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23.3.10

TERAPIA DE CASAL – DISCUSSÕES PERIGOSAS #2

Quase todos os casais que procuram ajuda através da terapia conjugal evidenciam padrões comportamentais que, metaforicamente, chamo de “danças”. As discussões decorrem ao ritmo de uma dança, para a qual ambos contribuem, mesmo que involuntariamente. Para uns, o mais difícil pode ser identificar essa dança, esse padrão, esse ciclo vicioso. Para outros, o mais difícil pode ser ultrapassar as mágoas deixadas pela sucessão de eventos negativos. Depois de ter aqui falado sobre um destes padrões, o do “braço-de-ferro”, referir-me-ei hoje àquele que é, porventura, o mais frequente – chamo-lhe “toca e foge” porque, em resumo, um dos membros do casal exige, reclama, na mesma medida em que o outro se isola cada vez mais.

Os leitores mais atentos recordar-se-ão de já aqui ter falado no psicólogo John Gottman, responsável por anos de investigação na área da satisfação conjugal e da precisão do divórcio. Ora, este investigador mostrou que muitos dos casais que evidenciam este padrão comportamental no início do casamento não chegam a completar 5 anos de casados. Imagine-se, portanto, a letalidade destes ciclos.

O que acontece nestes casos é que um dos membros do casal queixa-se de forma activa, reivindicando, exigindo, enquanto o outro, sentindo-se normalmente “atacado”, se fecha sobre si mesmo, protestando de forma passiva em relação às críticas. Ora, o cônjuge que “ataca”, fá-lo-á de modo cada vez mais incisivo, numa tentativa desesperada de chamar a atenção do outro, de fazer com que este reaja. É uma reacção instintiva: quando se ama, qualquer resposta é melhor do que nada. Insistimos em “massacrar” o outro porque não suportamos que ignore as nossas necessidades.

O cônjuge que é criticado sente, legitimamente, dificuldade em entender o que se passa e sente-se impotente para resolver o que quer que seja. Ambos têm a sensação de que “não encaixam” e podem até achar que “teria sido melhor não casar”. Sentem-se, muitas vezes, culpados. Mas não há nenhum culpado – são ambos vítimas de um ciclo vicioso que importa desconstruir. Estão ambos feridos e muito longe de compreender as respectivas necessidades.

O cônjuge que refila espera que o outro venha ter consigo, o abrace e tente perceber as suas queixas. Quando isto não acontece, sente-se terrivelmente só e tenta, à força, fazê-lo reagir. O outro sente-se pressionado, criticado e teme que, ao reagir, se distanciem ainda mais e que uma reconciliação se torne praticamente impossível. Como as críticas são constantes, é provável que se sinta inútil e que isole cada vez mais. Afinal, vive com a sensação de que, faça o que fizer, será sempre criticado. Então, é preferível não fazer nada.

Na sociedade em que vivemos, as mulheres crescem a ser incentivadas a expor as suas emoções e, quando surgem problemas no casamento, percebem-nos antes dos homens e procuram expor a suas inseguranças – mas fazem-no muitas vezes sob a forma de críticas e acusações, adoptando uma postura culpabilizadora. Os homens, pelo contrário, são educados no sentido de negarem as suas necessidades emocionais e a preocuparem-se com as questões práticas. Se, na hora H, a mulher expressar uma necessidade emocional e o marido tentar encontrar uma solução racional para o problema, ela sentirá esta reacção como uma ausência de resposta. Daqui às frases do tipo “Porque é que estás sempre tão calado?”, “Não tens nada para dizer?”, é só um pequeno passo. Porquê? Porque é mais fácil proferi-las em vez de pedir “colo” ao outro.

Sair deste ciclo vicioso implica que:
  • o cônjuge que normalmente critica seja capaz de assumir que, ao atacar o outro, leva-o a defender-se e a justificar-se, impedindo-o de se abrir genuinamente e de reagir de forma sensível à suas necessidades;
  • o cônjuge que normalmente se isola assuma que, ao fazê-lo, deixa o outro só, levando-o a pressionar cada vez mais para recuperar a atenção.
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