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19.12.16

ACALMAR-SE DEPOIS DE UMA DISCUSSÃO

Você está sozinha na sala e ele está enfiado no quarto. Passaram duas horas desde que a discussão terminou e a mágoa continua. «Como é que ele pôde dizer aquelas coisas? Se está à espera que eu saia daqui e o desafie para jantar, está redondamente enganado…». O seu amor-próprio fá-la criar raízes no sofá mas o estômago parece que está feito num oito e o coração quer saltar do peito. Não admira. Tem saudades do seu amor e quer que fique tudo bem. Mas como?

Ninguém gosta de discutir. Repito: ninguém. Às vezes, quando a pessoa de quem gostamos se queixa, pode dar a sensação de que só quer implicar connosco. Se se queixar com frequência e/ou se se exaltar muito durante a discussão podemos pensar que sim, que gosta de discutir. A experiência mostra-me que quanto mais acesa for uma discussão, maior é o sofrimento de quem se queixa. Por detrás dos gritos, das palavras feias e da agitação está quase sempre a sensação de abandono ou de rejeição. Claro que aquilo que é dito durante uma discussão de casal nem sempre mostra com clareza e honestidade aquilo que cada um está a sentir. Às vezes, discute-se sobre dinheiro ou sobre um jantar com os sogros quando, na verdade, lá no fundo, a discussão é sobre a força do compromisso, sobre a importância que cada um gostaria de ter na vida do outro.

À medida que as discussões se sucedem é muito fácil perder o controlo e achar que está tudo perdido. Quando se discute por tudo e por nada, quando apesar dos esforços mútuos quase não há tempo para ganhar fôlego entre discussões, pode surgir o desespero.

Todos os casais discutem e – não me canso de dizer – isso não é mau. Discutir é importante porque, de uma maneira geral, acrescenta intimidade, acrescenta revelação mútua. Mas saber fazer as pazes é fundamental. Muitas vezes aquilo que falta a um casal que se sinta em crise não é uma solução perfeita para um grande problema mas sim a capacidade de recuperar dos pequenos problemas. Repare-se que não estou a falar de RESOLVER todos os pequenos problemas. Estou, propositadamente, a falar de RECUPERAR.


Na prática, isso significa que há alturas em que, apesar de (ainda) não haver consenso para o problema que deu origem à discussão, há um que escolhe colocar o orgulho de lado e fazer uma TENTATIVA DE REAPROXIMAÇÃO e há outro que RESPONDE COM AFETO só para que fique tudo bem outra vez. Isso nem sempre significa que haja pedidos de desculpas e muito menos que o assunto seja retomado. O que é retomado é a RELAÇÃO.



Quando duas pessoas que se amam escolhem reaproximar-se depois de uma discussão, estão a transmitir mutuamente a mensagem de que o seu amor é um bem muito maior do que aquilo que deu origem ao momento de tensão. Sem se darem conta, ao retomarem a normalidade possível – conversando sobre outros assuntos, fazendo uma refeição a dois e, sobretudo, trocando gestos de afeto, estão a acalmar-se mutuamente. Estes passos têm um efeito milagroso em qualquer um de nós. Depois da tristeza e da ansiedade geradas por uma discussão, sabermos que a pessoa de quem gostamos continua a estar “lá” e a mostrar que gosta de nós é exatamente aquilo de que precisamos para relaxar e, mais cedo ou mais tarde, conseguirmos falar sobre o que motivou a briga.

Como os membros do casal nem sempre têm os mesmos timings, pode acontecer que um tome a iniciativa de sair do sofá em direção ao quarto, faça uma festinha e o outro… continue amuado. Não vale a pena desesperar. O mais provável é que, nesse momento, se sinta rejeitado mas é importante relativizar. Claro que, para quem escolheu abdicar do orgulho e dar o primeiro passo, não é fácil lidar com a rejeição. Mas às vezes é só uma questão de tempo. É uma questão de permitir que o outro se acalme e faça ele mesmo uma tentativa de aproximação.

Depois de uma discussão acesa, se se sentir nervoso(a)/ agitado(a), procure acalmar-se:

Relaxe através da respiração. Feche os olhos e procure centrar-se na respiração através do exercício 4-7-8:

1 - Expire pela sua boca completamente deixando todo o ar sair com um som tipo "chhhhhh".
2 – Mantenha a ponta da língua a tocar o “céu” da boca durante TODO o exercício.
3 - Feche a boca e inspire silenciosamente pelo nariz contando até ao número 4.
4 - Pare a sua respiração, mantenha o ar nos pulmões e conte mentalmente até ao número 7.
5 - Expire completamente pela boca com um som "chhhhhh" contando até ao número 8.
6 - Esta foi a primeira respiração. Agora faça de novo até se sentir mais calmo(a).

Se se sentir dominado(a) pela tristeza, procure distrair-se:

- Veja um filme / leia um livro.
- Saia de casa – vá ao supermercado, ao café ou ao ginásio.
- Converse com um familiar ou um amigo (não necessariamente sobre a discussão).

Quando se sentir mais calmo(a), procure conversar com o seu companheiro sobre as seguintes questões:

1 – O que é que faz com que eu me irrite rapidamente? / O que é que faz com que tu te irrites rapidamente?
2 – Como é que eu costumo queixar-me? / Como é que tu costumas queixar-te?
3 – Eu vou acumulando a minha irritabilidade? / Tu vais acumulando a tua irritabilidade?
4 - Há alguma coisa que eu possa fazer para te sentires mais calmo durante a discussão? / Há alguma coisa que tu possas fazer para me acalmar durante a discussão?

5 – O que é que cada um de nós pode fazer para interromper uma discussão quando alguém já está muito irritado? Que sinais podemos emitir e que não sejam sinais de abandono?
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