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13.9.10

VIOLÊNCIA EMOCIONAL NA GRAVIDEZ

Quando ouvimos falar em gravidez, a imagem mental que surge é, provavelmente, positiva. Afinal, uma gravidez é sinónimo de criação de uma vida. Damos os parabéns a quem engravida, mesmo que se trate de um evento não planeado. Habituámo-nos à ideia de que só engravida quem quer, quando quer e com quem quer e, na maioria das vezes, encaramos esta etapa do ciclo de vida como mais um degrau no percurso de vida de um casal que procura ser feliz. Claro que sabemos que há gravidezes que ocorrem em momentos menos felizes da vida de um casal, mas, mesmo nesses caso, as nossas expectativas são as melhores e torcemos para que tudo dê certo. Custa-nos por isso imaginar que os meses que antecedem a chegada de um filho - e que, para a mulher, representam um conjunto notável de alterações físicas e emocionais, tantas vezes marcado por alguma labilidade emocional – possam estar associados a alguma forma de violência. Mas para quem trabalha na área da saúde mental, estes casos podem fazer parte do quotidiano profissional.
                                              
Trabalho há vários anos com casais e são poucos os casos em que me lembro de existirem relatos de violência física durante a gravidez. Infelizmente, não posso dizer o mesmo em relação à violência emocional. Conheço os danos desta forma de violência, pelo que não me surpreendi com os resultados de uma pesquisa recente que dão conta precisamente da correlação entre violência emocional durante a gravidez e depressão pós-parto. Os resultados desta investigação indicam que a violência psicológica exercida pelo parceiro duplica a probabilidade de ocorrência de depressão pós-parto. Como a generalidade das campanhas de prevenção e intervenção na violência doméstica incidem sobre as agressões físicas, e porque a violência emocional não deixa marcas visíveis, estes resultados são preocupantes e deixam algumas interrogações acerca do que pode (e deve) ser feito pelos clínicos que acompanham estas mulheres.

A violência doméstica é uma questão de saúde pública e a violência psicológica é, como o demonstram diversas pesquisas, ainda mais frequente do que a violência física, mas não é de todo fácil abordar o tema – quer socialmente, quer em contexto clínico. Como não existe um rastreio à incidência deste problema, a generalidade das mulheres atravessa sozinha este inferno e o pedido de ajuda só surge muito mais tarde. Entretanto, não é “só” a saúde da mulher que fica comprometida, mas também a saúde mental dos filhos, que são vítimas directas e actuam tantas vezes como pais dos próprios pais, chamando a sua atenção para o drama familiar. De resto, alguns dos casos que chegam até ao consultório são referenciados por professores e educadores que sinalizam estas situações.

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