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27.2.25

Ansioso, evitante ou seguro? Como o estilo de vinculação influencia a sua relação

 


Quando a Susana está numa relação, vive com medo que o namorado a deixe – basta um emoji diferente no chat para ela entrar em pânico. Já o Tiago, assim que a namorada começa a falar em viverem juntos, sente um frio na barriga e começa a arranjar desculpas para se distanciar. Duas atitudes opostas, mas ambas comuns em relacionamentos amorosos. A raiz pode estar nos diferentes estilos de vinculação amorosa (ou estilos de apego) de cada um.

A teoria da vinculação, desenvolvida por psicólogos, explica que as nossas primeiras experiências de amor – lá atrás na infância, com os nossos cuidadores – moldam a forma como nos ligamos aos outros em adultos. Simplificando, tendemos a desenvolver um de três estilos principais: ansioso, evitante ou seguro. Nenhum estilo é “defeito” seu, são adaptações que fizemos para sobreviver emocionalmente. Mas podem afetar (e muito) a sua vida de casal hoje.

Vamos descobrir em que perfil você (ou o seu parceiro) se encaixa?

Estilo Ansioso: o medo de não ser amada

Quem tem um apego ansioso anseia por proximidade e tem um medo profundo do abandono. Amor e ansiedade andam lado a lado, o que pode ser extremamente desgastante. Algumas características típicas de uma pessoa com estilo ansioso:

  • Hipersensibilidade a sinais do parceiro: Repara em cada pequena mudança de tom de voz, olhar ou mensagem. Se o outro parece mais calado num dia, já imagina que o amor esfriou.
  • Necessidade constante de reafirmação: “Tu amas-me mesmo?” poderia ser o lema. Precisa de frequentes demonstrações de afeto e segurança de que está tudo bem na relação.
  • Medo de expressar necessidades: Ironicamente, quem tem medo de ser abandonado às vezes evita falar do que o incomoda, com receio de afastar o parceiro. Engole sapos e finge que está tudo bem para manter a paz.
  • Comportamentos de protesto: Quando se sente insegura, pode acabar por fazer “joguinhos” (mesmo sem querer). Por exemplo, demorar de propósito a responder a uma mensagem para ver se o outro se preocupa, ou mostrar ciúmes exagerados para testar o quanto ele se importa.

Por trás do estilo ansioso há, muitas vezes, a crença de não ser suficientemente boa ou de que vai acabar sozinha. Essas pessoas dão tudo de si na relação amorosa, mas às vezes esquecem de dar valor a si próprias. A boa notícia? Com consciência e trabalho interior (muitas vezes em terapia), é possível acalmar essas inseguranças e criar ligações mais seguras. Aliás, ao ganhar confiança em si, deixa de precisar de “joguinhos” para chamar a atenção do parceiro, construindo interações mais honestas.

Estilo Evitante: o medo de perder a liberdade

No outro extremo, o estilo evitante valoriza tanto a independência que a intimidade profunda pode assustar. Pessoas evitantes desejam amor como qualquer outra pessoa, mas o excesso de proximidade aciona um alarme interno de que estão a ser “sufocadas” ou de que vão perder a autonomia.

Características comuns de um perfil evitante:

  • Precisa de espaço (muito espaço): Gosta de estar num relacionamento, mas se o parceiro começa a exigir mais tempo ou compromisso, sente necessidade de se afastar para “respirar”.
  • Dificuldade em expressar vulnerabilidade: Falar sobre sentimentos profundos ou necessidades emocionais não é confortável. Prefere evitar essas conversas ou tratá-las de forma racional, quase como se as emoções fossem um incómodo.
  • Tendência a focar-se nos defeitos do parceiro: Inconscientemente, pode sabotar a intimidade arranjando defeitos no outro quando a relação se aprofunda. Pensamentos do tipo “ela é ótima, mas não é bem perfeita para mim” funcionam como desculpa para manter alguma distância.
  • Autossuficiência extrema: Orgulha-se de ser independente. Em momentos de stress ou conflito, retira-se para dentro de si em vez de buscar apoio. Para o parceiro, parece frio ou indiferente.

Quem é evitante nem sempre percebe o quanto magoa o outro com o vai-e-vem emocional. Provavelmente, lá atrás, aprendeu que depender de alguém acaba em dor – então decidiu “não precisar” de ninguém. O desafio é entender que deixar alguém entrar não significa perder a identidade. Com paciência e possivelmente ajuda profissional, um evitante pode equilibrar independência e intimidade.

Estilo Seguro: o equilíbrio saudável

O estilo seguro é aquele com que todos nascemos potencialmente, e muitos conseguem desenvolver – normalmente fruto de ter recebido cuidados consistentes e afeto na medida certa em criança. Adultos com um estilo de vinculação seguro têm um equilíbrio saudável entre proximidade e autonomia.

Como os podemos reconhecer?

  • Confortáveis com a intimidade: Gostam de estar próximos, mas também não se afligem quando há espaço ou momentos a sós. Conseguem dar e receber amor sem drama excessivo.
  • Comunicação clara e empática: Expressam o que sentem (para o bem e para o mal) de forma respeitosa. Se algo os incomoda, falam diretamente sem acusar; se estão chateados, conseguem ouvir o outro sem explodir ou fugir.
  • Confiança e suporte mútuo: Tendem a confiar no parceiro e a ser confiáveis. Não fazem jogos para testar o amor. Também aceitam bem os “nãos” do outro, sem interpretar isso como rejeição pessoal devastadora.

Estar com alguém seguro é muitas vezes descrito como “fácil” (no bom sentido!). Há menos adivinhações e mais certeza. Mas atenção: ser seguro não significa não precisar de esforço; apenas torna a navegação da vida a dois mais suave.

Podemos mudar nosso estilo de vinculação?

Sim! A melhor notícia de todas é que os estilos de vinculação não são uma sentença perpétua. São padrões aprendidos, e qualquer coisa aprendida pode ser ajustada. Uma pessoa ansiosa pode tornar-se mais segura ao aprender a acalmar os seus medos e a fortalecer a autoestima. Um evitante pode, gradualmente, sentir-se mais confortável em depender de quem merece confiança.

As relações com pessoas seguras ajudam muito porque“reeducam” o nosso coração a confiar. Além disso, a própria terapia de casal ou individual é um espaço onde podemos explorar essas feridas antigas num contexto seguro. Com autoconhecimento e prática, é possível construir relacionamentos mais seguros mesmo que o seu ponto de partida tenha sido ansioso ou evitante.

No fim das contas, conhecer o seu estilo de vinculação é uma ferramenta poderosa. Ajuda a explicar, por exemplo, porque é que entra em pânico se a outra pessoa se afasta um pouco, ou porque sente vontade de fugir quando alguém chega perto demais. Essa consciência é o primeiro passo para mudar o que for preciso e aproximar-se do equilíbrio ideal: nem medo do abandono, nem medo de compromisso – apenas um amor em que a confiança e a autonomia caminham de mãos dadas.

26.2.25

Relação tóxica ou apenas difícil? Identifique os sinais de perigo

 


A Mariana sempre achou que tinha uma relação amorosa intensa, embora turbulenta. As amigas avisam: “Isso está muito tóxico!”. Ela hesita – afinal, ele nunca a agrediu fisicamente. Então será mesmo uma relação tóxica ou apenas uma fase má? Se você já se fez esta pergunta, saiba que não está sozinha. Entender a diferença entre um relacionamento saudável, um apenas difícil e um genuinamente tóxico pode ser a chave para proteger a sua saúde emocional.

O que é uma relação tóxica?

Uma relação tóxica é aquela em que, sistematicamente, um ou ambos os parceiros têm comportamentos que minam o bem-estar emocional do outro. Não se trata de uma discussão pontual ou de um período de stress; é um padrão repetitivo que a deixa insegura, ansiosa ou com a autoestima em baixo. Numa relação tóxica, em vez de se sentir apoiada e amada, sente-se em constante estado de alerta – como se tivesse de andar “a pisar em ovos” para evitar mais conflitos.

Importante: todas as relações passam por altos e baixos. Os desentendimentos acontecem mesmo nos casais felizes. A diferença é que, num relacionamento saudável, há respeito e responsabilidade mútua. Num relacionamento tóxico, o desrespeito torna-se rotina e um dos dois (ou ambos) acaba sempre por sair magoado.

Sinais de alerta numa relação amorosa tóxica

Como saber se é o seu caso? Cada história é única, mas muitos relacionamentos tóxicos apresentam sinais de alerta parecidos. Aqui estão alguns indicadores de que algo está errado:

  • Críticas e humilhações constantes: O seu parceiro rebaixa-a, faz piadas cruéis sobre si ou aponta muitos defeitos, mesmo em público.
  • Controlo e ciúmes exagerados: Ele quer saber onde você está a toda hora, não gosta que saia com amigas ou família, ou tenta controlar a forma como você se veste e o que faz.
  • Culpa e manipulação: Sempre que há um problema, a culpa magicamente recai sobre si. Você acaba por pedir desculpas só para evitar discussões.
  • Comunicação agressiva ou silêncio punitivo: As discussões rapidamente escalam para gritos, insultos ou até objetos atirados… Ou então ele faz exatamente o oposto: fica dias sem falar consigo como forma de castigo.
  • Você já não se reconhece: Sente que perdeu a confiança, a alegria ou amigos desde que está com essa pessoa. A sua energia vai toda para tentar agradar o outro e evitar conflitos, esquecendo-se de si mesma.
  • Ciclo vicioso de rompimento e reconciliação: Talvez vocês terminem e se reconciliem constantemente. Depois de cada discussão feia, vem um período de “lua-de-mel” em que ele promete mudar... mas pouco tempo depois tudo volta ao mesmo ciclo doloroso.

Se identificou vários destes sinais na sua relação, é provável que haja toxicidade envolvida. Muitas mulheres descrevem a sensação de “montanha-russa emocional”: momentos de afeto seguidos por momentos de tensão extrema, num loop exaustivo.

Nem tudo é narcisismo (mas continua a ser tóxico)

Nos últimos tempos ficou comum rotular qualquer parceiro difícil como “narcisista” ou “abusador”. Às vezes, a pessoa com quem você está pode não ter uma personalidade manipuladora de propósito, mas sim carregar feridas emocionais ou um estilo de vinculação complicado. Por exemplo, alguém muito frio e distante pode não o ser por maldade deliberada, mas porque tem um estilo de vinculação amorosa evitante ou traumas que o levam a erguer muros. Isso não desculpa comportamentos que a magoem – porém, entender a raiz pode ajudar a decidir o que fazer.

Pergunte a si mesma: Ele reconhece o impacto das próprias ações ou está sempre a virar o jogo e a fazer-se de vítima? Quando você expressa a sua dor, ele tenta escutar ou reage atacando? Os momentos bons parecem uma tentativa genuína de conexão ou só servem para mantê-la presa num ciclo de manipulação? As respostas a estas questões ajudam a clarificar se há esperança de mudança ou se está perante um padrão destrutivo.

Como quebrar o ciclo tóxico

Admitir que está numa relação tóxica não é fácil. Muitas vezes há vergonha (“Como é que eu deixei chegar a este ponto?”) e esperança de que “tudo melhore”. Mas ficar sozinha à espera de milagres raramente funciona. Aqui ficam alguns passos importantes a considerar:

  • Priorize a sua segurança emocional (e física): Em casos de abuso verbal ou físico, a prioridade número um é garantir que está segura. Isso pode implicar afastar-se temporariamente para ganhar clareza.
  • Quebre o isolamento: Relações tóxicas tendem a isolar-nos. Fale com alguém de confiança sobre o que está a viver – uma amiga, um familiar ou mesmo um terapeuta. Ouvir a perspetiva de fora ajuda a reforçar que não está louca ou “a exagerar”.
  • Estabeleça limites claros: Defina o que não vai mais aceitar. Pode ser falta de respeito nas discussões, invasão de privacidade, etc. Comunicar os seus limites é essencial, embora numa relação muito tóxica o outro possa ignorá-los – o que é, por si só, um sinal de alerta.
  • Considere procurar ajuda profissional: A terapia pode ser um espaço seguro para ganhar forças e compreender por que ficou presa neste ciclo. Um psicólogo ou a terapia de casal (se houver abertura dos dois) pode ajudar a mudar dinâmicas – mas note que, se o parceiro for mesmo abusivo e não reconhece erros, a terapia de casal pode não ser indicada. Nesses casos, a terapia individual para si pode ser mais útil.
  • Prepare um plano de saída (se necessário): Infelizmente, nem todas as relações tóxicas podem ser salvas. Se percebe que está a perder a sua saúde mental, pode ser altura de considerar terminar. Planeie com cuidado, principalmente se houver dependência financeira ou filhos envolvidos. Lembre-se: terminar não é um fracasso seu, é a libertação de um ciclo que não lhe faz bem.

Merece amor, não sofrimento

Ninguém inicia um relacionamento a pensar que vai acabar assim. Você merece uma relação onde se sinta amada, respeitada e segura. Identificar a toxicidade é o primeiro passo para recuperar o controlo da sua vida e do seu bem-estar. Pode ser que o seu parceiro aceite mudar e vocês consigam juntos transformar a relação. Mas se não, valorize-se o suficiente para escolher outro caminho.

Sair de uma relação tóxica requer coragem e apoio, mas a recompensa vale muito: reencontrar a paz, a autoestima e a possibilidade de um amor saudável. Afinal, amar não deveria nunca destruí-la. Cuide de si, reforce os seus limites e lembre-se de que não está sozinha – é possível reconstruir a vida e encontrar relações mais positivas.

26.1.21

QUAL É O MOMENTO CERTO PARA CASAR?

 

Qual é o momento certo para casar?

Em qualquer relação séria, há uma altura em que é preciso conversar sobre assuntos sérios. Qual é o momento certo para começar a falar sobre casamento? E como é que se inicia uma conversa como essa?

 

Hoje em dia a maior parte das pessoas começam por viver juntas sem oficializar a relação. Para algumas, essa é uma oportunidade de “testar” a relação, de crescer a dois e, assim, partir com mais certezas para o casamento. Para outras, o casamento é uma ideia longínqua para a qual ainda não se sentem preparadas. Algumas chegam a verbalizar que gostariam de casar «um dia», mas emocionalmente há alguma aversão a dar esse passo. Às vezes essa aversão está relacionada com o que viram no casamento dos próprios pais ou com algumas ideias feitas que resultam da observação de casais amigos. Na prática, a aversão ao casamento está muitas vezes relacionada com o medo de repetir um padrão disfuncional e/ou com o medo que a pessoa tem de se sentir sufocada. Esta sensação de sufoco é típica das pessoas com estilo de vinculação amorosa evitante.


Para a maioria das pessoas com um estilo de vinculação seguro ou ansioso, o desejo de casar acaba por surgir mais cedo ou mais tarde. Para muitas dessas pessoas, o casamento é a base da criação de uma família. Algumas têm a coragem de falar abertamente sobre isso, outras não. O receio de trazer o assunto está quase sempre relacionado com o medo de que o(a) companheiro(a) se assuste, se sinta preso(a) ou queira terminar a relação.


Tal como acontece em relação a outros assuntos sérios,

é importante que estejamos em sintonia com a pessoa

que amamos em relação ao casamento. Se isso não

acontecer, é mais provável que haja um que se sinta

magoado, ressentido e desesperançado em relação ao

futuro a dois e que, mais cedo ou mais tarde, o assunto

se transforme numa fonte inesgotável de conflitos.



Tenho conhecido vários casais que entraram, sem querer, num círculo vicioso em que um, com um perfil mais ansioso, desespera por sinais claros de compromisso (e exerce muita pressão) e o outro, que se sente pressionado, foge de qualquer compromisso sério. Como estas conversas acontecem quase sempre ao fim de meses ou anos de relação, isto é, quando ambos estão emocionalmente envolvidos, não é fácil terminar a relação.

 

Quando é que se deve começar a conversar sobre casamento?


Antes de qualquer outra coisa, é importante que você faça a sua autoauscultação. Como é que você se sente em relação ao casamento? Não é em relação ao casamento com ESTA pessoa. Quão importante é o casamento para si? É um sonho de vida? É um passo importante de que não gostaria de abdicar? É indiferente? É algo que não quer para si? Faz questão de se manter descomprometido(a)? Procure conhecer claramente os seus pensamentos e sentimentos em relação a este assunto.


Depois, converse com o(a) seu(sua) companheiro(a) sobre isso – sobre o que pensa e a forma como se sente em relação ao casamento em geral – e procure conhecer a posição dele(a). Esta conversa deve acontecer no início do relacionamento.


Ninguém quer comprometer-se com um casamento nas primeiras saídas, MAS é importante que ambos aproveitem os primeiros encontros para se revelarem com abertura e honestidade e, assim, oferecerem mutuamente a oportunidade de fazer escolhas conscientes.


Os primeiros encontros devem ser leves e divertidos, mas é importante que nenhum dos membros do casal se envolva “demasiado” com alguém que, mais cedo ou mais tarde, possa mostrar que simplesmente não é a pessoa certa. Há poucas coisas que nos derrubem tanto como chegar a um ponto da relação em que percebamos que a pessoa que amamos não deseja o mesmo grau de compromisso que nós. Quando isso acontece, sentimo-nos desolados.


Um dos cenários comuns é este: uma pessoa que deseja casar, ter filhos e assumir todos os compromissos “tradicionais” conhece alguém, por quem se apaixona, e que revela, com clareza e honestidade, que NÃO quer casar. A pessoa está tão apaixonada que:


1.       Diz a si mesma «Não faz mal. O importante é o amor que sentimos».

2.       Diz a si mesma «Não faz mal. Com o tempo, ele(a) vai acabar por ceder».


Quando aquilo que cada um diz que quer é fruto da tal autoauscultação cuidada, o mais provável é que, a prazo, este se transforme num problema sério. Mais cedo ou mais tarde, as necessidades de ambos vão colidir e alguém – provavelmente os dois – vai sentir-se injustiçado.

 

Numa segunda fase, que pode variar muito de pessoa para pessoa, é importante que você se questione: «Como é que me sinto em relação a casar COM ESTA PESSOA?» e, claro, que queira saber como é que o(a) seu(sua) companheiro(a) se sente em relação a esse passo. Mais importante do que determinar a data em que esta conversa deve acontecer, é imprescindível que você olhe para o estado da sua relação:


Quão comprometidos estão com as respetivas famílias de origem? Como é a sua relação com a família do(a) seu(sua) companheiro(a)? Dão-se bem? Têm uma relação próxima? Há desentendimentos sérios? Lembre-se de que quando nos casamos com uma pessoa, assumimos a responsabilidade de criar laços com as pessoas que são importantes para ela. Isso inclui fazer cedências, abdicar de tempo para estar com essas pessoas e estar presente em momentos especiais.


Em princípio, você vai passar muitos anos ao lado do(a) seu(sua) companheiro(a) e é muito importante que reflita sobre a sua vontade/ capacidade de se conectar com as pessoas que são importantes para ele(a) e de participar nos rituais familiares, como os aniversários, férias ou Natal.


Sentem-se emocionalmente ligados? A conexão emocional determinará a qualidade e a durabilidade da sua relação. Como é que você sabe se há conexão emocional? Preste atenção à vossa comunicação. Conhece a bagagem emocional do(a) seu(sua) companheiro(a)? Conhece as suas feridas emocionais? Os seus sonhos e ambições? Sabe o que mexe com ele(a)? O que o(a) faz feliz? Como é que ele(a) reage aos seus desabafos? Mostra-se feliz pelas suas conquistas e realizações? Preocupa-se quando você se sente triste, preocupado(a) ou inseguro(a)? Há poucas coisas que nos unam mais a uma pessoa do que a certeza de que ela se importa genuinamente com os nossos sentimentos. Você sentir-se-á mais seguro(a) se viver com a profunda convicção de que a pessoa que está ao seu lado é alguém que se importa e que o(a) valoriza. Lembre-se de que é fundamental que se interrogue: «Quão valorizado(a) se sente o(a) meu(minha) companheiro(a)?». Ele(a) sentir-se-á mais entusiasmado(a) em relação à ideia de casar consigo na medida em que se sinta considerado(a), valorizado(a).


Como está a confiança mútua? Uma relação de compromisso é tão mais feliz, segura e duradoura na medida em que haja confiança. Antes de falar sobre casamento, é importante que faça uma auscultação à confiança mútua. Se tem dúvidas em relação à lealdade do(a) seu(sua) companheiro(a), é melhor resolver essas questões antes de falarem em casamento. Esta é também a altura de trazer para cima da mesa todos os assuntos sensíveis do seu passado. Partilhar com a pessoa de quem gosta os seus erros ou os assuntos mais difíceis, ajudá-lo(a)-á a sentir-se seguro(a). Pelo contrário, a ocultação de acontecimentos importantes, como uma traição, uma dívida ou um problema por resolver implicará que ele(a) se sinta atraiçoado(a) e que, mais cedo ou mais tarde, a desconfiança se transforme em desconexão e ressentimento.

 

Como ter a conversa sobre casamento?


Arrisque. Não há volta a dar. Se o casamento é um passo importante para si e se reconhece a vontade de dar esse passo, mais cedo ou mais tarde você terá de se encher de coragem e arriscar iniciar a conversa. Se ama a pessoa que está ao seu lado e a ideia do casamento começa a fazer sentido para si, é melhor falar abertamente sobre os seus sentimentos. Não brinque com o assunto, não minimize a sua importância. Também não é preciso fazer ultimatos ou passar a ideia de que quer casar “amanhã”. Mas seja claro(a) e honesto em relação à importância do assunto e aos prazos. Se a ideia de casar daqui a cinco anos lhe parece longínqua e excessiva, assuma-o com total transparência. A última coisa de que precisa é de trazer o assunto de forma vaga e alimentar mágoa e ressentimento porque a pessoa que ama não valorizou o seu apelo.


Explique que NÃO está a fazer um pedido de casamento. Está a convidar o(a) seu(sua) companheiro(a) a conhecer os seus sentimentos e a partilhar os dele(a).


Conversem sobre os vossos valores. Nem todas as pessoas têm a consciência dos valores que norteiam a sua vida, mas esses valores variam muito de pessoa para pessoa. Por exemplo, algumas pessoas são ultra organizadas e responsáveis. Outras, privilegiam a liberdade. Algumas dão muita importância aos laços com a família de origem enquanto outras se sentem confortáveis com meia dúzia de reuniões familiares por ano. Algumas pessoas cultivam a sua espiritualidade, enquanto outras nem sabem o que isso é. Algumas são poupadas, outras são gastadoras. Algumas são empreendedoras e gostam de arriscar, enquanto outras privilegiam a segurança e a previsibilidade. Algumas sabem que só serão inteiramente felizes se tiverem filhos, enquanto outras sabem que não quer ter. Algumas colocam a vida familiar acima de todas as prioridades, outras valorizam sobretudo a progressão na carreira.


Conversem sobre o que cada um valoriza numa relação. Pode parecer estranho, mas algumas pessoas estão juntas há anos e mal se conhecem. Pouco ou nada sabem sobre aquilo que o outro valoriza na relação ou sobre aquilo que cada um pensa sobre o que é preciso para fazer com que uma relação dê certo. Nem todas as pessoas se interessam sobre Psicologia ou sobre a ciência dos relacionamentos, mas há inúmeros livros e artigos disponíveis na Internet que os podem ajudar a conversar sobre estes “ingredientes”. Estas conversas ajudá-los-ão a refletir sobre a capacidade de cada um para assumir um compromisso tão sério (e tão gratificante) como o casamento).

 

Quanto mais claro(a) e honesto(a) conseguir ser em relação às suas necessidades e expectativas, mais fácil será para o(a) seu(sua) companheiro(a) avaliar se é capaz de se comprometer consigo. Por outro lado, é essencial que você queira GENUINAMENTE conhecer a pessoa que está ao seu lado e perceber se é capaz de fazer as cedências que permitam ter uma relação de compromisso em que ele(a) se sinta feliz. NÃO chega sonhar acordado(a) com um casamento feliz em que o(a) seu(sua) companheiro(a) é um mero personagem sem vontade própria. Tem a certeza de que ama o(a) seu(sua) companheiro(a) exatamente como ele(a) é e não apenas a imagem idealizada que construiu? Então, é altura de partilhar a sua vontade de avançar para este passo.

 

18.5.20

GASLIGHTING – UMA FORMA DE ABUSO EMOCIONAL

Gaslighting

«Ele quer dar comigo em doida! Eu já não sei se aquilo que eu penso que é verdade é, de facto, verdade ou não. Tenho a certeza de que não fiz as coisas de que ele me acusa, mas às tantas já duvido de mim própria. Já não sei se eu é que estou maluca».

Mariana procurou a minha ajuda dominada pelo desespero. Tinha acabado de ter mais uma discussão com o marido e o seu discurso estava acompanhado de choro, agitação e tremores. Ao longo da conversa foi conseguindo explicar que Ricardo a tinha acusado de estar a ter um caso com um colega de trabalho. Mais do que isso: afirmou ter provas da relação extraconjugal e ameaçou revelá-las à família e aos amigos. Mariana não só não traiu o marido, como tinha uma relação superficial com o colega e não percebia a origem das acusações. Inicialmente, pensou que pudesse tratar-se de um equívoco ou de algum boato, mas, à medida que os dias passaram e as acusações se intensificaram, sentiu-se cada vez mais aflita, confusa e ameaçada. De onde viria a “certeza” que o marido mostrava? A que provas poderia ele referir-se? Estaria alguém a passar-se por ela? Teria o seu telemóvel sido pirateado? Quanto mais desesperada se sentia, menos percebia da situação. Mariana perguntou várias vezes ao marido a que provas se referia, mas não obteve resposta. Sentia-se encurralada numa realidade demasiado confusa e começou a duvidar de si mesma, questionando a sua sanidade mental.

Infelizmente, o episódio descrito por Mariana é muito mais comum do que se possa imaginar. Não se trata de qualquer forma de “loucura”, de um conjunto de mal-entendidos ou de um simples desentendimento conjugal. Trata-se de uma forma de manipulação, de violência psicológica, conhecida por gaslighting.

 

Há muitas formas de violência emocional

Já escrevi sobre violência emocional AQUI. Sempre que escrevo ou falo sobre este assunto, procuro explicar que, ao contrário do que tantas vezes se supõe, a violência não assume sempre a mesma forma. Nem todos os abusadores falam alto, insultam ou são fisicamente violentos. Muitas vezes, a violência emocional assume formas tão subtis que a pessoa que é vítima dos abusos tem muita dificuldade em reconhecê-los como tal.

Para agravar a situação, na esmagadora maioria das vezes as pessoas que praticam os abusos assumem uma imagem pública tão diferente dos comportamentos que têm em casa que se torna ainda mais difícil para a vítima conseguir que alguém acredite em si.


Em todas as formas de violência emocional há um propósito comum: fragilizar a vítima, exercer poder sobre ela. Para quê? Para sentir esse poder, para controlar a vida da outra pessoa e, assim, ter todo o poder de decisão da relação. Não raras vezes, de forma mais ou menos subtil, o abusador vai procurando isolar a sua vítima, afastando-a progressivamente de familiares e amigos, o que acaba por criar ainda mais fragilidade e por abrir espaço para os abusos.

 

O que é o Gaslighting?

O gaslighting é uma forma de abuso emocional através da qual uma pessoa procura manipular a outra levando-a a questionar a realidade. É frequente que, à semelhança do que aconteceu com Mariana, a vítima diga coisas como «Parece que estou a enlouquecer» ou «Acho que estou a ficar doida». Visto de fora, pode parecer absurdo. Afinal, se alguém, de repente, nos acusasse de algo que não fizemos, parece óbvio que seria relativamente fácil dar um murro da mesa, sair de cena ou simplesmente ignorar a acusação. Na prática, é tudo muito mais complicado. Em primeiro lugar, porque as manipulações começam invariavelmente de forma muito ténue, quase impercetível. Depois, porque os episódios de manipulação são intercalados por momentos agradáveis, de aparente cumplicidade.

Quando uma pessoa tem comportamentos que mostram de forma clara que gosta de nós e que se preocupa connosco, fica infinitamente mais difícil acreditar que também seja capaz de adulterar a realidade com a intenção de nos fragilizar.


Aos poucos, é fácil acreditar no que ela diz e é possível que comecemos a duvidar de nós mesmos, da nossa saúde mental.

Tal como aconteceu com Mariana, a frieza da pessoa que faz afirmações falsas é de tal ordem que a vítima se convence de que ele(a) está a dizer a verdade. Ou pelo menos, a vítima acredita que a outra pessoa está convencida de que aquelas afirmações são verdadeiras. Mas, tal como Ricardo nunca achou que Mariana estivesse, de facto, a trai-lo, nos episódios de gaslighting o abusador SABE que aquilo que está a dizer é mentira. Fá-lo com o único propósito de confundir a vítima, fragilizando-a. Essa fragilidade abre espaço para mais abusos, mais controlo.

 

Gaslighting: em busca de provas da verdade

Outra faceta perversa desta forma de manipulação tem a ver com o facto de o abusador muitas vezes desmentir a vítima, afirmando que não disse aquilo que, de facto, disse. Confuso? Vejamos um exemplo:

Tomás disse repetidamente a Rita que gostaria de experimentar um restaurante tailandês. Algum tempo depois, Rita surpreendeu o namorado com uma reserva para dois. Nessa altura, Rita ficou admirada com o comentário do namorado: «Eu NUNCA disse que queria ir a um tailandês! Eu gostava de experimentar um restaurante mexicano». Quando Rita partilhou o episódio com uma amiga comum, Tomás acusou a namorada de estar «a perder a memória». A sua frieza e convicção contribuíram ainda mais para o alarme da namorada.

Na maioria das vezes estas mentiras começam com coisas ainda mais simples, como no caso de Susana: o namorado passou a semana toda a dizer-lhe que os pais dele a tinham convidado para jantar no domingo e, no sábado, acusou-a de não ter prestado a devida atenção, já que o jantar era nessa noite. Susana desvalorizou o episódio, deduzindo que o namorado pudesse ter-se enganado por distração, ainda que ele lhe tivesse dito que «era impossível ter dito que o jantar estava marcado para domingo porque o meu pai parte de viagem nesse dia».

É quase sempre assim. No princípio, a vítima começa por questionar a sua própria memória: «Terei feito confusão?», «Se calhar houve outra pessoa a falar-me sobre comida tailandesa…».

Aos poucos, vai ficando claro que há alguma coisa que não bate certo e é possível que a vítima parta em busca de provas que demonstrem que não está a enlouquecer.


Tenho conhecido pessoas que passaram a tirar notas de quase tudo o que o(a) companheiro(a) diz. Outras até gravam conversas. Infelizmente, quando as coisas atingem este ponto, a pessoa que é alvo de abusos já está muito desgastada e a sua autoestima pode estar fragilizada ao ponto de não saber o que fazer.

À medida que o discernimento e a força da vítima se vão deteriorando, o abusador vai-se sentindo cada vez mais à vontade para mentir descaradamente.

 

Sinais de que você é vítima de Gaslighting

 

À semelhança do que acontece com outras formas de violência emocional, um dos sinais que surgem com esta forma de manipulação é a atenção que a vítima dá aos próprios erros/ defeitos/ limitações. A pessoa que é vítima desta forma de abusos duvida de si mesma e passa a estar hipervigilante em relação ao seu comportamento, sobretudo quando está perto do abusador. Paralelamente, podem surgir outros sinais:

A sua autoestima diminui;

Duvida de si mesmo(a);

Sente-se confuso(a);

Tem dificuldade em tomar decisões;

Pede desculpa muitas vezes;

Mente a outras pessoas para evitar o confronto;

Pergunta a si mesmo(a) se é demasiado sensível;

Sente que algo está errado, mas não sabe exatamente o que é;

Parece que não há saída para o problema.

 

Como é que alguém pode libertar-se do Gaslighting (ou de outras formas de abuso emocional)?

Muitas vezes, as mentiras que são dirigidas à vítima dizem respeito a familiares e amigos. Quando isto acontece, a intenção é não só confundir e fragilizar, mas também isolar a vítima e, assim, exercer ainda mais controlo sobre ela. Aos poucos, a pessoa que é exposta a esta forma de violência psicológica pode sentir-se mais e mais fragilizada, como se estivesse num terror sem saída.

A melhor forma de se libertar passa por tomar a iniciativa de falar com alguém de fora, de preferência com um profissional com experiência nesta área. A prática clínica mostra-me que muitos abusadores acabam por recusar-se a participar em qualquer processo terapêutico a dois por anteciparem a possibilidade de serem “desmascarados”. Em vez disso, perante a proposta da vítima de realização de terapia de casal, acabam muitas vezes por “pedir ajuda” individual, utilizando esse passo para rotular a vítima: «Eu fui a um psicólogo/psiquiatra e ele disse que não há nada de errado comigo. Tu é que precisas de tratamento». Na prática, esta é mais uma forma de manipulação. Mas quando a pessoa que é vítima de abusos toma a iniciativa de falar com um profissional experiente – num processo de terapia individual ou conjugal – aumenta, e muito, a possibilidade de voltar a olhar para a realidade como ela é e recuperar a autoestima. Aos poucos, a pessoa vai-se dando conta daquilo que pode fazer para pôr travão aos abusos e voltar a conectar-se com as pessoas que a ajudem a sentir-se amparada.


20.4.20

ENCONTRAR O AMOR NA INTERNET


Amor na Internet


É possível encontrar o amor através da Internet? Que diferenças existem entre os encontros online e os encontros na vida real? Que comportamentos devemos ter para evitar perder tempo e energia com quem possa estar apenas à procura de um engate?


A Internet veio facilitar – e muito – a vida dos adultos à procura de um relacionamento. Há uns anos, quando alguém se separava, tinha de lidar com a dificuldade em conhecer pessoas novas. A sensação que muitas pessoas recém-separadas tinham era de que teriam de fazer muitas escolhas que as obrigariam a sair muito da sua zona de conforto para encontrar um(a) novo(a) companheiro(a) romântico.




Quantas pessoas precisamos de conhecer até encontrar “a tal”?

Não é por acaso que ouvimos falar da “química” do amor. A maioria de nós não se apaixona com facilidade. Podemos sentir-nos atraídos por algumas pessoas, podemos considera-las interessantes de muitos pontos de vista e, ainda assim, podemos constatar que simplesmente não há faísca.



O professor John Gottman, provavelmente um dos mais reconhecidos investigadores na área da conjugalidade (ao ponto de a revista Psychology Today o apelidar de “Einstein do Amor”), contou a determinada altura como é que conheceu a sua mulher, a professora Julie Gottman, com quem está casado há mais de trinta anos. Apesar de o seu trabalho estar centrado na investigação sobre os motivos por que algumas relações resultam e outras falham, John Gottman tinha ultrapassado a barreira dos 40 anos, estava divorciado há sete e colecionava relações mal-sucedidas. Antes de recomeçarem as aulas na universidade, aproveitando o tempo livre de que dispunha, decidiu conhecer o maior número de mulheres que conseguisse. Na altura (1986), não havia Internet e Gottman decidiu responder a todos os anúncios pessoais que encontrasse nos jornais. Em seis semanas, conheceu sessenta mulheres. Sessenta! Julie foi a 61ª. Primeiro, trocaram números de telefone e conversaram durante mais de quatro horas seguidas, sentindo uma empatia imediata. Depois, combinaram um encontro num bar. John Gottman chegou cedo e deu por si a observar as mulheres que entravam no bar interrogando-se «Será que esta é que é a Julie?». Algumas mulheres não (lhe) pareciam muito interessantes e Gottman dava por si a pensar «Espero que não seja esta». Quando Julie entrou no bar, Gottman gostou da sua aparência e pensou «Espero que seja esta». Conversaram, ela riu-se das suas piadas e, no segundo encontro, Gottman sabia que ela era “a tal”.


Nos dias de hoje o que não faltam são opções. Entre o Tinder, o Facebook e os mais variados sites de encontros, sabemos que é muito mais fácil conhecer muitas pessoas em pouco tempo através da Internet do que na vida real. Mas isso não significa que a tarefa seja fácil, sobretudo para quem busca mais do que relações ocasionais.

Um dos primeiros desafios que qualquer pessoa terá de enfrentar se estiver na disposição de procurar um novo amor na Internet tem precisamente a ver com este paradoxo da escolha: O facto de haver tanta oferta tende a baralhar-nos. É como se o facto de sabermos que há milhares de pessoas “disponíveis” nos tornasse menos tolerantes a pequenas falhas e menos pacientes para conhecer melhor cada pessoa com quem nos cruzemos.

As relações que começam online tendem a ser mais curtas porque, de uma maneira geral, as expectativas dos utilizadores são maiores.


O facto de haver aparentemente tanta oferta faz com que também seja mais fácil afastar potenciais companheiros românticos - mesmo que os consideremos interessantes - na esperança de que seja possível encontrar alguém (ainda) melhor.

Qual é o perfil de quem procura o amor na Internet?


Na verdade, há muitos perfis. Na Internet, tal como na vida real, a percentagem de pessoas que procuram relações sem grandes compromissos é maior. Já falei sobre isso AQUI a propósito dos estilos de vinculação amorosa. As pessoas com um estilo de vinculação evitante sentem-se pouco confortáveis com níveis elevados de intimidade emocional e, por isso, têm relações mais curtas, voltam muito mais vezes ao “mercado” dos solteiros e fazem-no de forma mais ativa. É por isso que algumas pessoas se queixam porque aparentemente estão sempre a relacionar-se com as pessoas “erradas”.

Saiba qual é o seu estilo de vinculação – e a pessoa certa para si – AQUI.

A Internet é um mundo “à parte” porque, como é fácil de perceber, permite que haja uma série de passos que sejam dados sob anonimato ou com dados falsos que, cá fora, seriam mais rapidamente detetados. Online há um risco maior de começarmos a conversar com alguém cujas intenções pareçam uma coisa e sejam, na realidade outra.

Mas nem tudo é mau! Aquilo que várias pesquisas demonstram é que quem está na Internet à procura do amor são normalmente pessoas que investem muita energia e às vezes até dinheiro nesta busca. Sim, há quem pague para ter acesso a conteúdos exclusivos ou para que um “especialista” encontre a “alma gémea”. Isto também pode mostrar alguma motivação extra para construir uma relação, por oposição àquela ideia feita de que na Internet só se encontra pessoas à procura de engates.

As pessoas mais velhas também recorrem à Internet?


Sim, mas tendem a ser mais seletivas - em particular as mulheres. Depois de uma certa idade, e, sobretudo, depois de uma ou mais relações significativas de longa duração, tendemos a definir de forma mais precisa aquilo que queremos e aquilo que não queremos para nós. Tem havido um crescimento no número de pessoas com 50 e 60 anos que utilizam a Internet para encontrar um novo amor, mas estas pessoas são normalmente mais exigentes.

Quando é uma pessoa está pronta para procurar o amor na Internet?


Há muitas pessoas que criam um perfil em sites e aplicações de encontros pouco tempo depois da separação, sentindo uma mistura de excitação e insegurança. Por um lado, sentem-se genuinamente maravilhadas com as possibilidades que a Internet oferece (e que na muitas vezes não existiam quando começaram a relação anterior), mas, por outro, sentem-se assustadas com este admirável mundo novo.

É muito importante que cada pessoa avalie se se sente realmente pronta para enfrentar os desafios dos encontros digitais. O luto da relação anterior está feito? Como está a sua autoestima? Está preparado(a) para correr riscos e lidar com a rejeição?

Algumas pessoas iniciam esta procura e interrompem-na pouco tempo depois precisamente por perceberem que ainda se sentem demasiado ligadas à anterior relação ou que simplesmente não adquiriram o estofo e a estabilidade que lhes permita saborear esta aventura sem correr o risco de ver a própria autoestima destruída.

Encontrar o amor online: o que é que procura?


É uma pessoa “com um feitio complicado”? Ou a maior parte das pessoas à sua volta tendem a rotulá-lo(a) de “pragmático(a)”? Gosta muito de viajar e dá-se mal com a monotonia? Ou é uma pessoa de gostos simples e qua não lida bem com demasiada aventura? Aquilo que a ciência nos mostra é que tendemos a sentir-nos mais felizes com pessoas com quem sintamos que haja afinidade. Não, isso não quer dizer que tenhamos de encontrar alguém com os mesmos hobbies.

Antes de partir para a análise de qualquer perfil online, pare um pouco para refletir sobre si. Elabore uma “lista de valores” e organize-nos de acordo com a importância. Gaste algum tempo a refletir sobre este assunto tão sério. O que é que é realmente importante para si? Que características é que um(a) parceiro(a) romântico tem mesmo de ter? Depois, reflita sobre a sua própria experiência. A que sinais é que acha que pode estar atento(a)? Que perguntas vai precisar de colocar para perceber se a outra pessoa partilha os mesmos valores?

O que é que devo incluir no perfil? A importância da autenticidade.


Se há algo que a ciência nos oferece é a certeza de que somos muito mais felizes na medida em que tenhamos uma vida autêntica. Online as coisas não são diferentes. Você não controla a honestidade de quem está do outro lado, mas há muitas escolhas que pode fazer com o objetivo de se aproximar das pessoas certas.

No que toca à vontade de encontrar o amor, o medo pode complicar o processo. Quando uma pessoa se sente ansiosa perante a possibilidade de se sentir rejeitada, pode ser tentador mascarar a própria realidade. Por exemplo, algumas pessoas omitem, propositadamente, o facto de terem filhos com medo de serem automaticamente excluídas pela maioria dos potenciais parceiros. Mas será que vale a pena? A minha experiência mostra-me que não.

A procura do amor não é um concurso de popularidade e a sua autoestima não pode estar dependente do número de pessoas que gostam do seu perfil.

É preferível ser claro(a) e honesto(a) em relação a quem é e àquilo que quer para si. Isso aproximá-lo(a)-á das pessoas certas e permitir-lhe-á investir apenas nas pessoas que estejam dispostas a aceitá-lo(a) exatamente como é. Mesmo assim, é possível que do outro lado haja quem não seja totalmente sincero e possa tentar iludi-lo(a).

Lembre-se de que não há qualquer vantagem em criar uma personagem. Foque-se na minoria que lhe interessa.

Seja honesto(a) também nas fotografias. Não vale a pena publicar uma foto de há 10 ou 15 anos. A desilusão será maior.

Quando é que se deve marcar um encontro presencial?


Cada pessoa sabe de si, naturalmente, mas, de uma maneira geral, é desejável que ninguém gaste muito tempo a investir numa relação cuja comunicação seja apenas digital. A nossa comunicação é, sobretudo, não-verbal. Revelamo-nos muito mais cara a cara do que através de qualquer texto.

Lembre-se de que é mais fácil avaliar se outra pessoa é ou não compatível consigo em 10 minutos de conversa cara a cara do que em várias horas de análise ao perfil digital.


Quando partir para esta etapa, lembre-se de garantir a sua segurança:

·         Combine o primeiro encontro num lugar público;
·         Partilhe a sua localização com um familiar ou um(a) amigo(a);
·         Evite partilhar informações que possam ser utilizadas de forma abusiva.
·        Defina bem os seus limites. Seja claro(a) em relação a qualquer comportamento que considere inapropriado.
Ainda em relação a este primeiro encontro, é importante que procure criar condições para que ninguém se sinta (muito) pressionado:
·         Combine uma ATIVIDADE. Fazer qualquer que permita que ambos se mantenham entretidos, ainda que haja espaço para a conversa, é meio caminho para aliviar a pressão.
·         Não leve tudo demasiado a sério. Sim, você está à procura de uma relação amorosa, mas não encare um primeiro encontro como entrevista de emprego. Procure, sobretudo, avaliar se gostaria de voltar a encontrar-se com esta pessoa uma segunda vez (e não tente perceber logo se ele(a) é a pessoa certa para passar o resto da vida ao seu lado).

26.3.20

COMO MANTER UM CASAMENTO SAUDÁVEL EM TEMPOS DE ISOLAMENTO E COVID-19


Casamento saudável em tempos de isolamento e covid-19

Assim que surgiram as primeiras notícias sobre a necessidade de ficarmos de quarentena, apareceram muitas piadas sobre o que aconteceria aos casamentos. Alguns vaticinaram um baby boom, enquanto outros profetizaram um aumento exponencial do número de divórcios. Que impacto pode ter o isolamento social nas relações amorosas?


Há muitos anos que os psicólogos e os advogados sabem que os períodos pós-férias são sinónimo de aumento do número de separações. O Natal e as férias de verão são duas alturas do ano em que as famílias acabam por passar mais tempo juntas e, para muitas, isso é sinónimo de muita tensão e algumas revelações. Por exemplo, há muitas relações extraconjugais que são descobertas nestes períodos – os casais estão mais tempo juntos, prestam mais atenção a alguns detalhes. Mas não é só: no dia-a-dia, acabamos por estar muito ocupados com todos os compromissos sociais, profissionais e familiares. Quando paramos, as expectativas são altas e a realidade nem sempre corresponde ao que idealizámos. Nalguns casos, essas paragens dão lugar à constatação de que os sentimentos românticos desapareceram. Noutros casos, os sentimentos estão lá, mas há muita tensão e é preciso pedir ajuda.

O que acontecerá às relações amorosas no período de quarentena?


As respostas concretas a esta pergunta só poderão ser dadas com exatidão daqui a alguns meses, mas é possível antecipar alguns cenários e fazer escolhas mais conscientes.

Sabemos que qualquer evento stressante tanto pode unir como pode separar um casal. Pelo meu consultório passam muitos casais que se referem a acontecimentos difíceis que foram autênticas fontes de conexão emocional. Quando duas pessoas se unem contra uma ameaça comum, o sentimento de pertença aumenta. Infelizmente, isto nem sempre acontece e, nalguns casos, a desunião está relacionada precisamente com a forma como cada um encara a ameaça.

Por exemplo, nos dias de hoje algumas pessoas tenderão a sentir-se mais seguras e otimistas se dosearem o acesso às notícias, enquanto outras preferirão manter-se atualizadas “ao minuto”. É muito fácil haver muita tensão entre os membros do casal na medida em que um considere que o outro está a exagerar ou a desvalorizar o problema e, sobretudo, se esses juízos de valor forem manifestados sob a forma de críticas duras.

Nos últimos dias tenho ouvido alguns casais que me descreveram discussões acesas a propósito da forma como cada um tem lidado com as saídas de casa. Para algumas pessoas, as preocupações profissionais – que vão desde o medo de perder o emprego até à vontade de ajudar os membros da equipa – impedem que o trabalho seja feito a partir de casa. Se do outro lado estiver alguém muito ansioso, isso é meio caminho para que haja uma discussão acesa, recheada de acusações.

A Pandemia tem efeito na líbido?


Todos nós já vimos alguns memes sobre um possível baby boom depois da quarentena, mas a verdade é que uma das consequências desta pandemia é a subida dos níveis de ansiedade e isso pode fazer diminuir o desejo sexual. Por outro lado, há pessoas que me dizem que não se sentem particularmente stressadas, mas que simplesmente não têm muita vontade de ter sexo. Essa falta de vontade é muitas vezes sentida como uma forma de rejeição. Se a comunicação não for clara, é fácil haver um distanciamento cada vez maior.

Um dado curioso relacionado com aquilo que temos vivido nas últimas semanas pode ajudar-nos a perceber de que forma é que a nossa sexualidade está a ser impactada pelo isolamento provocado pelo covid-19: no mês de março houve um aumento significativo no acesso a sites de pornografia. Se pensarmos que estes sites são maioritariamente visitados por homens, é fácil calcular que possa começar a haver o tal distanciamento.

Tal como tenho explicado noutros textos, o desejo sexual não depende apenas de quão atraente é a pessoa que amamos.

O desejo que sentimos também está associado ao nosso próprio bem-estar, à estabilidade emocional, à perseguição dos nossos sonhos e à sensação de termos poder sobre a nossa própria vida.


Por outro lado, para a esmagadora maioria das pessoas, o desejo é maior na medida em que haja alguma dose de mistério, novidade e sedução. É como se nos sentíssemos mais atraídos por alguém na medida em que tenhamos a consciência de que aquela pessoa não é verdadeiramente nossa nem está sempre disponível. Ora, essa “distância de segurança” é mais difícil de existir quando ambos estão dentro de casa 24 horas por dia.

Como é que se mantém um casamento no meio de tanta incerteza?


Se olharmos para a história recente, vamos dar-nos conta de que as catástrofes – naturais ou não – não são sempre um trampolim para o divórcio. Pelo contrário, há casais que não só sobreviveram a grandes crises, como conseguiram que a sua relação saísse ainda mais fortalecida. Que competências têm esses casais? Que escolhas fizeram?

Empatia, altruísmo, compaixão


A ciência tem-nos mostrado que os casais mais felizes são genuinamente altruístas. Isso implica que cada um preste atenção aos sentimentos do outro, valorizando-os na medida certa. Não implica que estejam sistematicamente de acordo. Por exemplo, no caso que descrevi antes, o que é importante não é que os membros do casal estejam de acordo em relação ao teletrabalho ou ao trabalho fora de casa. Na verdade, todos os casais vão divergir sobre assuntos importantes – dentro ou fora da quarentena. Aquilo que importa é que cada um seja capaz de falar abertamente sobre aquilo que SENTE a propósito de qualquer assunto e que o outro responda com atenção e afeto. Quando uma pessoa diz «Vê-se mesmo que só pensas em ti» ou «O trabalho é mais importante do que eu», até pode achar que está a mostrar os seus sentimentos, mas NÃO está. Está a permitir que a aflição tome conta de si e assuma a forma de acusações que invariavelmente serão sentidas como injustas. Pelo contrário, se uma pessoa disser «Quando tu escolhes ir trabalhar, eu sinto-me inseguro(a)/ assustado(a)/ muito preocupado(a). Podemos falar sobre isto?», abre espaço para que o(a) companheiro(a) possa responder de forma compassiva e mostre os seus próprios sentimentos.

Aquilo que nos une é a certeza de que a pessoa que está ao nosso lado se preocupa genuinamente connosco, se importa com aquilo que nós sentimos (mesmo que faça uma escolha diferente da que desejamos).


O mesmo é válido para a comunicação a propósito do sexo e do desejo sexual. Se escolhermos falar abertamente sobre aquilo que sentimos, é mais provável que evitemos a escalada de críticas e agressividade.

Dizer «Quando tu dizes que não tens vontade eu sinto-me rejeitado(a)», é muito diferente de dizer «É sempre a mesma coisa» ou, pior, «Não acho normal».

A importância do toque durante a quarentena


Independentemente de o desejo sexual sofrer alterações, há algo que está ao alcance de todos e que produz milagres na sensação de segurança e de conexão: os gestos de afeto. Quando os dois membros do casal têm mesmo de ficar fechados em casa durante muito tempo, há mais oportunidades para trocar gestos de afeto. Um abraço demorado ou um beijo mais prolongado não nos roubam tempo ao trabalho ou aos afazeres domésticos e trazem a certeza de sermos amados. É muito menos provável que alguém se sinta rejeitado ou abandonado se houver gestos de afeto com regularidade.

Em tempos de isolamento, os casais podem aproveitar todos os tempos “livres” para fazer coisas que, na azáfama normal dos dias passam para segundo plano: criar o ritual de verem séries de televisão agarradinhos, fazer uma pausa a meio do dia para tomar um café ou um chá, organizar, a dois, álbuns de fotografias ou simplesmente organizar a casa. Há um efeito calmante associado ao ato de “destralhar” e organizar armários e gavetas e isso também pode ser feito a dois. Pelo meio, é natural que surjam alguns momentos de tensão, mas se ambos se esforçarem e o toque estiver presente, é mais provável que rapidamente os ultrapassem, porventura com algumas gargalhadas pelo meio.

Gratidão: uma ferramenta poderosa


Há muito tempo que me refiro às práticas de gratidão como ferramentas terapêuticas poderosíssimas. Pararmos diariamente para prestar atenção (e escrever sobre) coisas positivas que nos rodeiam é ainda mais importante em tempos difíceis. É um grande desafio, sim. Não é fácil manter o otimismo ou a gratidão quando nos sentimos esmagados por notícias que nos dão conta de centenas de mortos por dia ou da escassez dos recursos dos diversos serviços de saúde. Também não proponho que nos alheemos da realidade e que finjamos que está tudo bem. Refiro-me, isso sim, à possibilidade de dosearmos o acesso à informação e darmos o nosso melhor para que os gestos de bondade e afeto sejam valorizados na medida certa e alimentem a nossa esperança.

Criar o ritual de aceder às informações uma ou duas vezes por dia – idealmente de manhã – pode não ser fácil, sobretudo porque sabemos que há constantemente novidades a sair. Mas dificilmente vamos sentir-nos melhor se formos bombardeados com informações tantas vezes contraditórias ou, pelo menos, difíceis de compreender.

A par deste doseamento, quando os membros do casal escolhem parar diariamente para escrever sobre as coisas mais positivas de cada dia, estão a trabalhar no sentido de controlar a ansiedade e manter o otimismo. Esta estratégia pode revelar-se crucial para manter a união conjugal. E a que podemos prestar atenção quando o mundo parece estar a desmoronar? Já todos ouvimos e vimos cenários comoventes de dezenas de vizinhos reunidos nas varandas a cantar ou relatos de pessoas que decidiram voluntariar-se para ajudar os vizinhos mais velhos ou mais vulneráveis, disponibilizando-se para ir à farmácia ou ao supermercado.

Se é verdade que a ansiedade é contagiosa, e isso é especialmente válido na relação de casal, também é importante lembrar que a bondade e a calma também podem ser contagiantes.


Quando paramos para escrever sobre os acontecimentos que contribuíram para melhorar o nosso dia, também é mais provável que nos lembremos de escrever coisas como «Sinto-me grato(a) pelo facto de o(a) meu(minha) companheiro(a) ter tido paciência para a minha explosão de hoje» ou «Sinto-me grato(a) pelos abraços que ele(a) me deu». Felizmente, a ciência tem-nos mostrado que este gesto tão simples de nos obrigarmos a escrever sobre aquilo por que nos sentimos gratos é imensamente terapêutico – ajuda a controlar a ansiedade, a desenvolver a empatia e a compaixão, a estreitar laços e a desenvolver a motivação para escolhas que promovam a nossa saúde.

Distanciamento não é desconexão


Começámos este período de isolamento cheios de energia e de vontade de nos mantermos ligados aos familiares e amigos através da tecnologia. Mais do que nunca, as videochamadas e aplicações como o Houseparty vieram trazer a possibilidade de gerirmos as saudades das pessoas que amamos. Mas, ao fim de quase duas semanas, começo a ouvir relatos de cansaço e de desmotivação. Algumas pessoas assumem que já não têm tanta paciência para as mensagens de Whatsapp ou que nem sempre têm vontade de participar numa videochamada de grupo. As reuniões à distância que, no princípio, deram origem a gargalhadas terapêuticas, deram lugar, nalguns casos, a alguma tristeza e cansaço. É natural. Estamos a viver algo absolutamente novo e estamos a adaptar-nos da melhor maneira que conseguimos. As novidades dos primeiros dias deixaram de ser novidade e precisamos de gerir as emoções e os pensamentos que vêm com este isolamento. Para alguns, é sobretudo a preocupação com o futuro profissional e financeiro, o medo de não haver dinheiro para fazer face às despesas essenciais. Para outros, são as saudades de todas as coisas que contribuem para o bem-estar – os abraços à família de origem, os almoços de domingo, as saídas com amigos, o exercício físico ao ar livre. Pelo meio, há sonhos que sabemos que podem ter de ser adiados, há projetos que não sabemos se irão para a frente e isso é desmotivante.

Temos o direito de sentir medo – por nós e pelas pessoas que amamos -, temos o direito de sentir tristeza, raiva ou confusão. E não há por que camuflar estas emoções ou fazermo-nos de mais fortes do que efetivamente somos. Pelo contrário, quando escolhemos mostrar-nos de forma autêntica – à pessoa que está ao nosso lado e aos familiares e amigos que estão do outro lado do ecrã, é mais provável que recebamos o amparo de que precisamos para nos reerguermos. Isto é especialmente impactante para a relação de casal. A vulnerabilidade é muitas vezes vista como fraqueza, mas a verdade é que quando nos vulnerabilizamos, quando mostramos aquilo que estamos a sentir, acabamos por conseguir gerir os nossos sentimentos de forma muito mais equilibrada. Reconhecer aquilo que estamos a sentir e assumir aquilo de que precisamos é um sinal de amor próprio, de respeito por nós mesmos.

Quando os membros do casal se expõem e se vulnerabilizam e quando escolhem responder com atenção e afeto a estes apelos, sentem-se invariavelmente mais unidos, mais seguros e mais otimistas.

Em tempos de isolamento, somos todos malabaristas


Quase todos os casais com filhos pequenos têm sido confrontados com o desafio de, de um momento para o outro, passarem a ter de ser pais, educadores de infância, professores, explicadores, empregados domésticos, profissionais em teletrabalho e, claro, parceiros românticos. Não é fácil manter a calma, o foco, a organização e a paciência quando há muito mais solicitações do que aquelas a que estávamos habituados ou quando simplesmente constatamos que, no final do dia, produzimos muito menos do que seria desejável.

O caminho mais fácil é permitirmos que as emoções tomem conta de nós e desatarmos a descarregar no adulto que está mais perto: o(a) nosso(a) companheiro(a). No meio do malabarismo que é gerir todos os papéis em simultâneo, há alturas em que ficamos com a sensação de que a pessoa que está ao nosso lado está a ser egoísta ou simplesmente não valoriza os nossos sentimentos e as nossas necessidades. Quando ele(a) não faz aquilo que pedimos, quando responde de forma mais acesa ou parece privilegiar a carreira em detrimento da ajuda familiar, é tentador fazer acusações.

Quando um dos membros do casal se fecha numa divisão da casa para reunir com o chefe por videoconferência e o outro não consegue impedir que a criança de cinco anos invada a reunião a gritar por causa do brinquedo desaparecido, pode parecer que houve negligência. Na prática, ambos estão sob muita pressão e praticamente não têm momentos de descompressão.

Uma das ferramentas que nos podem ajudar a manter o foco é a compaixão. Lembrarmo-nos de que este é, efetivamente, um período muito duro para todos é essencial para que olhemos para a pessoa que está ao nosso lado reconhecendo que também ela está apenas a dar o seu melhor.

Por outro lado, é fundamental que haja genuína camaradagem e que cada um possa ter tempo para fazer aquilo que o(a) ajude a descomprimir. Uma hora de exercício físico ou a jogar Playstation enquanto o outro “segura as pontas” pode ser revigorante.

Neste momento, há muita coisa para gerir e demasiada incerteza em relação ao futuro, mas há algo de que não nos podemos esquecer: esta pandemia vai passar. É fundamental que olhemos para o futuro e que façamos hoje as escolhas que nos permitam estarmos junto das pessoas que amamos quando tudo isto passar. Este período é um teste às relações, sim, e é fundamental que nos lembremos de cuidar de nós e das nossas relações hoje, colocando em prática os primeiros socorros psicológicos e pedindo ajuda se necessário.
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