investimento está a ser feito noutra direção. Nalguns casos, a reação a qualquer tentativa de ter uma conversa significativa até pode ser de irritabilidade.

Numa relação saudável e feliz ninguém está permanentemente disponível, MAS aquilo que observamos é que os membros do casal conseguem ligar-se e acabam por responder com afeto a mais de oitenta por cento dos apelos do(a) companheiro. Só em menos de vinte por cento das interações é que um dos membros do casal sente que não está a receber a atenção de que precisa.

Nas relações em que já há uma terceira pessoa ou em que isso esteja prestes a acontecer há muitos apelos que são ignorados ou aos quais a pessoa responde com agressividade ou irritabilidade.



#2: COMPARAR O(A) COMPANHEIRO(A) COM OUTRAS PESSOAS


Há comentários que nos destroem por dentro, mesmo que não sejam ofensivos ou claramente violentos. Quando a pessoa que amamos nos aponta o dedo, comparando-nos com outras pessoas, desvalorizando-nos, isso é quase sempre um mal sinal. Na prática, nem sempre quer dizer que esteja a trair-nos ou com vontade de o fazer, mas significa que (já) não está feliz nem se sente capaz de valorizar a relação na medida certa.

É natural que nos sintamos insatisfeitos e é desejável que mostremos o nosso desagrado, mesmo que isso implique que tenhamos de criticar a pessoa que está ao nosso lado. Mas é desejável que o façamos da forma certa, isto é, centrando-nos nos nossos sentimentos e respeitando os sentimentos dele(a). Quando fazemos comparações negativas, deixamos de apreciar as qualidades da pessoa que amamos, deixamos de sentir orgulho na relação e deixamos de a proteger.

#3: NÃO FALAR SOBRE OS PRÓPRIOS SENTIMENTOS


Em qualquer relação coesa e feliz há necessidade e vontade de falar sobre o que cada um sente. Algumas pessoas sentem-se mais confortáveis em fazê-lo do que outras e, em todos os relacionamentos, há alturas de maior proximidade e alturas de maior afastamento. Mas, mesmo naqueles períodos em que temos mil coisas para fazer e parece que não há tempo para nada, acabamos por encontrar forma de falar sobre o que sentimos. Pelo menos, é isso que acontece quando ainda nos importamos com a nossa relação, quando ainda contamos com a pessoa que está ao nosso lado.

Pelo contrário, quando passamos a investir noutra pessoa, é expectável que percamos a vontade de falar sobre o que sentimos com o(a) nosso(a) companheiro(a). Às vezes, esta mudança até se assemelha a alguma paz: Se a pessoa de quem gostamos deixar de se queixar, podemos convencer-nos de que ele(a) está mais satisfeito(a) com a relação.

A “prova dos 9” acontece quando reparamos que ele(a) não só não se queixa, como também não “precisa” de partilhar os sentimentos mais positivos (porque passou a fazê-lo com outra pessoa).

23.9.19

O FACEBOOK E AS RELAÇÕES AMOROSAS


O Facebook e as relações amorosas

Que impacto é que o Facebook tem nas relações amorosas? Que escolhas podemos fazer para proteger a nossa relação? E o que é que não devemos mesmo fazer?


«Porque é que ele fez um ‘like’ naquela foto?», «Não estava à espera daquele comentário.», «Será que ela continua a trocar mensagens com ele?». Estas são algumas das inquietações dos utilizadores do Facebook. Entre ‘likes’ e comentários, é fácil criar instabilidade a uma relação, sobretudo quando as regras não estão bem definidas e a comunicação entre os membros do casal não é clara.

Hoje partilho algumas regras que podem ajudar a proteger a sua relação:


NÃO PARTILHAR FOTOGRAFIAS SEM PERMISSÃO


O mais importante é que as regras que um casal segue cá fora também estejam presentes nas redes sociais – no Facebook, no Instagram ou em qualquer outra. E quem define as regras? O próprio casal. Na Internet é mais fácil cometer alguns erros. Um dos mais comuns é a publicação de fotografias.

Há pessoas que não têm qualquer problema em mostrá-las, mas há quem seja mais reservado, e isso tem de ser respeitado. Ou seja, o que é importante é conhecer a pessoa que está ao seu lado, saber o que o(a) deixa desconfortável ou inseguro(a). Algumas pessoas sentem-se tranquilas com a possibilidade de o companheiro mostrar as fotografias das últimas férias de família aos colegas de trabalho, outras não. O mesmo acontece em relação às redes sociais. Se a pessoa de quem gosta não se sente confortável com a possibilidade de você publicar fotos dela no Facebook, não o faça.


NÃO LAVAR A ‘ROUPA SUJA’ EM PÚBLICO


É compreensível, mas não é aceitável. Eu consigo perceber a aflição de quem faz publicações em tom de desabafo depois de um momento de tensão conjugal, mas não consigo validar esse comportamento. Em primeiro lugar, porque ele é danoso para a própria pessoa e, depois, porque é muito provável que isso traga ainda mais problemas para a relação.

É importante que tenhamos a consciência de que quem está do outro lado do ecrã não tem sempre as melhores intenções a nosso respeito, que há pessoas que pela frente nos apoiam, mas por trás até são capazes de nos criticar. Mesmo que do outro lado estejam pessoas que procuram animar, isso não vai ajudar à resolução das dificuldades.

Claro que no meio de uma crise é difícil perceber isso: a pessoa está tão desamparada, tão aflita, que busca por algumas palavras de apoio. Quando desabafamos com um familiar ou amigo, isso pode ser terapêutico porque há alguém que está ali para nós, que quer realmente saber. Mas no Facebook, de uma maneira geral, não há essa disponibilidade.



Mesmo quando alguém pergunta, nos comentários,
«O que é que se passa?», pode não ter genuíno
interesse. A verdade é que se estivermos
genuinamente preocupados com alguém de quem
gostamos telefonamos, combinamos uma visita
– não nos limitamos a fazer um
comentário no Facebook.



E depois há todo o prejuízo para a relação. É muito fácil que o(a) companheiro(a) da pessoa que fez o desabafo no Facebook se sinta traído(a), humilhado(a) e desrespeitado(a). É muito saudável que os casais discutam, mas deve haver limites. Os casais felizes, mesmo quando discutem, respeitam alguns limites: vão até certo ponto, mas não passam daí, porque há um bem maior a proteger: A relação. Ir para o Facebook dizer mal do outro é ultrapassar esses limites.


NÃO SEGUIR O EX


Para a maior parte dos casais, não é saudável seguir o(a) Ex no Facebook.


Em primeiro lugar, há a preocupação com os sentimentos do outro. Mesmo que não se mantenha qualquer ligação romântica com a outra pessoa, não significa que a pessoa ao nosso lado se sinta tranquila e há que respeitar isso.

Se discutiu recentemente com o(a) seu(sua) companheiro(a) sobre isso, pergunte a si mesmo(a) «Porque é tão importante manter a relação com aquela pessoa no Facebook?». Claro que se existir uma genuína amizade fora do Facebook, é natural que a mantenha online. Mas se não, o que é que aquilo acrescenta à sua vida?

Sem querer, algumas pessoas acabam por fazer comparações negativas. Mesmo que já não haja sentimentos românticos pelo(a) Ex, podemos ficar focados no que aquela relação teve de positivo, comparando-a com a relação atual, sobretudo em momentos de tensão. Estes exercícios de comparação fomentam a insegurança da pessoa que está ao nosso lado e impedem-nos de a valorizar na medida certa.


NÃO ‘FLIRTAR’ 


Relembro que as regras devem ser definidas por cada casal. O nosso comportamento online está ligado ao nosso comportamento cá fora: há pessoas mais físicas, mais afetuosas, que se expressam de forma carinhosa e sem maldade. Será natural que ajam da mesma maneira no Facebook, distribuindo beijinhos e abraços. Mas se esses comportamentos forem diferentes do que são cá fora, ou se passarem por cima daquilo que a pessoa que está ao nosso lado sente, isso pode trazer problemas.

Se um dos membros do casal se sentir inseguro, é importante falar sobre os seus sentimentos – sem acusações, sem ataques.


NÃO ENVIAR MENSAGENS ROMÂNTICAS A OUTRA PESSOA


Estas são as situações que mais aparecem no meu consultório, e já têm a ver geralmente com quebra de confiança e algum tipo de traição. De um modo geral, quando há fumo há fogo. Cada um tem o direito à sua privacidade. Mas a partir do momento em que uma pessoa se dá conta de que o companheiro(a) está inseguro(a) em relação àquilo que possa estar a fazer no Facebook, tem de o(a) tranquilizar.

Se uma pessoa se sentir insegura, se suspeitar de que o(a) companheiro(a) tem trocado mensagens românticas com outras pessoas, deve confrontá-lo(a) diretamente, e de forma tão assertiva quanto possível. O que é que não se deve fazer? Vasculhar o Facebook do outro. Mais uma vez, percebo, mas não posso aconselhar. Porque isso não vai trazer nada de bom e só vai deteriorar a autoestima. Então, e se houver suspeitas fortes e a pessoa que está ao nosso lado não admitir? Se não for capaz de confiar na pessoa que está ao seu lado, tem sempre a possibilidade de se afastar. Isso não é fácil, claro, mas pode ser a única forma de se sentir genuinamente em paz.

10.9.19

PORQUE É QUE AS PESSOAS TRAEM?


Porque é que as pessoas traem?

Quais são os motivos que podem levar alguém a trair? O que é que faz com que uma pessoa faça escolhas que podem colocar a relação em risco?


Antes de explorar os motivos que costumam estar associados à infidelidade, importa esclarecer que não são só as pessoas que se sentem insatisfeitas no casamento que traem. Tal como escrevi AQUI, as pessoas felizes também traem.

TRAIÇÃO: OS MOTIVOS




SOLIDÃO

A última coisa que associamos a uma relação amorosa é a solidão, mas há muitas pessoas que se sentem profundamente desamparadas apesar de estarem casadas. Há relações em que deixou de haver intimidade e as conversas se resumem às responsabilidades familiares. Quando isto acontece, as demonstrações físicas de afeto são praticamente inexistentes e há pelo menos um dos membros do casal que sente a necessidade de receber muito mais atenção. É esta necessidade (e a sensação de abandono) que está por detrás do aparecimento de uma terceira pessoa.

INSATISFAÇÃO SEXUAL

Alguns casamentos são praticamente assexuados, caracterizados pela apatia e pela inexistência de intimidade sexual. Nalguns casos, nunca chegou verdadeiramente a existir prazer associado à sexualidade. Isto acontece mais frequentemente com mulheres que foram educadas de forma muito conservadora e que durante muito tempo olharam para o sexo como uma obrigação. Noutros casos, a fantasia, o desejo e a imaginação foram “engolidos” pelos afazeres do dia-a-dia e há pelo menos um dos membros do casal que se sente insatisfeito e que procura, através da relação extraconjugal, voltar a sentir-se vivo, voltar a sentir-se desejado.

MONOTONIA

As rotinas fazem parte da vida de qualquer família e, até certo ponto, contribuem para a nossa segurança e estabilidade. Mas a maior parte dos casamentos depende tanto da estabilidade e da segurança quanto da novidade e do mistério. Se a pessoa que estiver ao nosso lado só conseguir oferecer-nos estabilidade, é mais provável que a relação possa ficar estagnada.

Numa relação feliz existe uma “distância de segurança”, que faz com que olhemos para a pessoa que está ao nosso lado como alguém que tem interesses e hábitos individuais, que vão além da vida a dois ou da vida familiar. Ele(a) não está garantido(a), está em constante evolução, luta pelos seus sonhos e dá-nos a sensação de que há sempre algo mais por descobrir.



Algumas relações estagnam ao ponto de os membros do casal deixarem de se sentir vivos ou desejados. Há pelo menos um dos membros do casal que sente que vive em função das obrigações familiares e a relação extraconjugal surge como algo que, pela primeira vez em muito tempo, reacende a sensação de vivacidade e desejo.

JUVENTUDE PERDIDA

Algumas pessoas, sobretudo de gerações mais antigas, casaram pressionadas pela família de origem (e não porque se sentiam apaixonadas) e desenvolveram relações sólidas, estáveis, mas marcadas sobretudo por um grande sentido de obrigação. Foram educadas segundo a ideia de que um casamento seria para a vida toda, independentemente da satisfação conjugal, e ao fim de 20, 30 ou 40 anos, olham pela primeira vez para os próprios sentimentos. Nalguns casos, a relação extraconjugal surge numa altura em que os filhos já são adultos e apanha toda a gente de surpresa.

Raramente há uma busca ativa do que quer que seja. A pessoa acaba por ser surpreendida pelos próprios sentimentos e faz, pela primeira vez na vida, uma escolha centrada em si mesma.

EXPECTATIVAS

Algumas pessoas admitem que se sentem felizes na relação, mas vivem com a expectativa de serem AINDA MAIS felizes Questionam se serão “suficientemente” felizes: «Será que o amor é isto, ou posso ambicionar mais?». Olham para o enamoramento associado à relação extraconjugal como a possibilidade de viverem um amor mais próximo da perfeição.

É importante olharmos para as relações amorosas de forma realista. Cada vez mais, depositamos muitas expectativas na pessoa que está ao nosso lado: esperamos que seja o(a) nosso(a) companheiro(a), o(a) nosso melhor amigo(a), o(a) melhor amante, etc. Nenhum de nós é perfeito e uma relação sólida depende da capacidade de aceitar a pessoa que está ao nosso lado com todas as suas imperfeições (e da capacidade de valorizarmos na medida certa os atributos que nos levaram a apaixonar-nos por ela).

Quando conseguirmos definir de forma clara as nossas intenções, focar-nos no que queremos para nós, para a nossa vida, prestar atenção aos nossos sentimentos e às nossas necessidades e verbalizá-las de forma clara e firme, é mais provável que consigamos fazer as escolhas conscientes que nos ajudem a manter uma relação que nos faça sentir vivos e entusiasmados.
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