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7.10.08

WORKAHOLIC


Estou certa de que a generalidade dos leitores já ouviu os termos workaholic e workaholism, ainda que para muitos os conceitos possam ser confundidos com trabalho árduo e profissionalismo. Um workaholic não é apenas um profissional empenhado, que dá o litro em nome da empresa que representa ou que se esforça para que objectivos importantes sejam alcançados – é, isso sim, alguém que sofre de um transtorno obsessivo-compulsivo aplicado ao trabalho.

A maior parte das empresas fomenta o empenhamento dos seus trabalhadores e os empregadores acabam por estar mais preocupados com a rendibilidade de cada trabalhador do que com o equilíbrio entre trabalho e as horas de lazer, pelo que muitos viciados na adrenalina do trabalho são confundidos com meros profissionais dedicados, acabando por mascarar os efeitos colaterais da sua adição.

É ao empenho de bons profissionais que podemos agradecer o avanço da Ciência, por exemplo. Mas os bons profissionais costumam ser pessoas equilibradas, que gerem o seu tempo de forma a garantir que a sua vida pessoal e familiar não seja anulada. São pessoas que trabalham arduamente, mas que são capazes de se sentar em frente ao computador do trabalho, “viajar” através da Internet e programar as férias seguintes. Os workaholics funcionam de maneira oposta: incapazes de relaxar, são capazes de estar na praia, de férias, com a cabeça “a mil à hora”, a pensar no que deixaram por fazer no escritório.

Ironicamente, os workaholics acabam por nem ser propriamente os melhores profissionais. São pessoas que acham que têm que lidar com a pressão até ao limite, prejudicando gravemente a sua saúde, mas que acabam por falhar. Como raramente são capazes de delegar ou de trabalhar bem em equipa, acabam por assumir muito mais tarefas do que seria humanamente aceitável e a desorganização impera. Alguns são de tal modo meticulosos que acham que o trabalho só pode ser executado na perfeição e que qualquer coisa a menos que isso não serve. O resultado é quase sempre a exaustão e, em muitos casos, o fracasso.

Já ouviu falar na expressão “matar-se a trabalhar”? Pois é, os workaholics matam-se MESMO a trabalhar. Os distúrbios cardíacos e as doenças desencadeadas pelos hábitos associados a esta adição – nomeadamente o consumo de álcool e tabaco e a má alimentação – acabam por fazer estragos, às vezes irreparáveis. De facto, é frequente vê-los a comer à pressa, de pé e enquanto lêem qualquer coisa, como se o mundo estivesse a acabar.

Sem tempo para relaxar, o stress saudável, que normalmente potencia a concentração e a motivação, dá lugar ao esgotamento e o corpo acaba por sofrer as consequências. Doenças como o cancro, a hipertensão, as dores musculares, as enxaquecas, a obesidade ou os distúrbios do sono podem resultar destes níveis de ansiedade. A estes problemas acresce o facto de os workaholics raramente consultarem o seu médico de família para realizar exames de rotina, pelo que a doença pode ser detectada já num estado avançado.

Como se não bastasse o facto de tantas vezes abdicarem das horas de sono necessárias ao seu próprio equilíbrio e de dificilmente praticarem algum exercício físico (nunca têm tempo), ainda costumam ir trabalhar doentes! Quaisquer sintomas gripais são “arrumados” com uma mão-cheia de comprimidos e nem a febre os impede de estar à frente do computador. O mundo não pára.

Os problemas familiares também tendem a avolumar-se. Afinal, qual é a família que resiste às ausências constantes de um dos seus membros? É que estas pessoas costumam ter cônjuge e filhos, mas raramente os acompanham nas actividades em família: atrasam-se para compromissos importantes, faltam aos eventos na escola das crianças e fazem “ouvidos de mercador” às queixas da pessoa amada. Como consideram que os frutos do seu trabalho são uma grande mais-valia para o agregado familiar, desvalorizam o impacto das lacunas… até um dia.

Claro que mais cedo ou mais tarde algo tem que ceder. E se não for o próprio corpo – quase 5% da população acaba por morrer antes dos 60 anos devido a ataque cardíaco ou AVC – se não for o corpo, dizia eu, acaba por ser a família a mostrar um cartão vermelho.

Os estudos nesta matéria mostram que esta perturbação pode ter origem na infância, sendo fruto de níveis baixos de auto-estima que acabam por ser transpostos para a idade adulta. Muitos workaholics cresceram em famílias disfuncionais – nalguns casos marcadas pelo alcoolismo de um dos progenitores – e este vício acaba por ser uma forma de manter o controlo. Noutros casos o desenvolvimento foi marcado pelo perfeccionismo dos pais e pela exigência extrema, em que nada parece bem feito – neste caso há duas hipóteses: ou a pessoa desiste de corresponder às expectativas, ou interioriza a ideia de que tem que ser o(a) melhor em tudo o que faça. Como a perfeição é inatingível, a frustração é mais do que esperada.

A intervenção terapêutica passa por reconhecer a necessidade de encontrar o equilíbrio. É preciso saber “desligar”, relaxar e estar presente (não apenas fisicamente) noutras áreas da vida – com os amigos, com a família, em actividades de lazer e diversão.
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