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19.6.13

PROBLEMAS NO CASAMENTO – CRÍTICAS CONSTANTES

Sinto-me sozinha. Sinto-me desamparada. Sinto-me desajudada. Sinto-me sobrecarregada. Sinto-me triste. Sinto-me revoltada. Sinto-me perdida.

Esta foi a resposta de Anabela à pergunta “Consegue descrever, de forma clara, como é que se sente?”. Antes desta pergunta Anabela fizera um rol de queixas em relação ao marido. Perante a mesmíssima pergunta o Luís respondeu apenas “Sinto-me criticado”. Os seus olhos talvez dissessem também “Sinto-me de rastos”. Ainda antes do final daquela primeira consulta ambos acabariam por assumir que foi assim que entraram no meu gabinete – de rastos. Estavam demasiado cansados de discutir e, no entanto, se alguém pudesse espiá-los nas últimas semanas, diria exatamente o contrário. Cada discussão parecia mais vigorosa do que a anterior. E mais destrutiva também. Como se, involuntariamente, estivessem a destruir o casamento com palavras de ódio, crítica e desprezo. Entraram, sem perceber, num ciclo vicioso marcado pelas críticas dela e pelo apagamento dele. Quanto mais ela o criticava, mais ele se esquivava, enfurecendo-a…

Uma das regras de ouro dos casamentos felizes e duradouros tem a ver com a questão das críticas. Costumo dizer que, se cada um de nós fosse desafiado a discorrer sobre todos os defeitos e falhas do cônjuge, seríamos perfeitamente capazes de elaborar uma lista interminável; mas nenhum de nós gostaria de ser confrontado com uma lista das próprias falhas. Infelizmente, alguns casais caem num padrão de relacionamento em que há um que se queixa por tudo e por nada e há outro que se defende e/ou se esquiva como pode. Ora, se é verdade que, enquanto terapeuta conjugal enfatizo tantas vezes a importância da assertividade ou a necessidade de cada pessoa ser capaz de verbalizar as suas queixas e necessidades, também me compete chamar a atenção para os perigos resultantes de uma postura hipercrítica. E desenganem-se aqueles que considerarem que o hipercriticismo é um exclusivo das mulheres. É certo que, de um modo geral, as mulheres são mais minuciosas, mais atentas aos detalhes e, até, mais perfeccionistas. Também é verdade que, no que diz respeito às tarefas domésticas e à educação dos filhos, os “reparos” delas são muito mais frequentes do que os deles. Mas, em sede de terapia de casal, aquilo a que eu chamo uma postura hipercrítica é comum a homens e mulheres.

Para além de constituir uma fonte de desgaste,
esta característica na comunicação
é um sinal importante de que algo não está bem,
constituindo, por isso, a face visível
de problemas sérios naquela ligação.

Às vezes esse é o produto de anos de insatisfação – a pessoa acumulou mágoas e frustrações que agora resolve exteriorizar dizendo tudo o que lhe vem à cabeça; criticando, muitas vezes sem dar por isso, o mínimo deslize do cônjuge. Noutros casos este é “só” o reflexo do cansaço. E para outros poderá ser um sinal de que a relação está esgotada.

Independentemente do que possa estar por detrás desta dinâmica, é fundamental que os membros do casal estejam muito atentos àquilo que acontece no seu dia-a-dia. Se há um que se queixa porque se sente “muito criticado” ou que diz coisas como “parece que nada do que eu faça está bem feito”, é mais seguro que o outro possa parar para pensar sobre o seu próprio comportamento, sobre os danos que pode estar a criar – mesmo que involuntariamente – à sua relação. Porque ainda que quem critica esteja convencido de que tem toda a razão do mundo, toda a legitimidade para se queixar e que, ainda por cima, está a fazê-lo para melhorar o seu casamento, às vezes é melhor recuar e tentar colocar-se na posição de quem é bombardeado com tantas chamadas de atenção. Essa inversão de papéis, que implica a genuína tentativa de imaginar como é que o outro se sente, pode ser suficiente para travar a escalada de agressividade e impedir que a relação entre em modo de deterioração. Noutros casos, a interrupção do ciclo vicioso depende da intervenção especializada, nomeadamente da terapia conjugal.

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