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8.3.10

DIFERENÇA DE IDADES ENTRE IRMÃOS

Partilho hoje a entrevista que dei recentemente a propósito da diferença de idades entre irmãos:

EXISTE ALGUMA DIFERENÇA DE IDADES ENTRE IRMÃOS QUE SEJA «ACONSELHÁVEL»?

Como em quase todas as áreas da vida familiar, também neste caso não existem “fórmulas universais”. Aquilo que funciona e contribui para a qualidade das relações numa família pode não funcionar para outra. De resto, a existência de irmãos é, de um modo geral, muito positiva, contribuindo até para o desenvolvimento emocional das crianças. Independentemente da diferença de idades, os irmãos mais velhos funcionam quase sempre como modelos comportamentais, que os mais novos tendem a reproduzir. Dependendo do investimento que os pais façam no desenvolvimento de competências sociais, como a partilha, a assertividade ou o sentido de justiça, maior ou menor poderá ser o laço entre irmãos.

Se nos centramos apenas nas consequências para o próprio casal, diria que é muito mais difícil gerir todos os constrangimentos inerentes à educação de duas crianças pequenas com idades muito próximas (com um ou dois anos de diferença). Os primeiros anos de vida de uma criança são particularmente trabalhosos e, além disso, cada criança é única, pelo que, mesmo que o primeiro filho “dê” boas noites de sono aos pais ao fim de relativamente pouco tempo, não há quaisquer garantias de que o mesmo aconteça aquando do nascimento do segundo filho, pelo que a gestão das tarefas familiares e a coordenação com os outros papéis na vida de cada um dos membros do casal pode tornar-se particularmente difícil.

O QUE PODE SER CONSIDERADO COMO UMA «GRANDE» DIFERENÇA DE IDADES ENTRE IRMÃOS?

Do ponto de vista das crianças, as diferenças residem, sobretudo, na disponibilidade para as suas brincadeiras e actividades. No entanto, dois irmãos com idades relativamente próximas poderão, de repente, sentir-se emocionalmente distanciados a partir do momento em que o mais velho despertar para as questões próprias da pré-adolescência. De resto, esta é a altura em que cada criança procura criar a sua própria identidade e autonomia, o que pode passar por tentativas de se distanciar dos irmãos mais novos.

Quando existem dez ou mais anos de diferença, é natural que a relação entre irmãos seja diferente, mas não necessariamente mais distante ou mais pobre afectivamente. Neste caso, os irmãos mais velhos, mesmo que não funcionem propriamente como educadores dos mais novos, podem ser incentivados a aplicar a sua maturidade nos cuidados prestados aos mais novos. Conheço, felizmente, famílias em que estas diferenças são aproveitadas, funcionando como mais-valias.

É DIFERENTE TER-SE APENAS UM IRMÃO COM UMA GRANDE DIFERENÇA DE IDADE (POR EXEMPLO 10 ANOS) DO QUE JÁ SE TER OUTRO PELO MEIO? (POR EXEMPLO, JÁ SE TER UM 2 OU 3 ANOS MAIS NOVO E SURGIR UM OUTRO 12 ANOS MAIS NOVO)?

Em função das muitas mudanças por que as famílias têm passado, e do número crescente de famílias reconstruídas, estas situações são cada vez mais frequentes. Repito, no entanto, que cada família é única e que compete aos pais promoverem os laços afectivos entre os seus filhos. Independentemente disso, existem adolescentes/ adultos cujas características de personalidade são mais propensas ao sentido de protecção em relação aos mais novos, enquanto outros se sentirão emocionalmente mais distanciados.

QUE REACÇÕES PODEM SURGIR NAS CRIANÇAS OU ADOLESCENTES QUANDO EXISTE UM FOSSO GRANDE DE IDADE PARA COM O IRMÃO QUE VAI CHEGAR?

Dependendo da forma como os pais encararem a vinda de uma criança ao fim deste tempo, e de se tratar ou não de uma gravidez desejada, poderão existir diferenças mais ou menos significativas. Conheço famílias em que este fosso se deveu a situações de infertilidade e em que a vinda de uma criança acabou por ser um desejo de todos os membros da família. Mas também existem famílias em que o fosso acaba por traduzir-se nalguma forma de desligamento, particularmente se estivermos perante um adolescente que ainda não se sente integrado no segundo casamento de um dos seus progenitores.

QUE TIPO DE RELAÇÃO SE GERA ENTRE IRMÃOS COM GRANDES DIFERENÇAS DE IDADES? É DIFERENTE DAQUELAS ONDE ESSA DIFERENÇA É MENOR?

Como referi antes, desta diferença pode resultar um instinto protector, que acaba por estreitar os laços. Mas não posso ignorar o facto de, em muitos destes casos, também existir um afastamento maior, sobretudo a partir do momento em que o mais velho sai de casa dos pais. Alguns jovens com quem trabalho em sede de terapia “queixam-se” precisamente do facto de não terem tido tempo de construir uma relação emocionalmente próxima com irmãos significativamente mais velhos.

E NO CASO DOS PAIS, QUANDO UM SEGUNDO OU TERCEIRO FILHO SURGE MUITO TEMPO DEPOIS, QUE REACÇÃO ISSO PROVOCA? E EM TERMOS DE EDUCAÇÃO, O QUE TENDE A MUDAR?

Tudo depende do facto de se tratar ou não de uma gravidez desejada, independentemente do planeamento. A generalidade dos casais cujos filhos estão, por exemplo, na adolescência, já não equaciona a possibilidade de ter outro filho, mas há muitos que acabam por encarar uma gravidez inesperada como uma bênção, tirando partido da experiência e da tranquilidade que a vida entretanto lhes deu. Como os níveis de ansiedade e de preocupação nestes casos são significativamente menores e, de um modo geral, a estabilidade financeira foi entretanto alcançada, tudo pode parecer infinitamente mais fácil.

COM DIFERENÇAS TÃO GRANDES ESTAREMOS A CRIAR RELAÇÕES DE IRMÃOS OU DE «PSEUDO-PAIS»?

O facto de um irmão mais velho ser visto como responsável pelos irmãos mais novos não significa que haja uma sobreposição de papéis. Nas famílias felizes e saudáveis o papel de cada membro da família está claro. A ajuda na prestação de cuidados e/ou na aplicação e gestão das regras definidas pelos pais não pode ser confundida com o caos e com a multiplicidade de regras.

HÁ ALGUMA COISA QUE DEVA SER FEITA PARA MINIMIZAR O FOSSO DE IDADES OU, PELO CONTRÁRIO, NÃO HÁ NADA QUE TENHA QUE SER FEITO?

Mesmo que uma criança não se sinta muito próxima do seu irmão mais velho e/ou sinta dificuldades em partilhar com ele as tarefas e brincadeiras, em função do facto de estarem em fases de amadurecimento emocional diferentes, compete aos pais promover o entrosamento com outras crianças de idades próximas, tal como acontece com os filhos únicos – os primos e os filhos dos amigos são recursos que contribuem para o desenvolvimento afectivo de todas as crianças.

PODE AFIRMAR-SE QUE SEJA «DESACONSELHÁVEL» UMA DIFERENÇA DE IRMÃOS MUITO GRANDE? POR EXEMPLO, ACIMA DE 15 ANOS.

Por tudo o que expus antes, não.
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