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18.9.19

PADRASTOS


Padrastos

Quais são os desafios que os padrastos enfrentam? É positivo que o padrasto assuma o papel de pai? O que é que pode ser feito quando os filhos não aceitam o padrasto? E quando há conflitos com o Ex?


Estas foram algumas das questões a que tentei responder numa entrevista a uma revista brasileira.

Hoje em dia, é muito comum os casais separarem-se e os filhos conviverem com os namorados/cônjuges dos pais. Do ponto de vista dos padrastos, quais os maiores desafios enfrentados atualmente?


Um dos maiores desafios para qualquer padrasto tem a ver com a definição do seu papel na educação das crianças e adolescentes. Quando uma nova família se forma, é natural que as regras sejam definidas a dois, mas, quando há filhos de relações anteriores, isso significa que aquelas crianças (ou aqueles adolescentes) foram criados de acordo com determinadas regras. Quando o novo adulto discorda de algumas destas regras, é natural que queira alterá-las. No entanto, não sendo o pai, pode ser difícil lidar com a situação. A verdade é que a autoridade deve continuar a ser implementada pelo pai e pela mãe. Ao novo casal compete sobretudo dialogar abertamente sobre os sentimentos e necessidades de cada um de forma a construir uma ligação estável. É à mãe que compete implementar novas regras, se isso fizer sentido, respeitando sempre o ritmo dos filhos. Se houver demasiadas mudanças em pouco tempo, é mais provável que haja tensão desnecessária.



No início da relação, é mais prudente que o
padrasto seja visto como uma figura de afeto
do que como uma figura de autoridade. Para isso,
é importante fomentar atividades que
ajudem a construir laços.



É mais fácil ser padrasto atualmente ou antigamente?


Apesar de toda a tensão que continua a estar associada ao início destas relações, atualmente a figura do padrasto está mais banalizada, o que acaba por ser um fator desbloqueador. No passado havia menos divórcios e os padrastos eram mais facilmente vistos como figuras que ameaçavam a reconstrução do casamento original.

Como é que os padrastos devem agir quando não são aceites pelos enteados?


É importante que os adultos se comportem como adultos e que haja empatia em relação às crianças e adolescentes por oposição a qualquer braço-de-ferro. As crianças tendem a ligar-se facilmente aos adultos, desde que não os vejam como ameaçadores. Mas o divórcio é uma perda esmagadora para todos e o início de uma nova relação pode envolver um processo de luto em relação à fantasia de voltar a ver o pai e a mãe juntos.

É legítimo que a criança ou o adolescente rejeite o padrasto. Aquilo que não é aceitável é que haja qualquer forma de desrespeito.


Os adultos não devem obrigar os filhos a gostar do padrasto. Devem, isso sim, obriga-los a respeitá-lo. Com o tempo, e à medida que os filhos se sintam respeitados, é mais provável que essa aceitação surja.

Como referi antes, uma das escolhas promotoras de uma ligação saudável é o investimento em atividades que incentivem a criação de laços afetivos. É importante que os adultos se lembrem de que foi a mãe que se apaixonou, não foram os filhos. Os laços não se solidificam de forma instantânea. Requerem tempo e investimento. Se os filhos olharem para o padrasto como um amigo em quem podem confiar, é mais provável que mais tarde também o vejam como uma figura de autoridade.

E a mãe? Como deve agir diante desta situação?


Uma das coisas de que a mãe deve lembrar-se é de continuar a reservar tempo para concretizar atividades sozinha com os filhos. Às vezes, com a melhor intenção do mundo, a mãe procura criar programas onde todos os membros da nova família se possam divertir juntos, mas os filhos continuam a precisar de tempo em que recebam a atenção exclusiva da mãe e não tenham de a dividir com o seu parceiro romântico. Alguns programas a dois podem ser feitos quando os filhos estão com o pai, por exemplo.



Se as crianças se sentirem seguras de que
continuarão a sentir-se especiais aos olhos da mãe,
é mais provável que consigam ligar-se ao padrasto.



Quando o padrasto desempenha o papel de pai: é bom ou mau para a criança?


Em geral, essa não é a melhor opção, sobretudo na medida em que haja um pai presente na vida da criança. Nenhum filho deseja olhar para o padrasto como um substituto do pai. Nalguns casos, isso acaba por acontecer, de forma saudável, mas muito gradual. Quando o padrasto começa por ser uma figura de afeto, um amigo que está sempre “lá” e em quem a criança confia, pode transformar-se numa figura parental tão ou mais importante do que um pai.

Como é que se pode evitar conflitos entre o pai e o padrasto?


Uma das formas de evitar conflitos consiste na implementação de uma comunicação clara e genuinamente compassiva. Muitos pais sofrem com a impossibilidade de estarem tanto tempo com os filhos quanto as mães e sentem-se inseguros e ameaçados pelo aparecimento de um padrasto. Se as regras continuarem a ser definidas de forma clara e a dois (entre o pai e a mãe), se houver transparência e empatia, é mais provável que todos os adultos consigam conviver de forma saudável.

E quando a criança gosta mais do padrasto do que do pai? Como é que o padrasto deve agir para evitar os ciúmes do pai?


O padrasto pode estar em aparente vantagem em relação ao pai se passar mais tempo com a criança, mas, de um modo geral, os filhos não perdem o vínculo com os pais. Se o pai continuar a poder estar presente na vida dos filhos e todos os adultos estiverem genuinamente empenhados em oferecer às crianças a possibilidade de alimentarem o vínculo com os dois lados da família, tudo se resolve.

Quais são as melhores dicas para melhorar a relação entre o padrasto, o pai, a mãe e os filhos?


A melhor dica é propor que cada um coloque a si mesmo a pergunta «Qual é a escolha que promove o bem-estar das crianças?» antes de cada decisão. Quando um dos adultos assume uma posição impulsiva, provocadora ou infantil, é natural que o outro tenha vontade de responder na mesma moeda. Mas será que isso facilita a vida dos filhos ou dificulta? Cada pai ou mãe tem a possibilidade de parar para refletir sobre as escolhas que, daqui a vinte ou trinta anos, o/a ajudarão a olhar para trás e sentir-se orgulhoso(a) do seu papel.



Às vezes, pode ser preciso recorrer a um profissional de terapia familiar para conseguir olhar com serenidade e compaixão para as necessidades de cada um.

E quando o novo casal resolve ter filhos? Como fazer com que os irmãos (de diferentes pais e, muitas vezes, educados de forma diferente) se entendam?


Este é um grande desafio para todas as famílias reconstituídas. Uma das coisas que os adultos podem fazer é mostrarem-se disponíveis para reconhecer, com gentileza, as emoções das crianças, em vez de se limitarem a corrigi-las e a criticá-las. As crianças podem assumir comportamentos mais desafiantes quando se sentem inseguras. Às vezes, só precisam de alguns momentos de atenção exclusiva, da verbalização do amor incondicional dos pais e de se sentirem ouvidas.
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