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7.1.21

O PROBLEMA NÃO SOU EU, ÉS TU

 


O que é a violência emocional? O que é que é abuso? O que é que não é abuso? Será que ele(a) muda? O que é que é preciso para que ele(a) mude? O que fazer quando há abusos? Como responder em circunstâncias específicas? Que escolhas devo fazer para ser tão feliz como mereço? O livro “O Problema não sou eu, és tu” pretende responder a estas e outras questões.

Quando, há uns anos, publiquei no blogue “A Psicóloga” um artigo sobre violência emocional, estava longe de imaginar que viria a receber tantos pedidos de ajuda de pessoas (maioritariamente mulheres) que se reviam naquela caracterização. Na maior parte das vezes, estes pedidos de ajuda estavam associados a sentimentos contraditórios. Por um lado, a tristeza, a ansiedade, os sentimentos de culpa e de vergonha associados à exposição aos abusos e, por outro, o alívio por haver um nome para aquela realidade e a esperança de que o pedido de ajuda pudesse ser o início de uma mudança para melhor.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), durante o período de confinamento associado à pandemia provocada pela COVID-19, o número de casos de violência doméstica na Europa aumentou 60%. Em Portugal, no mesmo período o número de pedidos de ajuda por via telefónica e digital teve um aumento de 180% face ao primeiro trimestre. Não houve um aumento significativo de situações novas, mas houve uma agudização de situações de violência que já existiam.

No entanto, estas queixas reportam, na esmagadora maioria das vezes, situações de violência física, em que as marcas são visíveis e «fáceis» de registar. Os números de violência psicológica são muito mais difíceis de apurar, desde logo porque a vítima sente-se invariavelmente encurralada pela inexistência de provas que confirmem o seu testemunho. Se a isso juntarmos o efeito destruidor que os abusos têm na autoestima, a par do isolamento social e do medo de ninguém acreditar em si, é fácil perceber porque há tantos casos que não chegam ao nosso conhecimento.

Uma das coisas que aprendi com as vítimas de violência emocional foi que quanto mais informados estivermos a propósito do que são comportamentos abusivos, não só do ponto de vista físico, mais óbvios, mas também em termos emocionais, maior é a probabilidade de sermos os primeiros a impedir que alguém – de forma voluntária ou involuntária – nos maltrate. Neste livro, falo sobre as múltiplas formas que a violência emocional pode assumir e explico que nenhuma relação abusiva contém todas essas formas.




Joana perdoou uma traição, mas continuava a ter dúvidas sobre o real compromisso do namorado com a relação. Como resposta, ouvia que estava a «estragar o ambiente». Nélson escreveu um livro e, apesar do aval de uma editora, foi arrasado pela namorada: «Ainda vais ter de os reembolsar pelo investimento». Jorge manipulava Sílvia constantemente com a frase «Se tu gostasses mesmo de mim…». Cristina ouvia do marido que não servia «sequer para ter sexo». Cláudio repetia a Elsa: «Não tens sentido de humor».

Às vezes, a violência emocional assume a forma de chantagem emocional. Outras vezes, assume a forma de explosões e de humilhações. Mas também pode assumir a forma de amuos para impor a própria vontade, pode envolver os filhos como arma de arremesso, pode envolver tentativas de controlo através do dinheiro, pode apresentar-se de forma tão ténue que é a vítima que acaba por sentir-se sistematicamente culpada pelos problemas da relação. Há muitas formas de maltratar a pessoa que está ao nosso lado, e os efeitos são sempre devastadores.

As pessoas não são monstros. Ao longo deste livro, descrevo muitas relações marcadas por abusos. No entanto, aquilo que importa, do meu ponto de vista, não é diabolizar ninguém, mas mostrar, de forma absolutamente inequívoca, quão destrutivos podem ser alguns comportamentos – independentemente de serem praticados de forma consciente ou não. Até porque podemos ser nós os autores da violência emocional, por mais difícil que nos seja reconhecê-lo. Não se precipite a colocar a mão no peito e a dizer «Eu? Jamais!». Talvez se surpreenda. Há muitas expressões que nos habituámos a ouvir e a reproduzir sem que alguma vez tivéssemos parado para as analisar. Quantas vezes disse, mesmo que a «brincar», que o seu companheiro ou companheira não o(a) merecia? Ou, perante uma piada mal aceite por parte do outro, respondeu com um «Não tens sentido de humor»? E o «tratamento do silêncio»? Alguma vez recorreu a ele para provocar alguma reação? Em determinados contextos, todos estes são exemplos de abusos emocionais.

Ao longo deste livro, procuro esclarecer alguns dos mitos associados à violência emocional, procuro mostrar que esta forma de violência também pode estar presente na relação com os nossos pais, com o chefe ou até com amigos. Se tem sido vítima de violência emocional, é possível que muitas vezes se questione sobre a sua saúde mental, é possível que às vezes se sinta a enlouquecer. Não, você não está maluco(a) e este livro pode ajudá-lo(a) a recuperar a autoestima que se deteriorou ao longo da relação abusiva.

Na segunda parte do livro, partilho um conjunto de ferramentas que o(a) ajudarão a avaliar se a pessoa que pratica os abusos está ou não capaz de se comprometer com a mudança e refiro-me a várias formas de recuperar de uma relação abusiva. Sair ou ficar na relação? No final desta leitura, espero que se sinta mais capaz de tomar uma decisão.

Este livro não é um incentivo ao fim das relações. É, ou pode ser, o início da construção de uma vida genuinamente feliz e equilibrada. A informação que escolhi partilhar tem a intenção de o(a) ajudar a dar os passos de que necessita para que da sua vida faça parte uma relação maravilhosamente imperfeita onde a sua voz e os seus sonhos sejam acolhidos e incentivados. Felizmente, tenho assistido a muitas histórias bonitas que me mostram que a vida pode dar muitas voltas e que, quando cuidamos de nós com o amor e a dedicação que oferecemos aos outros, é mais provável que vivamos rodeados de quem nos quer bem.


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