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12.3.12

LIDAR COM OS “EX”



Uma das questões com que sou mais frequentemente confrontada na terapia com famílias reconstituídas diz respeito à influência dos ex-cônjuges. De um modo geral, estar casado pela segunda vez implica alguns desafios extra, em particular quando há filhos da relação anterior.

Quase todas as pessoas gostariam de poder
começar uma história de amor partindo do zero,
sem que houvesse quaisquer contactos
com ex-maridos ou ex-mulheres.

Ora, quando uma pessoa se apaixona por alguém que já foi casado e tem filhos dessa relação, isso é INVIÁVEL. Do divórcio podem resultar alguns ressentimentos e a vontade de não voltar a ver o outro mas as responsabilidades parentais obrigam à manutenção de uma comunicação eficaz e de alguma cordialidade. Não sendo expectável que os ex-cônjuges construam propriamente uma estreita amizade após a separação, o laço que partilham pode, ainda assim, ser suficiente para abalar a segurança da relação que entretanto começa.

Questões como
“SERÁ QUE ELE AINDA GOSTA DELA?”
podem assolar a cabeça de quem
(ainda) não se sente seguro na própria relação.

Com a passagem do tempo e, sobretudo, com o amadurecimento da relação, é natural que as dúvidas se dissipem e que a convivência entre todos os adultos envolvidos na educação das crianças seja, pelo menos, cordial. Claro que há exceções:

- Quanto menos diálogo existir entre os membros do casal, maior será a probabilidade de se acumularem tensões e equívocos;

- Quanto mais destrutivo tiver sido o processo de divórcio, maior será a probabilidade de o(a) Ex tentar condicionar a nova relação.

Como as crianças são (mesmo) o elo mais fraco nestas histórias, compete aos membros do casal manter o diálogo franco e, a partir daí, criar as próprias regras de modo a garantir que a sua relação seja protegida sem descurar o superior interesse dos filhos que resultaram da relação anterior. Se for necessário, devem recorrer à ajuda da terapia ou da mediação familiar.

Mas existem pedidos de ajuda que chegam
até mim e que não envolvem crianças.

Isto é, há casais que relatam dificuldades de relacionamento motivadas pela manutenção dos contactos com o Ex sem que haja filhos dessa relação. De um modo geral, a vinda à terapia é equacionada quando as coisas fogem ao controlo dos membros do casal, o que implica que, não raras vezes, já houve uma escalada de ciúmes/desconfiança.

Será legítimo que um dos membros do casal
mantenha uma amizade com o seu Ex
não havendo filhos desse casamento?

Se sim, quando é que os contactos passam
a ser perigosos para a relação atual?

Não há, como é compreensível, uma resposta exata para estas questões. A verdade é que aquilo que deixa algumas pessoas confortáveis pode gerar insegurança noutras, pelo que, mais uma vez, o importante é falar abertamente sobre tudo.

Isto não quer dizer que não possamos falar de regras mais ou menos universais. E uma das regras que deveria prevalecer em qualquer relação conjugal é a colocação do companheiro no topo das prioridades. Quando isto acontece, é mais fácil fazer cedências, incluindo no que toca a este assunto.

A Mariana e o Pedro estão casados há cerca de dois anos. Este é o segundo casamento do Pedro, que mantém até hoje uma relação de proximidade com os sogros do primeiro casamento. Para ele, os pais da ex-mulher são, antes de mais, amigos próximos, pessoas que admira e que muito contribuíram para a sua estabilidade emocional no passado, pelo que não faria sentido interromper a relação afetiva aquando do divórcio. No início da relação a Mariana sentia-se desconfortável com esta proximidade, nomeadamente porque daí resultava a necessidade de conviver pontualmente com a ex-mulher do Pedro. A passagem do tempo e, sobretudo, as conversas francas e serenas que tiveram a propósito deste tema, permitiram-lhe sentir-se segura apesar desta ligação. A Mariana continua a não gostar muito dos convívios com a ex-mulher do Pedro – não porque se sinta ameaçada, mas porque não há uma ligação afetiva – mas aceita que o marido sinta vontade de visitar os pais da ex-mulher e acompanha-o nalgumas dessas visitas.

***

O João e a Rita estão juntos há mais de cinco anos mas o tempo não apaga as mágoas que ela guarda da proximidade entre o marido e a ex-mulher. O facto de não existirem filhos daquele casamento é suficiente, aos olhos da Rita, para evitar quaisquer contactos. No entanto, e ainda que não tenham voltado a encontrar-se presencialmente, o João mantém o contacto telefónico com a ex-mulher, contrariando a vontade da esposa. Segundo o João, não existe qualquer laço afetivo nem há vontade (dele ou da ex-mulher) de construir uma amizade mas existem assuntos em relação aos quais ele é a pessoa que melhor a compreende e vice-versa. Para ele não há qualquer motivo para cortar relações com a ex-mulher e a zanga da Rita não é mais do que um capricho. Ignora que quanto mais se recusa a validar a insegurança da esposa, maior é o braço-de-ferro e a probabilidade de as suas posições se extremarem.

Compete a cada casal criar as suas próprias regras,
neste caso no que toca às fronteiras com os Ex,
aceitando que aquilo que os une é (TEM DE SER)
mais importante do que as convenções sociais

e/ou as fórmulas que outros casais aplicam.
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