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17.11.10

“SOU INFELIZ”

Todos sabemos que o queixume é típico do povo português. À pergunta “Como tem passado?” é vulgar ouvir-se um “Vai-se andando” ou até um “Menos mal…”. Não sendo uma sociedade optimista, vivemos sob o paradigma e o estigma da felicidade – buscamo-la incessantemente, ainda que nalguns casos essa busca seja feita de forma emocionalmente pouco inteligente. E quando olhamos à nossa volta encontramos percursos de vida surpreendentemente distintos – todos conhecemos pessoas resilientes, que foram capazes de ultrapassar grandes adversidades na vida e que desafiam diariamente o jogo das probabilidades; mas também conhecemos pessoas que aparentemente têm tudo para serem felizes e que, para nosso espanto, não o são. Não me refiro àquelas pessoas que se queixam por tudo e por nada e que permitem que a amargura tome conta de si. Refiro-me àquelas que tantas vezes levam vidas exteriormente normais e que, numa análise mais profunda, se assumem como infelizes desde sempre.

Algumas pessoas são incapazes de reconhecer períodos de felicidade no seu percurso de vida. Olham para trás e não vêem nada além de cansaço, sofrimento, melancolia e tristeza. Não há alegria, não há força, não há ambição. Muitos destes casos não chegam sequer aos gabinetes de Psicologia porque as pessoas aprendem a viver assim, adaptando-se a estes estados emocionais, mantendo os respectivos empregos e demais compromissos e sendo vistas pelos outros como “normais”. Estas pessoas não vivem. Existem. E isso tem muito pouco de normal.

A ausência de estados emocionais compatíveis com o bem-estar e a felicidade é indicadora de um transtorno depressivo, que tantas vezes é negado pelo próprio e pelos familiares, ainda que as repercussões saltem à vista. Como em muitos destes casos a depressão é crónica, podendo mesmo estar presente desde a infância, não há um ponto de comparação que faça soar o alarme. A pessoa acha que está a adaptar-se, acha que está a fazer o que pode para lidar com os problemas, mas não está.

Na maior parte dos casos, bastaria uma exposição clara e honesta da situação ao médico de família para que fosse feito o encaminhamento para consultas de especialidade. Infelizmente, em Portugal ainda existe muito pudor na abordagem clínica das dificuldades de natureza afectiva/ emocional. Os médicos estão, de um modo geral, sensibilizados e preparados para lidar com a depressão e as suas diferentes manifestações, mas muitos doentes camuflam o seu estado emocional.

Ainda que o clínico geral possa realizar o acompanhamento médico e farmacológico da depressão, a avaliação rigorosa (e possível identificação de perturbações associadas ao transtorno depressivo) pode depender de uma consulta de Psiquiatria. Em qualquer caso, estas dificuldades são normalmente tratadas com recurso a medicação antidepressiva (e nalguns casos ansiolítica também) e a Psicoterapia. A ajuda existe. O que é que há a perder em dar o primeiro passo? Nada, a não ser a tristeza.

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