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5.6.17

ADULTOS FILHOS DE ALCOÓLICOS


Somos um país de bebedores excessivos. E com muitos alcoólicos. Estima-se que cerca de 10% dos portugueses sejam consumidores excessivos de álcool. Quantas famílias convivem diariamente com este inimigo? Quantas crianças? E o que é que lhes acontece ao longo do seu desenvolvimento? Que tipo de adultos estaremos a formar? Receberão o apoio a que têm direito?

Recebo muitos e-mails de filhos de alcoólicos – quase sempre desesperados, sem saber a quem recorrer. Aqueles que chegam ao meu consultório fazem-no normalmente muitos anos depois dos episódios traumáticos por que passaram. Os pedidos de ajuda estão relacionados com sintomas de depressão, isolamento, falta de autoestima, episódios de pânico e violência. Só depois de alguma exploração chegamos à origem dos problemas.

Estes adultos emocionalmente instáveis foram crianças cuja infância foi literalmente roubada. Habituaram-se a defender-se como podiam das explosões de violência, assistiram a cenas de pancadaria, viajaram de carro aos ziguezagues e com o coração aos pulos, foram vítimas de violência emocional e humilhações públicas, cresceram sob os olhares reprovadores dos vizinhos e viveram cada festividade como mais uma hipótese de crise. Como é que podemos esperar que sejam cônjuges ou progenitores felizes?

Estas são algumas das características dos adultos filhos de alcoólicos:

Ansiedade elevada. É como se a pessoa estivesse permanentemente num estado de vigilância máxima, sempre atenta perante a possibilidade de algo correr mal e/ou de alguém poder transformar-se numa pessoa perigosa.


Dificuldade em confiar. Nas relações amorosas podem sentir maior dificuldade em entregar-se mas muitas vezes essas também podem transformar-se em relações de dependência excessiva.

Violência emocional. Precisamente porque muitos destes adultos foram crianças vítimas e/ou expostas a inúmeras formas de violência, estão mais vulneráveis a relações amorosas marcadas pela violência emocional.

Depressão. Há quase sempre muitas feridas por sarar. Há a tristeza e o luto associados à inexistência de uma família “normal” mas também em relação à perda física dos familiares (que tantas vezes têm doenças físicas associadas ao consumo abusivo de álcool), à perda de confiança, à inexistência de rituais como festas de aniversário ou férias em família.



Vergonha. A vergonha associada à exposição do alcoolismo ao longo da vida da criança e/ou adolescente transforma-se muitas vezes em sentimentos de inadequação e de inferioridade. É como se a pessoa olhasse para si mesma com muito menos valor do que realmente tem e tivesse um medo constante do que os outros possam pensar.

Sentimentos de culpa. Não raras vezes estes são adultos que não sabem lidar com a própria felicidade. Não conseguem estar felizes por saberem que os pais tiveram ou têm vidas mais miseráveis ou degradantes. Estes sentimentos acabam quase sempre por condicionar as relações amorosas.

Excessiva responsabilidade. Como cresceram em ambientes familiares em que as responsabilidades familiares nem sempre estavam asseguradas, estas crianças e adolescentes aprendem muito cedo a chamar a si responsabilidades que não deveriam ser suas. Na idade adulta estão muitas vezes envolvidos nos assuntos de toda a família, habituados a apagar todos os fogos.

Comportamentos de risco. A adrenalina associada a estes ambientes familiares pode transformar-se num padrão viciante. Estes adultos muitas vezes procuram-na trabalhando excessivamente, assumindo padrões de condução perigosos, consumindo substâncias, envolvendo-se em zaragatas ou gastos excessivos.


Quando alguém pede ajuda psicológica, de uma maneira geral, fá-lo para dar resposta àquilo por que está a passar naquele momento – seja porque se sente ansioso, deprimido ou em risco de divórcio. Muitas vezes, é só em contexto terapêutico que o adulto se dá conta de que aquilo por que está a passar está relacionado com os traumas associados ao alcoolismo dos progenitores.
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