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3.7.13

PROBLEMAS NO CASAMENTO – QUANDO OS CASAIS DISCUTEM POR ASSUNTOS MENORES

Imagine que o seu companheiro começava, de um momento para o outro, a implicar consigo por tudo e por nada. Num momento mostrar-se-ia irritado por você ter deixado a luz acesa; noutro enfurecer-se-ia por ter ficado à sua espera mais uns minutos do que o costume. Imagine que estas discussões se tornavam progressivamente mais frequentes, começando a interferir com a sua paciência e levando-o(a) a interrogar-se sobre o que realmente se estaria a passar. Agora imagine que confrontava o seu cônjuge e que ele(a) lhe respondia “Não se passa nada”. Sentir-se-ia seguro(a)? Claro que não.

Nem todos os casais que recorrem à terapia conjugal são capazes de identificar a verdadeira fonte de mal-estar e de tensão. Às vezes chegam até ao meu gabinete com um deles centrado na ideia de que alguma coisa não está bem e com o outro a afirmar perentoriamente que “Não se passa nada” e, claro, “Não havia necessidade de fazer terapia”. Independentemente da terapia, uma coisa é certa, se não era usual existirem tantas discussões por assuntos aparentemente triviais, e se, de repente, a irritabilidade passou a fazer parte do dia-a-dia do casal, é pouco provável que não esteja a passar-se nada de novo.

Quer isto dizer que há um dos membros do casal que está a mentir?
NÃO.

A pessoa que está permanentemente irritada pode não ter a noção do que está por detrás desta dinâmica diferente. Pode até sentir-se mais irritadiça sem que isso implique que tenha o discernimento para identificar o verdadeiro problema. Ou pelo menos para atribuir ao problema a sua verdadeira dimensão. Por exemplo, o marido pode estar a atravessar um período de maior pressão profissional e, sem querer, estar a descarregar essa pressão na sua mulher. Porventura até já superou problemas teoricamente mais sérios e isso pode ser suficientemente para que agora minimize a questão, considerando as queixas da mulher como excessivas ou desproporcionais.

Mas o cônjuge com humor irascível também pode estar ciente daquilo que o atormenta e não estar a ser capaz de assumir o problema. Por exemplo, a mulher pode sentir-se profundamente insatisfeita na sua relação, dando-se conta de que os seus sentimentos mudaram, e, ao mesmo tempo, ter medo de uma rutura, acabando por descarregar a pressão implicando com o marido “por tudo e por nada”. O medo de enfrentar o problema e a consequente possibilidade de um rompimento pode levá-los a um desgaste contínuo.

Quando a dinâmica da comunicação conjugal se altera, fazendo aumentar a frequência dos conflitos sem que haja um motivo perfeitamente identificável, é natural que pelo menos um dos membros do casal comece a sentir-se inseguro. Essa insegurança pode levá-lo por múltiplos caminhos:

UMA POSTURA MAIS DEFENSIVA
(à espera que o tumulto passe);

POSIÇÃO DE CONTRA-ATAQUE
(aumentando a escalada de agressividade);

COMPORTAMENTOS “À DETETIVE”
(bisbilhotices com o objetivo de identificar o problema);

POSTURA ASSERTIVA
(tentativa de questionar o outro sobre o verdadeiro foco de tensão).


A postura emocionalmente mais inteligente e aquela que deveria dar lugar ao esclarecimento da situação (e consequente busca de soluções) é o diálogo assertivo. Ainda que uma pessoa não tenha noção dos próprios níveis de irritabilidade, deveria ser suficiente que o cônjuge a confrontasse com as queixas associadas a essa nova dinâmica para que, juntos, pudessem dar resposta ao problema. E isto é o que, felizmente, acaba por acontecer na maior parte das famílias. A terapia serve para dar resposta aos outros casos – àqueles que não são ultrapassados através do diálogo. A partir do momento em que uma das pessoas percebe que algo mudou e não consegue fazer-se ouvir, nem tão-pouco consegue que o cônjuge fale abertamente sobre o que está por detrás da irritabilidade constante, a ajuda clínica torna-se imprescindível, sob pena de as discussões aparentemente triviais conduzirem a relação a um declínio irreversível.
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