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3.9.13

CASAIS QUE ESTÃO SEMPRE A DISCUTIR


Quase todas as pessoas que estejam numa relação já viveram a experiência de se irritarem profundamente com o respetivo parceiro. Refiro-me àqueles momentos em que pelo menos um dos membros do casal perde o controlo e exagera na reação a um acontecimento. Normalmente a pessoa que se descontrola culpa o cônjuge pelo seu próprio comportamento:

“Nem acredito que ele me enervou ao ponto
de eu ter de gritar daquela maneira à frente dos miúdos”.

“Ela não parou de refilar até eu sair e bater com a porta”.

Como refiro SEMPRE em terapia de casal, mais do que identificar culpados, importa que cada pessoa possa assumir a vontade de se responsabilizar pelos seus erros.

Afinal, a única pessoa que você
vai conseguir mudar é…

VOCÊ MESMO.

Então e se não for eu que inicie as discussões? – perguntar-me-á. Você pode não ser aquele que provoca mas se o seu parceiro o enerva ao ponto de o fazer perder o controlo, é importante que identifique o que é que não gosta na sua reação, o que é que gostaria de mudar.

Se se tornou frequente para si e/ou para o seu parceiro explodir a propósito de assuntos aparentemente banais, importa que ambos parem para analisar aquilo que está a acontecer. Antes de mais, é provável que aquilo que o(s) atormenta seja muito distinto dos assuntos que normalmente dão origem a estas discussões.

AVALIAÇÃO FÍSICA

Tem dormido o suficiente?
Tem-se alimentado bem?
Anda mais cansado do que é usual?

A fadiga, a falta de horas de sono ou até a fome associada a algumas dietas podem ser responsáveis por níveis de irritabilidade maiores. Se tivermos em consideração que vivemos numa sociedade em que muitas vezes nos sentimos forçados a abdicar do nosso sono para que possamos desempenhar mil e uma funções, torna-se mais fácil contextualizar alguns episódios de evidente descontrolo emocional.

TRANSPARÊNCIA

Tem conseguido ser claro com o seu
cônjuge a propósito das suas necessidades?

É capaz de lhe revelar, sem reservas,
aquilo que mais o incomoda?

Saiba que é na medida em que for capaz de se expor, aumentando os níveis de intimidade, mas arriscando também uma discussão (saudável), que diminui a probabilidade de ambos serem surpreendidos por uma reação explosiva. Pelo contrário, na medida em que pelo menos um dos membros do casal for acumulando frustrações – até por temer a reação do parceiro -, é quase certo que, mais cedo ou mais tarde, exceder-se-á a propósito de um fait-divers.

AUTO-VIGILÂNCIA

Ninguém melhor do que você mesmo para controlar o seu humor. Você conhece os seus limites. Sabe, como ninguém, quando é que (não) está em condições para discutir um assunto sensível. Então, o melhor caminho para evitar ter uma reação de que possa arrepender-se é mesmo retirar-se enquanto há tempo. Na prática tratar-se-á de ser capaz de dizer algo do género

“Estou demasiado cansado e as coisas não costumam correr bem quando conversamos sobre estes assuntos à noite… é melhor falarmos amanhã”.

Claro que na maior parte das vezes isto
NÃO É ASSIM TÃO FÁCIL.

Estar atento ao seu humor implica um olhar especial sobre os seus níveis de ansiedade. É a ansiedade que regula as suas reações. Se você é o membro do casal que sente uma necessidade urgente de resolver os assuntos, mostrando-se incapaz de esperar 10 minutos (quanto mais uma noite inteira), o mais provável é que insista na importância de discutir o assunto NO MOMENTO independentemente da forma como o seu cônjuge se sinta. Do outro lado estará certamente um parceiro enraivecido pela sua incapacidade de controlar a ansiedade. E assim se reúnem os ingredientes para que uma discussão simples escale para mais um braço de ferro.

Ser capaz de controlar a própria ansiedade implica, por exemplo, parar alguns minutos para organizar os próprios pensamentos – eventualmente por escrito – evitando agir sem pensar.

CUIDADO COM AS “CERTEZAS ABSOLUTAS”

Muitas pessoas são “apanhadas” nas suas próprias presunções. Presumir não é mais do que tomar qualquer coisa como verdadeira, mesmo que não haja certeza absoluta de que assim seja. Quando você diz algo como “Tu não gostas de fazer programas a dois” a propósito de o seu parceiro ter declinado um convite, está a fazer uma generalização perigosa, uma crítica destrutiva que muito provavelmente será sentida como um ataque injusto e que pode ser geradora de uma reação explosiva.

Um dos maiores rastilhos para que um dos membros do casal tenha um comportamento explosivo é a sensação de injustiça.

ASSERTIVIDADE, A SUA MELHOR AMIGA

Já aqui escrevi inúmeras vezes sobre a importância da assertividade. Ser capaz de controlar a sua raiva – mesmo quando se sente injustamente atacado – e dizer aquilo que pensa, aquilo que sente e/ou aquilo em que acredita de forma ponderada é meio caminho para quebrar os ciclos viciosos que se instalaram na sua relação.

Ser capaz de dizer algo como “Eu sempre gostei de sair contigo. Agora estamos mais apertados em termos financeiros e foi apenas por isso que preferi que ficássemos em casa” pode não ser fácil quando se sente injustamente atacado mas é, de certeza, uma escolha mais inteligente do que qualquer outra que implique uma postura defensiva, um contra-ataque.

SAIA (MESMO) ENQUANTO HÁ TEMPO

Então e se, apesar de todos os seus esforços, o seu cônjuge insistir no ataque? E se, mesmo depois de você respirar fundo, ignorando as afirmações injustas de que foi alvo, e depois de assumir que continua a gostar de sair a dois, ouvir algo como “Nãaaaao. Quando é para gastar dinheiro na futebolada com os amigos a conversa é outra.” - O que é que você deve fazer?

Ignorar!

Isso mesmo. Saia de cena – vá passear o cão, fazer um chá ou outra coisa qualquer que lhe permita acalmar e dizer “Eu não quero continuar esta discussão”. Volte disposto a retomar a normalidade. O importante é transmitir, através de comportamentos autocontrolados, a seguinte mensagem: “Continuar esta discussão é demasiado perigoso para a nossa relação e implicaria que ambos saíssemos magoados.

QUEBRAR O CICLO VICIOSO

Às vezes os membros do casal estão tão enredados em discussões marcadas por provocações e humilhações mútuas que nem se dão conta dos espetáculos que dão na presença dos filhos ou dos amigos. Criticam-se mutuamente, explodem com muita facilidade e refugiam-se em argumentos do tipo “Estou sempre irritado porque me sinto profundamente desrespeitado”.

Já ouviu dizer que “se um não quiser, dois não discutem”? Pois é, se pelo menos um dos membros do casal for capaz de fazer escolhas diferentes das habituais, interrompendo a escalada de agressividade, aumenta a probabilidade de novos (e mais saudáveis) comportamentos surgirem.

Se você tem filhos, pode ser mais fácil quebrar o ciclo vicioso se se centrar na vontade de mudar para criar um ambiente de maior segurança emocional às suas crianças. Alguns dos casais com quem tenho trabalhado assumem (e cumprem) compromissos em nome de um amor comum – aquele que sentem pelos filhos. Essa pode ser uma fonte de motivação significativa, especialmente quando ambos interiorizam que um ataque ao cônjuge é também um ataque às crianças.

Sabia que as discussões violentas prejudicam

física e emocionalmente

os seus filhos?

MEXA-SE


Leia (mais) sobre o assunto, procure a ajuda da família e dos amigos, partilhe as suas preocupações e vá em busca de respostas que impeçam que o ressentimento tome conta da sua relação. E lembre-se de que o dia em que for capaz de pedir ajuda – seja de um médico, de um psicólogo ou de um padre – é o dia em que estará a dar um passo no sentido de quebrar um ciclo e abrir espaço para que você e o seu cônjuge se reencontrem.



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