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21.6.23

PARENTALIDADE CONSCIENTE

 


Já se questionou como é que é possível construir uma conexão profunda com os seus filhos sem descurar os limites saudáveis? já imaginou disciplinar os seus filhos sem recorrer a punições ou ameaças? É isso que a parentalidade consciente nos oferece.

Nos últimos anos ouvimos frequentemente falar sobre estilos de parentalidade, educação parental, parentalidade positiva e parentalidade consciente.

Mais do que uma moda, é importante reconhecer que o debate a propósito da parentalidade advém, sobretudo, do resultado da investigação científica sobre o neurodesenvolvimento das crianças. Sim, hoje sabemos muito mais sobre como se desenvolve e como funciona o cérebro das crianças e isso ajuda-nos a compreender (e a aceitar) aquilo de que elas são capazes e aquilo que simplesmente não conseguem (ainda que desejássemos muito que conseguissem).

Por exemplo, (quase) toda a gente sabe que um recém-nascido comunica as suas necessidades através do choro. Se tem fome, chora, se tem sono, chora, se quer colo, chora, se tem cólicas, chora. Para quê? Para que os cuidadores respondam às suas necessidades físicas e afetivas. Há poucas décadas, os pais e mães saíam da maternidade com a indicação de que não deveriam dar "demasiado" colo aos seus bebés para ele não ficarem "viciados". Também lhes era dito que os bebés deveriam ser deixados a chorar "para aprenderem a acalmar-se". Hoje sabemos que estas recomendações são exercícios de violência sobre os bebés! Porquê? Porque NENHUM recém-nascido tem a capacidade de se acalmar sozinho. Aquilo que acontece se deixarmos um bebé a chorar é que ele vai entrar num sofrimento tal que, a páginas tantas, o cérebro "desliga". É um mecanismo de defesa que pode cristalizar-se e trazer inúmeras consequências desagradáveis para as relações que aquele bebé vai desenvolver no futuro, incluindo na vida adulta.

Vamos então descobrir algumas ferramentas práticas que resultam da investigação das neurociências e que se enquandram naquilo a que hoje chamamos de parentalidade consciente. Estas ferramentas podem transformar a sua relação com seus filhos.

Uma ferramenta poderosa é a escuta ativa. Quando você se concentra em ouvir genuinamente os seus filhos, eles sentem-se valorizados e compreendidos. Isso fortalece o vosso vínculo e permite que eles se expressem livremente.

A resolução de conflitos colaborativa é outra ferramenta importante. Ao ajudar os seus filhos a encontrar soluções, colocando-lhes perguntas em vez de lhes dar as respostas, está a permitir que eles desenvolvam a capacidade de resolver problemas. Isso ajuda-os a sentirem-se ouvidos e envolvidos na busca de soluções justas.

A validação emocional é essencial. Quando você reconhece e valida as emoções e os sentimentos dos seus filhos, eles sentem-se seguros para partilhar os seus sentimentos e para se desenvolverem emocionalmente. Isso cria um ambiente de confiança onde eles se sentem à vontade para serem autênticos.

Promover a autonomia é uma ferramenta valiosa. Ao permitir que os seus filhos tomem decisões apropriadas à idade deles, permite que eles desenvolvam a autoconfiança e a capacidade de tomar decisões. Isso ajuda-os a tornarem-se adultos independentes e confiantes.

Cultivar a empatia é fundamental. Ao ensinar os seus filhos a colocarem-se no lugar do outro, eles aprendem a valorizar os sentimentos e perspectivas dos outros. Isso ajuda-os a construir relações saudáveis e respeitadoras.

A paciência é uma ferramenta valiosa na parentalidade consciente. Ao demonstrar calma e paciência perante os desafios, você ensina os seus filhos a controlarem as suas emoções e a lidarem com situações de forma mais tranquila.

Se quiser saber mais sobre este assunto, tenho um ótimo livro para lhe recomendar: "Disciplina sem dramas", de Daniel Siegel. Espreite e delicie-se!



9.7.20

FAMÍLIAS DISFUNCIONAIS

Família disfuncional


Quais são as características de uma família disfuncional? E quais são as respostas que devemos procurar quando damos conta de que crescemos numa família disfuncional?


Ouço muitas vezes no meu trabalho com adultos a frase “Cresci numa família disfuncional”. Na maior parte das vezes, a expressão refere-se aos problemas familiares que deixaram marcas profundas, mas nem sempre se trata de famílias com as características de uma família disfuncional.


Quais são as características de uma família disfuncional?


#1: ABUSOS


Nem todas as famílias disfuncionais são caracterizadas pela existência de abusos físicos ou sexuais, mas este é um sinal indiscutível de disfuncionalidade. Para além de todas as consequências que se prolongam pela vida fora, aquilo que observamos nestas famílias é a “normalização” dos abusos.


Já todos ouvimos frases como «Eu apanhei do meu pai/ da minha mãe e estou aqui», como se a sobrevivência fosse sinal de saúde mental.


As crianças que crescem habituadas à violência física tomam esse exemplo como “normal”.


As pessoas que dão afeto e atenção são as mesmas que agridem, às vezes de forma brutal.


Em muitos destes casos, é só na idade adulta que a pessoa se dá conta de que foi alvo de comportamentos abusivos – às vezes essa perceção no contexto de uma relação amorosa, noutros casos surge em terapia.


#2: VIOLÊNCIA EMOCIONAL


A violência emocional pode assumir muitas formas. É por isso que às vezes pode ser difícil reconhecer um comportamento como uma forma de abuso emocional. Ser-se emocionalmente violento não é apenas gritar e insultar. De resto, a maior parte dos exemplos de violência emocional a que acedo no meu trabalho com famílias não incluem quaisquer insultos.


São exemplos de violência emocional (e da disfuncionalidade de uma família):

Ignorar as necessidades (físicas ou emocionais dos filhos);

Retirar o afeto à criança quando não vai ao encontro da vontade do adulto;

Hipercrítica (humilhações);

Fazer ameaças;


#3: AMOR CONDICIONAL


Hoje em dia estamos muito familiarizados com o conceito de amor incondicional. A maior parte dos pais e mães que tenho conhecido dão o seu melhor para que os filhos saibam que são merecedores de amor independentemente das suas opções. Mas há muitos adultos que cresceram num ambiente familiar tão exigente que a sensação era a de que estavam sistematicamente “aquém” das expectativas.


Nas famílias disfuncionais é frequente os adultos mostrarem desilusão a propósito das escolhas dos filhos – não porque eles tenham cometido erros, mas porque contrariaram a vontade dos pais.


Quando os filhos não fazem aquilo que os pais gostariam que eles fizessem, o amor é “retirado”. Na prática, continua a haver comunicação, mas é mais “seca” e desprovida de afeto.


Estas crianças transformam-se frequentemente em “people pleasers”, isto é, em adultos preocupados em agradar a toda a gente, negligenciando os próprios sentimentos e as próprias necessidades.


#4: INEXISTÊNCIA DE FRONTEIRAS


Nas famílias disfuncionais a invasão da privacidade dos filhos é uma constante. O espaço físico (quarto) é invadido, mesmo quando os filhos já são adolescentes ou adultos e a correspondência é frequentemente violada. Mais do que isso: os pais podem sentir-se no direito de tomar decisões em nome dos filhos, mesmo quando estes já têm autonomia para tomar as próprias decisões.


A inexistência de fronteiras também faz com que os pais partilhem demasiadas informações com os filhos, transformando-os em confidentes desde muito cedo. Aquilo que acontece é que os filhos são confrontados com assuntos que só deveriam dizer respeito aos pais e sentem-se muitas vezes obrigados a proteger os progenitores (ou um deles), a tomar decisões e a fazer o que estiver ao seu alcance para ajudar a resolver os problemas.


Em Psicologia há um nome para estas crianças: são crianças parentificadas, que assumem desde cedo responsabilidades que deveriam recair sobre os ombros dos adultos.



# 5: INEXISTÊNCIA DE COESÃO E INTIMIDADE


Por estranho que pareça, nas famílias disfuncionais não há muita intimidade. Há normalmente um grande emaranhamento, resultante da inexistência de fronteiras. Toda a gente se mete na vida de toda a gente, o que pode ser confundido com coesão familiar. Claro que também pode haver genuína preocupação, mas, de uma maneira geral, os membros da família sentem-se pouco confortáveis com a ideia de partilharem os seus sentimentos mais íntimos uns com os outros. Na prática, não há a devida valorização dos sentimentos ou das necessidades de cada um, não há o devido respeito e, em função disso, torna-se mais difícil falar abertamente e criar verdadeira intimidade.


#6: TRIANGULAÇÃO


Nas famílias saudáveis os assuntos são resolvidos de-um-para-um. Cada pessoa sente-se confortável para manifestar aquilo que sente, para se queixar e até para discutir. Nas famílias disfuncionais é frequente a existência de triangulações. Na prática, quando uma pessoa se zanga com outro membro da família, opta por falar com um terceiro membro em vez de resolver o assunto diretamente. Por exemplo, se a mãe se zangar com o pai, é capaz de ir falar mal do pai junto do filho e até é capaz de o pressionar no sentido de enviar recados. Este padrão relacional tende a eternizar-se e os filhos rapidamente aprendem a fazer o mesmo.


Quando existem estas alianças perversas, há, pelo menos, duas consequências negativas: por um lado, os problemas dificilmente são resolvidos e, por outro, a confiança nos membros da família é muito diminuta.


#7: COMPORTAMENTOS ADITIVOS


Nas famílias disfuncionais encontramos frequentemente o consumo abusivo de álcool e drogas e o vício do jogo. Estes comportamentos trazem muita instabilidade para toda a família. Os filhos crescem quase sempre com muita incerteza e transformam-se quase sempre em crianças (e mais tarde adultos) hipervigilantes e ansiosos. É como se nunca soubessem com o que podem contar, como se nunca tivessem a certeza de que, ao chegar a casa, encontrarão um ambiente tranquilo ou o caos.


Nestas famílias é comum haver muitos gritos, muita violência.

 

Que respostas existem para as famílias disfuncionais?


A família em que crescemos oferece-nos os primeiros conceitos de normalidade. É junto dos nossos pais e familiares mais próximos que interiorizamos, pelo exemplo, o que é normal e o que não é normal. Mas à medida que crescemos e, sobretudo, à medida que construímos outras relações afetivas, vamo-nos dando conta dos erros que os nossos pais e outros cuidadores cometeram.


As pessoas que cresceram numa família disfuncional muitas vezes só se apercebem dessa disfuncionalidade na idade adulta. Às vezes, essa perceção surge na sequência dos problemas existentes na relação conjugal. Noutros casos, surge na sequência de um pedido de ajuda em resposta a uma perturbação ansiosa ou depressiva.



A terapia é invariavelmente um porto seguro

 através do qual o adulto que cresceu numa família disfuncional

tem oportunidade de identificar e tratar as feridas

emocionais que ficaram desse período.




De uma maneira geral, esse processo implica a recuperação da própria voz.


Estas pessoas habituaram-se a conter (ou anular) os próprios sentimentos e pode levar algum tempo até que aprendam a fazê-lo de forma autêntica e assertiva.


Por outro lado, as marcas que ficam afetam quase sempre o amor-próprio, pelo que há um trabalho a ser feito para que a pessoa interiorize que é merecedora de amor e possa fazer escolhas que permitam construir relações emocionalmente saudáveis.


Claro que este trabalho terapêutico também depende da capacidade de reconhecer que é preciso algum afastamento em relação aos comportamentos tóxicos. Na prática, isto pode ser muito difícil porque se trata de adultos que passaram a vida inteira a desvalorizar as próprias necessidades e a sentir a obrigação de agradar aos outros. Reconhecer que têm o direito de se afastar destes comportamentos não é sempre fácil, mas é essencial.


A recuperação também implica o reconhecimento dos padrões de relacionamento disfuncionais e a capacidade de romper com esses padrões, também para evitar que eles se reproduzam na família que se quer construir. É natural que, pelo meio, haja muitos sentimentos de culpa, que haja medo e incerteza, mas, no final, compensa muito.


Todo este processo depende do reconhecimento de que vamos sempre a tempo de melhorar a nossa vida, MAS só podemos mudar o nosso comportamento. Por muito que custe aceitar, não podemos mudar as pessoas de quem gostamos. Podemos, isso sim, relacionar-nos com elas de formas mais saudáveis e protetoras do nosso bem-estar.


27.4.20

SEPARAÇÃO DURANTE O ISOLAMENTO – QUANDO SE DEVE CONTAR AOS FILHOS?


Separação ou divórcio durante o isolamento - quando se deve contar aos filhos?

Os casais que foram “apanhados” pela pandemia do Covid-19 em pleno processo de separação debatem-se com dificuldades acrescidas. Uma está relacionada com o momento de comunicar a decisão às crianças. Devem ter esta conversa agora? Ou será mais prudente esperar pelo fim do confinamento?


Continuo a acompanhar pessoas em processo de separação (nas consultas online). Algumas foram “apanhadas” pelo confinamento antes de contarem aos filhos, antes de um dos dois sair de casa, antes de todas as respostas estarem definidas. No princípio, a ideia de estarem de quarentena durante 15 dias parecia compatível com o adiamento de todas as decisões, mas, à medida que o tempo foi passando, a perspetiva de esta pandemia se prolongar por tempo indefinido veio trazer ainda mais ansiedade a pessoas que já estavam a atravessar o período mais difícil das suas vidas.





Comunicar a separação aos filhos:

A conversa que ninguém quer ter


Não é fácil comunicar aos filhos que o pai e a mãe se vão separar. Como explico no livro “Continuar a Ser Família Depois do Divórcio”, esta é a conversa que ninguém quer ter. Há muitas emoções envolvidas – o medo da reação dos filhos e de não ter todas as respostas para as perguntas que possam surgir, a tristeza pelo fim do projeto familiar, a mágoa de quem é deixado, a insegurança em relação ao futuro. Compreensivelmente, há quem vá adiando esta conversa até ao limite.

Com a chegada da pandemia e da obrigatoriedade de confinamento muitos pais e mães adiaram a comunicação da separação aos filhos, questionando se valeria a pena avançar com essa partilha numa altura em que é mais difícil concretizar todos os passos inerentes a um divórcio ou a uma separação. Afinal, o mais certo é que tenham de continuar a conviver na mesma casa durante mais algum tempo.
Mas a verdade é que o segredo é tremendamente tóxico e a minha experiência mostra-me que, apesar de todos os esforços, os filhos sabem quase sempre mais do que os adultos acham que eles sabem.
Às vezes tomam conhecimento da decisão a partir de conversas telefónicas entre um dos progenitores e outros familiares ou amigos, outras vezes ouvem conversas entre o pai e a mãe.

O confinamento veio obrigar as famílias a passar 24 horas por dia em casa, o que, para os casais em processo de separação, pode implicar muitos silêncios, inexistência de gestos de afeto, tristeza, ansiedade, tensão, irritabilidade e amargura. As crianças e os adolescentes são muito sensíveis à linguagem não verbal dos pais e são quase sempre muito perspicazes no que toca ao reconhecimento deste tipo de problemas. Quando os pais optam por continuar em silêncio, isso pode querer dizer que os filhos tenham de lidar com o assunto sem o colo dos adultos.

É por isso que, de uma maneira geral, é preferível que esta conversa aconteça tão cedo quanto possível – mesmo em tempos de confinamento. Assim, os filhos têm a oportunidade de colocar as suas dúvidas, têm oportunidade de pedir ajuda para organizar as suas emoções. Por outro lado, os adultos deixam de ter de fingir e passam a viver uma vida mais autêntica.

Um divórcio ou uma separação é invariavelmente uma perda gigantesca para todos os membros da família, mas, tal como acontece com outras perdas, é preciso dar espaço para que todas as emoções sejam exteriorizadas com verdade, permitindo que os laços se estreitem. Não há nada como a certeza de que há quem genuinamente se importe connosco, com o nosso sofrimento. Quando isso acontece, sentimo-nos invariavelmente mais ligados.

18.9.19

PADRASTOS


Padrastos

Quais são os desafios que os padrastos enfrentam? É positivo que o padrasto assuma o papel de pai? O que é que pode ser feito quando os filhos não aceitam o padrasto? E quando há conflitos com o Ex?


Estas foram algumas das questões a que tentei responder numa entrevista a uma revista brasileira.

Hoje em dia, é muito comum os casais separarem-se e os filhos conviverem com os namorados/cônjuges dos pais. Do ponto de vista dos padrastos, quais os maiores desafios enfrentados atualmente?


Um dos maiores desafios para qualquer padrasto tem a ver com a definição do seu papel na educação das crianças e adolescentes. Quando uma nova família se forma, é natural que as regras sejam definidas a dois, mas, quando há filhos de relações anteriores, isso significa que aquelas crianças (ou aqueles adolescentes) foram criados de acordo com determinadas regras. Quando o novo adulto discorda de algumas destas regras, é natural que queira alterá-las. No entanto, não sendo o pai, pode ser difícil lidar com a situação. A verdade é que a autoridade deve continuar a ser implementada pelo pai e pela mãe. Ao novo casal compete sobretudo dialogar abertamente sobre os sentimentos e necessidades de cada um de forma a construir uma ligação estável. É à mãe que compete implementar novas regras, se isso fizer sentido, respeitando sempre o ritmo dos filhos. Se houver demasiadas mudanças em pouco tempo, é mais provável que haja tensão desnecessária.



No início da relação, é mais prudente que o
padrasto seja visto como uma figura de afeto
do que como uma figura de autoridade. Para isso,
é importante fomentar atividades que
ajudem a construir laços.



É mais fácil ser padrasto atualmente ou antigamente?


Apesar de toda a tensão que continua a estar associada ao início destas relações, atualmente a figura do padrasto está mais banalizada, o que acaba por ser um fator desbloqueador. No passado havia menos divórcios e os padrastos eram mais facilmente vistos como figuras que ameaçavam a reconstrução do casamento original.

Como é que os padrastos devem agir quando não são aceites pelos enteados?


É importante que os adultos se comportem como adultos e que haja empatia em relação às crianças e adolescentes por oposição a qualquer braço-de-ferro. As crianças tendem a ligar-se facilmente aos adultos, desde que não os vejam como ameaçadores. Mas o divórcio é uma perda esmagadora para todos e o início de uma nova relação pode envolver um processo de luto em relação à fantasia de voltar a ver o pai e a mãe juntos.

É legítimo que a criança ou o adolescente rejeite o padrasto. Aquilo que não é aceitável é que haja qualquer forma de desrespeito.


Os adultos não devem obrigar os filhos a gostar do padrasto. Devem, isso sim, obriga-los a respeitá-lo. Com o tempo, e à medida que os filhos se sintam respeitados, é mais provável que essa aceitação surja.

Como referi antes, uma das escolhas promotoras de uma ligação saudável é o investimento em atividades que incentivem a criação de laços afetivos. É importante que os adultos se lembrem de que foi a mãe que se apaixonou, não foram os filhos. Os laços não se solidificam de forma instantânea. Requerem tempo e investimento. Se os filhos olharem para o padrasto como um amigo em quem podem confiar, é mais provável que mais tarde também o vejam como uma figura de autoridade.

E a mãe? Como deve agir diante desta situação?


Uma das coisas de que a mãe deve lembrar-se é de continuar a reservar tempo para concretizar atividades sozinha com os filhos. Às vezes, com a melhor intenção do mundo, a mãe procura criar programas onde todos os membros da nova família se possam divertir juntos, mas os filhos continuam a precisar de tempo em que recebam a atenção exclusiva da mãe e não tenham de a dividir com o seu parceiro romântico. Alguns programas a dois podem ser feitos quando os filhos estão com o pai, por exemplo.



Se as crianças se sentirem seguras de que
continuarão a sentir-se especiais aos olhos da mãe,
é mais provável que consigam ligar-se ao padrasto.



Quando o padrasto desempenha o papel de pai: é bom ou mau para a criança?


Em geral, essa não é a melhor opção, sobretudo na medida em que haja um pai presente na vida da criança. Nenhum filho deseja olhar para o padrasto como um substituto do pai. Nalguns casos, isso acaba por acontecer, de forma saudável, mas muito gradual. Quando o padrasto começa por ser uma figura de afeto, um amigo que está sempre “lá” e em quem a criança confia, pode transformar-se numa figura parental tão ou mais importante do que um pai.

Como é que se pode evitar conflitos entre o pai e o padrasto?


Uma das formas de evitar conflitos consiste na implementação de uma comunicação clara e genuinamente compassiva. Muitos pais sofrem com a impossibilidade de estarem tanto tempo com os filhos quanto as mães e sentem-se inseguros e ameaçados pelo aparecimento de um padrasto. Se as regras continuarem a ser definidas de forma clara e a dois (entre o pai e a mãe), se houver transparência e empatia, é mais provável que todos os adultos consigam conviver de forma saudável.

E quando a criança gosta mais do padrasto do que do pai? Como é que o padrasto deve agir para evitar os ciúmes do pai?


O padrasto pode estar em aparente vantagem em relação ao pai se passar mais tempo com a criança, mas, de um modo geral, os filhos não perdem o vínculo com os pais. Se o pai continuar a poder estar presente na vida dos filhos e todos os adultos estiverem genuinamente empenhados em oferecer às crianças a possibilidade de alimentarem o vínculo com os dois lados da família, tudo se resolve.

Quais são as melhores dicas para melhorar a relação entre o padrasto, o pai, a mãe e os filhos?


A melhor dica é propor que cada um coloque a si mesmo a pergunta «Qual é a escolha que promove o bem-estar das crianças?» antes de cada decisão. Quando um dos adultos assume uma posição impulsiva, provocadora ou infantil, é natural que o outro tenha vontade de responder na mesma moeda. Mas será que isso facilita a vida dos filhos ou dificulta? Cada pai ou mãe tem a possibilidade de parar para refletir sobre as escolhas que, daqui a vinte ou trinta anos, o/a ajudarão a olhar para trás e sentir-se orgulhoso(a) do seu papel.



Às vezes, pode ser preciso recorrer a um profissional de terapia familiar para conseguir olhar com serenidade e compaixão para as necessidades de cada um.

E quando o novo casal resolve ter filhos? Como fazer com que os irmãos (de diferentes pais e, muitas vezes, educados de forma diferente) se entendam?


Este é um grande desafio para todas as famílias reconstituídas. Uma das coisas que os adultos podem fazer é mostrarem-se disponíveis para reconhecer, com gentileza, as emoções das crianças, em vez de se limitarem a corrigi-las e a criticá-las. As crianças podem assumir comportamentos mais desafiantes quando se sentem inseguras. Às vezes, só precisam de alguns momentos de atenção exclusiva, da verbalização do amor incondicional dos pais e de se sentirem ouvidas.

17.9.19

COMO CONCILIAR O TRABALHO COM A FAMÍLIA


Como conciliar o trabalho com a família


O que é que cada um de nós pode fazer para evitar que o stress do trabalho nos roube a energia e a disponibilidade para a família? Hoje partilho 10 sugestões práticas que podem ajudar a conciliar o trabalho com a família.




#1: RECONHEÇA OS SEUS PONTOS FORTES


Não vale a pena tentar ser um super-homem ou uma supermulher e tentar fazer TUDO. Não se preocupe com o que os outros possam pensar. Centre-se nos recursos da sua família. Se o(a) seu(sua) companheiro tem mais jeito/ mais tempo para cozinhar ou para dar explicações às crianças, deixe que seja ele(a) a desempenhar essa tarefa. Se for viável do ponto de vista financeiro, contrate alguns serviços para poupar tempo.

#2: DEFINA AS SUAS PRIORIDADES


Não vale a pena anotar de forma indiferenciada todas as tarefas que tem para fazer. Procure organizá-las de acordo com a urgência e a importância. Há tarefas que são urgentes e importantes, há tarefas que são importantes, MAS não são urgentes, há tarefas urgentes que não são importantes e há definitivamente tarefas que não são nem importantes nem urgentes e que, ao passar à frente de outras podem contribuir para a procrastinação e para a sua desorganização.

#3: RESPEITE O SEU RITMO


É daquelas pessoas que funcionam melhor logo de manhã? Ou é daquelas cujos níveis de concentração estão mais elevados depois de toda a gente sair do escritório? Organize a sua agenda de modo a incluir as tarefas que requeiram mais atenção para os horários em que se sinta mais produtivo(a).

#4: ARRANJE TEMPO PARA SI


Não adianta mergulhar no trabalho dia e noite e dar cabo da sua saúde. Se não for capaz de se disciplinar no sentido de haver regularmente tempo para concretizar as atividades que o(a) ajudam a relaxar e a desligar-se dos problemas do trabalho, o mais provável é que mais cedo ou mais tarde se sinta à beira de um esgotamento.

#5: DEFINA O SEU HORÁRIO DE TRABALHO


Há cada vez mais pessoas que admitem que têm de trabalhar em casa – algumas fazem-no a tempo inteiro, outras trazem o trabalho que não conseguiram concluir no escritório. De uma forma de outra, é fundamental que você consiga definir um horário a partir do qual deixe de atender telefonemas, responder a e-mails ou fazer o que quer que seja.

Defina um horário de trabalho e dê o seu melhor para o cumprir. A sua família agradece.


#6: ORGANIZE AS SUAS FINANÇAS


Habitue-se a monitorizar as suas despesas por categorias. Defina quanto quer/pode gastar por mês em cada uma e procure manter-se fiel aos seus planos. Quanto mais atento(a) estiver a esta área da vida, mais confiante se sentirá. Isso ajudá-lo(a)-á a retirar mais prazer dos momentos em que não esteja a trabalhar.

#/: ORGANIZE A SUA AGENDA A LONGO PRAZO


Quer use uma agenda em papel, quer seja daqueles que aderiram às vantagens da versão digital, procure definir metas a longo prazo e, em função disso, identifique o número de horas de que vai precisar (por dia ou por semana) para se dedicar a determinado projeto. Inclua anualmente todos os compromissos familiares que são mesmo importantes para si e crie lembretes que o(a) ajudem a organizar-se. Por exemplo, crie um lembrete para o fim-de-semana anterior ao Dia da Mãe para que possa escolher o seu presente com tempo.

#8: RECORRA À AJUDA DA TECNOLOGIA


Nem todas as reuniões têm de ser presenciais. Questione os seus clientes ou parceiros sobre a possibilidade de realizar algumas reuniões através do Skype ou de outra ferramenta. Utilize o seu smartphone para elaborar listas de tarefas, listas de compras ou até para editar alguns documentos – desde que isso não se transforme numa forma de sabotar o tempo em família, claro.

#9: MONITORIZE O TEMPO QUE DEDICA A CADA TAREFA


Há diversas ferramentas que nos permitem monitorizar a forma como estamos a gastar o nosso tempo. Há programas que o(a) podem ajudar a perceber quanto tempo gasta, em média, com cada tarefa e há outros que o podem ajudar a definir quanto tempo quer dedicar a tarefas que representem tempo retirado ao trabalho (navegar nas redes sociais, por exemplo).

#10: ACALME A SUA MENTE


Já reparou que quanto mais stressado(a) se sente, pior é o seu desempenho? Quando a nossa mente vive constantemente exposta a um ritmo frenético, é mais provável que nos sintamos “engolidos” por tudo o que temos para fazer e que não consigamos aproveitar os períodos de lazer em pleno. Procure realizar várias pausas ao longo do seu dia – para meditar, para realizar alguma pequena tarefa que o(a) ajude a descontrair ou pura e simplesmente para conversar com alguém que o(a) apoie. Desviar momentaneamente a atenção dos problemas do trabalho ajudá-lo(a)-á a resolvê-los mais rapidamente.

12.9.19

EMOÇÕES NO REGRESSO ÀS AULAS


Regresso às aulas


Depois das férias, da maravilhosa oportunidade de passarmos mais tempo (e tempo de qualidade!) com os nossos filhos, chega a altura de nos reorganizarmos para o regresso às aulas. Para algumas famílias, a transição é pacífica e até divertida. Para outras, é uma fonte de stress capaz de pôr à prova a harmonia familiar. O que é que nós, adultos, podemos fazer para (ajudar a) gerir as emoções no regresso às aulas?


A gestão das emoções no regresso às aulas


No que toca às emoções no regresso às aulas, há de tudo: conheço pais e mães que no início do mês de setembro estão “fartinhos” de birras, amuos e da inevitável gestão de conflitos e que, por isso, estão desejosos que as aulas comecem. Mas também há quem sofra por antecipação, por saber que o tempo que sobra para os mimos e brincadeiras passará a ser “engolido” por todas as rotinas e afazeres ou por temer que as crianças sintam dificuldades em adaptar-se ou, pior do que isso, sejam alvo de alguma forma de bullying ou rejeição. Pelo meio, ainda há listas de compras que parecem não ter fim, livros mais difíceis de encontrar do que agulhas em palheiros, pais e mães que se transformam em motoristas para fazer face a todas as atividades extracurriculares das crianças e muita vontade de recuperar a tranquilidade dos dias de férias.

Uma das coisas que mais facilita a nossa vida é a capacidade de nos aceitarmos exatamente como somos – sem comparações, sem culpas.


Se há pais e mães que parecem perfeitos e que fazem com que se sinta culpado/a por estar cansado/a de ter os filhos em casa a tempo inteiro, não se puna. Pare de fazer comparações. Tem o direito de sentir este cansaço e isso não diminui o amor que sente pelos seus filhos. Ser pai ou mãe pode ser o papel mais importante da sua vida e, ainda assim, também o mais desgastante. Aprenda a reconhecer os sinais de stress e faça o que estiver ao seu alcance para o gerir.

Se acha que é stressado/a demais e se estiver convencido/a de que é a única pessoa que sai da escola de lágrimas nos olhos no primeiro dia de aulas, pare de se julgar. É óbvio que há muitos pais e mães para quem a ideia de deixarem os filhos na escola é geradora de ansiedade, sobretudo nas primeiras vezes e quando as crianças mostram a sua própria tristeza ou ansiedade. Mas, mesmo que mais ninguém à sua volta se sinta assim, você tem o direito aos seus sentimentos. Conversar com outros pais e mães e com o resto da comunidade escolar pode ser tranquilizador. Envolva-se mais na realidade dos seus filhos, procure conhecer as rotinas, os gostos, a dinâmica. Vai sentir mais segurança e entusiasmo.

Respeitar a individualidade das crianças


Aprendermos a gerir os nossos sentimentos evitando comparações e juízos de valor não é só importante para o nosso bem-estar. É uma ferramenta que nos ajuda a educar os nossos filhos para o respeito pelos seus sentimentos e pelos sentimentos dos outros. Quando aceitamos que as outras pessoas possam sentir-se de maneiras diferentes a propósito das mesmas etapas e o mostramos de forma clara às crianças, estamos a dizer-lhes que elas também têm esse direito.

Qualquer pai ou mãe com duas ou mais crianças sabe que os filhos podem ser mesmo muito diferentes entre si.

Há crianças que chegam ao portão da escola e “esquecem-se” dos pais. Há outras que se agarram às pernas dos pais como se estivessem prestes a entrar para um filme de terror.


E, está tudo bem, sobretudo se nós, pais, aceitarmos essas diferenças com curiosidade e sem qualquer tipo de castigos.

É mesmo importante que evitemos comparações do tipo «Porque é que não te portas como o teu irmão?» ou «Estás a ver mais algum menino a fazer isto?». É claro que nem sempre é fácil constatar que as nossas crianças possam estar a passar por dificuldades. Qualquer pai ou mãe quer o melhor para os seus filhos e entra em stress pelo facto de alguma coisa não estar a correr como “deveria”. Mas os comportamentos das crianças são um reflexo das suas emoções e, quanto maior for a nossa disponibilidade para tentar entendê-las, maior a probabilidade de, mais cedo ou mais tarde, ficar tudo bem.

Querer – mesmo – saber o que se passa não equivale a assumir uma postura passiva que nos leve a fazer todas as vontades da criança e muito menos a ceder à tentação de levá-la para casa. Conversar, com abertura e curiosidade, pode levar-nos, por exemplo, a constatar que a tristeza ou a ansiedade que a criança revela no início das aulas está mais relacionada com o fim de um período muito feliz (as férias) do que com a existência de um problema na escola. Quem é que nunca sentiu alguma nostalgia no primeiro dia de trabalho depois de umas férias meeeesmo boas? Quem é que nunca pensou «Nunca mais me sai o Euromilhões!» no regresso à correria? É normal. Quando nos expomos, quando falamos abertamente sobre os nossos sentimentos e sobre as nossas próprias lutas, ajustando a linguagem à idade dos nossos filhos, também estamos a ajudá-los a encarar as suas batalhas sem dramas.

Conversar… mesmo.


Uma das coisas que mais nos ajuda a lidar com o stress são as conversas em que nos sintamos escutados e amparados. Não se preocupe se nem sempre conseguir entender exatamente aquilo que o seu filho estiver a sentir. O mais importante é que todos os dias – ou quase – haja genuína vontade e interesse para o ouvir. É preferível dizer «Não percebo muito bem o que estás a sentir… Podes explicar-me melhor?» do que começar a identificar soluções para um problema que nem sequer percebeu bem. A confiança constrói-se nos detalhes: procure assumir uma postura de “jornalista”, tentando conhecer os altos e baixos de cada dia com perguntas divertidas, específicas e que traduzam a atenção que vai prestando ao que ouve: «Voltaste a brincar com o colega com quem te zangaste ontem?», «Qual foi a brincadeira que achaste mais divertida?», «Qual foi o momento mais interessante no dia de hoje?».

Não se esqueça de que a sua vontade de conversar não deve transformar-se numa imposição. Mostrar-se disponível, curioso/a e atento/a é uma coisa, assumir uma postura “chata” e desrespeitadora é outra bem diferente. Às vezes as crianças só querem chegar a casa e “desligar”, sem que isso implique que haja algum problema na escola. E, há alturas em que preferirão brincar com os pais e só depois desse relaxamento são capazes de deitar cá para fora aquilo que estão a sentir.

A importância do tempo livre


A maior parte dos pais e mães sentem que têm pouco tempo para a família, para os seus hobbies e para aquilo que os faz genuinamente felizes. A realidade de cada um de nós é como é e não vale a pena lutarmos contra isso. Mas podemos refletir sobre aquilo que está ao nosso alcance para que o tempo que temos seja gerido de maneira a que as nossas necessidades – de descanso, conexão e divertimento – sejam preenchidas e de modo a que o mesmo aconteça na vida dos nossos filhos.

Na ânsia de preenchermos estas e outras necessidades, apressamo-nos algumas vezes a encontrar mil e uma atividades extracurriculares e frustramo-nos quando, apesar de todos os nossos esforços para sermos pais e mães malabaristas, as crianças andam permanentemente irritadas, desmotivadas ou desafiadoras. Muitas vezes é preciso parar para reconhecer aquilo que está efetivamente a acontecer. Parar para, com curiosidade genuína, escutar o que a criança tem para nos dizer e, assim, podermos, com os recursos que tivermos à nossa disposição, ir ao encontro das suas necessidades.

Os filhos precisam sobretudo de conexão. Precisam de sentir que há espaço (e tempo) para os ouvirmos.


Precisam que estejamos “lá” para eles depois das férias. O não preenchimento dessa necessidade pode traduzir-se de múltiplas formas: birras, comportamentos desafiantes, desmotivação. Quando, ainda antes de os escutarmos, os procuramos estimular com mais uma atividade, podemos estar a ignorar a realidade (e a aumentar as dificuldades).

Se pensarmos na nossa própria realidade, nas nossas próprias lutas, o mais provável é que uma das coisas de que mais sintamos falta seja de tempo. Tempo para relaxar. Tempo para nos divertirmos. Tempo para não fazer nada. As crianças também precisam disso. Conhecer os seus interesses, os seus gostos e aquilo que as faz genuinamente felizes não tem de se traduzir na implementação de esforços que sobrecarreguem os pais e/ou que se traduzam no aumento dos níveis de stress. Há muitas formas de ir ao encontro de cada necessidade. Aquilo que podemos fazer é olhar para cada necessidade com criatividade e com respeito por todos os membros da família. E, se houver, por exemplo, familiares e amigos que possam ajudar, às vezes o melhor do mundo é mesmo poder não fazer nada.

24.7.19

AS FÉRIAS DOS FILHOS DE PAIS SEPARADOS


As férias dos pais separados

No caso dos filhos de pais separados, é preferível que as férias com cada progenitor sejam curtas ou prolongadas? O que é que cada adulto pode fazer para evitar que haja conflitos e para que os dois lados saiam a ganhar? Esta é uma boa altura para introduzir um(a) novo(a) namorado(a)? E se os filhos se recusarem a ir de férias com um dos progenitores?


As tão desejadas férias de verão podem implicar algum stress para as famílias, especialmente depois de um divórcio ou de uma separação. Às dificuldades habituais relacionadas com a escassez de recursos para manter as crianças ocupadas e protegidas enquanto os pais trabalham junta-se a necessidade de conjugar expectativas e de comunicar de forma eficaz. Hoje partilho algumas dicas que podem ajudar a viver esta época sem stress.


Férias curtas ou prolongadas?


A maior parte de nós ambiciona poder parar pelo menos duas ou três semanas e, assim, repor energias para mais uma jornada profissional. Além disso, depois do divórcio, e independentemente do formato da guarda escolhido, todos os pais e mães têm de conviver com a inevitabilidade de não terem os seus filhos sempre por perto. A ideia de umas férias prolongadas permite sonhar com a possibilidade de estar mais tempo com os filhos e, assim, recarregar o mealheiro de afetos. Mas, como em tudo o que diga respeito às decisões após o divórcio, o mais importante é que cada adulto consiga focar-se naquilo que é o melhor para os filhos. De uma maneira geral, um longo período de férias com os filhos implica que eles estejam demasiado tempo sem poder estar com o outro progenitor e isso pode trazer a sensação de desamparo ou abandono, especialmente se se tratar de crianças pequenas.

Aos pais e mães compete colocar a questão «O que é melhor para os meus filhos?» com abertura e curiosidade.


Gerir as expectativas


Todos criamos expectativas em relação às férias. É natural, é humano. Independentemente do nosso contexto, sonhamos com a possibilidade de descansar e, ao mesmo tempo, concretizar todos os planos que, de um modo geral, vamos adiando por falta de tempo no resto do ano. Além disso, idealizamos um período de paz e harmonia, sem stress ou discussões. Mas as férias também são uma porta para tudo o que ficou “desarrumado” e acumulado ao longo do ano. Talvez seja por isso que há tantas separações depois das férias. É que naquelas semanas não estamos mergulhados em trabalho, não temos como não prestar atenção à nossa realidade.

No ramerrame do resto do ano nem sempre há tempo para reparar nas necessidades que ficam por preencher, especialmente nos filhos de pais separados. A paragem das férias pode obrigar a um confronto difícil mas necessário. Se os planos para as férias incluírem a genuína intenção de aproveitar para conhecer ainda melhor as necessidades dos filhos, é mais provável que possam ser refeitos de maneira a contribuir para o bem-estar de todos.

Negociar com o outro progenitor


Independentemente da forma como a relação acaba, é natural que haja a necessidade de gerir a própria vida sem dar satisfações à pessoa com quem deixou de viver. Mas, quando há filhos, essa pode não ser uma boa ideia. Se um dos progenitores decidir marcar férias para um determinado período sem avisar o outro, pode estragar-lhe os planos e trazer stress desnecessário. É possível que ambos estejam habituados a tirar férias na mesma altura e é humano que mantenham o desejo de dar continuidade a essa tradição. No meio de tantas perdas, este pode ser um aspeto difícil de abdicar. Mas, de novo, o mais importante tem de ser o bem-estar dos filhos. E aquilo de que os filhos precisam é de ver os dois progenitores felizes.


Se os pais optarem por sentar-se para conversar
e negociar com antecedência, é mais provável
que alcancem consensos importantes. Por exemplo,
se ambos gostam da ideia de ter férias num
determinado período, talvez possam concordar
em alternar anualmente. Assim, todos ganham,
ainda que ambos tenham de ceder.



Outra questão importante a ter em conta está relacionada com a proximidade dos dois períodos de férias. Talvez não seja boa ideia marcar férias “em cima” do período escolhido pelo outro progenitor. Assim, se houver atrasos ou imprevistos, há tempo e disponibilidade para gerir os acontecimentos sem atrapalhar os planos do outro lado da família.

Presença de novos companheiros


As férias também são muitas vezes aproveitadas para introduzir, de forma mais oficial, um(a) novo(a) companheiro(a) na vida dos filhos. A ideia de muitos pais e mães é aproveitar este período de menos stress e de maior convívio para criar laços. Mas isso pode implicar obrigar os filhos a passar demasiado tempo com alguém com quem ainda não construíram um laço afetivo. De uma maneira geral, as crianças e adolescentes precisam de tempo para se habituarem à ideia de o pai ou a mãe ter um(a) novo(a) namorado(a), pelo que é preferível deixar as férias românticas para o período em que os filhos estiverem com o outro progenitor. Além disso, os filhos ambicionam passar tempo de qualidade com os pais, ambicionam receber a sua atenção exclusiva e tenderão a sentir-se frustrados se tiverem de partilhar este período com outra pessoa a quem o pai/a mãe terá de prestar muita atenção.

E se os filhos não quiserem ir?


Alguns pais e mães são confrontados com o facto de os filhos recusarem ir de férias com o outro progenitor e interrogam-se sobre a melhor alternativa. Devem obriga-los a ir? Ou será preferível ceder? Não há uma resposta que sirva para todos os casos. De novo, aquilo que importa é olhar para a questão com abertura e curiosidade. Se aquilo que está em causa é, sobretudo, uma questão de disparidade em relação às condições que cada um dos progenitores tem para oferecer, é melhor incentivar a criança a ir e, assim, fazer o que estiver ao seu alcance para promover o vínculo com o outro progenitor. Na prática, nenhum pai ou mãe cede a todas as vontades dos filhos. Sabemos que as crianças têm de comer frutas e vegetais porque é o melhor para elas, mas não estamos à espera de que gostem.

Se houver a suspeita de que a criança não se sente segura quando está com o outro progenitor, é importante que o pai e a mãe possam tentar conversar para identificar os medos e as alternativas que melhor se adequem à realidade.

Às vezes é preferível abdicar de um período de férias convencional e apostar em períodos mais pequenos que permitam que a criança se sinta respeitada e segura.


Oportunidade para fazer o que quer


A ideia de passar (ainda mais) tempo sem os filhos pode ser muito angustiante. As saudades são inevitáveis, mas podem ser geridas de forma emocionalmente inteligente. Em primeiro lugar, esta é a oportunidade de reconhecer quão bom/boa pai/ mãe está a ser. Ao facilitar, sem levantar ondas, o contacto dos seus filhos com o outro progenitor, está a tomar uma decisão que garanta o bem-estar dos filhos e, daqui a vinte anos, orgulhar-se-á de o ter feito. Por outro lado, esta também é a oportunidade de colocar em marcha todas as atividades e projetos que foi adiando por falta de tempo para si. Faça aquele workshop com que anda a sonhar, passe um dia inteiro a ver as suas séries preferidas sem culpas ou aproveite para sair à noite. Quanto mais investir na sua lista de desejos, mais revigorado(a) se vai sentir quando voltar a ter os seus filhos consigo.

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