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26.7.10

AMOR NO FACEBOOK

Há cerca de 5 anos, quando dei início a este blogue, senti necessidade de chamar a atenção dos leitores para o impacto da comunicação via Internet nas relações amorosas. Cheguei a escrever sobre “Internet e Infidelidade” e “Internet e Divórcio”, não tanto para diabolizar a Web, mas para chamar a atenção de alguns adultos para aquilo que a generalidade dos jovens já sabia: a Internet veio facilitar o acesso a redes sociais mais abrangentes, mas também permitiu que muitas relações extraconjugais passassem a ser facilmente descobertas. A minha principal preocupação àquela época eram precisamente os jovens porque não raras vezes deparava-me com o facto de os affairs serem descobertos pelos filhos, o que acarretava, quase sempre, uma boa dose de sofrimento, conflitos de lealdade e até sentimentos de culpa.

Muita coisa mudou nos últimos anos, para o bem e para o mal. Continua a ser fácil revelarmos através da Internet aquilo que somos, mas também aquilo que não somos. Mas estamos hoje, todos, muito mais sensibilizados para os riscos que corremos, pelo que as estratégias para encobrir eventuais relações extraconjugais também se aprimoraram, escalando o jogo do gato e do rato. Hoje, mais do que nunca, deparo-me em sede de terapia de casal com esquemas mais ou menos sofisticados de acesso às mensagens do cônjuge, que traduzem, sobretudo, tentativas inglórias para garantir a confiança.

Perante o paradoxo que é querer manter uma relação amorosa sem ter coragem para falar abertamente sobre aquilo que cada um sente e/ou aquilo de que cada um precisa, as conversas/ discussões cara-a-cara são gradualmente substituídas pelo acesso a facturas, SMS, passwords e contas de e-mail. Como nenhuma relação afectiva é sustentável nesta base, mais cedo ou mais tarde a corda rebenta e, das duas uma, ou os membros do casal assumem que, para que a relação dê certo, terão mesmo de (re)aprender a comunicar presencialmente, ou a ruptura é só uma questão de tempo.

Mas não é apenas do ponto de vista da infidelidade que as novas plataformas de comunicação estão a condicionar as relações amorosas. A rede social que mais cresceu nos últimos tempos, o Facebook, tem-nos exposto como nunca, levando-nos nalgumas circunstâncias a aceder a informações importantes através do nosso mural, muito antes de qualquer conversa presencial. Sabemos que o amigo X passou a estar “numa relação” com a pessoa Y sem que tenhamos trocado, sequer, um telefonema, do mesmo modo que tomamos conhecimento de noivados e divórcios de pessoas mais ou menos próximas de quem nos distanciámos “apenas” fisicamente.

E se para a generalidade das pessoas começa a ser relativamente banal lidar com estas transformações sociais, enquanto psicóloga e terapeuta familiar não posso deixar de manifestar algumas preocupações. Bem sei que o tempo de cada um de nós é este, o presente e, para mim, a expressão “no meu tempo” faz pouquíssimo sentido, mas nem tudo é positivo quando, por exemplo, uma pessoa toma conhecimento de que o seu namoro acabou porque o seu cônjuge alterou o seu estado no Facebook. Talvez nem todos saibam, mas se o namorado alterar o seu estado de “numa relação com a pessoa A” para “solteiro”, a pessoa A passa automaticamente a “solteira” também. E se é pouco provável que um namoro acabe via Facebook, a verdade é que não é totalmente improvável, como o demonstram alguns estudos muito recentes. Como terapeuta de casal sei, por exemplo, que nem todas as pessoas têm a coragem de comunicar imediatamente o fim da sua relação à família de origem e aos amigos. Ora, desta forma, basta que um queira para que o anúncio do fim prolifere pela Internet.

Mantenho a posição de que a Internet e as redes sociais trouxeram-nos, a todos os níveis, muito mais vantagens do que desvantagens. Compete a cada um de nós acompanhar a evolução tecnológica aplicando as nossas competências sociais e a inteligência emocional a cada plataforma de comunicação.
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