Consultório            Facebook           Instagram            YouTube            Página Inicial


11.2.21

COMO AUMENTAR A RESILIÊNCIA

 

Como aumentar a Resiliência

Todas as pessoas passam por situações difíceis ou até traumáticas, mas, na maioria das vezes, têm a capacidade de seguir em frente. O que é que nos permite levantar e arregaçar as mangas de cada vez que caímos? Porque é que há pessoas mais resilientes do que outras? Como é que podemos desenvolver a resiliência?


O que é a resiliência?


A resiliência é a capacidade de nos adaptarmos às situações mais stressantes e desafiadoras da vida. Ao contrário do que possamos imaginar, a maioria das pessoas são resilientes. Claro que um simples olhar à nossa volta nos mostra que há pessoas mais resilientes do que outras. Todos conhecemos pessoas que fazem um drama à menor contrariedade e outras que mostram uma capacidade incrível de se reerguer mesmo nas maiores adversidades. Quando olhamos para desafios intensos como o diagnóstico de um cancro, a perda de emprego ou um divórcio, é evidente que se trata de marcos muito significativos capazes de abalar a felicidade e a estabilidade da maioria das pessoas. Mas também é claro que a maior parte das pessoas que conhecemos acabam por ultrapassar estes desafios, adaptando-se e reerguendo-se.


Podemos desenvolver a resiliência?


Os estudos sobre a Psicologia positiva evoluíram muito nas últimas décadas e contribuíram para o conhecimento que hoje temos sobre este tema. A resiliência está diretamente relacionada com níveis mais elevados de autoconfiança, bom humor, e uma imagem positiva de nós mesmos e a boa notícia é que podemos desenvolvê-la em qualquer momento da nossa vida.


Dicas para desenvolver a resiliência


1.       Conte com o apoio dos outros.


Perante um problema difícil, pode ser tentador fechar-se na sua concha e contar apenas consigo mesmo. As pessoas que cresceram por sua conta, sem sentirem que pudessem confiar ou contar com os adultos à sua volta, podem sentir maior dificuldade em vulnerabilizar-se, confiar nos outros ou pedir apoio. É importante que tenhamos compaixão pelas nossas vulnerabilidades, pelas nossas feridas emocionais, mas que não permitamos que elas se cristalizem e nos impeçam de explorar novos caminhos.


Se tem dificuldade em pedir apoio ou em confiar

nos outros, é porque em algum momento da sua

vida houve a necessidade de esse mecanismo de

defesa surgir, mas isso não significa que hoje não

haja ninguém que seja merecedor da sua confiança.




Desabafar e contar com o apoio dos outros é um meio importante para nos sentirmos amparados e conseguirmos enfrentar com resiliência as adversidades.

 

2.       Olhe para os problemas com flexibilidade.


Não podemos mudar aquilo que nos aconteceu no passado nem podemos mudar alguns acontecimentos do presente, mas podemos mudar a forma como olhamos e reagimos a todos estes eventos. Quando olhamos para trás e identificamos os acontecimentos mais difíceis da nossa vida, temos, pelo menos, duas alternativas. Uma é vitimizarmo-nos, olhar para nós mesmos como coitadinhos, olhar para os acontecimentos como catástrofes em relação às quais nada podemos fazer, olhar para os traumas como inultrapassáveis e para as pessoas que causaram esses traumas como monstros. A outra é olhar para os acontecimentos com abertura e curiosidade e olhar para as pessoas à nossa volta com compaixão, reconhecer as suas próprias vulnerabilidades e o sentido de humanidade comum que está associado à certeza de que cada pessoa faz, num dado momento, o melhor que sabe. De uma maneira geral, esta abordagem ajuda-nos a reconhecer também o lado mais positivo de cada evento negativo. Por exemplo, as pessoas que cresceram com um progenitor alcoólico serão mais resilientes na medida em que sejam capazes de perceber que a forma como esse progenitor cresceu e a forma como recebeu (ou não recebeu) o amor dos seus cuidadores condicionou a estruturação da sua personalidade. Esta compaixão abre espaço para que consigam reparar nos gestos daquele progenitor que mostram afeto, apesar de todas as feridas emocionais.


Quando enfrentamos uma adversidade, podemos olhar para ela como um castigo, interrogando-nos sobre o mal que fizemos para merecer tal catástrofe ou podemos olhar para esse acontecimento com abertura e curiosidade, questionando-nos sobre o que está ao nosso alcance e/ou que lições podemos aprender.



3.       Aceite que o sofrimento faz parte da vida.


«Shit happens», já ouviu dizer? Quando nos confrontamos com uma adversidade, é fácil questionar «Porquê eu? Porque é que isto me aconteceu?», mas a verdade é que a pergunta mais razoável é «E porque não eu?». Olhe à sua volta: conhece alguém que nunca tenha passado por dificuldades sérias? Talvez lhe ocorra responder que sim. Afinal, todos conhecemos pessoas a quem a vida parece estar sempre a sorrir. Ou será que são sobretudo pessoas que assumem uma postura otimista em relação à vida?


Não há um único ser humano adulto que nunca tenha enfrentado uma dificuldade séria – um divórcio, um problema de infertilidade, uma traição, a perda de emprego, o alcoolismo de um familiar, uma doença séria, a perda de um ente querido. Uma das coisas que diferencia as pessoas resilientes é a aceitação de que o sofrimento faz parte da vida. É também por isso que elas arregaçam as mangas mais rapidamente, em vez de perderem tempo a vitimizar-se. Elas não precisam de ver o vizinho a sofrer para reconhecerem a humanidade comum que as liga às outras pessoas. Elas não olham para um momento de dor como uma tragédia que as exclui do direito à vida perfeita que as outras pessoas mostram no Instagram.


Aceitar o seu sofrimento não significa alimentar quaisquer sentimentos de pena de si próprio(a). Significa, isso sim, reconhecer que as tragédias acontecem e que a forma como você responde a essas tragédias vai influenciar (muito) o seu bem-estar. Aceitar que o sofrimento faz parte da existência humana ajuda-nos a reconhecer que, nos momentos difíceis, as escolhas que fazemos podem ajudar-nos a afundar ou a nadar até à tona.


4.       Enfrente os problemas de forma ativa e direta, em vez de os evitar.


Enfiar a cabeça na almofada é um direito seu, pelo menos na medida em que essa seja uma escolha transitória e uma forma de permitir a si mesmo(a) sentir a dua dor. Mas esta opção deixa de ser uma alternativa saudável na medida em que se transforme na única resposta aos problemas. Quanto mais evitarmos confrontar-nos com os nossos problemas, maior é a probabilidade de eles se transformarem em bichos papões que pareçam cada vez mais difíceis de ultrapassar. Enfrentar os problemas, dar-lhes um nome e fazer um plano para lidar com eles é a melhor forma de voltar a sentir que tem controlo sobre a sua vida.

 

5.       Liberte a sua ansiedade.


Cada pessoa tem a sua própria forma de lidar com a ansiedade, mas há escolhas que são mais saudáveis do que outras. As pessoas que se disciplinam no sentido de incluir na sua rotina hábitos como a meditação, a prática de exercício físico ou a realização de hobbies que as ajudem a desconectar-se dos problemas e a descontrair, costumam enfrentar as adversidades com maior resiliência.


6.       Identifique o seu propósito.


A vida leva-nos muitas vezes a um piloto automático em que dificilmente paramos para prestar atenção às coisas que mais valorizamos. Quando estamos demasiado acelerados pelo ritmo frenético das nossas vidas, é fácil sentirmo-nos assoberbados, stressados e frustrados. Parar para prestar atenção às coisas (e às pessoas) que mais valorizamos – praticando ativamente a gratidão, por exemplo – pode ajudar-nos a reconhecer com maior clareza o nosso propósito de vida e a definir objetivos que genuinamente nos aproximem de uma vida mais feliz.


7.       Crie tempo para a brincadeira.


Se quisermos ver uma criança feliz, é só criarmos espaço para que ela tenha a oportunidade de brincar, de preferência acompanhada. Brinquedos + companhia = diversão. Às vezes, nem sequer é preciso que haja brinquedos de verdade. Já reparou como duas crianças se podem divertir com caixas velhas enquanto fingem que se trata de carros em competição? Ou como brincam aos médicos mesmo quando não têm qualquer equipamento que se assemelhe a um estetoscópio? A imaginação e a companhia são o suficiente.


Os adultos também precisam – muito – da brincadeira. Somos muito mais felizes e resilientes na medida em que consigamos incluir nas nossas rotinas tempo para descontrair junto das pessoas de quem gostamos.



E este hábito é ainda mais importante e terapêutico nos períodos de maior stress. Lembre-se disso da próxima vez que disser que não tem tido tempo para fazer as coisas de que gosta.


8.       Foque-se naquilo que pode mudar.


Somos muito bons a identificar as ameaças. Na verdade, o nosso cérebro está altamente programado para isso. Este mecanismo de sobrevivência é essencial nas situações em que a nossa sobrevivência está em causa, como quando estamos na presença de um animal feroz. A questão é que a nossa vida não está sistematicamente em risco.


Quando focamos toda a nossa atenção naquilo

que não controlamos, estamos a desperdiçar a nossa

energia e, mais importante do que isso, estamos a

desperdiçar a oportunidade de canalizar a nossa

atenção para aquilo que podemos mudar.


Por exemplo, quando um pai ou uma mãe perde um filho, é evidente que o seu mundo muda para sempre. A morte é irreversível e deixa-nos com um sentimento de impotência brutal. Não é por acaso que diversos estudos mostram que a prevalência do divórcio é altíssima depois de um acontecimento como este. Mas a verdade é que há muitos casais que se mantêm unidos e cuja relação prospera, apesar de terem enfrentado a maior das adversidades. Estes casais conseguem perceber que aquilo que perderam não tem de lhes roubar aquilo que ficou.  Eles conseguem sentir-se gratos por aquilo que ainda têm e conseguem centrar a sua atenção naquilo que podem fazer para manter aquilo que têm. Esta postura – de praticar a gratidão e de centrar a atenção naquilo que podemos mudar – é aplicável a todas as tragédias da vida.


9.       Pergunte a si mesmo(a): «As escolhas que estou a fazer são boas para mim?».


Se tiver acabado de ser deixado(a) e estiver a passar por um divórcio, é natural que queira seguir todos os passos do(a) seu(sua) ex-companheiro(a). Talvez passe horas nas redes sociais na tentativa de saber se ele(a) tem alguém ou simplesmente para saber se está online. Mas será que essas escolhas lhe fazem bem? Será que o(a) ajudam a ficar melhor? Nem sempre conseguimos fazer as escolhas que nos protegem ou que promovem o nosso bem-estar. Às vezes até sabemos exatamente o que é que “deveríamos” estar a fazer, mas não é essa a nossa escolha. Há uma diferença entre sabermos o que nos faz bem e sermos capazes de nos comprometermos com essa escolha. Mas se formos capazes de trazer esta pergunta para o nosso dia-a-dia, aumenta a probabilidade de sermos genuinamente gentis connosco próprios.


Isto é aplicável às mais diversas adversidades e a pergunta pode assumir diferentes formatos:


Será que eu preciso mesmo de comprar isto?

Será que é bom para mim deixar de ir ao ginásio e ficar fechada em casa a sofrer por amor?

Será que me faz bem ir todas as semanas ao cemitério?

Será que me faz bem alimentar pensamentos como «Nunca vais ser capaz de conseguir aquele emprego»?

Será que me faz bem “googlar” sobre doenças?


10.   Reconheça a sua força.


Olhe para trás e repare na forma como respondeu às diferentes adversidades com que já se confrontou. Que características o(a) ajudaram a ultrapassar esses acontecimentos? Que escolhas contribuíram para que não se afundasse?


Quando olhamos para os acontecimentos mais difíceis da nossa vida, é natural que as recordações estejam maioritariamente relacionadas com os sentimentos desconfortáveis por que passámos, com o sofrimento vivido. Mas a esmagadora maioria destas situações foram ultrapassadas graças à nossa resiliência, às escolhas que fizemos e que também traduzem a nossa força. Por outro lado, estes acontecimentos também acrescentam invariavelmente uma dose considerável de crescimento pessoal. Há competências que nem sequer sabíamos que tínhamos e/ou que foram aprimoradas na resposta às dificuldades. Há aprendizagens que jamais teríamos feito se não tivéssemos passado por certos eventos. Sermos capazes de reconhecer a nossa força, as características que nos ajudam a enfrentar as dificuldades, é fundamental para que reconheçamos a resiliência que há em nós para lidar com o que está por vir.

Terapia Familiar e de Casal em Lisboa