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3.1.12

RESOLUÇÕES DE ANO NOVO



Partilho hoje a entrevista que dei à revista COSMOPOLITAN
a respeito dos planos que fazemos nesta altura do ano
e que tantas vezes ignoramos no resto do tempo.

- Quais serão as resoluções de Ano Novo mais típicas/comuns?
As resoluções mais comuns dizem respeito a mudanças profissionais, implementação de um plano de exercício físico, poupanças, hábitos de leitura e alimentação. No final do ano é usual aproveitarmos o fechamento de um ciclo (e o início do outro) para nos comprometermos com mudanças que são reconhecidamente positivas, dependem essencialmente de nós mas que requerem esforço e disciplina. Quando uma pessoa se sente insatisfeita em termos profissionais, é natural que olhe para o novo ano como a oportunidade certa para dar início a um conjunto de estratégias que permitam mudar de vida. E o mesmo é verdade no que diz respeito aos hábitos alimentares e ao exercício. Pensar na saúde, no corpo e nas melhores formas de nos mantermos satisfeitos connosco implica uma reflexão sobre aquilo que é preciso mudar. Por outro lado, a viragem do ano é um período propício a balanços sobre o sentido da vida e sobre a forma como queremos passar o nosso tempo, pelo que é natural que surjam algumas reflexões acerca da possibilidade de dar início a uma poupança que permita fazer “aquela” viagem ou a respeito da gestão da agenda necessária para que antigos hábitos de leitura possam ser recuperados. De um modo geral, comprometemo-nos com a diminuição da procrastinação e com o aumento da focalização nos objetivos.

- E quais serão as que temos mais tendência para falhar/abandonar?
No limite, podemos abandonar quase todas e chegar ao fim do ano com a sensação de que “agora é que é”. A verdade é que a maior parte destas resoluções envolvem compromissos que não são fáceis de manter, quer por preguiça e falta de disciplina, quer por medo. De resto, quando procrastinamos, isto é, quando adiamos tarefas importantes substituindo-as por outras mais agradáveis, agimos quase sempre movidos pelo medo de falhar. É verdade que as questões relacionadas com a motivação e a autoestima  têm aqui um papel fundamental. Quanto menos seguros nos sentirmos a respeito das nossas capacidades, maior será a probabilidade de desistirmos aos primeiros obstáculos. Nesse sentido, os esforços relacionados por exemplo com a implementação de dietas são muito difíceis de manter na medida em que os resultados não raras vezes tardam em aparecer.

- Que tipo de emoções tomam conta de nós nesta época e que nos levam a esta tendência natural para querer mudar tudo o que está mal na nossa vida?
Funcionamos em ciclos e, do mesmo modo que é usual fazermos algumas reflexões aquando do nosso aniversário, é expectável que o façamos nesta altura do ano. Trata-se de olhar para trás, identificar os erros/ insatisfações e aproveitar o início de um novo ciclo para injetar  motivação. Sentimo-nos sobretudo esperançosos e acreditamos que somos capazes. Por outro lado, é comum depararmo-nos com a sensação de que o ano que agora termina passou “demasiado depressa” e isso leva-nos frequentemente ao confronto com a finitude da vida e com o caráter efémero da nossa jovialidade. Olhar para o novo ano como uma oportunidade de mudar é sobretudo depositar em nós mesmos a capacidade de tomar as rédeas da própria vida.

- E porque é que não podemos ter o mesmo espírito de iniciativa e força de vontade a meio do ano, por exemplo?
À medida que retomamos a maior parte dos nossos compromissos e afazeres, acabamos por remeter-nos às nossas rotinas e é relativamente fácil sujeitarmo-nos à azáfama diária sem que paremos para pensar no que está mal. Adiamos de forma sistemática os nossos sonhos enfiando a cabeça no trabalho, nos filhos, na lida da casa.

- Acha que este hábito de fazermos planos que não tencionamos (ou não conseguimos) cumprir é algo positivo que nos alimenta a esperança, ou pelo contrário, é negativo porque nos mostra que afinal não somos capazes de atingir certos objetivos?
É positivo na medida em que nos lembra de algo extremamente importante: não podendo mudar os outros, é possível mudarmos quase tudo na nossa própria vida e, assim, elevar os níveis de bem-estar. O grande problema reside precisamente na reflexão a propósito do que nos faz falta, do que precisamos para sermos felizes. Não raras vezes tentamos enganar-nos a nós próprios, iludimo-nos, e o esforço começa imediatamente condicionado. Mas a verdade é que o “empowerment” psicológico, isto é, a crença de que somos capazes de mudar, é uma competência muito importante.

- De que forma é possível gerir a noção da realidade, do possível e do concreto quando elaboramos os nossos objetivos? Por exemplo, valerá a pena pensar em concretizar algo completamente inatingível, sendo que as nossas expetativas sairão muito provavelmente frustradas?
A questão passa mesmo pelas expectativas. Ao depositarmos toda a nossa felicidade em bens materiais ou até mesmo em mudanças no nosso corpo, esquecemo-nos de que o essencial são os laços afetivos. Assim, ainda que demos o nosso melhor no sentido de cumprir os objetivos, corremos o risco de nos sentirmo frustrados por não estarmos realmente a perseguir os sonhos que contribuiriam para a elevação do nosso bem-estar.

- Qual a melhor forma de lidar com a frustração de perceber que a “lista” de resoluções do ano anterior não foi cumprida?
Lidar com a frustração faz parte do processo de amadurecimento. Depois do insucesso importa arregaçar as mangas e voltar a tentar. As pessoas mais resilientes, isto é, aquelas que não se vergam perante as adversidades, são mais otimistas, mais perseverantes e, de um modo geral, saem vencedoras. Nem tudo é alcançado à primeira tentativa e é o facto de continuarmos a tentar que nos mantém vivos.

- Há alguma forma de tentar assegurar que cumprimos a maior parte das nossas resoluções de Ano Novo, ao género de incentivo (um esquema de autorrecompensa, associarmo-nos a um amigo, colocá-los por escrito…)?
A monitorização dos nossos esforços por escrito, colocando por exemplo uma tabela na porta do frigorífico, e um sistema de castigos e recompensas podem ajudar, tal como pode ser útil pedir ajuda a um familiar ou a um amigo para essa monitorização.

- E quanto às resoluções não cumpridas, será melhor “abandoná-las” por completo e não as incluir na “lista” do próximo ano, para não correr o risco de voltar a falhar, ou vale sempre a pena tentar de novo?
Querer é poder. Gerir as expectativas não deve passar por colocar de lado sonhos que dependem maioritariamente de nós. Nesse sentido, há resoluções que devem mesmo transitar de um ano para o outro, sem que isso implique qualquer sensação de fracasso.
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