 Já aqui escrevi sobre os mitos  associados à infidelidade.  E também já expressei a minha discordância em relação à estereotipagem dos papéis de género, que enfatizam a ideia de que os homens e  as mulheres pensam e sentem tudo de modo diametralmente oposto. Hoje decidi  desmontar uma crença há muito enraizada: a de que os homens traem mais do que as  mulheres.
Já aqui escrevi sobre os mitos  associados à infidelidade.  E também já expressei a minha discordância em relação à estereotipagem dos papéis de género, que enfatizam a ideia de que os homens e  as mulheres pensam e sentem tudo de modo diametralmente oposto. Hoje decidi  desmontar uma crença há muito enraizada: a de que os homens traem mais do que as  mulheres.Ainda há quem defenda que os homens são incapazes de ser  monogâmicos e que as mulheres – coitadas – não passam de vítimas nas suas mãos.  A própria ficção – a literatura, o cinema ou a televisão – continua a alimentar  a ideia de que as mulheres que se envolvem com homens casados são frágeis,  dominadas por uma combinação explosiva de fraca auto-estima e dependência  emocional. A mulher que é apanhada num caso de traição é quase sempre a amante  do marido, e não a mulher casada.
 Ora, as estatísticas – e a minha experiência clínica –  demonstram exactamente o contrário. Alguns estudos indicam que 45-55% das  mulheres casadas e 50-60% dos homens casados têm relações extraconjugais. Numa  sondagem levada a cabo nos Estados Unidos 74% dos homens e 68% das mulheres  admitiram que seriam capazes de ter um affair se tivessem a certeza de que não  seriam apanhados.
 Bem sei que as coisas não foram sempre assim e que no tempo dos  meus avós a disparidade dos números seria maior. Mas enganam-se aqueles que  consideram que nesse tempo não havia infidelidade feminina!
 A  infidelidade – masculina ou feminina – depende, também, da oportunidade, pelo  que é importante considerar que a emancipação da mulher potenciou o contacto com  pessoas do sexo oposto, favoreceu o equilíbrio em termos do poder conjugal e  minimizou a dependência em relação ao marido. Mas as donas de casa também têm  affairs. E tê-los-iam há trinta ou quarenta anos atrás, ainda que poucos  suspeitassem.
 Quanto às razões subjacentes à infidelidade: de um modo geral  (cada caso contém as suas próprias especificidades), as pessoas traem o cônjuge  pelas mesmas razões por que se separam, isto é, porque as suas necessidades  afectivas não estão a ser preenchidas pela relação “oficial”. Em muitos casos, o  que está em causa é a ligação emocional.
 Mas o peso do “pecado” também já não é o mesmo e o sexo pelo  sexo também existe – nos dois géneros, claro.
 Há diferenças de género, sim, na forma como homens e mulheres  lidam com a revelação de que foram traídos. Os homens tendem a isolar-se mais,  pelo que apresentam maior resistência a pedir ajuda externa.
 Folhetim*
 Se acaso me quiseresSou dessas mulheresQue só dizem simPor uma coisa à toaUma noitada boaUm cinema, um botequim E, se tiveres rendaAceito uma prendaQualquer coisa assimComo uma pedra falsaUm sonho de valsaOu um corte de cetim E eu te farei as vontadesDirei meias verdadesSempre à meia luzE te farei, vaidoso, suporQue é o maior e que me possuis Mas na manhã seguinteNão conta até vinteTe afasta de mimPois já não vales nadaÉs página viradaDescartada do meu folhetim *Chico Buarque, Ópera do Malandro
 
