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9.6.10

DEPRESSÃO E FALTA DE DESEJO SEXUAL

No meu trabalho com casais deparo-me regularmente com situações em que pelo menos um dos membros do casal está deprimido. Quando o pedido de ajuda é feito, as pessoas reconhecem que não estão a conseguir ultrapassar sozinhas as respectivas dificuldades, mas nem sempre conhecem a extensão dos seus problemas. Não raras vezes, sou confrontada com pedidos de ajuda que incidem sobretudo sobre a intimidade sexual, concretamente sobre a falta de desejo sexual de um dos cônjuges. E se é verdade que o desejo sexual hipoactivo, isto é, a diminuição ou ausência de desejo sexual, é mais frequente nas mulheres, também é certo que o estigma associado à falta de desejo sexual masculino é muito maior.

Há casais que vivem felizes sem uma vida sexual activa, mas não são, definitivamente, a maioria. A intimidade sexual é, como tenho dito tantas vezes, um dos pilares do amor romântico e funciona muitas vezes como barómetro da satisfação conjugal, mas não deve ser dissociada da intimidade emocional. Quanto mais eficaz for a comunicação de um casal, quanto maior for a sua capacidade para expressar de forma clara e honesta as suas emoções, maior será a probabilidade de cada cônjuge sentir-se seguro, mesmo que a frequência de relações sexuais diminua.

Um dos sintomas de um quadro depressivo pode ser a diminuição ou ausência de desejo sexual, mas nem todas as pessoas perceberão que, quando o cônjuge recusa qualquer forma de intimidade sexual, isto é um sintoma clínico e não uma rejeição. A dificuldade é ainda maior se, em função da depressão, o cônjuge está sistematicamente “ausente”, distante, apático.

Como (ainda) existem alguns preconceitos e visões estereotipadas dos papéis de género em relação à sexualidade, quando o marido se recusa a manter relações sexuais alegando cansaço ou desmotivação, todos os alarmes internos da mulher começam a soar. As ruminações do tipo “Ele já não me ama” ou “Isto é um sinal de que o nosso casamento acabou” podem tomar conta dos pensamentos, arruinando a auto-estima de qualquer mulher. A incompreensão pode levá-los a ciclos viciosos perigosos, em que a mulher assume que a “culpa” é sua e procura tomar mais vezes a iniciativa, porventura até recorrendo à criatividade e à inovação, na esperança de voltar a sentir-se segura; como o marido está doente, recusará boa parte destas tomadas de iniciativa, ora explícita ora implicitamente, contribuindo de forma involuntária para que a mulher se sinta progressivamente mais insegura. Conheço alguns casos que, com a passagem do tempo, deram lugar a perigosos braços-de-ferro.

Não existem fórmulas mágicas para combater estes efeitos da depressão, mas existe obviamente tratamento adequado. Nestes casos, é fundamental que a pessoa que está deprimida seja devidamente acompanhada em termos médicos, cumprindo de modo rigoroso a prescrição da medicação. Ao contrário do que se possa pensar, não são os antidepressivos os principais responsáveis pela falta de desejo sexual, mas a própria doença. Uma conversa franca com o médico pode ajudar a desmistificar algumas questões. Por outro lado, é quase sempre essencial que o casal recorra à terapia conjugal. Como já tive oportunidade de referir, há uma probabilidade elevada de o cônjuge também se deprimir e isso ultrapassa, em larga medida, os problemas decorrentes da intimidade sexual. Quanto mais cedo os membros do casal enveredarem, juntos, por um processo psicoterapêutico, maior será a probabilidade de ultrapassarem, juntos, estas e outras consequências da depressão.
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