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10.10.18

REAÇÃO DOS FILHOS AOS NOVOS RELACIONAMENTOS DOS PAIS

Reação dos filhos aos novos relacionamentos dos pais


Depois de uma separação, é legítimo que os adultos ambicionem voltar a amar. Quando o pai tem uma namorada nova ou quando a mãe tem um namorado novo, a reação dos filhos nem sempre é positiva. Quando é que é o momento certo para apresentar o novo companheiro? O que é que os pais podem fazer para facilitar a adaptação dos filhos à nova relação? E que é que não devem fazer? 





O melhor presente que os pais e mães podem dar a um filho é uma relação conjugal sólida e feliz.
John Gottman

Quando as coisas não correm bem e o divórcio acontece, há muitos sentimentos de culpa, sensação de fracasso e a genuína vontade de fazer o que for possível para minimizar o sofrimento das crianças. Hoje sabemos que o bem-estar e a felicidade dos filhos depende sobretudo do bem-estar e da felicidade dos pais. Depois da separação, nem todos os adultos estão capazes de pensar numa nova relação mas, à medida que o tempo passa e as feridas saram, é natural que isso aconteça. Quando o pai ou a mãe tem um(a) novo(a) namorado(a), a expectativa é grande:


Reação dos filhos aos novos relacionamentos dos pais

Como é que os filhos vão reagir ao novo companheiro?
Quando é que é o momento certo para apresentar
o(a) novo(a) namorado(a)?
O que fazer quando a criança não reage bem
ao novo companheiro do pai ou da mãe?
O que é que os pais e mãe não devem mesmo fazer?

Reação dos filhos aos novos relacionamentos do pais


OS MEDOS DAS CRIANÇAS


De uma maneira geral, o aparecimento de um novo companheiro é sentido como uma ameaça. Aos olhos da criança, é inevitável que esta mudança na vida do pai ou da mãe implique mudanças para a sua própria vida e isso pode ser assustador. Quais são os medos da criança a propósito do novo namorado da mãe ou da nova namorada do pai?

O FIM DO SONHO DA RECONCILIAÇÃO


A maior parte das crianças alimentam o sonho de uma reconciliação entre o pai e a mãe. Quando há uma relação cordial ou até de amizade, isso é ainda mais provável.

Quando surge uma terceira pessoa, a criança pode encará-la como uma ameaça real à concretização desse sonho. O(a) novo(a) namorado(a) é visto como um rival.


MENOS ATENÇÃO


Todas as relações que valem a pena requerem a nossa atenção. Se é verdade que depois da separação a atenção dos pais e mães está muito voltada para o bem-estar dos filhos, é legítimo que estes temam que com a chegada de uma nova pessoa essa atenção diminua. É muito importante que os pais continuem a reservar tempo para escutar os filhos com atenção e que façam o que estiver ao seu alcance para que estes não se sintam desvalorizados. 

MENOS AFETO


Depois do divórcio, e sem que os pais e mães deem conta, é através da relação com os filhos que as suas próprias necessidades afetivas são preenchidas. Nós precisamos do toque, dos beijos e mimos para nos sentirmos felizes. Quando nos apaixonamos, é através da relação conjugal que boa parte das nossas necessidades afetivas são preenchidas e os filhos podem sentir-se ameaçados. Além disso, para algumas crianças, a demonstração clara de afeto entre o pai ou a mãe e o novo companheiro é geradora de desconforto e aversão. Isto é particularmente verdade para as crianças com mais de 6 anos e para os adolescentes.

MENOS TEMPO


Qual é a paixão que não rouba tempo? Quando nos ligamos a alguém, queremos passar todo o nosso tempo ao lado dessa pessoa. Mas as crianças estão habituadas a ter os adultos em exclusivo e é natural que se ressintam desse tempo de exclusividade.

Os pais e mães podem tentar que os encontros mais longos – como os fins-de-semana de namoro – aconteçam nos períodos em que os filhos estejam com o outro progenitor, sobretudo numa fase inicial.


NOVAS ROTINAS


As crianças gostam de consistência e de estabilidade. O surgimento de novas rotinas (e novas regras) é quase sempre percecionado como uma ameaça. É importante que não se tente mudar tudo em pouco tempo e que os hábitos que contribuem para o bem-estar das crianças se mantenham.

QUANDO É QUE É O MOMENTO CERTO PARA APRESENTAR O(A) NOVO(A) NAMORADO(A) AOS FILHOS?


Em teoria, não é positivo que esta revelação aconteça pouco tempo depois da separação. É importante lembrar que o divórcio é uma perda muito significativa para a criança – muitas vezes traumática – e que todas as perdas requerem um luto. Os adultos podem tentar respeitar o luto da criança e apresentar a nova pessoa numa altura em que a criança esteja mais preparada. Cada pai ou mãe conhece os seus filhos e, se prestar atenção, vai conseguir escolher o momento.

Por outro lado, é muito importante que nos lembremos de que as crianças não gostam de mentiras. Às vezes, o amor acontece muito antes daquilo que os adultos tinham previsto e pode ser difícil camuflar a realidade. É fundamental que os pais e mães façam o que estiver ao seu alcance para que os seus filhos não se sintam atraiçoados. Na prática, isso pode implicar a necessidade de uma revelação mais cedo do que estava planeado.

No meio destas variáveis, há um outro fator que importa ter em conta: quão sólida é a relação? A verdade é que quando a relação corre bem, esta é mais uma potencial fonte de afeto ara criança. Mas quando a relação não dá certo, é mais uma perda. E os adultos podem e devem fazer o que estiver ao seu alcance para evitar que as crianças sejam expostas a perdas sucessivas.


É normal que os pais e mães precisem de viver
vários amores até voltarem a encontrar o(a) tal.
Mas é essencial que as crianças não sejam
expostas a perdas sucessivas e à respetiva
instabilidade emocional.



O QUE É QUE OS PAIS E MÃES PODEM FAZER? 


PREPARAÇÃO

Antes de qualquer encontro, é essencial que haja uma conversa com os filhos para os preparar. Os pais e mães podem aproveitar o momento para expor os seus sentimentos e a sua vontade, mas também para ouvir os filhos em relação às suas emoções e às dúvidas que possam surgir.

PRIMEIRO ENCONTRO: DEVE SER CURTO

As crianças vão precisar de tempo para se ligarem a este novo adulto e a adaptação é mais fácil se não houver a imposição de ter de passar logo um fim-de-semana inteiro ao lado daquela pessoa.

O PAI E A MÃE NÃO VÃO SER SUBSTITUÍDOS

Os adultos sabem que o novo companheiro não vem substituir o outro progenitor. Mas as crianças podem sentir conflitos de lealdade, pelo que é muito importante que se converse com elas para assegurar que o novo namorado da mãe não vai tentar substituir o pai, mesmo que este esteja ausente, nem a namorada do pai vai tentar desempenhar o papel da mãe.

EXPECTATIVAS REALISTAS

Quando nos apaixonamos, temos a expectativa e a vontade de que as pessoas mais importantes da nossa vida se liguem de forma instantânea também. É como se as qualidades que reconhecemos e admiramos nesta pessoa tão especial fossem, aos nossos olhos, irresistíveis. Mas isso pode não acontecer e é, naturalmente, gerador de tristeza e desapontamento.

É preciso explorar os sentimentos e as dúvidas dos filhos e dar tempo para que eles se liguem ao novo companheiro.


De resto, a pessoa por quem nos apaixonamos também pode precisar de tempo para se ligar genuinamente às crianças. 

CONSISTÊNCIA DAS REGRAS

Algumas vezes, a vontade de contribuir para o bem-estar de todos e de melhorar algumas coisas faz com que o novo casal decida que é altura para implementar algumas mudanças que, inevitavelmente, mexerão com as rotinas e até as regras a que as crianças estão habituadas. Isso é exatamente aquilo que não deve ser feito – pelo menos, numa fase inicial. O aparecimento de um novo companheiro romântico já é uma mudança muito significativa e geradora de instabilidade.

CONVIDAR A CRIANÇA A PARTICIPAR NO PROCESSO DE ADAPTAÇÃO

Às vezes assumimos de tal maneira o papel de decisores e protetores do bem-estar das crianças que nos esquecemos de que elas também têm voz e gostam de ser ouvidas. Os pais e mães podem convidar a criança a dar a sua opinião, a partilhar os seus sentimentos e a dar sugestões sobre o que pode ser feito para melhorar o bem-estar de todos. Não se trata de atribuir à criança todo o poder de decisão e muito menos o de desvalorizar os sentimentos dos adultos. Pelo contrário, trata-se de reconhecer que os sentimentos e as necessidades de cada um têm o mesmo valor.
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