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14.11.19

MOTIVOS POR DETRÁS DE UM DIVÓRCIO


Motivos por detrás de um divórcio

Quais são as causas da maioria dos divórcios?


Tal como explico no meu mais recente livro, “Continuar a Ser Família Depois do Divórcio”, nem todas as pessoas conseguem explicar de forma clara e simples porque é que se divorciaram. E, mesmo que o façam, não significa que a sua versão dos acontecimentos corresponda ao quadro completo.

Mesmo quando há situações concretas, como uma relação extraconjugal, dificuldade em ultrapassar um acontecimento específico como a infertilidade, problemas de relacionamento com a sogra, dificuldades financeiras ou diminuição do desejo sexual, existem sempre pelo menos duas perspetivas. A realidade é sempre mais complexa do que parece e nem sempre é fácil identificar as necessidades que foram ficando por preencher. De resto, e ao contrário do que acontecia há alguns anos, já não são só os casais infelizes que se divorciam. Hoje divorciamo-nos para sermos MAIS felizes. Vivemos em busca de mais e melhor e, quando nos damos conta de que podemos ser mais felizes do que somos na relação em que estamos, arriscamos. Isso também está relacionado com a mudança de paradigma em relação às relações de compromisso. Os nossos antepassados casavam e, muitas vezes, nem sequer havia amor romântico envolvido. Depois passámos a casar por amor com a convicção de que seria para a vida toda. E atualmente comprometemo-nos enquanto continuarmos a sentir-nos suficientemente vivos e entusiasmados naquela relação.

Vivemos num período em que somos tremendamente livres para amar, para escolher e para romper e, simultaneamente, é-nos cada vez mais difícil cumprir o sonho de viver um amor para a vida toda.

De resto, os motivos por detrás de uma separação são aproximadamente os mesmos dos que podem estar por detrás de uma infidelidade e estão relacionados com as necessidades que vão ficando por preencher – quer reparemos nelas, quer não.

DIVÓRCIO: AS CAUSAS




Desconexão emocional

Algumas pessoas nem se apercebem de que vivem em piloto automático: acordam, trabalham, cuidam dos filhos, cumprem as suas obrigações e vão deixando a relação conjugal para segundo plano. Não é que não queiram namorar. Querem e muitas vezes até se esforçam para criar momentos especiais. O que acontece é que esses momentos são demasiado raros para que possam ser chamados de rituais. E todas as relações precisam de rituais, aqueles momentos que são tão bons que escolhemos repeti-los vezes sem conta.

Quase todos os casais começam por ter estes rituais – é praticamente instintivo. Mas quando nos vamos distraindo e deixamos de prestar atenção ao que o outro tem para dizer, quando preferimos ver um episódio da nossa série preferida em vez de contrariarmos o cansaço e inventarmos tempo para namorar, quando inundamos a pessoa que escolhemos de críticas e obrigações e nos esquecemos de lhe perguntar, com genuína curiosidade, «Como foi o teu dia?», a distância emocional vai aumentando.

Quase todas as pessoas tentam contrariar a azáfama dos dias, tentam revelar-se, tentam fazer os seus apelos de forma clara. Mas é tão fácil ignorar estes apelos e nem dar por isso. Claro que quando são os nossos próprios apelos que são ignorados ou, pior do que isso, desvalorizados, é difícil esquecer a mágoa.

Muitos casais caem neste círculo vicioso: sentem-se cada vez menos escutados, cada vez menos amparados e, sem querer, vão-se voltando cada vez mais para fora da relação.


Como estas estratégias de sobrevivência são pontuadas pelas tentativas de cada um de obter a atenção do outro, a frustração e a sensação de que «não vale a pena» vão-se instalando.

Tenho trabalhado cada vez mais com pessoas que se separam após vinte ou mais anos de casamento. Em muitos destes casos, a desconexão não aconteceu de um dia para o outro. Foi acontecendo de forma gradual. E, muitas vezes, os membros do casal foram aprendendo a viver assim. Mas o facto de vivermos cada vez mais tempo, o facto de estarmos cada vez mais atentos ao nosso bem-estar e àquilo que nos faz felizes e o facto de, a partir de determinada idade, estarmos mais centrados em aproveitar o que quer que a vida tenha para nos oferecer e menos preocupados com o que os outros possam pensar, faz com que haja mais pessoas a escolher divorciar-se após décadas de casamento.

Afastamento físico

Quando observa um casal apaixonado, no que é que repara? Se prestar atenção, há quase sempre um elemento comum: aquelas duas pessoas tocam-se com frequência e mostram através dos gestos o quanto se desejam. Não há necessariamente uma conotação sexual nestas carícias, mas é difícil dissociá-las da paixão. A diminuição significativa destes gestos de afeto é um dos principais sinais de alarme, sobretudo em casais jovens. Sabemos que uma relação já teve melhores dias quando constatamos que aquelas duas pessoas raramente se tocam.

Para muitos casais, esta é a realidade: deixou de haver romantismo, deixou de haver desejo, deixou de haver gestos de afeto. Muitas vezes, a intimidade emocional está lá e até pode haver aquilo a que eu chamo de “familiaridade excessiva”, isto é, os membros do casal são tão próximos que deixou de haver espaço para o mistério e para a sedução. Algumas das pessoas com quem trabalho referem-se a esta questão dizendo que passaram a ter uma relação «de irmãos». Continua a haver carinho, mas deixou de existir romance. Nestes casos, o processo de separação é particularmente doloroso. Tenho conhecido muitas pessoas absolutamente destroçadas com a ideia de terminarem o seu casamento e, assim, causarem mágoa a alguém que tanto amam. Pode não haver amor romântico, mas muitas vezes continua a haver amor, ainda que não seja suficiente para que ambos consigam viver felizes naquela relação.

Aparecimento de uma terceira pessoa

Não sendo a maioria, há evidentemente casamentos que acabam devido ao aparecimento de uma terceira pessoa. Ainda assim, é-me difícil olhar para este acontecimento como uma causa, dissociando-o do que aconteceu à própria relação. Aquilo que quero dizer é que, de uma maneira geral, a relação com a terceira pessoa vem, sobretudo, chamar a atenção para as necessidades que foram ficando por preencher na relação oficial – mesmo que a pessoa que entretanto se apaixonou por outra não se tenha queixado. Por norma, há necessidades que vão ficando por preencher, mesmo que a própria pessoa as ignore. Quando surge alguém que olha para nós, que presta atenção àquilo que sentimos, que repara nos detalhes, que nos elogia de forma sincera, que nos incentiva a lutar pelos nossos sonhos e/ou que nos desafia, sentimo-nos especiais. Isto também pode acontecer quando estamos felizes na nossa relação. Mas, nesse caso, é mais provável que reflitamos sobre aquilo que é preciso fazer para que nos sintamos mais ligados, mais vivos e menos vulneráveis a uma traição.



Quando aparece alguém que nos faça sentir vivos,
que nos lembre como é bom sentirmo-nos
especiais aos olhos de alguém, é natural que o nosso
mundo abane. Se isso acontecer numa altura em que
a relação conjugal está desgastada – física e/ou
emocionalmente – a probabilidade de haver uma
relação extraconjugal aumenta substancialmente.



Problemas com a família alargada

Para alguns casais, as dificuldades de relacionamento com a família alargada estão na origem do distanciamento emocional que, mais tarde, acaba por dar origem ao divórcio.

Na maior parte dos casos a que tenho acedido, as dificuldades estão relacionadas com a interferência excessiva da família alargada e/ou com a dificuldade em estabelecer limites.

Quase todos os pais e mães têm a expectativa de continuar a fazer parte da vida dos filhos, mesmo depois de eles saírem de casa. E não há nada de errado nisso. Mas quando a relação entre pais e filhos parece ter mais força do que o compromisso conjugal, é mais provável que haja braços-de-ferro, conflitos e distanciamento emocional.

Problemas financeiros

Quando há um (ou mais) acidente(s) de percurso que nos obrigue(m) a repensar os nossos planos e que nos confronte(m) com dificuldades financeiras sérias, é muito fácil essa situação prejudicar a relação amorosa.

Não é só a falta de dinheiro. É, sobretudo, a dificuldade em lidar com a tristeza, a frustração, as oscilações de humor e as expectativas de cada um.

Tenho conhecido muitos casais que não resistiram ao embate provocado por dificuldades financeiras associadas às múltiplas reviravoltas que a vida pode trazer. Situações de desemprego, falência, burla, doença, endividamento são quase sempre desafios que colocam à prova a união de um casal.

Educação dos filhos



Mais cedo ou mais tarde, todos os pais e mães se dão conta de que ter um filho é ter alguém que depende de nós em termos de saúde, bem-estar, segurança, estabilidade emocional e um número infindável de outras questões. Conjugar o amor incondicional que sentimos com o medo de alguma coisa não correr bem é dos maiores desafios que podem surgir na vida. Para algumas pessoas, os primeiros anos são particularmente stressantes – não apenas porque se sentem mais cansadas, mas sobretudo porque estão em processo de adaptação a todas as responsabilidades que estão associadas ao papel parental. Quando um dos membros do casal dedica mais tempo do que o outro à educação dos filhos, é natural que haja alguma desconexão. De repente, tudo o que é superficial, acessório, imaturo ou irresponsável é alvo de rejeição em nome da segurança que se quer proporcionar aos filhos. Como estas mudanças não acontecem sempre ao mesmo tempo para os dois membros do casal, é fácil adivinhar as dificuldades de comunicação e a sensação de desunião.

Relações abusivas

No meu trabalho como psicóloga tenho conhecido muitas pessoas, maioritariamente mulheres, que viveram durante anos relações aparentemente saudáveis, algumas teoricamente quase perfeitas e que, na intimidade, foram muito maltratadas. Nalguns casos, mesmo depois da separação, a pessoa que foi vítima de violência emocional continua a questionar-se sobre o seu comportamento, sobre os erros que cometeu e/ou sobre aquilo que poderia ter feito para salvar a relação.

Costumo dizer que, numa relação abusiva, coexistem duas realidades: aquela em que a pessoa vítima de abusos vive e que acredita ser partilhada pelo companheiro, e aquela que vai sendo construída na cabeça da pessoa que pratica os abusos. No início de qualquer relação, sentimo-nos especiais, sentimo-nos desejados e vivemos com a profunda convicção de que a pessoa que está ao nosso lado quer ver-nos felizes. Isto também acontece nas relações abusivas. Mas entre aquilo que é dito e aquilo que é feito há uma diferença substancial.



De uma maneira geral, as pessoas que são física
ou emocionalmente violentas constroem uma
espécie de guião, como num filme, e olham para
pessoa que está ao seu lado como uma personagem
que deve ser capaz de se comportar de acordo
com as suas expectativas.



Quando isso não acontece, porque cada pessoa tem vontade própria, interesses próprios, sentimentos próprios, há ameaças mais ou menos subtis, chantagem emocional, humilhações, sabotagem e outros exercícios de manipulação. Vale tudo para impor a própria vontade e fazer com que a outra pessoa se subjugue, se anule, se sinta culpada e obrigada a fazer as escolhas “certas”. Como nada disto acontece de forma clara e até, pelo contrário, vão surgindo períodos de lua-de-mel e muitos comentários manipuladores – «É para o teu bem», «Se tu gostasses mesmo de mim…», «És demasiado sensível…» –, a pessoa que é vítima de abusos emocionais nem sempre é capaz de reconhecer a realidade em que está envolvida.
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