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25.10.05

DAR UM TEMPO – O PONTO DE VISTA DAS CRIANÇAS

Quando os membros do casal se sentem incapazes de resolver os seus problemas conjugais, a opção “dar um tempo” é muitas vezes considerada. Antes de mais, esta alternativa é encarada como uma “saída de emergência”, um período de reflexão que antecede a tomada de decisões sérias (tentativa de reconciliação ou divórcio).

Independentemente dos juízos de valor que possam ser feitos em relação a esta escolha, ou das vantagens e desvantagens que daí advêm para o próprio casal, parece-me pertinente abordar as consequências deste passo para a vida das crianças.

Costumo referir várias vezes aos casais com quem trabalho que as crianças, em particular as mais pequenas, não possuem pensamento abstracto, pelo que sentem sérias dificuldades em lidar com a dúvida e a indecisão. Para elas, ou os pais estão juntos e felizes, ou estão num processo de separação. Assim, a saída de um deles de casa, mesmo que seja temporária, encaixa na segunda alternativa, com todo o sofrimento que isso implica.



Como é sabido, muitos casais passam por muitos avanços e retrocessos até à resolução das dificuldades que os atormentam, e isso pode implicar entradas e saídas sistemáticas de um dos progenitores. Esta confusão implica alterações emocionais na vida do próprio casal, pelo que muitas vezes as “dores” das crianças acabam por passar despercebidas.

A verdade é que a generalidade das crianças tendem a sofrer sozinhas ao longo deste processo. O facto de as crianças não colocarem questões não significa que estas não estejam presentes. Pelo contrário, muitas crianças inibem-se de expor as suas dúvidas e receios, o que acarreta um sofrimento incomensurável e desnecessário. A manifestação destes medos acaba por traduzir-se muitas vezes em alterações no comportamento em contexto escolar – agressividade, desmotivação e diminuição do aproveitamento.

É por isso que todas as decisões do casal devem ser ponderadas em função do bem-estar dos filhos. Se um casal decidir apostar numa tentativa de reconciliação, deve ter o cuidado de explicar aos filhos que a separação não é uma opção a considerar. É certo que nenhum casal pode garantir que jamais se separará, mas a antecipação dessa hipótese é prejudicial às crianças.

As crianças precisam de uma dose de fantasia nas suas vidas. Não vale a pena colocar em risco a fantasia de que os pais vão ficar juntos para sempre enquanto o divórcio não for uma certeza.

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