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27.2.25

Ansioso, evitante ou seguro? Como o estilo de vinculação influencia a sua relação

 


Quando a Susana está numa relação, vive com medo que o namorado a deixe – basta um emoji diferente no chat para ela entrar em pânico. Já o Tiago, assim que a namorada começa a falar em viverem juntos, sente um frio na barriga e começa a arranjar desculpas para se distanciar. Duas atitudes opostas, mas ambas comuns em relacionamentos amorosos. A raiz pode estar nos diferentes estilos de vinculação amorosa (ou estilos de apego) de cada um.

A teoria da vinculação, desenvolvida por psicólogos, explica que as nossas primeiras experiências de amor – lá atrás na infância, com os nossos cuidadores – moldam a forma como nos ligamos aos outros em adultos. Simplificando, tendemos a desenvolver um de três estilos principais: ansioso, evitante ou seguro. Nenhum estilo é “defeito” seu, são adaptações que fizemos para sobreviver emocionalmente. Mas podem afetar (e muito) a sua vida de casal hoje.

Vamos descobrir em que perfil você (ou o seu parceiro) se encaixa?

Estilo Ansioso: o medo de não ser amada

Quem tem um apego ansioso anseia por proximidade e tem um medo profundo do abandono. Amor e ansiedade andam lado a lado, o que pode ser extremamente desgastante. Algumas características típicas de uma pessoa com estilo ansioso:

  • Hipersensibilidade a sinais do parceiro: Repara em cada pequena mudança de tom de voz, olhar ou mensagem. Se o outro parece mais calado num dia, já imagina que o amor esfriou.
  • Necessidade constante de reafirmação: “Tu amas-me mesmo?” poderia ser o lema. Precisa de frequentes demonstrações de afeto e segurança de que está tudo bem na relação.
  • Medo de expressar necessidades: Ironicamente, quem tem medo de ser abandonado às vezes evita falar do que o incomoda, com receio de afastar o parceiro. Engole sapos e finge que está tudo bem para manter a paz.
  • Comportamentos de protesto: Quando se sente insegura, pode acabar por fazer “joguinhos” (mesmo sem querer). Por exemplo, demorar de propósito a responder a uma mensagem para ver se o outro se preocupa, ou mostrar ciúmes exagerados para testar o quanto ele se importa.

Por trás do estilo ansioso há, muitas vezes, a crença de não ser suficientemente boa ou de que vai acabar sozinha. Essas pessoas dão tudo de si na relação amorosa, mas às vezes esquecem de dar valor a si próprias. A boa notícia? Com consciência e trabalho interior (muitas vezes em terapia), é possível acalmar essas inseguranças e criar ligações mais seguras. Aliás, ao ganhar confiança em si, deixa de precisar de “joguinhos” para chamar a atenção do parceiro, construindo interações mais honestas.

Estilo Evitante: o medo de perder a liberdade

No outro extremo, o estilo evitante valoriza tanto a independência que a intimidade profunda pode assustar. Pessoas evitantes desejam amor como qualquer outra pessoa, mas o excesso de proximidade aciona um alarme interno de que estão a ser “sufocadas” ou de que vão perder a autonomia.

Características comuns de um perfil evitante:

  • Precisa de espaço (muito espaço): Gosta de estar num relacionamento, mas se o parceiro começa a exigir mais tempo ou compromisso, sente necessidade de se afastar para “respirar”.
  • Dificuldade em expressar vulnerabilidade: Falar sobre sentimentos profundos ou necessidades emocionais não é confortável. Prefere evitar essas conversas ou tratá-las de forma racional, quase como se as emoções fossem um incómodo.
  • Tendência a focar-se nos defeitos do parceiro: Inconscientemente, pode sabotar a intimidade arranjando defeitos no outro quando a relação se aprofunda. Pensamentos do tipo “ela é ótima, mas não é bem perfeita para mim” funcionam como desculpa para manter alguma distância.
  • Autossuficiência extrema: Orgulha-se de ser independente. Em momentos de stress ou conflito, retira-se para dentro de si em vez de buscar apoio. Para o parceiro, parece frio ou indiferente.

Quem é evitante nem sempre percebe o quanto magoa o outro com o vai-e-vem emocional. Provavelmente, lá atrás, aprendeu que depender de alguém acaba em dor – então decidiu “não precisar” de ninguém. O desafio é entender que deixar alguém entrar não significa perder a identidade. Com paciência e possivelmente ajuda profissional, um evitante pode equilibrar independência e intimidade.

Estilo Seguro: o equilíbrio saudável

O estilo seguro é aquele com que todos nascemos potencialmente, e muitos conseguem desenvolver – normalmente fruto de ter recebido cuidados consistentes e afeto na medida certa em criança. Adultos com um estilo de vinculação seguro têm um equilíbrio saudável entre proximidade e autonomia.

Como os podemos reconhecer?

  • Confortáveis com a intimidade: Gostam de estar próximos, mas também não se afligem quando há espaço ou momentos a sós. Conseguem dar e receber amor sem drama excessivo.
  • Comunicação clara e empática: Expressam o que sentem (para o bem e para o mal) de forma respeitosa. Se algo os incomoda, falam diretamente sem acusar; se estão chateados, conseguem ouvir o outro sem explodir ou fugir.
  • Confiança e suporte mútuo: Tendem a confiar no parceiro e a ser confiáveis. Não fazem jogos para testar o amor. Também aceitam bem os “nãos” do outro, sem interpretar isso como rejeição pessoal devastadora.

Estar com alguém seguro é muitas vezes descrito como “fácil” (no bom sentido!). Há menos adivinhações e mais certeza. Mas atenção: ser seguro não significa não precisar de esforço; apenas torna a navegação da vida a dois mais suave.

Podemos mudar nosso estilo de vinculação?

Sim! A melhor notícia de todas é que os estilos de vinculação não são uma sentença perpétua. São padrões aprendidos, e qualquer coisa aprendida pode ser ajustada. Uma pessoa ansiosa pode tornar-se mais segura ao aprender a acalmar os seus medos e a fortalecer a autoestima. Um evitante pode, gradualmente, sentir-se mais confortável em depender de quem merece confiança.

As relações com pessoas seguras ajudam muito porque“reeducam” o nosso coração a confiar. Além disso, a própria terapia de casal ou individual é um espaço onde podemos explorar essas feridas antigas num contexto seguro. Com autoconhecimento e prática, é possível construir relacionamentos mais seguros mesmo que o seu ponto de partida tenha sido ansioso ou evitante.

No fim das contas, conhecer o seu estilo de vinculação é uma ferramenta poderosa. Ajuda a explicar, por exemplo, porque é que entra em pânico se a outra pessoa se afasta um pouco, ou porque sente vontade de fugir quando alguém chega perto demais. Essa consciência é o primeiro passo para mudar o que for preciso e aproximar-se do equilíbrio ideal: nem medo do abandono, nem medo de compromisso – apenas um amor em que a confiança e a autonomia caminham de mãos dadas.

26.2.25

Relação tóxica ou apenas difícil? Identifique os sinais de perigo

 


A Mariana sempre achou que tinha uma relação amorosa intensa, embora turbulenta. As amigas avisam: “Isso está muito tóxico!”. Ela hesita – afinal, ele nunca a agrediu fisicamente. Então será mesmo uma relação tóxica ou apenas uma fase má? Se você já se fez esta pergunta, saiba que não está sozinha. Entender a diferença entre um relacionamento saudável, um apenas difícil e um genuinamente tóxico pode ser a chave para proteger a sua saúde emocional.

O que é uma relação tóxica?

Uma relação tóxica é aquela em que, sistematicamente, um ou ambos os parceiros têm comportamentos que minam o bem-estar emocional do outro. Não se trata de uma discussão pontual ou de um período de stress; é um padrão repetitivo que a deixa insegura, ansiosa ou com a autoestima em baixo. Numa relação tóxica, em vez de se sentir apoiada e amada, sente-se em constante estado de alerta – como se tivesse de andar “a pisar em ovos” para evitar mais conflitos.

Importante: todas as relações passam por altos e baixos. Os desentendimentos acontecem mesmo nos casais felizes. A diferença é que, num relacionamento saudável, há respeito e responsabilidade mútua. Num relacionamento tóxico, o desrespeito torna-se rotina e um dos dois (ou ambos) acaba sempre por sair magoado.

Sinais de alerta numa relação amorosa tóxica

Como saber se é o seu caso? Cada história é única, mas muitos relacionamentos tóxicos apresentam sinais de alerta parecidos. Aqui estão alguns indicadores de que algo está errado:

  • Críticas e humilhações constantes: O seu parceiro rebaixa-a, faz piadas cruéis sobre si ou aponta muitos defeitos, mesmo em público.
  • Controlo e ciúmes exagerados: Ele quer saber onde você está a toda hora, não gosta que saia com amigas ou família, ou tenta controlar a forma como você se veste e o que faz.
  • Culpa e manipulação: Sempre que há um problema, a culpa magicamente recai sobre si. Você acaba por pedir desculpas só para evitar discussões.
  • Comunicação agressiva ou silêncio punitivo: As discussões rapidamente escalam para gritos, insultos ou até objetos atirados… Ou então ele faz exatamente o oposto: fica dias sem falar consigo como forma de castigo.
  • Você já não se reconhece: Sente que perdeu a confiança, a alegria ou amigos desde que está com essa pessoa. A sua energia vai toda para tentar agradar o outro e evitar conflitos, esquecendo-se de si mesma.
  • Ciclo vicioso de rompimento e reconciliação: Talvez vocês terminem e se reconciliem constantemente. Depois de cada discussão feia, vem um período de “lua-de-mel” em que ele promete mudar... mas pouco tempo depois tudo volta ao mesmo ciclo doloroso.

Se identificou vários destes sinais na sua relação, é provável que haja toxicidade envolvida. Muitas mulheres descrevem a sensação de “montanha-russa emocional”: momentos de afeto seguidos por momentos de tensão extrema, num loop exaustivo.

Nem tudo é narcisismo (mas continua a ser tóxico)

Nos últimos tempos ficou comum rotular qualquer parceiro difícil como “narcisista” ou “abusador”. Às vezes, a pessoa com quem você está pode não ter uma personalidade manipuladora de propósito, mas sim carregar feridas emocionais ou um estilo de vinculação complicado. Por exemplo, alguém muito frio e distante pode não o ser por maldade deliberada, mas porque tem um estilo de vinculação amorosa evitante ou traumas que o levam a erguer muros. Isso não desculpa comportamentos que a magoem – porém, entender a raiz pode ajudar a decidir o que fazer.

Pergunte a si mesma: Ele reconhece o impacto das próprias ações ou está sempre a virar o jogo e a fazer-se de vítima? Quando você expressa a sua dor, ele tenta escutar ou reage atacando? Os momentos bons parecem uma tentativa genuína de conexão ou só servem para mantê-la presa num ciclo de manipulação? As respostas a estas questões ajudam a clarificar se há esperança de mudança ou se está perante um padrão destrutivo.

Como quebrar o ciclo tóxico

Admitir que está numa relação tóxica não é fácil. Muitas vezes há vergonha (“Como é que eu deixei chegar a este ponto?”) e esperança de que “tudo melhore”. Mas ficar sozinha à espera de milagres raramente funciona. Aqui ficam alguns passos importantes a considerar:

  • Priorize a sua segurança emocional (e física): Em casos de abuso verbal ou físico, a prioridade número um é garantir que está segura. Isso pode implicar afastar-se temporariamente para ganhar clareza.
  • Quebre o isolamento: Relações tóxicas tendem a isolar-nos. Fale com alguém de confiança sobre o que está a viver – uma amiga, um familiar ou mesmo um terapeuta. Ouvir a perspetiva de fora ajuda a reforçar que não está louca ou “a exagerar”.
  • Estabeleça limites claros: Defina o que não vai mais aceitar. Pode ser falta de respeito nas discussões, invasão de privacidade, etc. Comunicar os seus limites é essencial, embora numa relação muito tóxica o outro possa ignorá-los – o que é, por si só, um sinal de alerta.
  • Considere procurar ajuda profissional: A terapia pode ser um espaço seguro para ganhar forças e compreender por que ficou presa neste ciclo. Um psicólogo ou a terapia de casal (se houver abertura dos dois) pode ajudar a mudar dinâmicas – mas note que, se o parceiro for mesmo abusivo e não reconhece erros, a terapia de casal pode não ser indicada. Nesses casos, a terapia individual para si pode ser mais útil.
  • Prepare um plano de saída (se necessário): Infelizmente, nem todas as relações tóxicas podem ser salvas. Se percebe que está a perder a sua saúde mental, pode ser altura de considerar terminar. Planeie com cuidado, principalmente se houver dependência financeira ou filhos envolvidos. Lembre-se: terminar não é um fracasso seu, é a libertação de um ciclo que não lhe faz bem.

Merece amor, não sofrimento

Ninguém inicia um relacionamento a pensar que vai acabar assim. Você merece uma relação onde se sinta amada, respeitada e segura. Identificar a toxicidade é o primeiro passo para recuperar o controlo da sua vida e do seu bem-estar. Pode ser que o seu parceiro aceite mudar e vocês consigam juntos transformar a relação. Mas se não, valorize-se o suficiente para escolher outro caminho.

Sair de uma relação tóxica requer coragem e apoio, mas a recompensa vale muito: reencontrar a paz, a autoestima e a possibilidade de um amor saudável. Afinal, amar não deveria nunca destruí-la. Cuide de si, reforce os seus limites e lembre-se de que não está sozinha – é possível reconstruir a vida e encontrar relações mais positivas.

Porque é que os casamentos já não duram?

 


As novas regras do amor moderno

A avó da Inês casou aos 20 anos e ficou casada a vida inteira, mesmo não sendo feliz. Já a Inês, aos 35, saiu de uma relação de vários anos porque sentia que “merecia algo melhor”. O que mudou de uma geração para a outra? Os tempos mudaram, e as relações amorosas também. Antigamente, muitas mulheres permaneciam num casamento por necessidade ou pressão social. Hoje, a relação amorosa precisa de ser um espaço de crescimento mútuo e realização pessoal. Em vez de “até que a morte nos separe” a qualquer custo, as mulheres modernas perguntam-se: “Esta relação faz-me feliz? Estamos a evoluir juntos como casal?”

Independência e expectativas mais altas

Atualmente, a maior parte das mulheres já não precisa de um marido para sobreviver financeiramente ou para ter um lugar na sociedade. Com essa independência, as expectativas num relacionamento amoroso ficaram mais altas. Não se trata de um capricho, mas de querer um relacionamento com significado. Procuramos relações onde haja respeito, apoio e espaço para evoluir – e não apenas alguém com quem partilhar as contas da casa.

Além disso, com mais liberdade e mais opções (olá, dating apps!), “assentar” cedo já não é prioridade. Em vez de casar com o primeiro namorado sério, muitas de nós preferem esperar pela pessoa certa – alguém que esteja alinhado com os nossos valores, objetivos de vida e sonhos. O resultado? Ficamos menos dispostas a tolerar relações mornas ou desequilibradas. Se antes a mentalidade era “mal por mal, mais vale ficar”, hoje pensamos: “Sozinha posso estar bem melhor do que mal acompanhada.”

O que realmente queremos de um parceiro?

Com a evolução dos papéis de género e das mentalidades, a lista do que valorizamos num companheiro também mudou. Queremos ao nosso lado alguém que:

  • Partilhe as tarefas e a carga mental do dia-a-dia, em vez de deixar tudo às nossas costas.
  • Invista no próprio desenvolvimento pessoal, em vez de se esconder atrás do famoso “eu sou assim mesmo” para não mudar hábitos.
  • Seja genuinamente honesto e transparente, construindo uma base sólida de confiança no relacionamento.

Por outro lado, estamos menos dispostas a ficar com alguém que nos faça sentir ignoradas, subestimadas ou emocionalmente sobrecarregadas. Ninguém quer partilhar a vida com um estranho que mal nos conhece de verdade. Queremos sentir-nos acompanhadas de verdade: ter alguém presente nos momentos difíceis, que comemore connosco as vitórias e que esteja disposto a navegar as fases de desconexão sem fugir ou ignorar os problemas.

Amor real não é um conto de fadas

Vale a pena lembrar: o casamento (ou qualquer relação séria) nunca foi um conto de fadas – e ainda bem! Filmes da Disney à parte, um relacionamento constrói-se com doses generosas de estabilidade, maturidade e consistência. As relações modernas oferecem liberdade para sair quando algo não vai bem, mas isso não significa desistir ao primeiro obstáculo. Pelo contrário, os casais de sucesso aprendem a crescer juntos, ajustando expectativas e comunicando necessidades.

Hoje sabemos que a terapia de casal não é “coisa de gente fraca” ou “casos perdidos”, mas sim uma ferramenta valiosa para fortalecer a relação. Muitos casais procuram a terapia não porque estão à beira do divórcio, mas porque querem melhorar a comunicação, resolver diferenças ou simplesmente investir na sua vida a dois de forma consciente. Em vez de aguentar em silêncio ou fingir que está tudo bem, há uma abertura maior para buscar ajuda profissional e evitar que pequenos problemas se transformem em barreiras intransponíveis.

Novas regras, o mesmo amor

Então, por que é que os casamentos já não duram? Em parte, porque já não nos contentamos com relações vazias ou desequilibradas. As “novas regras” do amor moderno implicam parceria de verdade, respeito mútuo e crescimento contínuo. As mulheres de hoje sabem o que merecem: um amor que seja refúgio e incentivo, e não uma prisão.

Isso significa que talvez haja mais divórcios – mas também quer dizer que quem fica junto tem mais probabilidade de estar realmente satisfeito. Afinal, permanecer numa relação passou a ser uma escolha, não uma imposição. E quando é escolha, queremos escolher bem.

Em suma: os relacionamentos modernos duram quando há entrega mútua, comunicação e um propósito comum. Se está numa relação conjugal, vale a pena refletir: as expectativas de ambos estão claras? Sente-se valorizada e ouvida? E você, tem oferecido ao outro o mesmo que pede? Não há fórmulas mágicas, mas uma coisa é certa – o amor hoje é mais desafiante exatamente porque podemos aspirar a muito mais. E isso, apesar de dar trabalho, é uma ótima notícia.

23.5.22

8 SEGREDOS PARA UMA SEXUALIDADE FELIZ



O sexo é aquilo que diferencia uma relação romântica das outras relações afetivas, pelo que, para que nos sintamos felizes e entusiasmados na nossa relação conjugal, também precisamos de sentir satisfação sexual. Quais são os segredos para uma sexualidade feliz?


1. Escolher a pessoa certa

Claro que quando iniciamos uma relação é porque nos sentimos suficientemente atraídos por um conjunto de atributos daquela pessoa que nos levam a acreditar que ela é – ou pode ser – a pessoa certa. Mas a maior parte das pessoas que eu conheço – dentro e fora do consultório – já passaram por desgostos amorosos e muitas dessas pessoas reconhecem que tendem a sentir-se atraídas pelo mesmo “tipo” de pessoas. Como refiro no livro “Manual do Amor”, cada um de nós tem um estilo de vinculação amorosa – seguro, ansioso, evitante ou desorganizado. Num mundo ideal seríamos todos seguros e as relações teriam maior probabilidade de dar certo, mas esse mundo também seria provavelmente mais monótono e entediante. Na prática, há algumas combinações mais desafiantes do que outras e escolher a pessoa certa pode implicar conhecermo-nos suficientemente bem, conhecermos as características e necessidades do nosso estilo de vinculação amorosa e, já agora, aprendermos a reconhecer se a pessoa que nos atrai é ou não aquela que vai ser capaz de vir ao encontro das nossas necessidades.


2. Falar abertamente sobre sentimentos e necessidades, também no que toca à sexualidade.

Um casal que não discute é, por norma, um casal que não se conhece mutuamente, que não tem uma relação que possa ser considerada íntima do ponto de vista emocional e um casal que, mais cedo ou mais tarde, também vai sentir-se insatisfeito em relação à sexualidade. Ora, se no início de uma relação é sobretudo o desejo por “aquilo” que não é nosso que nos move, numa relação de compromisso o desejo anda de mãos dadas com a segurança e com o preenchimento das nossas necessidades. Se nos esquivarmos a falar sobre o que sentimos – dentro e fora da cama – o mais provável é que comecemos a olhar para a pessoa por quem nos apaixonámos como alguém que até pode continuar a parecer-nos fisicamente atraente, mas por quem não sentimos desejo. Todas as pessoas têm problemas, inquietações e dificuldades. Aquilo que costuma diferenciar os casais satisfeitos com a sua sexualidade dos outros não é a inexistência de problemas ou de sentimentos desagradáveis. É, sobretudo, a capacidade de responder com atenção, afeto e compaixão a cada dificuldade.


3. Fazer “conchinha” depois do sexo

Ao contrário do que uma boa parte do cinema e da imprensa nos tenta “vender”, não é o número de vezes que fazemos sexo ou o número de posições do kamasutra que experimentamos que faz com que nos sintamos mais felizes com a nossa sexualidade. Um dos indicadores de satisfação sexual que a ciência nos tem demonstrado é a “conchinha”. Os casais que se sentem mais felizes com a sua sexualidade tendem a aninhar-se um no outro depois do sexo. Na verdade, isso é mais uma demonstração da ligação que sentem.


4. Cultivar a confiança

Pode não ser a frase mais sexy do mundo, mas a amizade é a base de qualquer relação conjugal feliz e é também, segundo a investigadora Emily Nagoski, educadora sexual com décadas de experiência, um dos dois grandes pilares da satisfação sexual (o outro está identificado no ponto 7). Nós podemos ter sexo louco e intenso com um desconhecido, podemos ter sexo diariamente com pessoas diferentes, mas as investigações mostram que as pessoas casadas tendem a assumir que fazem mais e melhor sexo do que quando estavam solteiras. Isso tem tudo a ver com a amizade e com a confiança. Diariamente podemos escolher entre assumirmos uma postura honesta, confiável e transparente ou não. Quando mostramos o que realmente sentimos, mesmo que seja o nosso desagrado, estamos a cultivar a confiança. Quando mostramos que nos importamos com o que a pessoa que amamos sente e que queremos estar “lá” para ela, estamos a cultivar a confiança. Quando honramos os nossos compromissos e fazemos aquilo que prometemos, também.


5. Alimentar a própria individualidade

A sexóloga Esther Perel popularizou o termo “inteligência erótica”. Segundo a investigadora, é dificílimo desejarmos aquilo que já temos, pelo que, se nos descuidarmos, é possível que ao fim de alguns anos passemos a olhar para a pessoa que está ao nosso lado mais como um/uma irmão/irmã do que como um(a) amante. Na prática, a nossa individualidade, aquilo que continuamos a fazer por nós, para além dos planos a dois, é uma das formas de mantermos uma “distância de segurança”, que nos permite olhar um para o outro com a certeza de que há sempre algo para descobrir. É como se aquilo que fazemos por nós, individualmente, nos permitisse aliar uma dose de mistério, de adrenalina e de incerteza à segurança e à previsibilidade que existem nas relações duradouras.


6. Manter a mente aberta em relação à novidade

Uma relação precisa tanto de segurança e previsibilidade quanto de mistério e novidade. Mas não é apenas a novidade na individualidade. À medida que os anos passam, a vida muda-nos. Nenhum de nós é a mesma pessoa depois de vinte ou trinta anos e muitas vezes não é fácil acompanhar as mudanças da pessoa que está ao nosso lado, manter o ritmo. Algumas pessoas deixam de comer carne e passam a ser vegetarianas. Outras descobrem o prazer de viajar depois de os filhos saírem de casa. Ou o prazer do exercício físico. Se cada um estiver disponível para continuar a descobrir o outro e para alinhar em programas novos, experiências novas, aventuras novas, é mais provável que o casal continue a sentir-se unido e entusiasmado.


7. Ir à festa… mesmo quando não apetece

Certamente já passou pela experiência de não ter a mínima vontade de ir a uma festa ou a outro evento, mas acabar por ser arrastado(a) por outras pessoas ou sentir-se na obrigação de marcar presença por consideração a um familiar ou a um(a) amigo(a) e, depois, assumir que foi a melhor coisa que fez porque acabou por se divertir. Nem sempre nos apetece fazer sexo. Às vezes já temos o pijama vestido ou está a começar a nossa série de televisão favorita e é fácil dizer “não”. Mas quando cedemos e nos deixamos levar pelas carícias da pessoa que amamos, acabamos por divertir-nos e sentir prazer. Aquilo que os casais mais felizes com a sua sexualidade têm em comum é a amizade e o facto de darem prioridade ao sexo. Eles aparecem na festa, ainda que, no início, nem sempre lhes apeteça. Isso não significa que estejam sempre disponíveis ou que não haja negas. Claro que há! Outra coisa que estes casais têm em comum é o facto de saberem lidar com as negas: não há culpabilização nem amuos. Há carinho e compaixão.


8. Gerir as expectativas

Os casais felizes NÃO são almas gémeas, não leem pensamentos, não são atores pornográficos, nem chegam diariamente montados num cavalo branco com um ramo de flores na mão. A satisfação sexual tem pouco a ver com performance ou com a frequência das relações sexuais. A maior parte das pessoas faz menos sexo do que gostaria ou do que idealizara. Porquê? Porque a vida acontece. Porque há rotinas que nos atropelam, há problemas que nem sempre conseguimos afastar do nosso pensamento, porque há birras e outras solicitações para gerir, porque há sono, muito sono. De vez em quando podemos ter de colocar na agenda um ou outro lembrete para que não nos esqueçamos de namorar, ou simplesmente reservar tempo e escolher, intencionalmente, manter o resto da vida (preocupações) em stand by. Gerir as expectativas não é baixar a fasquia. É sermos justos e bondosos connosco e com a pessoa que está ao nosso lado.

22.9.21

SERÁ QUE ELE(A) MUDA?

Será que ele/a muda?


Quando gostamos de uma pessoa, mas não nos sentimos felizes na relação, agarramo-nos à esperança de que ele(a) mude e possamos voltar a ser felizes. Às vezes damos por nós a repetir os mesmos erros e a ter dúvidas. Será que ele(a) é capaz de mudar?

Quando nos sentimos infelizes numa relação, é provável que, mais cedo ou mais tarde, façamos um ultimato: «Ou tu mudas, ou a relação acaba». De uma maneira geral, estas palavras são fruto do cansaço, do desespero, da solidão e da mágoa, mas podem facilmente ser encaradas como uma manifestação de falta de amor. Afinal, já todos ouvimos dizer que «Amar é aceitar o outro como ele é» e que «Quem ama não tenta mudar o outro». Estes são clichês que são válidos para a maioria das relações, sobretudo quando falamos de alguns defeitos irritantes, mas inofensivos ou de hábitos de que não gostamos, mas que contribuem para a felicidade da pessoa que amamos.

Quando os comportamentos da pessoa que amamos nos magoam e/ou comprometem o nosso bem-estar e a nossa felicidade, é bom que nos queixemos, que demos voz ao nosso mal-estar e que ofereçamos à outra pessoa a oportunidade de fazer escolhas que nos ajudem a ser felizes. Isso é especialmente importante se se tratar de comportamentos abusivos, como a chantagem emocional, as humilhações, as ameaças ou as explosões. Nesse caso, é mesmo imperativo exigir um compromisso sólido com a mudança, sob pena de a nossa saúde emocional e a nossa autoestima ficarem comprometidas.

Quando a outra pessoa se sente aflita com o risco de a relação terminar e promete mudar, enchemo-nos de esperança num futuro melhor, mas a autenticidade demonstrada num momento de aflição pode dar lugar a uma mão cheia de nada e, então, voltamos a sentir-nos sem chão.


Será que as pessoas mudam (mesmo)?


A boa notícia é que as pessoas mudam. A má notícia é que isso dá trabalho.

Todos nos lembramos de colegas de escola que, no final do ano letivo, se mostravam genuinamente aflitos com a perspetiva de reprovar e que suplicavam aos professores para que lhes dessem nota positiva. Em muitos desses casos, a aflição era acompanhada de um conjunto de promessas que se desvaneciam no ano seguinte.



É fácil comprometermo-nos com a mudança, sobretudo quando há algo que valorizamos e que estejamos em risco de perder, mas algumas mudanças simplesmente vão requerer tempo e um grande investimento.



Como é que podemos saber que ele(a) está mesmo disposto(a) a mudar?


Só o tempo nos poderá dar certezas absolutas sobre o grau de compromisso de uma pessoa, mas há alguns sinais a que podemos estar atentos e que podem alimentar a esperança de que ele(a) mude:


Arrependimento genuíno.

Este é o primeiro passo para a mudança. Está longe de ser condição suficiente, mas é uma condição necessária. Se a pessoa de quem gosta estiver genuinamente arrependida, você vai perceber. O rosto dele(a) vai inundar-se de sofrimento e sentimentos de culpa. Esses sentimentos desconfortáveis são a alavanca para a mudança. Se, pelo contrário, a pessoa de quem gosta oscilar entre palavras de arrependimento e outras que, de forma explícita ou implícita, coloquem a responsabilidade do seu lado, é pouco provável que haja compromisso com a mudança. Por exemplo, se a pessoa que ama o(a) traiu e, depois de numa primeira fase se ter mostrado arrependido(a), passar a dizer que você tem de esquecer o assunto e seguir em frente, dificilmente estará genuinamente capaz de empatizar com o seu sofrimento ou de se comprometer com mudanças. Se ele(a) tiver comportamentos abusivos e, perante as suas queixas, for exclamando «Tu és demasiado sensível», é pouco provável que haja mudanças sólidas.


Há espaço para conversar sobre o que o(a) incomoda.

Quando a pessoa está genuinamente empenhada em mudar e fazê-lo(a) feliz, há disponibilidade para conversar sobre os assuntos geradores de mal-estar. Isso não significa que dê pulos de contentamento ou que mostre uma paciência de santo(a). Significa que mostra que quer mesmo saber do que é que você precisa e que está empenhado(a) em investir em ações concretas.


Investe gradualmente de forma diferente.

Não há mudanças sem ação. Se voltarmos à metáfora da escola, você sabe que um aluno não está verdadeiramente comprometido com a mudança se continuar a dizer que estuda «amanhã». Quando queremos mudar, aproveitamos o hoje para fazer o que estiver ao nosso alcance. Se a pessoa que ama tem estado muito ausente, mais centrada no trabalho ou noutras prioridades, mas estiver comprometida com a mudança, é expectável que você observe um esforço genuíno para reservar tempo para a relação e que ele(a) tenha o cuidado de o(a) informar ou de o(a) consultar quando tiver de voltar a ficar a trabalhar até mais tarde. Se não estiver genuinamente comprometido(a), vai provavelmente escudar-se num conjunto de desculpas para repetir as escolhas de sempre.


Há transparência.

Há poucas coisas que nos ofereçam tanta segurança como o facto de alguém fazer aquilo que diz que vai fazer, sem mentiras nem desculpas esfarrapadas. Quando a pessoa que amamos se mostra empenhada em restaurar a nossa confiança e assume uma postura clara e honesta, isso é sempre um bom sinal. Dizer a verdade não é sempre fácil, sobretudo se a confiança tiver sido quebrada – pode dar origem a alguma insegurança ou até a mal-entendidos. Mas, como é fácil de adivinhar, as mentiras provocam danos ainda maiores e são, invariavelmente, um sinal de que o compromisso com a mudança é muito débil.


Há planos a dois e a sua vontade é considerada.

Uma das características de uma relação infeliz é o sentimento de desconsideração. Quando a pessoa que está ao nosso lado está excessivamente centrada em si mesma, acaba invariavelmente por fazer escolhas que nos magoam e que desconsideram a nossa vontade. Não há um verdadeiro compromisso. Pelo contrário, quando a relação é devidamente valorizada e há compromisso com a mudança, observamos que os nossos sentimentos e as nossas necessidades são tidos em conta e passa a ser possível sonhar a dois.


Ele(a) é capaz de pedir ajuda.

Não há dúvida de que um compromisso é muito mais sólido quando é assumido publicamente. Quando uma pessoa decide fazer dieta ou deixar de fumar, sabe que se falar sobre isso com terceiros há uma probabilidade maior de essa mudança lhe ser “cobrada”. Essa pressão é uma alavanca para a mudança. Quando há comportamentos abusivos, uma traição ou outros acontecimentos que abalem a solidez de uma relação, é importante falar abertamente sobre o assunto com alguém que possa ajudar. Se a pessoa que ama está disponível para pedir ajuda profissional, esse é um bom sinal. Claro que, depois, é essencial que se comprometa com essa ajuda. Também é um sinal positivo se ele(a) assumir os próprios erros junto de familiares e amigos. Pelo contrário, querer esconder os problemas pode indicar alguma desvalorização e menor compromisso com a mudança.


Qualquer um de nós é capaz de mudar, mas, de uma maneira geral, precisamos de sentir-nos suficientemente desconfortáveis para implementarmos mudanças significativas. É natural que queiramos manter-nos na nossa zona de conforto indefinidamente. Se estivermos confortáveis e houver a mínima hipótese de a pessoa de quem gostamos nos aceitar exatamente como somos, não vamos fazer nada para mudar. Se ficar claro que ele(a) só vai manter-se na relação se houver mudanças sólidas, temos duas hipóteses: ou valorizamos mesmo a relação e arregaçamos as mangas com medo de a perder, ou mantemo-nos na nossa zona de conforto à espera que ele(a) ceda.

Qualquer um de nós pode manter-se numa relação que não nos satisfaça. Fazemo-lo quase sempre com a esperança de que, mais cedo ou mais tarde, a outra pessoa se dê conta de que precisa mesmo de mudar. Na prática, somos nós que temos de dar voz àquilo de que precisamos para sermos felizes e isso pode passar por fazer escolhas difíceis, como afastarmo-nos de alguém que amamos, mas que não é capaz de mudar.

10.2.21

CONSULTAS DE PSICOLOGIA E TERAPIA DE CASAL ONLINE


Consultas de Psicologia e terapia de casal online

Em tempos de Covid-19 e isolamento, a terapia online é a única forma de receber ajuda especializada no que toca à saúde psicológica. Será que funciona? Como é que se processa? É para todos? Como é que sabemos que podemos confiar?


Há muitos anos que dou consultas através da Internet. Até há um ano, essa era a exceção na minha prática clínica e estava reservada sobretudo para os portugueses que vivem fora do país e para algumas pessoas que, apesar de viverem em Portugal, têm dificuldade em encontrar um psicólogo/ terapeuta conjugal perto da área de residência ou que simplesmente vivem num meio demasiado pequeno, onde todos se conhecem.

Apesar de preferir as consultas presenciais, habituei-me desde cedo a este formato e percebi que a minha ajuda poderia ser muito significativa para quem, por questões logísticas, pudesse sentir-se ainda mais vulnerável. Tenho acompanhado portugueses em países tão longínquos quanto a Arábia Saudita, Angola, Canadá ou os Estados Unidos e muitos espalhados pela Europa. Em comum têm a vontade de receber ajuda na língua em que se expressam melhor. No caso dos portugueses a viver em meios pequenos, é fácil perceber a diferença que poderia fazer consultar um psicólogo local. Não é uma questão de a confidencialidade das consultas estar em causa. Tem a ver com a exposição de entrar numa clínica e só por isso ser motivo de conversas e rumores. Isso é ainda mais difícil quando falamos de terapia conjugal.

Com a chegada do Covid-19 a Portugal, comecei por reconhecer que o contacto presencial com as pessoas que acompanho nos poderia colocar a todos numa situação vulnerável e passei a realizar as consultas através de videoconferência. Dias depois, a Ordem dos Psicólogos emitiu um comunicado em que dizia que todos os profissionais da área deveriam passar a fazer o seu trabalho neste formato. Entretanto, tornou-se óbvio que esta seria mesmo a única forma de nos protegermos.

Para quem nunca fez consultas online, a ideia pode gerar confusão. Afinal, como é que se processa uma consulta de Psicologia clínica ou de Terapia de Casal online? De que forma se pode garantir a confidencialidade e a segurança das consultas? Será que as consultas neste formato funcionam tão bem como as consultas presenciais?

A Terapia online funciona?


Sim. As consultas de Psicologia e terapia familiar são tão eficazes quanto as consultas presenciais. Não é uma questão de opinião. Há diversos estudos que nos mostram essa eficácia.


  •  Há investigações que mostram que a terapia cognitivo-comportamental, que permite estimular a consciência sobre padrões de pensamentos negativos ajudando os pacientes a responder a situações desafiantes, é tão eficaz por videoconferência quanto pela via presencial.
  •   Um estudo mostrou que os adolescentes que realizaram consultas por telefone para a perturbação obsessivo-compulsiva obtiveram tanto sucesso no tratamento quanto os colegas que foram acompanhados presencialmente.
  •   Uma investigação mostrou que os veteranos que sofrem de perturbação pós stress traumático respondem tão bem à terapia por videoconferência quanto ao tratamento recebido no consultório.

No caso da terapia de casal, há claramente uma vantagem nas consultas online: a gestão do tempo. A maior parte dos casais que acompanho são pessoas ocupadas, com dificuldade em conciliar agendas e assegurar que alguém tome conta das crianças durante duas ou três horas. A consulta dura cerca de uma hora e meia, mas, se juntarmos as deslocações, nem sempre é fácil encontrar tempo para que a sessão seja realizada. Quando as consultas são realizadas por videoconferência, contornam-se mais obstáculos e a probabilidade de o casal conseguir comprometer-se de forma consistente com a terapia é muito maior.

Mas há outra vantagem ainda mais significativa: a diminuição do stress. Não há volta a dar: por mais simpático(a) que o(a) terapeuta seja, há quase sempre mais ansiedade quando temos de nos deslocar a uma clínica.

A nossa casa é o nosso porto seguro e pode funcionar como facilitadora do relaxamento e, consequentemente, da capacidade para expormos as nossas emoções de forma mais segura.


Posso confiar no profissional que

está do outro lado do ecrã?


Nos dias de hoje, não faz sentido fazer escolhas clínicas arriscadas. Se não se sente seguro(a) de que o(a) psicólogo(a) que está a pensar contactar seja o(a) mais indicado(a) para si, há alguns passos que pode/deve dar:


  •   A Ordem dos Psicólogos dispõe de uma lista de todos os profissionais registados e autorizados a exercer em Portugal. Certifique-se de que é acompanhado(a) por um(a) psicólogo(a) inscrito na Ordem.
  •  Converse com o seu médico de família e peça uma recomendação. Os médicos de família estão habituados a fazer o encaminhamento para consultas de especialidade e poderão ajudar a encontrar a melhor alternativa.
  •    Se se sentir confortável, peça uma referência a um(a) amigo(a) ou a um familiar. Não há nada como a certeza de que alguém já foi bem-sucedido no acompanhamento psicológico com determinado(a) profissional.
  •   Faça perguntas. Antes de marcar uma consulta, faça uma lista com todas as suas dúvidas. Telefone ou envie um e-mail para o(a) psicólogo(a) que está a pensar consultar. Estas respostas ajudá-lo(a)-ão a fazer a sua escolha. Se não obtiver resposta, isso também o(a) ajudará a fazer a sua escolha 😊.

Com o que é posso contar na terapia online?


As consultas por videoconferência funcionam de forma idêntica às consultas presenciais. Do outro lado do ecrã está um(a) psicólogo(a) isolado(a) no(a) seu gabinete e capaz de assegurar a confidencialidade da consulta. Tal como acontece nas consultas presenciais, a empatia e a ligação são elementos fundamentais para o sucesso da terapia. Se não se sentir confortável com algum aspeto da consulta, procure expor a sua perspetiva.

Na primeira consulta, o(a) psicólogo(a) informa e explica de forma clara como é feita a recolha e registo dos dados clínicos e, no final, partilha uma declaração de consentimento informado que deve ser assinada/ validada pelo(a)(s) paciente(s).



De uma maneira geral, é nesta altura que se elabora
o “contrato terapêutico”, isto é: há um acordo em
relação aos objetivos terapêuticos, periodicidade e
duração das consultas, propostas de exercícios
e formas de pagamento.



Tal como acontece nas consultas presenciais, é legítimo que queiramos obter mudanças rápidas e que nos sintamos desmotivados se elas demorarem a surgir. A minha experiência mostra-me que na maioria das situações há um alívio e um otimismo que resultam logo das primeiras consultas, mas as mudanças mais sólidas envolvem tempo e compromisso.

O início de um processo terapêutico – individual ou familiar – envolve quase sempre muito desgaste e vulnerabilidade. Marcar a primeira consulta é um primeiro grande passo. É uma forma de mostrar a si mesmo(a) que quer cuidar de si, da sua relação ou da sua família. Pode não ser sempre fácil e algumas consultas até podem ser “duras” por tocarem em feridas profundas, mas aquilo que é expectável é que um(a) psicólogo(a) treinado(a) o(a) ajude a aproximar-se gradualmente dos seus objetivos e a sentir-se mais seguro(a), mais feliz e mais capaz.

26.1.21

QUAL É O MOMENTO CERTO PARA CASAR?

 

Qual é o momento certo para casar?

Em qualquer relação séria, há uma altura em que é preciso conversar sobre assuntos sérios. Qual é o momento certo para começar a falar sobre casamento? E como é que se inicia uma conversa como essa?

 

Hoje em dia a maior parte das pessoas começam por viver juntas sem oficializar a relação. Para algumas, essa é uma oportunidade de “testar” a relação, de crescer a dois e, assim, partir com mais certezas para o casamento. Para outras, o casamento é uma ideia longínqua para a qual ainda não se sentem preparadas. Algumas chegam a verbalizar que gostariam de casar «um dia», mas emocionalmente há alguma aversão a dar esse passo. Às vezes essa aversão está relacionada com o que viram no casamento dos próprios pais ou com algumas ideias feitas que resultam da observação de casais amigos. Na prática, a aversão ao casamento está muitas vezes relacionada com o medo de repetir um padrão disfuncional e/ou com o medo que a pessoa tem de se sentir sufocada. Esta sensação de sufoco é típica das pessoas com estilo de vinculação amorosa evitante.


Para a maioria das pessoas com um estilo de vinculação seguro ou ansioso, o desejo de casar acaba por surgir mais cedo ou mais tarde. Para muitas dessas pessoas, o casamento é a base da criação de uma família. Algumas têm a coragem de falar abertamente sobre isso, outras não. O receio de trazer o assunto está quase sempre relacionado com o medo de que o(a) companheiro(a) se assuste, se sinta preso(a) ou queira terminar a relação.


Tal como acontece em relação a outros assuntos sérios,

é importante que estejamos em sintonia com a pessoa

que amamos em relação ao casamento. Se isso não

acontecer, é mais provável que haja um que se sinta

magoado, ressentido e desesperançado em relação ao

futuro a dois e que, mais cedo ou mais tarde, o assunto

se transforme numa fonte inesgotável de conflitos.



Tenho conhecido vários casais que entraram, sem querer, num círculo vicioso em que um, com um perfil mais ansioso, desespera por sinais claros de compromisso (e exerce muita pressão) e o outro, que se sente pressionado, foge de qualquer compromisso sério. Como estas conversas acontecem quase sempre ao fim de meses ou anos de relação, isto é, quando ambos estão emocionalmente envolvidos, não é fácil terminar a relação.

 

Quando é que se deve começar a conversar sobre casamento?


Antes de qualquer outra coisa, é importante que você faça a sua autoauscultação. Como é que você se sente em relação ao casamento? Não é em relação ao casamento com ESTA pessoa. Quão importante é o casamento para si? É um sonho de vida? É um passo importante de que não gostaria de abdicar? É indiferente? É algo que não quer para si? Faz questão de se manter descomprometido(a)? Procure conhecer claramente os seus pensamentos e sentimentos em relação a este assunto.


Depois, converse com o(a) seu(sua) companheiro(a) sobre isso – sobre o que pensa e a forma como se sente em relação ao casamento em geral – e procure conhecer a posição dele(a). Esta conversa deve acontecer no início do relacionamento.


Ninguém quer comprometer-se com um casamento nas primeiras saídas, MAS é importante que ambos aproveitem os primeiros encontros para se revelarem com abertura e honestidade e, assim, oferecerem mutuamente a oportunidade de fazer escolhas conscientes.


Os primeiros encontros devem ser leves e divertidos, mas é importante que nenhum dos membros do casal se envolva “demasiado” com alguém que, mais cedo ou mais tarde, possa mostrar que simplesmente não é a pessoa certa. Há poucas coisas que nos derrubem tanto como chegar a um ponto da relação em que percebamos que a pessoa que amamos não deseja o mesmo grau de compromisso que nós. Quando isso acontece, sentimo-nos desolados.


Um dos cenários comuns é este: uma pessoa que deseja casar, ter filhos e assumir todos os compromissos “tradicionais” conhece alguém, por quem se apaixona, e que revela, com clareza e honestidade, que NÃO quer casar. A pessoa está tão apaixonada que:


1.       Diz a si mesma «Não faz mal. O importante é o amor que sentimos».

2.       Diz a si mesma «Não faz mal. Com o tempo, ele(a) vai acabar por ceder».


Quando aquilo que cada um diz que quer é fruto da tal autoauscultação cuidada, o mais provável é que, a prazo, este se transforme num problema sério. Mais cedo ou mais tarde, as necessidades de ambos vão colidir e alguém – provavelmente os dois – vai sentir-se injustiçado.

 

Numa segunda fase, que pode variar muito de pessoa para pessoa, é importante que você se questione: «Como é que me sinto em relação a casar COM ESTA PESSOA?» e, claro, que queira saber como é que o(a) seu(sua) companheiro(a) se sente em relação a esse passo. Mais importante do que determinar a data em que esta conversa deve acontecer, é imprescindível que você olhe para o estado da sua relação:


Quão comprometidos estão com as respetivas famílias de origem? Como é a sua relação com a família do(a) seu(sua) companheiro(a)? Dão-se bem? Têm uma relação próxima? Há desentendimentos sérios? Lembre-se de que quando nos casamos com uma pessoa, assumimos a responsabilidade de criar laços com as pessoas que são importantes para ela. Isso inclui fazer cedências, abdicar de tempo para estar com essas pessoas e estar presente em momentos especiais.


Em princípio, você vai passar muitos anos ao lado do(a) seu(sua) companheiro(a) e é muito importante que reflita sobre a sua vontade/ capacidade de se conectar com as pessoas que são importantes para ele(a) e de participar nos rituais familiares, como os aniversários, férias ou Natal.


Sentem-se emocionalmente ligados? A conexão emocional determinará a qualidade e a durabilidade da sua relação. Como é que você sabe se há conexão emocional? Preste atenção à vossa comunicação. Conhece a bagagem emocional do(a) seu(sua) companheiro(a)? Conhece as suas feridas emocionais? Os seus sonhos e ambições? Sabe o que mexe com ele(a)? O que o(a) faz feliz? Como é que ele(a) reage aos seus desabafos? Mostra-se feliz pelas suas conquistas e realizações? Preocupa-se quando você se sente triste, preocupado(a) ou inseguro(a)? Há poucas coisas que nos unam mais a uma pessoa do que a certeza de que ela se importa genuinamente com os nossos sentimentos. Você sentir-se-á mais seguro(a) se viver com a profunda convicção de que a pessoa que está ao seu lado é alguém que se importa e que o(a) valoriza. Lembre-se de que é fundamental que se interrogue: «Quão valorizado(a) se sente o(a) meu(minha) companheiro(a)?». Ele(a) sentir-se-á mais entusiasmado(a) em relação à ideia de casar consigo na medida em que se sinta considerado(a), valorizado(a).


Como está a confiança mútua? Uma relação de compromisso é tão mais feliz, segura e duradoura na medida em que haja confiança. Antes de falar sobre casamento, é importante que faça uma auscultação à confiança mútua. Se tem dúvidas em relação à lealdade do(a) seu(sua) companheiro(a), é melhor resolver essas questões antes de falarem em casamento. Esta é também a altura de trazer para cima da mesa todos os assuntos sensíveis do seu passado. Partilhar com a pessoa de quem gosta os seus erros ou os assuntos mais difíceis, ajudá-lo(a)-á a sentir-se seguro(a). Pelo contrário, a ocultação de acontecimentos importantes, como uma traição, uma dívida ou um problema por resolver implicará que ele(a) se sinta atraiçoado(a) e que, mais cedo ou mais tarde, a desconfiança se transforme em desconexão e ressentimento.

 

Como ter a conversa sobre casamento?


Arrisque. Não há volta a dar. Se o casamento é um passo importante para si e se reconhece a vontade de dar esse passo, mais cedo ou mais tarde você terá de se encher de coragem e arriscar iniciar a conversa. Se ama a pessoa que está ao seu lado e a ideia do casamento começa a fazer sentido para si, é melhor falar abertamente sobre os seus sentimentos. Não brinque com o assunto, não minimize a sua importância. Também não é preciso fazer ultimatos ou passar a ideia de que quer casar “amanhã”. Mas seja claro(a) e honesto em relação à importância do assunto e aos prazos. Se a ideia de casar daqui a cinco anos lhe parece longínqua e excessiva, assuma-o com total transparência. A última coisa de que precisa é de trazer o assunto de forma vaga e alimentar mágoa e ressentimento porque a pessoa que ama não valorizou o seu apelo.


Explique que NÃO está a fazer um pedido de casamento. Está a convidar o(a) seu(sua) companheiro(a) a conhecer os seus sentimentos e a partilhar os dele(a).


Conversem sobre os vossos valores. Nem todas as pessoas têm a consciência dos valores que norteiam a sua vida, mas esses valores variam muito de pessoa para pessoa. Por exemplo, algumas pessoas são ultra organizadas e responsáveis. Outras, privilegiam a liberdade. Algumas dão muita importância aos laços com a família de origem enquanto outras se sentem confortáveis com meia dúzia de reuniões familiares por ano. Algumas pessoas cultivam a sua espiritualidade, enquanto outras nem sabem o que isso é. Algumas são poupadas, outras são gastadoras. Algumas são empreendedoras e gostam de arriscar, enquanto outras privilegiam a segurança e a previsibilidade. Algumas sabem que só serão inteiramente felizes se tiverem filhos, enquanto outras sabem que não quer ter. Algumas colocam a vida familiar acima de todas as prioridades, outras valorizam sobretudo a progressão na carreira.


Conversem sobre o que cada um valoriza numa relação. Pode parecer estranho, mas algumas pessoas estão juntas há anos e mal se conhecem. Pouco ou nada sabem sobre aquilo que o outro valoriza na relação ou sobre aquilo que cada um pensa sobre o que é preciso para fazer com que uma relação dê certo. Nem todas as pessoas se interessam sobre Psicologia ou sobre a ciência dos relacionamentos, mas há inúmeros livros e artigos disponíveis na Internet que os podem ajudar a conversar sobre estes “ingredientes”. Estas conversas ajudá-los-ão a refletir sobre a capacidade de cada um para assumir um compromisso tão sério (e tão gratificante) como o casamento).

 

Quanto mais claro(a) e honesto(a) conseguir ser em relação às suas necessidades e expectativas, mais fácil será para o(a) seu(sua) companheiro(a) avaliar se é capaz de se comprometer consigo. Por outro lado, é essencial que você queira GENUINAMENTE conhecer a pessoa que está ao seu lado e perceber se é capaz de fazer as cedências que permitam ter uma relação de compromisso em que ele(a) se sinta feliz. NÃO chega sonhar acordado(a) com um casamento feliz em que o(a) seu(sua) companheiro(a) é um mero personagem sem vontade própria. Tem a certeza de que ama o(a) seu(sua) companheiro(a) exatamente como ele(a) é e não apenas a imagem idealizada que construiu? Então, é altura de partilhar a sua vontade de avançar para este passo.

 

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