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21.10.08

ANOREXIA NERVOSA

Parece uma piada, mas não é: ao mesmo tempo que as instituições de saúde de todo o mundo chamam a atenção para os números da obesidade, tentando impedir o número crescente de acidentes vasculares provocados por esta epidemia, continuam a existir milhares de pessoas (sobretudo mulheres, pelo que referir-me-ei daqui para a frente “às” anorécticas) que vivem o desafio oposto. Estas doentes procuram atingir/ manter um peso significativamente abaixo daquilo que é esperado para a sua idade e altura. Para elas, tudo gira à volta da comida, do peso e da auto-imagem, pelo que todos os esforços são poucos para garantir “o peso certo”. Como a sua auto-estima é inversamente proporcional ao seu peso, é muito frequente vê-las a fazer grandes restrições alimentares e a participar em exercícios físicos violentamente intensos. O objectivo é só um: ter controlo sobre o corpo.

Mas enganam-se todos os que pensam que esta é uma doença que tem apenas a ver com a alimentação. A anorexia não é mais do que uma resposta (disfuncional) a problemas emocionais. Regra geral, as anorécticas têm problemas sérios de auto-estima e alguma tendência para o perfeccionismo. A estes factores pode acrescer alguma predisposição genética e a pressão social – a beleza e o sucesso continuam intrinsecamente associados a corpos magros.

Apesar de se tratar de uma perturbação muito divulgada, existem muitas famílias que só identificam o problema numa fase avançada. O desafio pode ser dificultado pelas “artimanhas” da doente. Por exemplo, não raras vezes a mulher que sofre de anorexia é capaz de preparar esmerados jantares para familiares e amigos ou demonstrar interesse pela gastronomia. Entretanto, vai reduzindo as doses da sua alimentação, inventando desculpas para não comer à frente dos outros (“Comi há pouco tempo”) e consumindo diuréticos, laxantes e outros produtos que contribuam para o emagrecimento. A par destes estratagemas aparece quase sempre a utilização de roupas largas, que impedem o reconhecimento dos quilos perdidos.

Mas isso não significa que não haja sinais de alarme. Para além da redução de peso, é possível verificar que o rosto fica normalmente mais estreito, o cabelo e as unhas perdem vitalidade, a menstruação falha, e a pele fica normalmente muito mais seca. Do ponto de vista comportamental há alguns sinais que não devem passar despercebidos: deixar de comer às refeições (com o resto da família), preocupação excessiva com as informações calóricas e nutricionais dos rótulos dos alimentos, aumento dos exercícios físicos, dificuldades de concentração, alterações de humor e aumento significativo da verificação do peso.

Infelizmente, em muitos casos o tratamento não é uma opção porque a anoréctica se recusa a procurar ajuda, insistindo em afirmar que controla a situação. Ainda que a comida e o peso possam tomar conta da sua vida e da sua saúde, pode ser muito difícil convencê-la da importância desse passo, o que aumenta a angústia de quem está à sua volta.

O tratamento através da Psicoterapia constitui um dos maiores desafios para um psicólogo. Estes processos são lentos e podem implicar algumas recaídas. A principal dificuldade prende-se com a obsessão que a doente manifesta em relação à comida, ao peso e à imagem. Como na generalidade dos casos há uma distorção da imagem que a doente tem de si mesma, é por aí que começa a intervenção. É importante que, através de algumas técnicas cognitivo-comportamentais, a doente aprenda a reconhecer o que é um peso apropriado e o que são níveis de gordura aceitáveis para que possa associá-los ao seu próprio corpo.

Como a diminuição da auto-estima pode estar associada a eventos traumáticos ocorridos ao longo do desenvolvimento, pode ser importante envolver a família no processo terapêutico. A terapia familiar poderá ajudar a identificar comportamentos que possam contribuir para a visão distorcida que a anoréctica tem de si mesma. Muitas vezes os familiares contribuem inadvertidamente para essa distorção. Além disso, o processo terapêutico é importante para os ajudar a conhecer/ compreender a doença.

Infelizmente, para além de todas as complicações físicas (problemas cardíacos, gástricos, ósseos ou pulmonares) e psicológicas (depressão, ansiedade, consumo de drogas) associadas, esta é a doença mental com a taxa de mortalidade mais elevada. Estima-se que mais de 5% das doentes percam a vida na sequência da doença.
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