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16.5.18

INFIDELIDADE: E DEPOIS?


Quem passa pela experiência da infidelidade, dificilmente permanece o mesmo. A traição, que pode assumir diversas formas, é quase sempre um acontecimento marcante, muitas vezes traumatizante. Nos dias de hoje, o que é que pode ser considerado uma traição? E como é que se vive depois disso?


Oitenta por cento das pessoas foram ou serão afetadas de alguma forma pela infidelidade. Entre as pessoas que traem, as pessoas que são traídas, os filhos que sabem da traição do pai ou da mãe, os filhos que resultam de uma relação extraconjugal e os amigos ou familiares que tomam conhecimento da traição antes da pessoa traída, o que é difícil é que a infidelidade não faça parte das nossas vidas.

O QUE É A INFIDELIDADE?


O que é que pode ser considerado uma infidelidade? Conversar com um ex-namorado no Facebook ou no Whatsapp é traição? Ter um perfil no Tinder é traição? Fantasiar com um colega de trabalho é traição?

A definição de infidelidade continua em expansão. Há cada vez mais formas de nos sentirmos traídos e há formas cada vez mais elaboradas de apanhar alguém a trair. A minha experiência mostra-me que esta é uma definição ajustada de infidelidade:


A infidelidade é um conjunto de esforços
feitos em segredo e
sem o conhecimento do companheiro.


Se repararmos, há 3 elementos incluídos em todas as formas de infidelidade:

Esforço. Há sempre algum envolvimento emocional. Há sempre um conjunto de esforços, nem que seja para manter a situação em segredo.

Segredo. A pessoa que trai não fala sobre o seu comportamento e, de uma maneira geral, fá-lo em total secretismo. Por norma, esse secretismo aumenta a intensidade da relação. É aí que reside normalmente uma boa parte do desejo.

Não consensual. Se a relação extraconjugal for consensual, não é infidelidade. Só nos sentimos atraiçoados quando a escolha é feita contra aquilo que estava acordado – mesmo que o acordo de fidelidade nunca tenha sido verbalizado.



Quando o marido mantém abertas as contas no Tinder ou noutras aplicações de encontros sem a mulher saber, pode não estar conscientemente à procura de sarilhos mas… o mais provável é que os arranje. 

A INFIDELIDADE TEM MAIS A VER COM DESEJO
DO QUE COM SEXO


Ao contrário do que se possa pensar, nem todas as pessoas que traem vivem num casamento sem sexo ou sem amor. A distância física e emocional entre os membros do casal abre espaço para o aparecimento de uma terceira pessoa mas essa está longe de ser a realidade de todos os casais que passam pela experiência da infidelidade.

De resto, a sensação de que o chão desabou pode ser ainda maior quando se vive com a certeza de um amor verdadeiro e se é apanhado de surpresa por uma traição.

A minha experiência clínica mostra-me que a maior parte das histórias de infidelidade têm mais a ver com o desejo do que com o sexo.

O que é que isto significa?

A relação extraconjugal está sobretudo relacionada com a necessidade de se ser visto, de receber (muita) atenção, de se sentir desejado, de ser importante para alguém, de ter alguém que se importe, de se sentir vivo. Não me canso de dizer: esta é a frase que mais ouço a propósito de histórias de infidelidade.

A pessoa que trai, e que nem sempre estava à procura de alguma coisa, descreve a sensação de voltar a «sentir-se viva». É essa alquimia, esse desejo que acabam por ser arrebatadores e que podem apanhar a própria pessoa desprevenida.

Tal como acontece quando nos apaixonamos e estamos solteiros, não é preciso sequer que haja contacto físico para que surja a sensação de êxtase.



O QUE MUDA DEPOIS DA INFIDELIDADE


Nem todas as relações acabam depois de uma infidelidade. Há muitos casais que optam por tentar salvar a relação precisamente por admitirem que, apesar do terramoto que ela representa, ainda há amor e vontade de reconstruir a relação.

Por norma, esta crise desencadeia um turbilhão de emoções e acaba por abrir espaço para conversas que nunca aconteceram. É muito frequente ouvir as pessoas que me pedem ajuda dizerem-me que conversaram mais nos dias ou semanas que antecederam a primeira consulta do que em toda a relação.

A verdade é que, apesar de toda a boa-vontade, nem sempre prestamos atenção aos nossos sentimentos, às nossas necessidades afetivas e àquilo de que precisamos para continuarmos a sentirmo-nos vivos. Entre a multiplicidade de papéis e obrigações, entre os mais variados compromissos a que tentamos dar resposta, nem sempre colocamos a relação conjugal no topo das nossas prioridades.

Às vezes parece mais fácil ir “empurrando com a barriga”, à espera que alguma coisa mude. Aquilo que estes casais constatam, e que muitos interiorizam como lição para a vida, é que estamos todos mais protegidos se as coisas forem conversadas abertamente e se cada um fizer o que estiver ao seu alcance para que a relação não caia numa rotina difícil de suportar.

QUEM TRAI É CAPAZ DE MUDAR?


Há muitas formas de traição e há diferentes perfis de pessoas que traem. Pode não ser fácil distinguir o arrependimento genuíno da mera aflição por ter sido apanhado a fazer o que não era esperado. Mas, para quem foi traído, é essencial algum questionamento. Pergunte a si mesmo(a):


O seu companheiro mostra que se preocupa consigo?
Apesar da traição, confiaria nele(a) para outras áreas da vida?
Vê-o(a) como uma pessoa decente, apesar deste caso?
É a primeira vez que isto acontece ou a enésima?
O seu companheiro está de volta porque o(a) ama
ou porque é mais conveniente manter o casamento?


Cada pessoa tem o direito de fazer a sua escolha, independentemente do que os outros pensam. Mas essa escolha torna-se mais pacífica quando é feita em consciência.



A maior parte das pessoas com quem tenho trabalhado estão genuinamente empenhadas em fazer esforços para que a relação volte a dar certo. Não é sempre fácil. Dá trabalho. Dá mesmo muito trabalho. É preciso amparar o companheiro a quem foi arrancado o chão, é preciso um compromisso com a transparência e é preciso lidar com os próprios sentimentos.

Há quem comece um processo de terapia conjugal e ainda tenha sentimentos pela terceira pessoa. É normal. Pode levar algum tempo até que a pessoa se liberte e consiga sentir-se totalmente em paz com a escolha de voltar a investir no seu casamento. Dito assim, pode parecer que é um sacrifício que não compensa mas a verdade é que há quem passe pela experiência – dolorosa – de ter sentimentos por duas pessoas e reconheça que é ao lado do companheiro que quer estar. Isso dá trabalho mas é um caminho entusiasmante.

Quando os membros do casal começam a olhar para os próprios sentimentos e a perceber que há escolhas que podem ser feitas para devolver o desejo, a vivacidade e o entusiasmo à relação, sem descurar a segurança e a estabilidade, sentem-se legitimamente mais felizes e com a sensação de poder pessoal.
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