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8.4.19

QUANDO A PAIXÃO ACABA


Quando a paixão acaba

O que é que acontece às relações quando a paixão acaba? Porque é que é tão difícil manter uma relação feliz e duradoura? O que é que podemos fazer para manter viva a chama da relação?


A paixão acaba mesmo?


É verdade. A paixão e o conjunto de alterações que a acompanham duram, no máximo, dois anos. Se, por um lado, temos pena de deixarmos de olhar para a pessoa que escolhemos num estado de euforia quase permanente, a verdade é que seria muito difícil viver sempre nesse estado. Tal como tenho referido noutros textos, a paixão é uma espécie de “demência”, já que algumas das alterações que acontecem no nosso cérebro fazem com que atuemos de forma mais impulsiva, menos ponderada. É uma “demência” boa que, na prática, faz com que corramos mais riscos e estejamos muito menos atentos ao resto dos nossos papéis.

O que é que acontece às relações quando a paixão acaba?


Quando a paixão acaba, algumas relações acabam também. Nem todas as pessoas têm maturidade (ou vontade) para construir uma relação de compromisso, pelo que, quando a ativação fisiológica desaparece, é mais fácil terminar a relação e tentar partir para outra. Mas a maior parte de nós reconhece que a vida é muito mais feliz numa relação em que nos sintamos genuinamente seguros, vivos, amparados e felizes. A maior parte das pessoas que conheço (dentro e fora do consultório) ambicionam construir uma relação feliz e duradoura – uma relação que as faça sentir “em casa” e, ao mesmo tempo, traga a alegria e o entusiasmo da novidade.

Precisamos de segurança e estabilidade tanto quanto precisamos de adrenalina e de aventura e buscamos cada vez mais o equilíbrio entre estes dois polos para as nossas relações.


Claro que, à medida que o tempo avança e que as borboletas na barriga dão lugar a um estado muito mais sereno também nos damos conta de que a pessoa que está ao nosso lado, por mais fantástica que seja, também tem defeitos, também erra, também nos irrita e também nos magoa. Reparamos que não é perfeita e que não está sempre, sempre “lá” como idealizámos. Nem nós, para dizer a verdade.

Quando uma relação evolui de forma saudável, deixamos de olhar para a pessoa que amamos como o centro do (nosso) mundo e damo-nos conta de que, ainda que ele(a) continue a ser a nossa prioridade, há outras relações em que queremos continuar a investir, há sonhos individuais que queremos cumprir, há vida para além da relação. E está tudo bem.

Porque é que é tão difícil manter um casamento/ uma relação?


Cada relação é única e especial. Cada história tem os seus desafios. Mas a resposta a esta pergunta é relativamente simples:

Manter uma relação feliz e duradoura dá trabalho.


Aquilo que o nosso cérebro nos “obriga” a fazer quando estamos apaixonados é muito mais difícil de fazer quando a paixão acaba: tratar a pessoa que está ao nosso lado como especial, estar mesmo “lá” para ela quando precisa de nós, incentivá-la a lutar pelos seus sonhos, mesmo quando eles a afastam de nós, prestar-lhe muita atenção e responder com afeto aos seus apelos.

O mundo está cheio de boas intenções, mas a verdade é que a maior parte de nós sente-se como um malabarista, com vários pratos no ar, a dar o seu melhor para que nenhum caia ao chão.

Quando é que o amor se transforma em amizade?


A passagem do tempo e o nascimento dos filhos podem fazer com que, para alguns casais, haja uma espécie de adormecimento do erotismo. Em muitos casos, há ternura, há afeto, mas deixa de haver desejo, pelo menos para um dos membros do casal. Para uma minoria, isto pode ser suficiente. Para a maioria dos casais, não.

Os primeiros dois ou três anos depois do nascimento de uma criança podem ser muito intensos para um casal. Às noites mal dormidas e ao cansaço juntam-se as rotinas, as obrigações e um conjunto de novos programas centrados no bem-estar das crianças. É fundamental que nos lembremos que vai levar algum tempo até que as crianças se autonomizem, pelo que nos compete a nós, adultos, fazermos o que estiver ao nosso alcance para manter, de facto, a chama acesa.

Não me canso de referir que as crianças precisam de estabilidade e que a felicidade dos membros do casal é a maior garantia de que a família está segura.

Quais são os sinais de alarme?

Quando…

… há poucas conversas significativas – daquelas em que cada um se sente livre para falar sobre o que sente (dentro e fora da relação);
… pelo menos um dos membros do casal começa a ter dúvidas (sobre os seus sentimentos ou sobre o futuro da relação);
… um dos membros do casal constrói mentalmente cenários hipotéticos que não incluam o(a) companheiro(a);
… deixa de existir programas românticos/ sem filhos;
… o casal deixa de namorar,

é mais provável que a insatisfação cresça.

O que é que podemos fazer para manter a chama da relação acesa?


A conexão emocional é essencial em qualquer relação, mas é ainda mais importante numa relação amorosa. Sentimo-nos mais felizes quando vivemos com a certeza de que a pessoa que está ao nosso lado se importa com aquilo que sentimos. Um dos rituais que nos protege são as conversas diárias. No final do dia, no meio dos afazeres, é fundamental encontrar tempo (e paciência) para ouvir a pessoa que está ao nosso lado, mesmo que isso implique ter de prestar atenção a assuntos que não nos interessam. Há uma sensação de pertença impagável que resulta da certeza de que, quando chegarmos a casa, podemos desabafar e falar sobre os nossos sonhos porque há alguém que vai estar lá para nós.

Os rituais de natureza romântica ajudam-nos a continuar a olhar para a pessoa que está ao nosso lado como alguém que é mais do que o nosso parceiro na educação das crianças. As saídas sem filhos (e os serões a dois) são um convite ao namoro, ao erotismo, às conversas de adultos.

Alimentar a individualidade é meio caminho para continuarmos a olhar para nós próprios e para a pessoa que está ao nosso lado com interesse e admiração. Quando nos apaixonamos por alguém, apercebemo-nos de que uma das coisas que nos atrai é o entusiasmo que dedica às suas paixões, a capacidade de lutar pelos próprios objetivos. Numa relação de compromisso é essencial manter o “Eu” vivo. Isso torna-nos pessoas infinitamente mais felizes e interessantes.


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