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24.9.13

PAIS (E MÃES) QUE NÃO DEIXAM OS FILHOS SEREM FELIZES


Era aflitivo assistir aos jogos da equipa de futebol do pequeno Pedro. O pai, um amante da modalidade e fervoroso adepto daquele clube, assistia a cada treino do filho, bombardeando-o com recomendações aos gritos. Muito mais enervante do que qualquer treinador de bancada, mais agressivo do que qualquer treinador profissional. Não sendo razoável esperar que Pedro pudesse ser o Cristiano Ronaldo de amanhã, o que o movia? Se aos olhos do “Mister” Pedro jamais passaria de um jogador mediano, e, sobretudo, se os olhos de Pedro denunciavam mal-estar em relação àquela modalidade, por que é que o pai insistia em expô-lo àquela violência?

A maior parte dos pais que eu conheço dão o seu melhor para que os filhos sejam felizes. E a verdade é que, apesar dos tropeções inerentes ao percurso da paternidade/ maternidade, as nossas crianças são, de geração em geração, progressivamente mais livres para fazerem as suas escolhas. A maior parte dos pais já não torce para que os filhos sejam médicos. E entre aqueles que torcem, há muitos que o fazem em silêncio, respeitando os gostos, os interesses e as decisões de cada filho.

Esse é o papel de um pai e de uma mãe: respeitar a individualidade de cada um dos seus filhos e aceitar que estes possam fazer escolhas muito distintas daquelas que seriam as suas próprias expetativas.

Orientando-os.

Chamando a atenção para os riscos
associados a algumas resoluções.

Responsabilizando-os.

Mas NÃO pressionando.

Em contexto clínico vou encontrando alguns pais e mães com maior dificuldade em cumprir com esta parte da sua parentalidade. Em muitos destes casos o problema está relacionado com frustrações antigas, como os sonhos que eles próprios não foram capazes de cumprir. Noutras situações é o vazio do papel conjugal que dá lugar à excessiva centração na vida dos filhos. Em todas as circunstâncias há um elemento em comum:

Estes pais e mães olham para os filhos
como um prolongamento de si mesmos.

Dão o melhor de si no sentido de garantir que os filhos cumpram com aquilo que eles esperam e, na maior parte das vezes, acreditam que estão a zelar pelos interesses dos rebentos. Na verdade, estão cegos. Ignoram aquilo que tantas vezes salta à vista de quem está de fora. E, em função da pressão que (às vezes de forma inconsciente) exercem, ouvem muitas vezes aquilo que querem ouvir.


Ser pai ou mãe também é ter sonhos e expetativas em relação aos filhos. Mas é – tem de ser – muito mais do que isso. É sobretudo estar atento às necessidades dos filhos, reconhecer e validar as suas emoções. É ser suficientemente altruísta para abdicar das próprias expetativas e aceitar que cada filho construa as suas de forma responsável. Porque só assim podemos criar adultos confiantes, felizes.
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