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6.6.19

DIREITOS DAS CRIANÇAS AO LONGO DO DIVÓRCIO


Direitos das crianças ao longo do divórcio

O divórcio é uma perda gigantesca para todos os membros da família. Os adultos têm de lidar com sentimentos intensos de tristeza, medo, culpa, raiva e vergonha. Como se isso não fosse bastante, esta é precisamente a altura em que o mundo espera que sejam os melhores pais e mães que possam ser. Quais são as escolhas que podem ajudar a concretizar um divórcio emocionalmente inteligente para os filhos?


Passo mais tempo a “salvar” casamentos do que a ajudar alguém a divorciar-se, mas há cada vez mais pessoas que me pedem ajuda na sequência de um processo de divórcio. Quase todos os pais e mães que me procuram trazem a intenção de garantir que as suas escolhas garantam que os interesses dos filhos sejam salvaguardados. É praticamente impossível passar por um divórcio sem alguma dose de sofrimento, MAS há escolhas que podem fazer com que passados vinte ou trinta anos os pais e mães se sintam orgulhosos do caminho que fizeram. Na prática, se o pai e a mãe se comprometerem e reconhecerem os direitos dos filhos, eles podem continuar a desenvolver-se do ponto de vista emocional de forma tão saudável quanto aconteceria numa família tradicional.



AO LONGO DO DIVÓRCIO OS FILHOS TÊM O DIREITO DE…


#1: SABER QUE NÃO TÊM CULPA


Pode parecer óbvio, sobretudo se os pais estiverem empenhados em proteger os interesses dos filhos, mas a verdade é que as crianças facilmente fantasiam a propósito da sua responsabilidade quando há uma separação. Se os pais já tiveram discussões – normais – a respeito da educação ou dos gastos com os filhos, há alguma probabilidade de as crianças imaginarem que possam ter contribuído para a separação. Os adolescentes tendem muitas vezes a sentir-se culpados por não conseguirem amparar os pais na medida certa e/ou por não conseguirem evitar que eles se zangassem.

Por tudo isto e muito mais, é fundamental que os pais procurem transmitir de forma clara, inequívoca, que os filhos não têm NENHUMA responsabilidade sobre o processo de separação. E é fundamental que esta informação seja repetida várias vezes – antes, durante e depois do divórcio.

#2: SABER O QUE VAI ACONTECER


Os filhos precisam de saber com o que é que podem contar.

O divórcio representa um conjunto de perdas, que por sua vez trazem instabilidade e insegurança. Os filhos sentem-se mais amparados e seguros se souberem onde vão viver, com quem, quando é que vão poder estar com cada um dos progenitores, em que escola vão estudar e que outras mudanças terão de enfrentar. Isto NÃO significa que os pais tenham de ter todas as respostas no momento em que comunicam que se vão separar. Precisam, isso sim, de assumir que serão capazes de resolver cada questão a dois, tendo a intenção de proteger os interesses dos filhos, e de transmitir cada decisão à medida que elas sejam tomadas.

#3: SEREM ESCUTADOS E CONFORTADOS


Não há volta a dar: os filhos sofrem com a separação dos pais e, em muitos casos, choram. Para os pais, pode ser tentador oferecer-lhes oportunidades de se divertirem e distraírem desta tristeza ou ainda esforçarem-se para reconhecer o lado positivo da mudança. Por exemplo, é comum ouvi-los dizer coisas como «Agora vais ter dois quartos» ou «Vais ter brinquedos a duplicar». Mas, tal como acontece com os adultos, a tristeza das crianças precisa de ser vivida e exteriorizada. Os filhos até podem perceber o desconforto dos pais em relação à sua tristeza e fazer esforços para a conter. Isso não significa que não a sintam. Significa apenas que estão a fazer o que podem para proteger os pais. Não é isso que a maior parte dos pais e mães desejam.

Dar oportunidade aos filhos para falarem sobre os seus sentimentos, dar colo e estar “lá” sem tentar disfarçar a tristeza é essencial para garantir que se sintam amparados. Muitas vezes este papel acaba por ser desempenhado por outros adultos, com quem as crianças se sintam livres para expressar tudo o que sentem.

#4: SEREM POUPADOS AOS CONFLITOS


É natural que uma separação esteja envolvida em níveis elevados de tensão. Nem sempre é fácil impedir que os filhos assistam a discussões acesas entre o pai e a mãe. Mas os pais podem fazer o que estiver ao seu alcance para não envolver os filhos nas suas discussões. A última coisa que deve acontecer é que algum dos adultos procure que os filhos lhe atribua razão e/ou se coloque contra o outro progenitor.

Os filhos precisam de sentir que há uma diferenciação clara entre o papel conjugal e o papel parental e que o pai e a mãe continuam a fazer o que é possível para que os problemas dos adultos sejam geridos pelos adultos.

#5: NÃO CONHECER OS DETALHES DA SEPARAÇÃO


Na medida em que haja feridas profundas, associadas a uma traição ou à sensação de abandono, pode ser tentador dizer “a verdade” aos filhos e, assim, conseguir a sua solidariedade, mas esta pode ser uma forma de violência. Independentemente do que aconteça à relação conjugal, o pai e a mãe continuarão a ser figuras de referência para os filhos e os detalhes da separação só acrescentam mágoa.



#6: NÃO SEREM OBRIGADOS A ESCOLHER UM PROGENITOR


Na maior parte das vezes, os pais e as mães estão genuinamente bem-intencionados. Mesmo quando defendem que as crianças fiquem sob a sua guarda total, fazem-no porque acreditam que essa seria a melhor opção. Às vezes, os pais procuram conhecer a opinião dos filhos com a genuína vontade de perceber o que é melhor para eles. Mas uma coisa é pedir a opinião a um(a) filho(a) adolescente sobre a casa onde gostaria de viver e lembrar que a decisão tem de ser tomada pelos adultos. Outra, bem diferente, é pressionar a criança (ou o adolescente) para que escolha um progenitor em detrimento do outro.

#7: NÃO SERVIR DE CORREIO


Quando há tensão, é natural que a vontade de encarar o outro progenitor seja praticamente inexistente, mas quando há filhos há sempre assuntos para tratar. Pode parecer mais simples enviar alguns recados através dos filhos, sobretudo se se tratar de assuntos relacionados com eles, mas, de uma maneira geral, os filhos sentem-se desconfortáveis neste papel. Felizmente, na maioria das vezes acabam por ser muito claros respondendo a estes pedidos com frases como «Trata tu disso». Os pais podem encarar estas respostas como uma forma de rebeldia, mas a verdade é que compete aos adultos encontrar formas de comunicar sem envolver as crianças. O e-mail e as SMS são uma boa alternativa.

#8: MANTER CONVERSAS PRIVADAS COM CADA PROGENITOR


Alguns pais e mães sentem muita curiosidade em relação ao tempo que as crianças passam com o outro progenitor. Nalguns casos, há medo do que ele(a) possa dizer, noutros há sobretudo um braço-de-ferro que ainda não terminou. Independentemente daquilo que esteja por detrás dessa curiosidade, é fundamental que os filhos sejam tratados com respeito e isso também deve implicar o direito a não falar sobre aquilo que é conversado com o outro progenitor – seja quando estão noutra casa, seja quando falam ao telefone. A última coisa de que os filhos precisam é de serem interrogados e forçados a partilhar informações que os façam sentir desconfortáveis.

#9: NÃO SEREM FORÇADOS A MENTIR


À medida que a tensão sobe, é cada vez mais difícil olhar para a realidade com objetividade e serenidade. Quando a mágoa cresce, é possível que cada um dos progenitores olhe para o outro com ressentimento e com a crença de que ele(a) não merece ter a guarda dos filhos. Pior do que isso, nalguns casos a mágoa é tão grande que a intenção é castigar o outro progenitor. Infelizmente, algumas crianças são forçadas a mentir com este propósito. Esta é uma forma de violência que pode deixar marcas irreparáveis.

É importante relembrar que os filhos são mais saudáveis quando têm a oportunidade de continuar a desenvolver um vínculo estável e saudável com os dois progenitores.

#10: CONTINUAR A RELACIONAR-SE COM A FAMÍLIA ALARGADA


Independentemente do que aconteça ao casal, aos olhos das crianças, os avós vão continuar a ser avós, os tios vão continuar a ser tios, os primos vão continuar a ser primos. E cada uma destas pessoas é uma fonte de afeto e segurança para as crianças. Retirar-lhes a possibilidade de se relacionarem com alguns membros da SUA família também é uma forma de violência. O divórcio implica um conjunto de perdas inevitáveis. Não faz sentido que haja ainda mais.

#11: SABER DA EXISTÊNCIA DE NOVOS PARCEIROS


O segredo é sempre tóxico. Quando as crianças suspeitam que há alguma coisa que lhes esteja a ser ocultada, sentem-se mais inseguras. A confiança na relação com o pai e com a mãe também vai depender da capacidade de manter uma postura de genuína honestidade. É compreensível que os adultos não queiram precipitar-se, apresentando à criança um(a) novo(a) namorado(a) e arriscando que a relação termine e a criança seja exposta a mais uma perda, MAS é ainda menos desejável que um(a) filho(a) tenha de lidar sozinho(a) com todos os medos que invariavelmente surgem com esta suspeita.
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