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26.9.13

FORÇA INTERIOR


“Sou feliz por natureza”. Proferiu aquela frase indiferente aos olhares de surpresa de quem o ouvia. Afinal, acabara de relatar um conjunto de experiências a que a maior dos amigos não se submeteria. Mais: aquilo por que Sérgio passara enquanto emigrante, as dificuldades que vivera nos últimos meses, não foram suficientes para que desistisse do caminho que escolheu. Dois anos depois da partida conseguiu voltar a Portugal, de férias, mas continua longe de ter no estrangeiro as condições de vida que teria se estivesse no seu país. Emigrou em busca de um sonho e é lá fora que pretende continuar, apesar de todas as dificuldades. Onde uma parte substancial da família e dos amigos vê um obstáculo, Sérgio vê uma oportunidade. Onde os outros veem um problema inultrapassável, ele vê um desafio. E é feliz. Genuinamente feliz. O que o distingue?

O que é que nos torna mais felizes?

Se cada um de nós se confronta com um conjunto de desafios/ problemas e se todos nós temos uma bagagem emocional que inclui vulnerabilidades, o que é que permite que alguns sejam aparentemente mais competentes no que toca a ir em busca da própria felicidade? Dir-me-ão que a vida é mais madrasta para uns do que para outros. E é verdade. Há acontecimentos que, de tão brutais, são autênticos ladrões de felicidade. Mas todos nós conhecemos pessoas a quem a vida presenteou com perdas difíceis e que são exemplos de determinação, sucesso e bem-estar. É como se, apesar de todas as contrariedades, houvesse alguma força interior que lhes permitisse avançar.

Na verdade, quando falamos de força interior falamos de um conjunto de competências que incluem o bom senso, a integridade, a paz interior, a determinação, o altruísmo, a inteligência emocional, o otimismo, a capacidade de relaxamento ou a resistência à frustração.

Há pessoas que nascem com a maior parte destas competências muito enraizadas mas, em média, apenas um terço da nossa força interior nasce connosco. Isto significa que a maior parte destas competências podem ser desenvolvidas ao longo da vida. E são-no, na medida em que escolhermos desenvolvê-las.

Tal como acontece em relação ao nosso corpo, que pode ser moldado através das escolhas que fizermos quer em termos da alimentação, quer através do exercício físico, também o nosso cérebro pode ser trabalhado em nome de níveis mais elevados de saúde e bem-estar.

Na medida em que reconheçamos, por exemplo, que o tempo que escolhemos gastar com pensamentos negativos e destrutivos é tão prejudicial ao nosso cérebro quanto a fast food é um inimigo da boa forma, aumenta a probabilidade de fazermos escolhas emocionalmente mais inteligentes.

Se uma pessoa acaba de perder o emprego, não será ajustado ignorar o problema e enfiar-se num centro comercial para gastar as poupanças. Mas de pouco lhe valerá permitir que os pensamentos mais catastróficos a inundem de ansiedade, impedindo-a de arregaçar as mangas. Porque é isso que verdadeiramente distingue as pessoas felizes: a capacidade de enfrentar as dificuldades arregaçando as mangas. E para isso é fundamental treinar o nosso olhar, aprender a deter a nossa atenção sobre os acontecimentos positivos, saboreando-os. O otimismo é, como todas as outras competências que identifiquei antes, uma ferramenta que pode ser desenvolvida. É preciso que nos esforcemos para tal.

Se a nossa mente estiver permanentemente ocupada com autocríticas, preocupações, reclamações sobre os outros e acontecimentos stressantes, então é natural que o nosso cérebro esteja a ser trabalhado no sentido da vulnerabilidade, da ansiedade e do humor deprimido. Ao canalizarmos a nossa atenção para todas as ameaças e perdas que nos rodeiam, sentimo-nos maioritariamente tristes, culpados ou enraivecidos. Por outro lado, ao permitirmos que a nossa mente se detenha nos acontecimentos positivos (que podem ser tão simples como o facto de alguém ter sido simpático para nós ou sentirmo-nos gratos por termos um teto), nos sentimentos mais positivos, nas boas intenções, nas qualidades de quem nos rodeia, então sim, à medida que o tempo passa o nosso cérebro vai sendo moldado de forma diferente. É como se passássemos a olhar para a nossa realidade (com todos os problemas e vulnerabilidades) de uma perspetiva otimista e com uma força diferente.



Olhe para trás. Por onde tem andado a sua mente na última semana? Tem prestado atenção aos momentos positivos? Tem prolongado deliberadamente as experiências agradáveis como quando alguém é atencioso consigo? Ou, pelo contrário, alimenta o seu stress com conversas intermináveis sobre aborrecimentos que deveriam ser tratados como insignificantes?
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